Acordo dando de cara no chão.
Me levanto com dor de cabeça e vontade de m***r o primeiro que ver pela frente. Olho em volta e estou no quarto na casa de Felipe e Aleph está esparramado na cama. Lembro da noite passada e a dor na cabeça me força a sentar na cama. Se eu estivesse mais disposta, Aleph estaria com a cara no chão agora, mas sinto que se mover um músculo, vou explodir.
Ainda estou com a blusa de Aleph. O afasto e tento me deitar. Aleph é um fofo dormindo. Ele tem enormes olhos selvagens que assim, parecem tão tranquilos que é até difícil pensar nele como aquele b****a. Tem uma mecha no seu rosto. Seu cabelo não é grande, mas ela está la. A afasto e no mesmo momento que faço isso, a porta se abre e Ben me olha surpreso.
Ele observa a minha roupa e o que estou fazendo. Me encolho e tento parecer natural.
-Estamos fazendo café da manhã. -Ben diz. Olho pra Aleph me perguntando se devo acorda-lo.-Ah, nem se incomode, geralmente ele dorme até meio dia.
Assinto e me levanto. Vou até Ben e passo por ele ciente que o mesmo está me olhando. Vou até a cozinha e Maju e Gabi também estão vestidas como eu. Fico mais aliviada.
-Bom dia.-Digo.
-E essa cara? Aleph não te deu sossego ontem a noite?-Maju diz maliciosa.
Tento esconder o rubor e me sento.
-Isso se chama ressaca, e Aleph dormiu como uma pedra.-Digo.
Gusta me joga um olhar de lado. Ele abraça Gabi e, Felipe e Maju me servem café.
-Café preto, não gosto de leite.-Digo quando Maju está para colocar o leite.
Ela me entrega a xícara e tento afundar minha ressaca nela. Conversamos um pouco e marcamos uma próxima. Felipe vai viajar, então vai ser apenas ano que vem. Maju e Gabi comentam dos vestidos mais feios da festa e eu tento olhar pra elas sem sentir vontade de vomitar.
Aleph aparece na sala.
-To começando a achar que tinha maconha naquela cama.-Gusta diz.
-A princesinha não me deixou dormir.-Aleph diz.-Ficou me chutando a noite inteira.
Jogo um olhar mortal para ele.
-Eu? Você sabe a onde eu acordei hoje? No chão!-Digo.
Ben e Maju riem e Aleph dá de ombros. Senta ao meu lado e Maju serve seu café.
-Sem...-Ele começa.
-Eu sei, sem leite. Vocês são estranhos.-Ela diz.
Aleph não liga para o que ela fala. Apenas toma um gole do seu café e olha para mim.
-Quando quiser ir me fala.
Assinto.
Ficamos conversando coisas banais até o telefone de Felipe tocar. Ele atende e passa para o Aleph.
-É seu pai, mano.-Felipe diz.
-Eu não te falei pra bloquear o número dele?-Aleph diz irritado e Felipe dá de ombros.-Me dá isso aqui.
Aleph sai da cozinha.
-Qual é a do pai dele?-Pergunto.
-Ele é um pouco chato, quer Aleph em casa e não aceita esse jeito dele de viver, se quiser saber, se envolver com Aleph é furada.-Ben diz.
Não sei a razão, mas não gostei de Ben falando assim de Aleph, ainda mais por uma coisa tão pessoal.
-E você já se envolveu com ele pra saber?-Digo e só depois me dou conta.
Nunca falei assim com Ben. Com Aleph, já me acostumei a falar assim, mas Ben é diferente. Todos da mesa riem, menos eu e Ben. Ele me olha como se não acreditasse que eu disse isso. Nem eu acredito, mas não me arrependo, Aleph não é como todos dizem e acho que desse nosso acordo, pode sair uma grande amizade.
-Não, é só o que dizem.-Ben diz.
-Não acredite em tudo que dizem. -Falo.
Ben olha diretamente nos meus olhos. Engulo seco, mas não paro de encara-lo. Aleph volta me fazendo desviar o olhar.
-Eu preciso resolver umas coisas, quer ir agora, Estela?-Aleph pergunta.
-Aham. -Murmuro.
Me despeço de todos, pego minhas coisas e saímos. Assim que entramos no carro, Aleph suspira.
