Prólogo
Rio de janeiro, 20 de abril de 2014.
__ PARA PAPAI, O SENHOR TÁ ME MACHUCANDO. __Grito tentando o fazer parar de bater-me.
Eu não sei o que fiz para ele me castigar dessa forma.
Na verdade, nem sei o que fiz para ter um pai feito ele.
Desumano, mau, um monstro.
__ Te machucar sua ingrata? Eu devia era lhe espancar até a morte sua i****a. __ Ele diz batendo no meu rosto com o seu cinto.
Por sorte não sangrou, mas doeu e muito.
Eu tentava não chorar, mas minhas tentativas nunca davam certo.
__ Você estragou tudo, assim como a sua mãe i****a. Duas insuportáveis, pior decisão que tomei foi seduzir aquela imprestável da Eloisa. Acreditei que iria me dá bem, mas me ferrei por sua causa. __ Apontou o dedo para minha face irritado. __ Ganhei uma deserdada e uma fedelha de quebra. Vida injusta. __ Ele reclama.
__O senhor queria que eu dormisse com aquele homem repugnante. __ Digo em meio às lágrimas, ignorando os insultos dele.
__ É só uma transa Elisa, eu ia ganhar um dinheiro alto com isso. O velho ia tirar sua virgindade e em troca, eu sairia dessa vida imunda.
__ Eu não quero...
__ Você não tem que querer, você me pertence.
__ Eu já tenho dezoito anos, tenho liberdade.
__ Você não ouse fugi de mim menina, eu vou atrás de você onde for, vou trepar com seu corpo até você sangrar e depois te mato. E quem vai sentir a sua falta?
A Kátia. Penso.
__ Co... como pode fa... Fazer isso? O senhor... É o meu pai. __ Declaro entristecida.
O choro silencioso virou um choro convulsivo.
Eu odiava a minha vida. Tenho sofrido essas agressões diariamente. A verdade é que eu não entendo o porquê o meu próprio pai tem agido assim comigo.
__ Trate de esconder esses machucados, amanhã você só vai sair desse quarto quando f***r aquele velho. __ Ele ordenou sem paciência.
Antes de sair de meu quarto dá uma tapa em minha cara de aviso me fazendo ir ao chão outra vez.
Comecei a chorar de angústia, meu corpo doía pela surra que meu pai havia me dado a pouco.
O medo tomou conta de meu corpo e de minha mente.
O que eu vou fazer meu Deus? Não posso ficar mais aqui.
Levantei do chão com dificuldade, respirando fundo.
Afastei a cômoda da parede e tateei o buraco que fica atrás da mesma, em busca do celular que Kátia me deu. Pego o celular e coloco a cômoda no lugar. Vou à discagem rápida apertando o nome de Kátia.
O celular chama três vezes antes da mesma atender.
__ Amiga, até que fim uma notícia sua, faz três dias, três dias que tento falar com você. __ Kátia diz aparentando está chateada.
__ Kátia...
__ Elisa? O que foi? O que aquele monstro fez dessa vez? _ Sua chateação é substituída pela preocupação e a raiva.
__ Me ajude Kátia. __ Peço voltando a chorar outra vez. __ Ele quer que eu faça sexo com um velho em troca de dinheiro, se eu não fizer, ele vai me estuprar e me matar. Eu não posso mais ficar aqui. __ Completo com desespero.
__ Calma amiga, eu vou te ajudar. Arrume suas coisas, pegue só o necessário, tranque a porta de seu quarto e saia pela janela, vou estar a vinte minutos aí, vou com meu pai, caso o monstro te veja fugi, nos espere na esquina de sempre. __ Avisou apressada.
__ Certo, amiga, obrigada por me ajudar.
__ Não precisa agradecer deusa, eu te amo e farei sempre o possível e o impossível para te ajudar.
__ Eu... Eu sou muito grata em Deus ter colocado você e sua família no meu caminho e no caminho de minha mãe. Te amo Kátia.
__ Eu sei minha linda. __ Ela respondeu com voz de choro. __ Agora vai arrumar suas coisas. __ Completou com ternura.
__ Certo! Até logo!
Desligamos e eu fui arrumar minha bolsa. Mas antes fechei a porta de meu quarto. Não quero que o monstro apareça de repente e volte a machucar-me.
É assim que eu e Kátia o chamamos quando estamos sozinhas.
Em cinco minutos, arrumo as minhas coisas. Pego algumas mudas de roupas, a foto de mamãe, as joias que foram dela que escondo com o celular que Kátia me deu, atrás da cômoda, se não o velho pega tudo para vender outra vez, só me restaram um par de brincos de pérola, um anel de formatura de ouro e uma corrente de ouro com um pingente de uma bailarina. É tudo que me restou de mamãe.
Calço o tênis e abro a janela com cuidado para não fazer barulho.
Jogo pela janela a bolsa de mão, na cor vermelha que pertencia à mamãe também. Em seguida foi à minha vez.
Consegui sair sem fazer barulho algum.
Respirei aliviada, pois uma etapa já havia se passado.
Corri o mais rápido que pude até a esquina que ficava a uns trinta metros da minha casa.
Moro no bairro de Santa Teresa que fica entre a zona sul e a região central da cidade do Rio de Janeiro. É um bairro cultural, pitoresco, com arquitetura histórica e que todo ano atrai milhares de pessoas, mas sofremos com o aumento da violência, por mais que o índice de morte seja menor que os outros bairros.
Moro na rua Paschoal Carlos Magno, uma rua muito bonita, mas a minha casa está caindo aos pedaços, odeio morar lá, odeio a minha vida.
Olhei no relógio do celular e havia se passado quinze minutos que eu falara com Kátia ao celular.
Cheguei na esquina e fiquei no beco de uma casa, tentando ocultar-me caso o monstro do meu pai viesse atrás de mim.
Cinco minutos depois observo o carro do pai de Kátia chegando.
Corro até o carro e entro, me acomodando no banco dos fundos, onde Kátia me esperava de braços abertos. A abracei chorando em seu ombro.