O CASTELO DE CARTAS - 04

1411 Words
- Muito prazer. Adrienne. - O prazer é todo meu, moça do nome bonito. Larry James Alberoni, mas pode me chamar apenas de Larry. - Você é sempre assim galanteador com todas as mães de suas amigas? - E desde quando ser cordial é ser galanteador? - Desculpe o meu jeito. É que é raro encontrar um jovem hoje em dia com toda essa educação. - Mas essa minha cordialidade eu só uso quando encontro mulheres que lembram personagens de romances. - Sandrine, mande ele parar, pois já estou ficando ruborizada. - Relaxe mãe, pois ele é assim com todo mundo. - Você sabe, Adrienne, é difícil não ser assim quando estou diante de alguém tão encantadora quanto você. - Oh, pare com isso, Larry. Você está me deixando sem jeito. - É verdade, Larry, você não pode simplesmente chegar assim e fazer minha mãe corar desse jeito. - Desculpe, Sandrine, mas é difícil resistir à beleza e à elegância da sua mãe. - Ah, você está exagerando, Larry. Mas admito que é bom ouvir essas palavras. - Acredite, são totalmente merecidas, Adrienne. Você é uma mulher excepcional. - Obrigada, Larry. É muito gentil da sua parte dizer isso. - Gentilidade é algo que sempre reservei para as mulheres que verdadeiramente me impressionam, e você definitivamente me impressionou. - Bem, parece que estou perdendo minha mãe para você, Larry. Ela está toda derretida. - Oh, pare com isso, Sandrine. Larry está apenas sendo um cavalheiro. - Claro, claro, um cavalheiro extremamente encantador. - Vocês duas estão me deixando sem graça agora. Mas, Adrienne, se me permitir, adoraria acompanhá-la para um café ou algo do tipo. - Eu adoraria, Larry. Seria um prazer conhecê-lo melhor. - Ótimo. Então está combinado. Vamos marcar algo em breve. - m*l posso esperar, Larry. - E eu m*l posso esperar para ver onde essa dança entre razão e paixão nos levará. O crepúsculo dourado, em vez de trazer uma sensação de conforto e serenidade, lançava um manto sinistro sobre o pequeno café, transformando-o em um palco sombrio onde os destinos se entrelaçavam em uma dança macabra. Sandrine, Larry e Adrienne não eram apenas meros frequentadores daquele lugar, mas peças de um jogo sombrio cujas regras eram ditadas pelo desconhecido. Enquanto a luz dourada se filtrava pelas janelas sujas, as sombras ganhavam vida, dançando uma dança lúgubre sobre as paredes descascadas e as mesas gastas. Sandrine, com seus olhos inquietos e lábios crispados, sentia o peso do segredo que compartilhava com seus companheiros, um fardo tão pesado que ameaçava afundá-la na escuridão sem fim. Cada respiração era carregada de uma tensão palpável, como se o próprio ar estivesse impregnado com a promessa de tragédia iminente. Os sorrisos nos rostos dos três conspiradores não eram de alegria, mas de uma expectativa sinistra, alimentada por desejos obscuros e intenções nefastas. Enquanto o tempo se arrastava, o silêncio pesado que pairava sobre eles parecia congelar o próprio tempo, transformando o café em um túmulo silencioso onde segredos eram enterrados vivos. Sandrine segurava em suas mãos o poder de desencadear o caos, de desvendar as sombras que espreitavam nos cantos mais escuros de suas almas atormentadas. Mas o momento certo para revelar seu plano permanecia envolto em mistério, como uma sombra que se recusa a ser iluminada pela luz. Seu coração batia em descompasso, ecoando o som dos passos de uma tragédia iminente, enquanto ela aguardava pacientemente o momento adequado para desencadear a tempestade que estava prestes a engolir suas vidas inteiras. Larry, com sua postura imponente e semblante enigmático, era como um ser da noite emergindo das sombras, pronto para desencadear o caos com um simples sopro. Seu olhar, obscurecido pelas lentes escuras dos óculos, parecia penetrar a alma de cada indivíduo, como se ele fosse capaz de decifrar os segredos mais profundos do universo. Adrienne, por sua vez, irradiava uma aura de mistério e fragilidade, como uma rosa n***a florescendo na escuridão. Seus lábios se curvavam em um sorriso enigmático, mas havia uma faísca de rebeldia faiscando em seus olhos, uma chama devoradora pronta para consumir tudo em seu caminho. À medida que as apresentações chegavam ao seu trágico desfecho, Sandrine sentia o peso do destino pairando sobre ela como uma maldição irrevogável. O ar estava impregnado de uma tensão sufocante, e ela