-Convencemos? -Ele pergunta.
Lembro dos comentários e os olhares de Ben.
-Com certeza. Só temos que continuar com isso para não pensarem ser uma coisa passageira.-Falo.
Ele liga o carro.
-Então próximo passo, postar fotinha fofa com legenda de amizade. Me dá seu celular.-Ele diz.
-Acabei de acordar e meu cabelo está um ninho de rato.-Reclamo.
E está mesmo. Não sou de frescurinha, mas eu me olhei no espelho hoje e desejei não ter feito.
-Continua gostosa.-Aleph comenta.
Reviro os olhos. Para ele, estar bonita é ter peito e b***a. Isso é machista e cansa. E o pior é que não sei se bato nele ou deixo pra lá. Na dúvida, fico calada.
-Vai fazer o que amanhã?-Aleph pergunta.
-Dormir.-Digo.
-Não sei se você gostaria, mas Ben e Maju vão no cinema amanhã e me chamaram. Ele me disse para chamar uma garota, mas não disse quem.-Aleph diz.
Ver Ben com outra garota, ainda mais Maju, vai me dar dor de cabeça, mas sei porque Aleph fez essa proposta, se quero realmente provocar Ben, tem que ser assim, dar o troco com a mesma moeda. Vai doer? Com certeza, mas nunca fui de me restringir por dores futuras, geralmente nem penso no que vai acontecer, apenas faço. Como Aleph disse ontem à noite, viva o agora.
-Me manda mensagem com o horário.-Falo e saio do carro.
Escuto o barulho do carro partindo e entro em casa com minha chave. Encontro minha mãe levando uma colher de cereal para a boca.
-Bom dia.-Digo mesmo sabendo que está quase na hora do almoço. Para ela ainda está tomando café, ela e meu pai devem ter saído ontem à noite.
-E essa roupa?-Minha mãe pergunta.
Só agora percebo que ainda estou usando a camisa de Aleph. Minha mãe, sem dúvidas algumas, deve estar pensando besteira. Sinceramente, com a cabeça da minha mãe, não sei como eu não tenho uns 15 irmãos.
-É de um amigo, eu não ia dormir com aquele vestido apertado, né?
-E onde você dormiu? Ou melhor, com quem?-Ela pergunta indiferente, mas sei que está louca para arrancar algo de mim.
Nunca fui de esconder as coisas da minha mãe, até porque não são muitas as coisas que ela não me deixa fazer. Quando pergunto se posso ir em uma festa, vejo seus olhos brilhando quase me perguntando se pode ir também. Mesmo ela fazendo isso, eu ainda saia escondido. Porque a graça é essa. A adrenalina do medo dos pais descobrirem, a parte de arquitetar mil planos para sair e não ser pego, tudo. Posso estar dando um m*l exemplo, mas o proibido é melhor.
-Mãe, se eu te contar algo, promete não contar pro papai?-Ele sim, não entenderia esse meu plano bobo de conquistar Ben.
-Claro.-Ela diz colocando a tigela de lado.
-Lembra do garoto que te falei? O Ben?-Ela assente.-Ele não gosta de mim da mesma forma, então um amigo meu, Aleph, que percebi que Ben sente ciúmes dele comigo, sugeriu que tivéssemos uma espécie de amizade colorida para provocar Ben e ver se tem alguma reação nele e eu conquista-lo assim. É loucura?
Ela pensa um pouco.
-Não é loucura. Sabe, seu pai morria de ciúmes de mim, na verdade, até hoje se algum cara der em cima de mim, ele vai tentar mata-lo. Ele me disse uma vez que ciúmes é uma coisa natural quando se gosta de alguém . Só quero que você entenda, se ele sente ciúmes, ele tem algum sentimento por você.
Ouvir isso da minha mãe, me deixa mais esperançosa.
-Então...pode dar certo?
-Acho que sim.-Ela diz.
-Que bom, estou cansada de ser touxa.-Falo brincando
-Estela, amar é ser trouxa aos olhos de quem não conhece o amor.
