Mikahel
Desde que me lembro, eu sempre soube exatamente onde é o meu lugar e nunca ultrapassei ele. Posso ser irmão gêmeo de Alek, mas na personalidade somos bem diferentes e até mesmo no físico, mas mesmo sabendo que ele será o grande Don no futuro, eu nunca desejei esse posto ou muito menos o cobicei.
Isso não é pra mim e já tenho essa certeza há muito tempo.
Ser Don exige muito mais do que apenas presença e pulso firme, nunca pode pensar apenas em si, e sim nos membros* como um todo, ter que suportar todos os tipos de pessoas e por mais que os caminhos sejam abertos para diversas possibilidades, a conta não fecha para mim.
Começamos os nossos treinos na idade adequada e próximo aos quinze anos já fomos chamamos para a nossa iniciação onde até onde eu sabia, sempre era em conjunto, já que mais garotos fizeram os treinamentos e como de costume era assim há anos, mas a nossa foi completamente individual. Cada um por si.
Foi assustador!
Foram dias de testes físicos, emocionais e psicológicos, e a verdade é que a máfia nunca é para qualquer pessoa. Tem que ter sangue nas veias e nos olhos, cabeça erguida, força nos punhos e uma mente aberta para uma dimensão de possibilidades sem hesitar em momento algum. Não é fácil, nunca foi e nunca será, e acreditem, nunca me esqueço daqueles dias sombrios* e de completa solidão.
Foram dias de lutas onde era eu, ou, o outro e sim, se perder morre* ali mesmo sendo quem é e tudo sendo observado a cada segundo pelos membros do conselho. Chega ao ponto de lutar sendo só você contra três, um atrás do outro e até ao mesmo tempo, foram horas e até mais de um dia sem comer dentro de uma sala com os corpos começando a se decompor bem na sua frente. Tive que lutar, enfrentar e matar* mulheres e foi ali que quase perdi tudo, mas uma parte de mim se foi para sempre e tudo em nome da organização.
Principalmente depois de ter que matar* uma criança a sangue frio sem ter muito tempo para pensar.
Não tinha como não hesitar, mas também não tinha a opção de desistir e tudo isso planejado pelos velhos do conselho onde observavam cada expressão e movimento seu querendo sempre saber que tipo de homem será na organização.
Os testes psicológicos são os piores, acarretando certos tramas* que ferem a alma com feridas que muitas não se fecham, mas, vida que segue. Não temos outra opção. Por isso, nunca condenei e nem fechei os meus olhos para os problemas que Alek passou, vi o meu irmão praticamente se afundar num abismo* da escuridão completamente perdido e só não pirou* por percebermos a tempo.
A pressão maior somente foi somente para ele e não pelo meu pai, mas pelo conselho é isso, só por ser quem é. Os seus treinos eram os meus pesados, duravam mais tempo, as cobranças eram maiores, e sim, o conselho não lhe dava folga.
A nossa iniciação aconteceu no mesmo dia, mas em locais diferentes e o que passava na minha cabeça, era se eu iria vê-lo ou se sairia vivo dali. Os medos dominam de forma que se tornam o seu combustível, sempre esperando o pior* e nunca era algo que já tenha imaginado.
Tenho marcas e cicatrizes no corpo onde cada uma delas tem uma história, mas prefiro guardá-las, pois muito mais entendem, e Alek não é diferente.
Mas quando ele viu que precisava de ajuda e que precisava de um tempo, foi ali que vi que admitir certas fraquezas não é ser fraco em si, é uma sabedoria, afinal, pior* seria se ele se afundasse e levasse mais alguém junto. Ajudei o meu pai no que podia e meu tio,
Andrei, sempre foi um dos nossos suportes para tudo, mas alguns ainda perguntavam sobre Alek. Todos queriam ver e saber sobre o futuro Don da Rússia e foi um dos momentos em que eu declarei a mim mesmo que eu nunca iria querer esse posto.
Fora as obrigações da organização, ainda tínhamos que enfrentar inimigos que queria levar Irina a força, foram e são anos de busca e de
ódio* acumulado enquanto ela sofria em silêncio por não poder sair e ter no mínimo um crescimento adequado. O seu isolamento afetou um pouco a sua personalidade e enquanto Alek não estava bem, eu intercalava entre eles dois para dar suporte.
Perdi as contas de quantas vezes a vi chorar pedindo para fazer apenas um passeio simples.
A família toda foi por eles!
