Capítulo 1

1973 Words
Anne - Alemanha Vejo os grandes portões de ferro serem abertos, os seguranças dando passagem ao motorista e olhos curiosos para o banco do carona à qual estava sentada. Em um tímido sorriso cumprimento quem quer seja, mesmo com os olhos cansados da viagem a ansiedade tomava conta pelos anos que passei longe. -Senhorita Anne, chegamos. Max anuncia chamando minha atenção, espero pacientemente ele sair do seu banco e se deslocar até a porta do carona para abrir a porta para mim, tento segurar-me para não fazer eu mesma algo tão simples, porém a formalidade e educação que busquei estes anos morando no internato seriam desperdiçados. Com sua mão esticada ele ajuda me dando passagem para sair do automóvel, as portas principais da mansão abrem rapidamente revelando uma senhora de estatura baixa com um coque polido grisalho e os braços abertos, sinto meus lábios tremerem e o resquício de elegância que tentava manter se desfazem enquanto seguro as laterais do vestido correndo para um abraço. -Gaia que saudade! Sinto meus olhos marejarem. -Minha menina. Ela volta a encarar meu rosto.- -Está uma moça feita agora, está tão linda, nem posso acreditar que voltou. Ela fala empolgada, entrelaçando sua mão na minha e me puxando para dentro do hall de entrada. -Nem eu acredito parece um sonho, onde está papá?. Tento localizar ele pelos grandes cômodos da casa. -Miller chegará na primeira hora da manhã, deixou dito que estará para o café com você assim que acordar, teve que sair ... -Para os negócios. Completei sua frase. - Tem coisas que nunca mudam não é mesmo. -É verdade minha menina. Ela devolve um sorriso sincero.-Vamos preparei seu quarto, está intocável desde sua partida, tomei a liberdade de preencher seu guarda roupa, Ester aquela malcriada me ajudou disse que eu era uma velha antiquada para lhe escolher roupas você acredita!? Gargalhei alto com sua confissão. -Tratando-se de Ester não esperaria menos, mas vamos subir, estou realmente cansada dessa viagem papá conseguiu me esconder em um buraco sem fim. -Ó não fale assim, Miller teve seus motivos você sabe que ele a ama mais do que qualquer coisa. Concordei com a cabeça subindo as escadas. Gaia não mudou nada, ela sempre foi muito sincera nos termos dela. Italiana nata, veio para Alemanha junto com minha mãe, ela cuidou dela desde que nasceu e hoje cuida de mim. Seguindo os costumes, para ela meninas deviam brincar de boneca e fazer aulas de ballet. Eu era o oposto, ao invés de andar maquiada pela casa os joelhos viviam ralados. Consegui convencer papá a me deixar fazer defesa pessoal, não que eu tivesse um talento para algo do tipo, porém o argumento foi válido quando comentei se os seguranças não estivessem por perto não saberia o que fazer. Antony o chefe da segurança de casa me deu algumas aulas, ele sempre falava "o inimigo não espera o ataque" e quando pensava em me defender sentia meu corpo ir ao chão. Chegando ao meu quarto Gaia não mentiu quando disse que o manteve intacto, podia ver a cama com dossel centralizado e os bichos de pelúcia nas estantes. A esquerda ficavam duas portas que levavam para a varanda sendo meu lugar favorito no cômodo e a direita o closet anexado ao banheiro. -Vou deixar você descansar meu amor, tem um pijama e produtos de higienes novos no banheiro. -Não esperava menos, porém me tornará mimada mais que o necessário, sabe que lá fazia tudo sozinha. Sorri para ela. -Pois me dê o luxo de te paparicar, preciso recuperar o tempo perdido. Ela fala empolgada. Deixo um beijo em sua bochecha antes que ela feche a porta, vou até o closet coloco o pijama e faço minha higiene. Olho para a cama e antes que possa pensar em deitar pego um cobertor enrolando-me como quando fazia antes