Eu já ouvi isso antes, ou melhor, eu li. Ela faltou colocar algumas luzes piscando ao redor dessa frase no seu livro. Ela tem razão. O amor nos deixa boba. Só quem ama ou já amou sabe como é esse desejo interno de passar por qualquer situação apenas para ter a pessoa. Sabe como é c******r no meio da pista de dança, sabe como é deixar os erros da pessoa passar, sabe como é enxergar defeitos, como qualidades. Vemos as pessoas com outros olhos e quando pensamos nisso e dizemos: "é verdade", estamos pesando em alguém. Eu penso em Ben.
-Então eu devo realmente amar Ben, pois todos dizem que sou trouxa.-Digo.
Ela ri.
-Apenas ignore essas pessoas e siga seu coração. E quando nada der certo...-Ela começa.
-Apenas olhe para o céu e fale com as estrelas. Eu sei, você já me disse isso.
Ela olha no fundo dos meus olhos e coloca meu cabelo para trás.
-Vai lá tirar essa blusa, seu pai já deve descer, e convide esse amigo para almoçar ou jantar qualquer dia desses.-Ela diz. Assinto e me levanto.-Ah, quase ia esquecendo, Júlio está de férias da faculdade e vai passar umas semanas com a gente aqui em São Paulo.
Ah não. Júlio é legal, apesar de vivermos nos alfinetando, gostamos de fazer isso um com o outro, mas acontece que Sophia é apaixonada por Júlio. Ele é bonito e tal, mas ela não entende o quanto é nojento ouvi-la suspirar por meu tio/primo. Não sei como me referir a ele. Acontece que Júlio é irmão do meu pai e primo da minha mãe. Como crescemos juntos e temos idades próximas, eu prefiro o considerar um primo.
Nem deixo minha mãe continuar falando, apenas vou para meu quarto e ligo pra Sophia.
☆☆☆☆☆☆
-Diga Aleph é o cara mais gostoso do mundo.-Aleph diz.
-Aleph, é o cara mais i****a do mundo.-Falo e o Flash quase me cega.
Pronto. Foto tirada, agora é só postar e ir encontrar Maju e Ben. Estou no carro com Aleph em pleno domingo à noite. Contei a Sophia do que aconteceu na casa de Felipe e contei e chegada de Júlio. Ele pirou, fez questão de marcar festas do pijama lá em casa. Pelo que eu a conheço, só irá chamar Gusta, pois não quer nenhuma garota em cima de Júlio. Ela reclama da minha paixão platônica, mas a dela é ainda pior.
Júlio está no segundo período do curso de História. Ele estuda na UNB, em Brasília. Ele é mais próximo da minha mãe do que do meu pai, apesar dos dois serem irmãos. Não é para menos, o passado deles é complicado, mas sei que não há ressentimento, é apenas questão de afinidade.
Chegamos ao shopping. Eu e Aleph saímos do carro e vamos juntos até o cinema.
-Esqueci de te falar, minha mãe te chamou pra almoçar ou jantar qualquer dia desses.-Falo.
Ele enruga a testa.
-Seus pais são diferentes, quer dizer, eles são legais.-Ele diz.
-De fato eles não são normais, parecem dois adolescentes dentro de casa, acho que é por isso que são liberais comigo.-Falo.
Chegamos na bilheteria e encontramos Ben e Maju. Eu sei que eles não estão namorando, mas estão saindo e isso pode ser um pouco pesado para mim. A cara de Ben ao me ver, valeu a pena. Ele realmente não me esperava aqui. Ele e Aleph não são nenhum pouco próximos. Até Aleph estranhou o convite de Ben e suspeito que ele tenha feito isso para ter a certeza se eu e Aleph estamos saindo. Se Aleph trouxesse outra garota, nosso plano iria por água a baixo.
-Estela! Não sabia que você vinha!-Maju diz.
Ela não é má pessoa, mas o fato de estar próxima demais de Ben, me irrita. Claro que eu sei que ela faz parte do grupinho e que eles são bem amigos, mas mesmo assim.
-Aleph me chamou ontem depois que saimos da casa de Felipe, não tive como avisar.-Digo a ela.
Dou um sorriso ao Ben e ele retribui. Ele deveria ser preso por um sorriso tão bonito. Sinto minhas pernas virarem gelatina e me apoio em Aleph que cumprimenta os dois e se vira pra mim.
-Que filme quer assistir?-Ele pergunta.
-Na verdade, a Maju já escolheu.-Ben diz.
-Não tem problema se ela quiser assistir outro, eu to aqui pela pipoca.-Maju diz.
