Uma proposta

1958 Words
Enquanto olhava tudo ao meu redor com perplexidade, senti minha bolsa vibrar, era o meu celular; era meu pai, mas decidi não atender, ele não se importa, o único interesse dele é não perder o dinheiro que é depositado mensalmente em sua conta bancária, mas ao não responder, recebi uma mensagem. —É melhor que não seja verdade sobre o divórcio, se for necessário, implore para ele, porque eu não vou perder tudo que investi em você—. Fazendo um grande esforço, levantei. Se meu pai queria me humilhar, estava louco. Sentei na cama e respirei fundo, recebendo outra ligação. Pensando que era meu pai novamente, atendi com raiva, descontando minha raiva nele. —Me deixe em paz, egoísta interesseiro! —Senhora Ana? Ao perceber que havia gritado com meu médico, quase me engasguei com minha própria saliva, então levei alguns segundos antes de responder. —Desculpe, não tive um bom dia, mas me diga o que aconteceu, há algo mais com a minha doença ou o bebê? —Não, na verdade eu estava te ligando para dizer que você deixou seus óculos de sol na clínica. —Queime—os— disse, lembrando o momento em que Belial me deu aquele objeto, como não percebi antes? Era óbvio que ele tinha vergonha dos meus olhos. A heterocromia não era uma doença, nasci com essa coloração diferente das íris e nunca me causou problemas de saúde. —Tem certeza? São óculos muito caros, edição limitada. Pensando adequadamente, tive uma ideia melhor. Iria buscar, mas apenas para ter o prazer de quebrá—los e queimá—los eu mesma. — Tudo bem, estarei aí em alguns minutos, peço novamente desculpas pela minha falta de respeito. — Não tem problema, lido diariamente com pacientes que perdem a calma. Envergonhada, ri para fingir minha tranquilidade, mas assim que desliguei, suspirei resignada. — Só temos um ao outro, bebê. Só nos resta seguir com nossas vidas. ... Saí do quarto depois de lavar o rosto, peguei um táxi que me levasse ao hospital e no meio do caminho, abri minha bolsa e olhei o dinheiro que tinha; era muito pouco. Só me restava o dinheiro no meu cartão, eu teria que administrá—lo cuidadosamente para que desse para mim, enquanto procurava um emprego, mas... Como eu ia procurar emprego agora? Estava a um ciclo de me formar como bacharel em design de moda. Deus... O que eu ia fazer? Provavelmente nem teria dinheiro suficiente para o meu tratamento. — Bem, eu vou me virar. Deus me deu duas mãos, não serei a primeira nem a última mãe solteira neste mundo. Virando meu rosto para a janela, vejo que estamos passando por uma igreja. A noiva sai feliz do braço do noivo. É inevitável não lembrar do momento do meu casamento. O instante em que meu pai chegou do trabalho, para me contar que tinha feito um bom acordo com o chefe, para que Belial recebesse o cargo de diretor da —Bencelli—, uma marca luxuosa e criadora de moda. Um casamento que duraria apenas até o patriarca falecer e depois disso, meu pai receberia uma grande quantia de dinheiro. Por que eu? Simples, o avô de Belial foi um grande amigo da minha avó, então ele tinha um grande apreço por mim. Eu estava feliz em unir minha vida ao homem que me disse que eu era muito bonita quando eu era apenas uma adolescente de treze anos, cuja mãe havia morrido de câncer. No funeral, pessoas próximas compareceram, incluindo o patriarca dos Bercelli, que me consolou e sorriu como se eu fosse sua neta. O momento do enterro foi o mais difícil e eu escapei dos braços do meu pai, me escondendo no topo de uma árvore frondosa que me protegia da chuva, perder uma mãe nessa idade era muito difícil, especialmente depois de testemunhar a longa agonia do câncer. Minha vida ficou vazia, até que ele me encontrou. *Flashback* Tremendo de frio, me escondia nos galhos da árvore, enquanto a chuva se misturava com as minhas lágrimas. — Mamãe... Mamãe... — suspirava de dor. Só queria parar de sentir essa dor no coração. Não queria ver minha mãe desaparecer debaixo da terra. Até que... — Ei, garota, você está aí? Assustada, cobri minha boca, não sabia quem era, mas de repente vi seu rosto molhado pela chuva. Cabelos negros azabaches totalmente desarrumados, olhos azuis claros, pele clara, lábios rosados, bastante alto e bonito. Aquele rapaz devia ter uns dezessete anos. — Quem é você? — perguntei nervosa. — Primeiro de tudo, você é a Ana, certo? Eu assenti, e ele suspirou aliviado. — Como me conhece? — Te vi quando chegamos, você estava sentada em uma das cadeiras sem perceber os outros. — Ok, já me viu, pode ir embora. — Está brincando? Acha que eu vim aqui só para dizer —oi—? Vamos descer. — Me deixe sozinha, não quero voltar. — Garota, eu não sou sua babá. Meu avô me pediu para vir te buscar, e se eu não voltar com você, ele é capaz de cortar o dinheiro que recebo todo mês. —Só quero ficar sozinha, não quero voltar... — neguei com a cabeça, abraçando os joelhos —. Não quero me despedir da minha mãe. Foi então que ouvi alguns galhos se mexendo e, surpreendentemente, ele tinha subido para se sentar ao meu lado. De perto, ele era ainda mais bonito. — Eu sei como você se sente, menina. Também perdi minha mãe quando era muito jovem. Na verdade, eu era menor que você. Eu não queria me despedir dela, e chorei quando a vi no caixão, não entendia muito, só sabia que não a veria novamente, mas... — ele colocou a mão no bolso da camisa para tirar um lenço —, é pior quando