de partir e vou em direção à porta da varanda na expectativa de ver minha cadeira reclinável de madeira que usava para ver às estrelas, para minha sorte a mesma estava no lugar como sempre, à noite fria mas estrelada me deixa confortável, sento na cadeira velha mas firme e a inclino. -Enfim em casa mãe. Sorrio para o céu agradecendo. Sinto os primeiros raios de sol, meus olhos fraquejam ao tentar abrir em uma tentativa de me mexer sinto minhas costas arderem pelo desconforto causado, mas não me importo. A saudade era tanta deste lugar, não queria perder por nada o nascer do sol. Fiquei por quatro anos longe. Quatro longos anos em um internato para meninas, pois quando completei meus quinze anos papá sentiu que não estava me educando corretamente e devido a problemas na família, pensou que o melhor era eu estar afastada até que conseguisse resolver tudo, não fiquei feliz com a ideia de me ver longe da minha vida, dos meus amigos e até mesmo dos seguranças que me roldavam. Meu pai é um homem super protetor, ainda mais depois que minha mãe se foi devido ao câncer quando eu tinha apenas oito anos. Ela sim era a mulher mais linda e incrível que eu já conheci. Nunca vou me esquecer as palavras dela: -Quando sentir os primeiros raios de sol pela manhã, serei eu te abraçando minha pequena Anne. Para sempre. Voltei ontem para casa e as palavas se intensificaram na minha mente. A saudade veio com tudo e eu precisava sentir tanto aquele abraço, por isso quis tanto dormir vendo o nascer do sol. Meu papá chegava hoje pela manhã, negócios e mais negócios, sempre era assim. Ele é o capo da máfia alemã, fardo pesado eu sei. Apesar de ter nascido na Alemanha minha mãe era Italiana e em uma das viagens que meu pai fez se apaixonou por ela à primeira vista, o acordo foi selado entre as famílias, apesar de ser negócios vantajosos para ambos os lados meus pais se amavam e os costumes dos dois me moldaram. Meu pai não me falava sobre os negócios, isso perante aos mafiosos não é assunto de mulher, mas antes de ir embora para o internato consegui umas informações com o soldado Hans, que era um dos meus guarda-costas. Ele me disse que a Cosa Nostra está atacando a máfia russa, e que meu papá estava sendo pressionado pelos italianos a fazer parte devido ao seu casamento. Porém, com minha mãe morta alguns capos interviram falando que não existia mais acordo. Às pressas vou ao banheiro tomar um banho, pois se pensasse muito iria me deitar na cama e voltaria a dormir. Terminando enrolo-me na toalha e vou ao closet pegando um vestido rosa claro com caimento na cintura e uma bota preta, estamos entrando no verão mas o tempo ainda não vem colaborando. Pretendia causar uma boa impressão para meu pai, pois antes de me enviar para o internato andava apenas com calças de moletom e tênis, tudo pelo conforto. Não que eu tenha parado de usar, mas eu precisava mostrar uma boa "aparência" pois um dos intuitos de Miller me enviar na minha jornada era que eu voltasse com boas maneiras. Visto minhas roupas e dou a última olhada no espelho, com minha estatura mediana, olhos verdes e cabelos loiros não me sinto tão baixa com minhas botas de salto alto criando uma silhueta ao qual não havia antes de partir. Assim que desço as escadas Gaia está de prontidão me esperando, não precisei nem falar para ela saber o que precisava. - O senhor Miller Lansky está no escritório acabou de chegar, Antony foi falar sobre a sua segurança agora que você voltou, sabe como seu pai é exigente querida. Ouvir isso não me surpreendeu, mas ao mesmo tempo é irritante. -Papá não muda mesmo. Falei com os dentes cerrados decepcionada. Gaia me encarou pelos óculos meia lua e logo disse: -Ele só quer o seu bem mocinha, agora vá avisar