Sorrio para ela e encaro o painel com os filmes que estão em cartaz. Eu gosto de todo tipo de filme, menos os que tem aranhas. Tenho aracnofobia*.O que é contraditório ao argumento de minha mãe sobre eu não ter medo de nada.
-Aquele de terror?-Pergunto.
-Essa é minha garota!-Aleph diz bagunçando meu cabelo. Maju concorda e Ben não tem outra escolha se não for concordar. Ele e Aleph vão comprar os ingressos e eu e Maju a pipoca.
-Você e Aleph então? Eu confesso, vocês eram os últimos que pensaria ser um casal.-Ela diz quando estamos sozinhas.-Pelo menos você esqueceu o Ben.
-Aleph e eu somos apenas amigos. E não esqueci o Ben, só...-Não termino, pois não sei o que falar a ela.
-De qualquer forma, você e Ben ou você e Aleph, são um casal bonito.-Ela diz.
Compramos duas pipocas Jumbo e quatro refrigerantes. Os garotos chegam e já estamos atrasados para a próxima sessão. Entramos e sou a ultima a sentar, a única cadeira disponível é entre Ben e Aleph. Tenho certeza que Aleph fez de proposito. Os trailes terminam e o filme começa.
Na metade do filme, nós quatro estamos quase para ser expulsos. Acontece que Aleph e Ben passaram o filme todo fazendo graça e eu e Maju rindo deles. O que era um filme de terror, virou comedia. Gosto do senso de humor de Ben. Ele é um pouco lento para entender as coisas e isso o torna mais engraçados. Sempre que faz uma piada, procura risadas e sempre encontra as minhas.
-É impressão minha ou esse lugar ficou mais frio de repente?-Maju pergunta.
Ben passa o braço por seus ombros e ela se aconchega nele. Aleph olha para mim tentando segurar a risada e abre os braços. Reviro os olhos e me aconchego nele.
-Ele é um b****a, mas logo vai perceber o que ta perdendo.-Aleph sussurra.
-E o que ele ta perdendo?-Pergunto indiferente.
-Você, mas pensando bem, as únicas qualidades suas é ser gostosa e beijar bem.
-Você também não é nada mal.-Digo.
-Isso é sobre ser gostoso ou beijar bem?-Ele pergunta e dá um pulo com a cena do filme.
Gargalho sua reação e deixo a pipoca de lado.
-Os dois, mas não se acha, você ainda é o maior b****a que ja conheci.-Digo virando seu rosto para mim.
-b****a ou não, temos um acordo e você tem que me beijar quando eu estiver com vontade.-Ele diz.
Sua boca está próxima a minha e confesso, quero me perder em seus labios como na ultima vez. Essa é a parte boa de ter um amigo colorido. Podemos dizer o que quiser um pro outro e ele não vai pensar que esteja apaixonada.
-E você está com vontade?-Pergunto mordendo o lábio.
Ele me beija respondendo minha pergunta. Ele pode ser o que for, mas beija bem. Não melhor que o Ben, mas tenho a teoria que se você tem sentimentos pela pessoa, o beijo vai ser perfeito.
Ouço Ben tossindo ao meu lado. Aleph e eu sorrimos e nos separamos. Olho pra Ben e ele não está com uma cara nada boa. Me sinto culpada e ao mesmo tempo, bem. Isso pode ser jogo sujo, mas é a única forma que encontrei de fazer Ben sentir algo por mim.
Quando o filme acaba, a coisa mais inusitada acontece. Ben se oferece para me deixar em casa. Olho diretamente pra Aleph procurando ajuda. Ele diz que não tem problema e vai embora. Ben deixa Maju em casa primeiro e agora estamos a sós. Só a proximidade dele me deixa desnorteada. Queria morar no Canadá para ficar mais tempo sozinha com ele. Ficamos calados o caminho inteiro e quando chegamos em frente a minha casa, o agradeço.
Abro a porta e antes de sair, Ben segura meu braço e seu toque faz todo meu interior revirar. Olho para ele.
-Não importa se você está com ele ou não, pois eu sei que ainda pensa em mim. -Ben diz e me solta. -Boa noite.
Nem sei como consegui sair do carro, mas quando percebo, estou na minha cama tentando digerir as palavras de Ben.
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