você não se despede, por mais doloroso que seja. Você precisa deixá—la ir. Olhando para sua mão, aceitei o lenço e limpei minhas lágrimas. — Vou me despedir da minha mãe — suspirei, depois de secar meu choro. — Muito bem. Vou descer primeiro e vou te ajudar a fazer o mesmo. — Não precisa, consigo descer sozinha. — Você é muito pequena e o tronco está molhado, se escorregar e cair, o vovô é capaz de me deixar sem dinheiro para o resto da vida. Com um único pulo, ele já estava no chão, então, estendeu os braços para me ajudar. — Já disse que não pre... Woah! — Eu te peguei! No final, acabei escorregando e caí estrondosamente em cima do garoto, que esfregou a cabeça com dor ao se levantar. — Que pancada... — Ai, ai, ai... — reclamei com o tremendo impacto. — Espere, me deixe te ajudar a levantar. Suas roupas estão molhadas e o vovô vai ficar bravo comigo. Já sei! — ele tirou o casaco e colocou nos meus ombros. — O que você está fazendo? Vai pegar um resfriado. — Raramente fico doente, tenho uma boa imunidade, mas se você ficar doente, eu acabo morrendo, então agora me deixe te abotoar isso. Em silêncio, ele se agachou para abotoar o casaco até o meu pescoço, e ao me olhar, piscou surpreso. — Seus olhos... — apontou. Imediatamente, virei—me e cobri meus olhos com as mãos. — Não olhe para eles, eles sempre chamam a atenção, algumas pessoas acham eles estranhos. Mas de repente, senti mãos afastando as minhas do meu rosto. — Bem, eu não acho eles estranhos, eu acho que são únicos, além disso, te deixam bonita. Se você fosse um pouco mais velha, talvez... Não, esqueça. Você tem um cheiro bom, como as gardênias. Vamos logo encontrar seu pai e assim você se despede da sua mãe. Com o coração saltando, concordei em voltar atrás, e quando meu pai perguntou de onde tirei o casaco, apontei para quem me entregou. — Belial Bercelli — ele o nomeou, ficando gravado para sempre em minha memória. * Fim do flashback * Depois de chegar, paguei ao motorista do táxi e entrei no hospital. Segurei minha bolsa firmemente, reunindo forças para entrar novamente. — É melhor eu me apressar — disse, acelerando o passo, mas ao fazer isso, esbarrei sem querer em um sujeito que estava passando na minha frente, ele não era muito mais velho, mas usava uma bengala para ajudá—lo a andar —. D—desculpe, acho que este não tem sido o meu dia. Me agachei para pegar a bengala, rapidamente a entreguei em sua mão e antes que pudesse responder, me afastei. Olhei para trás e ele já não estava lá, então respirei aliviada. Voltei meu olhar para a frente e procurei o consultório do médico, finalmente o encontrei quando ele se despedia de um de seus pacientes. — Ah, Ana, estava te esperando — ele disse, me convidando a entrar —. Guardei seus óculos na gaveta da minha mesa. Fiquei na porta enquanto ele procurava meu objeto, e como se quisesse evitar um longo silêncio, ele começou a puxar conversa, uma que eu realmente não queria responder, mas não tive escolha. — E você já conversou com seu marido? — ele perguntou. — Ele não é mais meu marido — eu disse, surpreendendo o médico, que parou de procurar e me olhou com surpresa —. Ana... o que aconteceu? Baixei o olhar, mas imediatamente o levantei e sorri. — Eu abri os olhos. — Ana... — Não, não é necessário que tenhamos que recorrer à piedade. Vou ficar bem. — Mas... Sua doença, o bebê... Ana, ele sabe do bebê? — Ele não existe mais. Não tenho mais ninguém. Sou a única que meu bebê tem, e isso é razão suficiente para eu não ficar chorando na minha cama — tomei um segundo para lidar com o nó na minha garganta, mas sorri com mais força —. Sou forte, vou conseguir. — Talvez eu possa fazer algo por você, há uma fundação para pacientes com a sua doença, há muitas esperanças para o seu caso, você poderia ir lá, mas o seu bebê... Desviando o olhar, encontrei meus óculos em uma das prateleiras e me aproximei para pegá—los. — Aqui estão. Agradeço por me chamar, com sua permissão. Fechei a porta ao sair, parei por um momento para me acalmar. Este dia de pesadelo parecia interminável, o que mais me esperava? — Só quero descansar um pouco — disse a mim mesma, dando um passo pelo corredor, no entanto, uma certa bengala caiu na minha frente mais uma vez. — D—desculpe... Sinto muito... — Tranquila, foi meu erro, acontece quando ouço conversas alheias. — Ouvindo conversas alheias? Me ouviu? —Eu sei que não é cavalheiro, mas chamou muito minha atenção, e desculpe se pareço intrometido, mas… Você realmente está sozinha? —Por que pergunta isso? Você é um desconhecido. —Eu sei, entendo perfeitamente, mas pelo que acabei de ouvir, pressinto que você é a indicada. —Como? —estava confusa. —Olha, não tenho muito tempo. Tenho trinta anos, mas pareço mais velho, estou em uma fase muito avançada de câncer. Minha família só se preocupa em me ver morto para ter meu dinheiro. Atônita, percebi que havia pessoas que podiam estar passando por pior situação do que eu. Tenho vinte e um anos, mas até eu percebia que aquele sujeito estava sendo consumido pela doença. —Sinto muito. —Não, moça, no fundo eu mereço. Minha vida r**m e desperdício de dinheiro me levaram a isso, nunca considerei minha saúde, mas agora quero fazer algo certo antes de partir. Surpreendentemente, ele segurou minhas mãos. — Case comigo e herdará todas as minhas posses.
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