ele que o café esta sendo posto na mesa. Me encaminho até o escritório, céus havia esquecido o quanto era bom estar no conforto de casa. A porta estava aberta e quando papai me viu abriu um grande sorriso fazendo com que Antony também vira-se para ver o que se passava. -Minha querida vim o mais rápido que pude para ver você ,venha logo dar um abraço neste velho! Está linda Anne. Sua voz era como veludo para os meus ouvidos, meu Porto Seguro. -Obrigada papai você também não vai nada m*l. Dei um sorriso travesso. Miller Lansky era um homem bonito, não porque era meu pai, mas seus cabelos grisalhos e o terno sob medida faziam jus ao chefe da máfia Alemã. Seu semblante abatido não me passou despercebido porém não quis comentar, depois com calma iria perguntar a Gaia, pois sei que ele não iria me revelar a verdade para não causar preocupação. Bom, eis que esse é meu defeito eu sou muito curiosa, ainda mais quando se trata das pessoas que amo. Me virei para Antony e o cumprimentei. Ele sim não mudou nada. Moreno, forte e com seus 2 metros de altura era de intimidar qualquer um. -Antony agora que voltei papai está te fornecendo trabalho em dobro aposto. Brinco com ele. -Sempre é um prazer servir ao sobrenome Lansky, Anne. Como um ótimo soldado suas palavras não me surpreendiam mais. -Lansky vou me retirar e providenciar o esquema de segurança. Ele voltou a atenção para meu pai. Antes que Antony pudesse ir embora me adiantei. -Papá vocês acham que realmente precisam de tudo isso? Não sou mais uma menina, posso me virar sozinha. Queria poder sair sem ninguém, mas sei que era algo impossível estando novamente no território, porém se conseguisse aliviar a quantidade de seguranças. Ele me olhou por um instante e achei que fosse ceder. -Não posso permitir que você fique sem proteção Anne, com tudo que anda acontecendo não iria me perdoar se algo acontecesse com você. -Um, apenas um segurança, é o que te peço. Fiz uma cara de súplica e uni as mãos em oração para ver se minhas chantagens ainda eram válidas, pelo menos na época que convivíamos juntos era infalível. -Tudo bem, mas que este "um" seja Antony. Sorri vitoriosa. Me sentia bem com Antony por perto, porquê por mais que ele fosse o segurança da casa era meu amigo acima de tudo. -Obrigada papá, isso significa muito para mim. O abracei em agradecimento. Ele retirou as mãos de mim e pôs no meu ombro. -Agora vamos, Gaia já deve ter posto o café. E assim saímos para os nossos respectivos lugares na mesa já posta. O café estava uma delícia e o bolo de cenoura de todas as manhãs que sentia falta estava divino. Conversei com meu pai por mais uma hora, eram tantas novidades, as meninas que conheci, as amizades que foram feitas tudo foi muito bom enquanto durou, mas com certeza preferia estar em meu lar. -Por falar em amizades, já ligou para Ester? Ele me olhou sondando. -Não, ainda não avisei pra ela que cheguei menti que era mês que vem, quero lhe fazer uma surpresa vou pedir para Antony me levar direto para a casa dela agora. Por fim, me despedi dele e fui para o meu quarto buscar minha bolsa. Passei por Gaia e lhe abracei mais uma vez dizendo para não me esperar para o almoço. Afinal era muita conversa para colocar em dia com minha amiga, quero saber tudo o que ela fez na minha ausência. Ela era a irmã que eu nunca tive e mesmo quando estávamos longe nos comunicávamos toda a semana. Ela era única, aquela amiga fiel que pude ter a sorte de conviver, contagiava a todos com suas façanhas mas principalmente por ser verdadeira. *Pessoal obrigada por estarem lendo meu livro. *Por favor não se esqueçam de votar!!! Cada estrelinha é muito importante, e de grande incentivo para mim.
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