SAMUEL’S POV
Cheguei em casa já bem tarde, as pernas pesadas e a cabeça meio zonza depois de passar de domingo para segunda na casa de John, ensaiando e bebendo com a banda. Quando abri a porta, vi minha mãe, Samantha, parada na sala, me esperando com os braços cruzados e uma expressão que misturava cansaço e irritação. Ela estava vestida com seu usual traje de dormir, o que indicava que provavelmente estava quase indo dormir. Tentei soar despreocupado, mas sabia que uma bronca estava por vir.
"Samuel," ela começou, antes mesmo que eu pudesse fechar a porta atrás de mim. "Você sabe que tínhamos um jantar em família hoje."
"Eu juro que tentei chegar a tempo," respondi, tentando parecer arrependido. "Mas o ensaio se estendeu mais do que o esperado."
Samantha bufou e se afastou um pouco, cruzando os braços mais apertadamente. "Esse comportamento seu não me surpreende mais. Aliás, ficar dos seus amigos por dias não era legal nem quando você era adolescente, agora é patético. Ainda mais mantendo uma banda na garagem. Quando é que você vai começar a agir como um adulto?"
Suspirei, já cansado da mesma conversa de sempre. "Só para você saber, a banda recebeu uma proposta de uma gravadora."
Seus olhos se arregalaram por um momento, um lampejo de surpresa e talvez até de orgulho. "Até que enfim. Já não era sem tempo."
"Mas rejeitamos," acrescentei rapidamente.
Ela revirou os olhos, a expressão de satisfação desaparecendo instantaneamente. "Isso é uma completa falta de responsabilidade, Samuel."
"Em defesa da banda, a proposta era retirar um dos membros," expliquei, tentando manter a calma. "E nós não vamos fazer isso."
Ela suspirou, exasperada. "Qual é o problema, afinal? A vida é assim. Nem todos vão ganhar. Vocês precisam ser pragmáticos."
"Você é insensível," rebati, sentindo a raiva crescer. "Estamos juntos nessa banda há anos. Não vamos simplesmente descartar um amigo."
"Eu sou apenas uma adulta responsável enxergando a vida como ela é," ela retrucou, a voz firme. "E vendo você desperdiçar seu tempo com uma banda de garagem."
"Não é perda de tempo," insisti. "Com essa oportunidade, outras virão."
Ela balançou a cabeça, descrente. "Até lá, você poderia reconsiderar e ir para Juilliard."
"Não vou para Juilliard," disse, com mais veemência do que pretendia. "Para de insistir nisso, mãe."
"Então o que você quer?" Ela perguntou, a voz subindo. "Continuar sendo sustentado por mim, chegando tarde da farra com seus amigos?"
"Eu não estava farreando," respondi, tentando me controlar. "Estava ensaiando. E se o pai estivesse vivo, ele entenderia perfeitamente isso."
Ela recuou um pouco, a dor evidente em seus olhos. "Eu sinto muito se não sou o Mark, mas estou tentando. Estou fazendo tudo o que posso para te ver feliz."
"Você quer me ver feliz?" perguntei, aproveitando a deixa.
"Sim," ela respondeu, a voz mais suave agora, quase suplicante.
"Então separe-se do Doug," declarei, sabendo que estava sendo c***l, mas sem conseguir me conter. "Isso me faria feliz."
"Você está sendo muito imaturo," disse ela, balançando a cabeça, a tristeza voltando ao seu olhar.
"Tá, tudo bem," disse, tentando aliviar a tensão. "Então eu quero outro favor."
"O que é agora?" perguntou, a voz cansada. "Se for sobre a guitarra, eu vou comprar no final de semana quando for fazer compras com a Lily."
"Não é isso," respondi. "Eu quero que você veja entre seus contatos como relações públicas alguém da música que possa alavancar a nossa banda. Pode fazer isso por mim, só uma vez, para mostrar que se importa?"
Ela ficou em silêncio por um momento, estudando meu rosto. Finalmente, soltou um suspiro longo e profundo. "Eu vou ver o que posso fazer," disse ela, mais calma. "Mas você precisa entender que minha ajuda não garante nada. Vocês precisam ser bons, precisam se destacar."
"Eu sei disso," respondi, tentando parecer mais otimista do que realmente me sentia. "Só quero uma chance."
"Ok," disse ela, suavizando um pouco. "Vou fazer alguns telefonemas amanhã. Agora, vá descansar. Você parece exausto."