Quando as coisas começaram a mudar para Alek, vi o seu interesse louco em saber sobre a Melina e o meu pai em busca de um noivo para Irina, enquanto eu, apenas vi tudo de perto. Me senti aliviado por não ter que ser lembrado quando o assunto era casamento, até porque o meu posto não exige isso de forma repentina, mas eu não sabia que a vida me pregaria a pior* peça de todas.
Como não serei o Don, não tenho prometida como Alek teve, e por não ser mulher, não preciso me casar na maior idade, então, por mim tudo estava indo perfeitamente bem.
Mas nem tudo são rosas!
Sou responsável por todos os lucros e cargas dos bodeis da nossa organização, todos os dias passo em um bordel diferente por ser vários e nunca tive problemas fora do normal, e não n**o*, sempre gostei de me divertir um pouco, afinal, a vida não se resume só em trabalho.
— Tem mesmo que ir? — A mulher pergunta engatinhando na cama enquanto me visto.
— Já deu a minha hora. — Respondo fechando o zíper da minha calça.
— É uma pena..., tinha mais planos para essa noite. — Até imagino.
— Fica para a próxima. — Respondo vendo-a fazer um bico*.
Abro a porta saindo por ela e vou até o escritório ver alguns relatórios e fechamentos dos lucros da semana. Aqui é assim, verificamos tudo por semana já que rende muito por ser o maior bordel que fica bem no centro da cidade, mas claro, de forma clandestina já que fica no subsolo abaixo de um restaurante normal.
Camuflagem ideal!
Separo tudo para pôr dentro de uma maleta grande e já aviso o meu pai que irei entrega-lo, então, depois de verificar tudo duas vezes desligo tudo e tranco a sala saindo pelos fundos que contém uma passagem secreta.
Entro no meu carro saindo em disparada para casa que fica quase uma hora de distância e entro indo no escritório dele.
— Chegou bem na hora. — O meu pai diz assim que fecho a porta.
— Está tudo aqui..., Alek chegou? — Pergunto vendo que já é bem tarde.
— Está vindo e pelo que entendi vai te arrastar para Itália com ele. — Ele fala abrindo a mala.
— O que? — Pergunto confuso o encarando.
— Ele vai explicar..., mas você sabe o que tem lá para ele. — Só tem uma coisa para ser exato.
— Hum, se bem que tenho que conferir um contender que virá de lá..., o último quase foi pego. — Comento da dor de cabeça que tive.
A fiscalização está cada vez mais rígida
— Ótimo..., você perdeu o jantar, sabe que Lya não gosta. — Só agora vejo que é bem tarde.
— Estava ocupado... — Respondo olhando o relógio do meu pulso.
— Até imagino... — Ele n**a* com a cabeça e saio de lá indo para o quarto.
Entro começando a retirar a minha roupa e começo um banho quente bem demorado querendo tirar qualquer resquício do dia que tive, então, escovo os meus dentes e me visto com uma calça de algodão começando a preparar a cama para deitar.
— Entra... — Respondo ao ouvir batidas na porta.
— Você não jantou..., precisa chegar tão tarde? — A minha mãe diz com uma bandeja na mão.
— Desculpe, o dia foi corrido. — E como foi, não parei um minuto sequer.
— Coma um pouco..., parece cansado. — Ela diz colocando a bandeja na cama.
Há uma sopa quente de carne e legumes.
— É, mas vou comer... — Respondo começando a beliscar.
A minha mãe é assim, ela gosta de estar sempre presente e quando ela sair daqui, vai no quarto de Irina e depois do de Alek. Isso já faz parte dela. Depois de comer, ela se despede e Alek já entra rindo de forma camuflada e fecha a porta.
— Sopinha na cama? – Fala rindo da situação.
— O que vai fazer na Itália? — Pergunto mudando o assunto mesmo já sabendo da resposta.
— Ver a Melina, já faz muito tempo. — Ele diz inquieto e sei que esse assunto é delicado para ele.
— Só cinco anos..., coisa pouca. — Respondo dando de ombros.
— Tem algo mais importante para fazer? — n**o* na mesma hora, não sabia dessa viagem, mas pelo menos não ficará nada acumulado.
— Não, fiz tudo o que podia hoje..., vai amanhã? — Ele acena que sim e diz que sairá bem cedo.
Afirmo que estarei pronto e ele sai do quarto, escovo os meus dentes e me deito sentindo o meu corpo cansado e durmo em seguida sem dificuldade alguma.