Tenho que ser forte
... Beatriz narrando ...
Acordei no susto com o meu despertador gritando desesperadamente do meu lado , cinco horas da manhã , o horário que eu costumava acordar todos os dias , eu trabalhava de garçonete em uma lanchonete no centro da cidade , não era um lugar chique , na verdade era bem mau frequentado , eu tinha que aguentar caras babões e assediadores todos os dias por um salário de m***a , mas eu precisava ajudar os meus avós , eles me criaram quando a minha mãe ia me dar para adoção , eles decidiram me criar e ela sumiu no mundo , meu pai eu não faço ideia de quem seja ... mas o amor que eu recebi dos meus avós fez com que o deles não fizesse falta alguma e eu sinto que eu preciso retribuir tudo que eles fizeram por mim , eles abdicaram de muita coisa para poder me dar uma vida digna , nunca faltou comida na mesa , e eu sempre fiz questão de ajudar eles financeiramente , afinal , os dois eram aposentados e ganhavam um salário mínimo cada um , mais o salário mínimo que eu ganhava a gente conseguia ter uma vida razoavelmente razoável ...
Levantei , desliguei o despertador do meu celular , fui tomar um banho rápido , depois voltei para o quarto me arrumar , coloquei uma roupa simples , porque depois iria o avental por cima na lanchonete , fui até a cozinha e vi a minha avó preparando o café da manhã e como sempre exalava o cheiro de café fresquinho na casa .
- Bom dia vó . - Eu disse dando um beijo nela e ela sorriu .
- Bom dia filha , ja ta indo ?
- Sim , preciso pegar o ônibus de agora ou vou perder .
- mas não vai comer nada ? Saco vazio não para em pé . - eu ri baixo .
- Vou levar uma maçã na bolsa . - Eu disse pegando a maçã de dentro da fruteira e ela me olhou com um olhar de reprovação .
- você não tem jeito mesmo Beatriz .
- Beijo vó , até mais tarde , manda um beijo no vô . - Eu disse mandando um beijo no sr e fui saindo antes que ela me fizesse sentar para tomar o café ... eu amava tomar café da manhã com eles , era o único tempo que eu conseguia sentar e aproveitar os dois , mas hoje não ia dar tempo porque eu fiquei responsável por abrir a lanchonete e eu não podia me atrasar , mas hoje era apenas uma excessão .
( ... )
Levantei a porta gigante da lanchonete abrindo ela , quando eu ouvi uma voz totalmente reconhecível atrás de mim .
- Já cedo ? - Me virei e vi Livia , Livia era a minha melhor amiga , a gente se conhecia desde o tempo do colegial , hoje tínhamos vinte e cinco anos e continuavamos amigas como sempre .
- Oii Li , hoje eu que abro a lanchonete . - Ela respirou fundo e veio me abraçar .
- só passei te dar um oi , to indo na empresa do meu pai .
- hummm que novidade é essa ? - Perguntei porque a Livia simplesmente odiava o pai dela , e por esse motivo eu nunca o conheci , mas por tudo que ela me conta , ele deve ser h******l .
- ele insistiu para que eu fosse almoçar com ele hoje , contra a minha vontade ...
- Li , ele sempre tenta se aproximar , dá uma chance pelo menos .
- Eu não vou dar uma chance para o cara que abandonou a minha mãe grávida de mim . Só tô indo nesse almoço mesmo porque vou pedir que ele aumente o limite do meu cartão de crédito , quero comprar um celular novo e já gastei quase o limite todo . - eu suspirei .
- ao menos ele te dá tudo que você quer , se ele não te amasse ele não faria isso ...
- e como você tem tanta certeza disso Bia ?
- Li olha para mim , meu pai sumiu no mundo , não sei o nome dele ... pelo menos o seu ainda ta aqui . - eu disse e ela suspirou e assentiu .
- Chega de assunto triste , vai trabalhar até que horas hoje ?
- até às 18h , por que ?
- pensei de irmos ao shopping , eu queria comprar umas roupas novas e você podia comprar umas também né amiga . - eu ri baixo .
- não posso me dar ao luxo de comprar roupas novas , mas eu acompanho você .
- Oba , então ta combinado . - Eu ri .
A Livia as vezes ia me fazer companhia na lanchonete e ficava um tempão sentada lá conversando comigo enquanto eu fazia tudo , confesso que era a minha distração , assim eu nem via a hora passar ... Mas quando deu a hora dela , ela foi embora e eu continuei fazendo meu trabalho , a lanchonete tinha outros funcionários também e a dona de lá era bem exigente e sempre tratava a gente com muita grosseria ... como eu disse , eu só to aqui porque preciso , se eu não precisasse eu iria embora agora mesmo e antes de ir embora ainda daria um murro na cara da Carla ... a dona daqui ...
Eu atendi alguns clientes como sempre , levei os pedidos prontos , limpei as mesas sujas , levava cantadas idiotas , reclamações desnecessárias , as vezes alguns xingamentos ... essa era a minha rotina de todos os dias , quando chegava o fim do dia eu tava quebrada em mil pedacinhos , mas eu tinha que arranjar forças , afinal ... ainda teria o dia seguinte ...