Assenti, sentindo um pouco da tensão se dissipar. "Boa noite, mãe."
"Boa noite, Samuel," ela respondeu, o tom cansado.
Subi as escadas, sentindo uma mistura de alívio e exaustão. Entrei no meu quarto, joguei a mochila no chão e me joguei na cama. Fiquei olhando para o teto, pensando em tudo o que tinha acontecido.
Fechei os olhos, tentando afastar os pensamentos perturbadores sobre Lily e a bagunça que minha vida tinha se tornado. Precisava me focar no que importava: a música, a banda e o futuro. Se conseguíssemos uma oportunidade decente, poderíamos provar a todos que não éramos apenas uma banda de garagem. Poderíamos ser algo mais, algo grande.
Por que minha mãe não conseguia entender? A banda era tudo para mim. Cada ensaio, cada música, cada show... era isso que me fazia sentir vivo, que me dava um propósito. E agora, com a possível ajuda dela, talvez tivéssemos uma chance real de fazer isso dar certo.
Com esses pensamentos, acabei adormecendo, o corpo exausto finalmente cedendo. No fundo, sabia que as coisas não seriam resolvidas tão facilmente. Havia muito a se discutir, muito a se resolver. E eu precisava descobrir uma maneira de equilibrar minhas ambições com as expectativas de minha mãe.
Na manhã seguinte, acordei com o som de risos vindo do andar de baixo. Levantei-me lentamente, sentindo o corpo dolorido, e desci as escadas. Encontrei Samantha e Doug na cozinha, preparando o café da manhã. Eles pareciam tão... normais, tão felizes.
"Bom dia, dorminhoco," disse Doug, com um sorriso.
"Bom dia," respondi, ainda meio sonolento.
Samantha olhou para mim, com um sorriso leve. "Dou fez seu café preferido. Venha comer."
Sentei-me à mesa, observando-os interagir. Era estranho, pois até algum tempo era o meu pai quem fazia o café para mim, e agora havia um estranho, o ex-amante da minha mãe, tomando esse lugar.
"Não gosto de ovos com bacon e mel," disse, olhando fixamente para Samantha.
Ela me lançou um olhar confuso. "Você amava isso."
"Isso era quando eu era criança. Agora sou adulto, como você mesma disse na noite passada."
Samantha suspirou. "Você vai comer, Samuel."
Doug tentou intervir, colocando uma mão no ombro de Samantha. "Tudo bem, Sam."
Nesse momento, a campainha da frente tocou.
"Eu atendo," disse rapidamente, feliz por escapar daquela situação.
Fui até a porta e encontrei um entregador segurando um buquê de rosas vermelhas.
"O que você quer?" perguntei, já sentindo a irritação crescer.
"Uma encomenda para Lily Thompson," respondeu o entregador, sorrindo.
"Quem enviou?" perguntei, já sabendo que não ia gostar da resposta.
"Aidan Lewis," ele respondeu.
"Eu recebo," disse, pegando as rosas com mais força do que necessário.
Assim que o entregador saiu, olhei para as rosas com raiva. Sem pensar duas vezes, joguei o buquê no lixo e voltei para dentro.
"Quem era?" perguntou Samantha, ainda na cozinha.
"Engano," respondi, tentando esconder minha frustração.
Ela franziu a testa, mas não disse nada. Terminei o café da manhã em silêncio, ignorando os olhares preocupados de Doug e Samantha. A ideia de Aidan enviando flores para Lily me deixava furioso.
Voltei para o meu quarto, sentindo a raiva crescer dentro de mim. Não era só a irritação com Doug, mas também com Aidan e aquelas malditas flores. E, acima de tudo, a frustração por saber que tudo estava mudando, e eu não tinha controle sobre nada disso.
Olhei ao redor do meu quarto, procurando algo para distrair minha mente. Peguei minha guitarra, sentindo a familiaridade do instrumento nas minhas mãos. Tocar sempre me ajudava a pensar, a colocar meus sentimentos em ordem.
Comecei a dedilhar uma melodia, algo novo que tinha surgido na minha cabeça. A música tinha o poder de acalmar meus nervos, de me fazer esquecer, pelo menos por um momento, toda a confusão que estava acontecendo na minha vida. E enquanto tocava, prometi a mim mesmo que, de alguma forma, faria isso dar certo. Eu seria reconhecido como Samuel Brown.