Eis a questão

1231 Words
Eu me mantive em silêncio enquanto o Piranh4 e o Ricardo explicavam aos outros as nossas alternativas. Eu optei por desligar a minha mente naquele momento e revisitar os momentos que passei com os Camorras na minha cabeça sem a influência deles. Eu perdi o controle ali, mais de uma vez. Me senti diminuída, desafiada e descartável em muitos momentos e isso me fazia imaginar muitas formas de fazê-los pagar. O meu plano sempre foi uma vingança limpa e rápida contra a Julie, não pensei em deixar nas mãos deles o destino dela. Se a Perlla iria fazer alguma coisa depois de saber que ela foi responsável pela morte do seu irmão, eu já não sabia. Ela era filha do Dom e a Perlla era a esposa do sub, não sei como funcionaria se a Perlla quisesse vingança, e no fundo eu esperava que ela quisesse. No momento que ela atacou o meu pai e o meu padrinho quase rezei para que ela estivesse fingindo. Eu sabia a resposta. Mesmo que todos os meus nervos lutassem contra. Ela traiu eles, fugiu e se casou com um dos maiores inimigos deles. Ela os odiava. A vingança não viria dali, capaz dela ter até agradecido a Julie depois que partimos. O Ricardo me tirou dos meus pensamentos. - Rhay? - Olhei para ele, percebendo que eu não prestei atenção em nada que foi dito até ali. - Desculpe… - Falei. - Me perguntou alguma coisa? - Perguntei sim. - Ele piscou algumas vezes. - Acha que devemos procurá-los de novo? Pensei por um momento nisso. O Davi me pareceu coerente nas palavras dele. Diferente dos demais que estavam em uma batalha de poder, ele acolheu a minha proposta, reforçou a minha posição de herdeira e se colocou disponível para retomarmos as negociações diretamente com o Dom. - Não… Acho que devemos esperar. - Os olhares deles para mim eram confusos, como se eu tivesse dito alguma coisa muito errada. - Precipitação não é algo que eu quero ter na minha lista de defeitos. - Rhay, eu não acreditei em uma só palavra daquele bastardo! - A raiva do Piranh4 transbordava nas palavras. - Não acho que seja algo que devemos ou não acreditar, para mim é a opção que nos resta. Dar tempo para eles se organizarem e entenderem quem somos… E se depois… - Eu não estava certa sobre o que fazer. - Depois decidimos como seguir. - Rhay… - Eu concordo. - O Ricardo interveio. - Não acho que demonstrar impaciência seja a solução, como comentei um pouco antes. Não devemos parecer desesperados. - Poderíamos explodir um ou dois locais que eles armazenam os seus produtos. - O Vicente sugeriu e pela forma que a expressão animada dele mudou eu devo ter olhado para ele muito incrédula. - Foi só uma ideia. - Vamos aos fatos? - O Cobra interveio. - Vocês dois, como chefes dos Trucks, acham que o plano de vingança é realmente alcançável ainda? É o que querem? - Eu fechei os olhos por um momento. A imagem da Julie me atacando, da Jay desacordada, do funeral do Russo… do Ricardo pálido e cheio de sangue. Tudo isso voltou nitidamente na minha mente e pensei que eu iria explodir por um segundo. - Eu a quero morta! - O Ricardo falou. - Mas a nossa segurança é mais importante, não só a minha e da Rhay, mas a de todos os Trucks. E pelo que pudemos observar, ela não vai conseguir o poder de fogo que precisa para nos atacar. - Eu concordo. Ela parecia uma marionete sem vida. - O Piranh4 contribuiu. - Esse tipo de vida já é uma merd4! - E o Caqui? - A Rita perguntou. - Deixamos ele viver? - Apertei as têmporas, tentando desesperadamente afastar as imagens das atrocidades que sofri. O sorriso do Coronel ao me confrontar, antes de morrer. O Everton tentando abusar de mim. - Talvez eu não consiga. - Falei por fim, respirando fundo. - Talvez eu não consiga só deixar ela aqui, vivendo, seja lá o tipo de vida que ela tenha… - Olhei para o Vicente/Dego e ele se perdeu no meu olhar, pensando o mesmo que eu. Que eu não seria capaz de deixar isso para trás. - Ela está confortável e protegida.- Constatei. - Oprimida ou não, é de longe muito pouco para o que ela merece. Pelo que tirou de nós. De todos nós! - O Ricardo segurou a minha mão. - Então vamos ficar. - Ele falou e os demais assentiram. - Temos que reorganizar as coisas… - A frase dele foi interrompida pelo rádio. - Cobra. Um homem quer ver vocês. - Olhei para ele ansiosa. A resposta veio tão rápido assim? - Ele se identificou? - O Cobra perguntou no rádio. A ansiedade subindo pelo meu peit0. Eles mandaram alguém pessoalmente? Isso não fazia sentido, visto que eles poderiam nos enviar mensagens. - Jon, você bloqueou o recebimento de mensagens digitais? - Perguntei. - Não, apenas de rastreamento. - O rádio apitou de novo. - Cobra, ele disse que é um Bambino, que só fala com os chefes. - O meu corpo inteiro endureceu ouvindo aquilo. - Ele disse que é uma questão de vida ou morte. O Cobra olhou para nós dois e o Ricardo estava com um pânico estampado no rosto. - Um minuto. - O Cobra respondeu no rádio. - O que isso significa? - O Dego perguntou. - Eles sabem quem somos? - Não sei… - Eu consegui responder. Eu não tinha entrado em contato com a outra parte da minha família. Pelo menos não ainda. Iamos abordar direto os Camorra, e se o plano desse certo nem chegaríamos perto da Sicília. - Exija um nome e uma identificação melhor. - O Ricardo pediu e o Cobra o fez. - Rhay, é uma armadilha. - De um homem só? - O Dego levantou. - Eu acho difícil… - Então o que um Bambino faz na nossa porta? - O Ricardo deu uma réplica, deixando um pouco da raiva que eu sabia que ele estava sentindo sair. A curiosidade começou a ferver dentro de mim. O que um Bambino, tinha vindo fazer aqui, no território dos Camorras? E o que ele queria com os Trucks? A decisão foi mais fácil do que eu imaginei. - Cobra, organize uma escolta. - Fiquei de pé. - Traga ele com mais 5 homens até o salão do prédio. - Você vai deixar ele entrar? - O Ricardo parou de frente para mim, incrédulo. - Deixar não. Eu vou trazê-lo para dentro. Ele pode colocar todo o plano a perder, se ele for reconhecido e estiver sentado na nossa porta, o que os Camorras vão achar disso? Somos muitos e ele um só. - Olhei para o Cobra que estava aguardando as ordens. - Assegure que ele esteja mesmo sozinho. - Ele assentiu e começou a falar no rádio. - Os demais, se preparem. - Eu não concordei com isso. - O tom do Truck surgiu, o de chefe, quando o Ricardo falou comigo. Aquilo provocou ainda mais os meus sentidos. - E se ele for um assassino treinado e veio nos matar? Matar você? - Sustentei o olhar dele. - Então acho bom ele conseguir, caso contrário… - Me virei e sai, deixando o Ricardo put0 comigo, ainda parado ali.
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