Capítulo 6 - Fernando

1262 Words
Eu estava me sentindo o pior filho da p**a, não queria deixar Helen, não queria abandonar ela de novo daquele jeito. Mas eu precisava, era o único jeito de fazê-la entender que eu só queria o bem dela. Nada estava acontecendo como eu queria, como tinha planejado, deveríamos estar juntos em São Paulo preparando tudo para a chegada do nosso filho, eu tinha que estar ao lado dela cuidando, mimando, garantindo que ela tivesse tudo o que queria e precisava, mas ao invés disso eu estava dentro do meu carro dirigindo fugindo da minha mulher pois sabia que se continuasse perto dela ia acabar começando a acreditar no que ela dizia. Mas eu sabia que não podia fazer isso, não podia ser fraco assim quando tinha noção de que nenhum de nós dois estava preparado para a chegada de uma criança com tantas limitações e problemas, seria como trazer um problema para as nossas vidas já sabendo que é um problema e isso seria burrice. Ao menos agora eu estava mais tranquilo, Helen estava com a minha família e cercada de pessoas que poderiam cuidar dela e ajudá-la. O único problema é que todos em São Fernando concordavam com ela e me crucificavam, todos achavam que eu era o errado naquela história. Eu não culpava o meu pai, que queria muito um neto, desejava a casa cheia depois de toda a solidão e dificuldade que enfrentou. Também entendia Emily querer o sobrinho, perder o filho foi terrível e a ideia de que eu pedisse para Helen fazer um aborto despertou o ódio dela. Pedir isso para minha mulher foi a coisa mais difícil que eu fiz, tinha repassado aquilo por dias antes de dizer a ela e ainda sim não tornou mais fácil, especialmente quando ela explodiu gritando e me xingando, totalmente transtornada. Cheguei em São Paulo rápido, mas ao invés de ir direto para o nosso apartamento eu fui para o restaurante da Maria, porque tudo o que eu precisava agora era de uma amiga para conversar, voltar para dentro de casa sem Helen seria difícil de mais. O cantina da nona 2.0 tinha sido inaugurado e eu ainda não tinha ido até lá, com tudo o que aconteceu Helen e eu acabamos perdendo a inauguração. Olhei em volta do lugar, bem maior do que o primeiro, mas tão aconchegante quanto, tudo em um estilo bem harmonioso e delicado, que lembrava a avó de Maria. — Quem é vivo sempre aparece, não é? — a voz da baixinha me chamou a atenção e eu desviei os olhos para ela. — Isso aqui ficou lindo. — desviei de algumas mesas até alcançar ela e a abracei. — Queria ter vindo antes, mas... digamos que é uma longa história. — Pois então temos muito o que conversar. — ela ergueu a mão me mostrando o anel dourado na mão esquerda. — Isso é o que eu estou pensando que é? Porque se for vou querer saber tudo sobre o corajoso que conseguiu dobrar você. Ela me puxou para uma das mesas e pedimos nosso almoço, fazia um tempo que eu não a via, começamos a sair quando eu estava na faculdade, mas não durou muito, eu queria um relacionamento e ela queria curtir, foi assim que nos tornamos amigos e quando Helen entrou na minha vida as duas também se tornaram boas amigas. — Ele realmente me dobrou, Miguel é um motoqueiro e não tem nada que me atrairia, mas apesar de tudo e para a minha surpresa eu me apaixonei. — Espera ai, motoqueiro? Do bar de motoqueiro que ficava em frente ao seu restaurante? — questionei perplexo, porque sem duvida nenhum daqueles homens tinha nada que fizesse o estilo dela. Maria concordou com a cabeça me surpreendendo.— Quem diria, não é? Estavam de frente um para o outro por anos e só agora isso aconteceu. — Pra você ver, foi uma surpresa e tanto pra mim também. Achei que seria mais um pra lista de casos de uma noite, mas o motoqueiro me pegou de jeito. — Estou feliz por você, de verdade, sempre soube que esse dia chegaria e alguém ganharia seu coração. — ela sorriu largo e o brilho nos olhos dela me disse o quanto ela estava apaixonada. — E quando foi o casamento? A comida chegou e nós demos uma pausa em toda a conversa, o cheiro da comida estava maravilhosa como sempre e o sabor era ainda melhor. Nos perdemos por um tempo comendo antes de voltar a conversar. O lugar estava lotado, mesmo que tivesse mudado o lugar os executivos e os advogados das redondezas estavam ali e eu reconhecia alguns deles, isso me dava uma sensação horrível, pois a primeira pessoa que eu quis contar sobre Maria finalmente estar apaixonada, e a pessoa que eu queria que estivesse ali comigo, era Helen e ela estava muito longe. Eu tinha apresentado a ela o restaurante enquanto ainda tentava entrar no coração de gelo, ela amou logo de cara e isso se tornou um habito, comíamos ali mesmo quando não estávamos no trabalho. — Ainda não nos casamos. — Maria falou me trazendo de volta ao presente e eu encarei confuso a aliança de casamento no dedo dela. — Eu só quero fazer isso depois que o bebê nascer. — Bebê? — perguntei espantado. — Você... você está grávida? — Sim! Estou grávida de três meses já, ainda não da pra ver direito, mas preferi esperar para casar depois do nascimento. Me levantei sentindo a necessidade de abraçar ela, nem acreditava que isso estava mesmo acontecendo, ela estava com quase o mesmo tempo que Helen e isso era incrível. — Parabéns baixinha, estou muito feliz com essa notícia. — murmurei agarrado com ela, ainda surpreso de mais com a notícia. — Helen vai enlouquecer quando souber. — Falando nisso onde está ela? — Maria questionou voltando a se sentar e foi a pergunta dela que me fez perceber o que eu tinha falado. Tudo o que acontecesse comigo sempre iria voltar a ela, Helen era minha vida toda, a minha melhor amiga, o amor da minha vida. E isso é o que tornava tudo ainda mais difícil. — Ela está viajando, acabei de voltar de São Fernando e ela ficou lá com minha família. — Ai seria tão bom ter ela aqui, conversar coisas de grávida. Mas eu entendo o lado dela, querer ficar perto de uma rede de apoio nesse momento é tudo o que eu quero também, por isso agradeço a família maluca de Miguel e a minha, eles estão sempre por perto. E simples assim meu pensamento se fixou em Helen sozinha durante as duas semanas que fiquei fora de casa, sem falar com ela, me fazendo de durão e fingindo que não me importava. Eu tinha raiva de Emily por ter a chamado para ficar em São Fernando, porque eu tinha esperança que ela desistiria da gravidez e me escutaria se passasse mais um pouco de tempo, mas agora eu já achava impossível. Meu coração se apertou em ressentimento, ver Maria falando do quanto procurava uma rede de apoio fez com que eu me sentisse ainda pior, o pior dos maridos, um filho da p**a sem coração. Eu estava fazendo Helen passar por aquilo e tudo porque eu não conseguiria lidar com aquela criança. Minha esposa deveria ser minha prioridade e enquanto isso eu estava negligenciando tudo dela, todas as necessidades, tudo o que ela queria. Mas como eu podia continuar com ela enquanto ela queria levar aquela gravidez em frente?
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