respirava como se estivesse mergulhando em um abismo de incertezas, seu coração pulsando ao ritmo acelerado do desespero. Com um gesto sutil, ela indicou a Larry que era chegada a hora de iniciar o ritual macabro que haviam planejado. Larry abriu a coletânea de contos de Allan Poe, suas mãos trêmulas folheando as páginas como se estivessem manipulando os elos frágeis de uma corrente ancestral. Seus dedos encontraram o conto escolhido, "A Queda da Casa de Usher", como se fossem guiados por uma força além da compreensão humana. O silêncio se espalhou como uma névoa densa pelo ambiente enquanto Larry começava a leitura, sua voz ecoando no espaço do café como um lamento sepulcral. Cada palavra que escapava de seus lábios era carregada de um peso sombrio, como se fossem os suspiros finais de almas condenadas a vagar eternamente na escuridão. Enquanto a narrativa se desdobrava diante deles, Sandrine sentia-se envolvida por uma teia de horror e desespero, com sua mente mergulhando nas profundezas da loucura que habitava nas páginas do conto. Ela sabia que o destino deles estava traçado nas linhas tortuosas daquela história macabra, e que em breve seriam arrastados para um abismo sem volta. A cada palavra proferida por Larry, a sensação de que o fim se aproximava tornava-se mais palpável, como se estivessem prestes a mergulhar em um abismo sem fundo. Sandrine tremia diante da iminência do desfecho, ciente de que o destino reservava para eles um final tão terrível quanto aquele que assombrava os personagens do conto de Poe. Larry começa a ler o conto, tentando sintetizar e passar o clima sombrio de Poe para suas ouvintes, lançando sempre que podia um olhar devorador para a mãe de Sandrine que, por instinto, retribuía aos olhares do rapaz: - Os sinistros ares do crepúsculo pairavam sobre o narrador enquanto ele empreendia a jornada em direção à casa sombria de seu amigo de infância, Roderick Usher. Cada passo era marcado pela inquietação que se avolumava em seu peito, como se o próprio ambiente conspirasse para evocar temores há muito adormecidos. O caminho serpenteante, ladeado por árvores retorcidas e sombras ameaçadoras, parecia conduzi-lo a um mundo além da compreensão humana. A chegada à casa de Usher foi precedida por uma aura de opressão, cujos muros de pedra cinzenta pareciam sussurrar segredos sombrios. Ao adentrar os aposentos, o narrador foi recebido por uma visão que gelou-lhe os ossos: Roderick Usher, envolto em mantos funéreos, parecia mais uma figura retirada das páginas de um conto macabro do que um ser vivo. Sua pele lívida e olhos profundos denotavam uma existência à beira do abismo. O relato de Usher sobre a enfermidade que assolava sua família lançou uma sombra ainda mais densa sobre aquele recinto sombrio. A presença silenciosa de Lady Madeleine Usher, cuja morte permanecia envolta em mistério, acrescentava um tom de angústia inexprimível à atmosfera já impregnada de melancolia. A agonia de Usher atingiu o ápice com a morte de sua irmã, cujo corpo permaneceu inerte por dias enquanto ele temia a ressurreição macabra da catalepsia. O vínculo fraternal entre os gêmeos Usher, revelado no momento derradeiro do sepultamento provisório, arrepiou até mesmo os mais corajosos. O terror culminou numa noite de insônia e trevas, quando o narrador encontrou seu amigo em estado de delírio, ecoando premonições terríveis que pairavam sobre aquela casa maldita. A leitura de um antigo volume, cujas páginas amareladas sussurravam segredos obscuros, mergulhou-os numa espiral de angústia e horror. O grito abafado da narrativa, ecoando como um eco distorcido da própria realidade, foi o prelúdio para o desenlace trágico que se desdobrou diante de seus olhos atônitos. A revelação sinistra de Usher, proferida em meio ao desespero, lançou uma sombra sobre a sanidade do narrador, enquanto o espectro de Lady Madeleine Usher emergia das trevas para selar o destino fatídico dos irmãos. O colapso final da casa ancestral dos Usher, engolfada pelas águas vorazes do lago, foi testemunhado pelo narrador em fuga, cujos passos ecoaram na noite como o derradeiro lamento de uma tragédia insondável. E enquanto o luar tingia o cenário com tonalidades de sangue, o narrador contemplou o ocaso de uma linhagem amaldiçoada, imortalizada na melancolia eterna das sombras.
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