Indigente

1075 Words
Jason Imobilizei totalmente o braço, coloquei ele entre seus s***s pequenos e usei ataduras para manter no lugar. Precisa de um raio-x, ortopedia não é minha especialidade, mas lido diariamente com ossos quebrados. Me pego olhando para seu rosto machucando, os lábios ressecados e pequenos, ela é linda, o cabelo dela é preto e longo, está um pouco sujo. Aparenta ser bem jovem, talvez uns vinte anos. Cubro-a bem, verifico seu peito com o estetoscópio, e confirmo minhas suspeitas, está com pneumonia. Faço uma lista de medicamentos que precisarei trazer para ela. O tempo inteiro olho para seu rosto, tão angelical, inocente e frágil. — Quem fez isso com você? — Me pego acariciando o rosto, tiro minha mão rápido. O que estou fazendo? Ela é uma paciente. Levanto e me afasto dela. Recolho tudo que usei e descarto. Vou até a cozinha, abro a geladeira e não tem nada. Esqueço o quanto sou péssimo dono de casa. Pego o telefone do gancho e ligo para uma pizzaria. A secretaria eletrônica pisca com várias mensagens. Aperto para ouvir. — Jason meu filho... — Passo para próxima. — Jason... — Proxima. — Sou eu, me ligue... — Proxima. Desisto, são todas da minha mãe, estou sem ligar para casa há dias. Não me sobra muito tempo, o pouco que tenho durmo, apago. Ligarei depois. Vou até o quarto, sigo para o banheiro, tiro minha roupa e tomo um banho demorado, para tirar um pouco do cansaço, tenho estudado até tarde, avaliando as possíveis formas de melhorar o atendimento no albergue. Pego uma toalha e me seco, coloco ela ao redor da minha cintura e vou até o quarto, ela só vai acordar amanhã, olho para cama, está imóvel, abro o armário com as minhas roupas, visto uma calça moletom preta e uma camisa branca. A campainha toca, pego minha carteira e abro a porta, p**o o rapaz da entrega e sento a mesa na cozinha. O telefone toca, mastigo tranquilamente minha pizza e ignoro as chamadas. Para, toca de novo. Para, toca mais uma vez, limpo meus dedos e levanto. — Jason. — Finalmente. — Bonnie, sorrio. — Mamãe está desesperada tentando falar com você. — Volto para mesa e pego mais uma fatia da pizza. — Avise a ela que estou bem, só muito ocupado, conseguiu me encontra com muita sorte. — Digo enquanto mastigo. — Como vai a faculdade? — Tudo bem e você, como está aí? — Estou nessa cidade há dois meses, geralmente fico menos tempo. — Tranquilo, estão todos bem em casa? — Apos comer ao menos a metade guardo o restante na geladeira. — Sim, você sabe quando pode vir? — Limpo minhas mãos, sento no sofá e ligo a tv, deixo em um canal qualquer. — Não sei, eu vou ver, tá bem? — Nem eu mesmo acredito em minha palavra. Eu sei o que deixei para trás, discuti com meu pai antes de sumir no mundo, o que ele queria não era o mesmo que eu. Negócios não era comigo, nunca ia ser, eu fiz a faculdade de medicina por conta própria, trabalhando e estudando para conseguir formar. Carter que seguiu seus passos, mas mesmo assim, não assumiu a empresa da família, abriu a própria, acho que todos nós temos nosso jeito de pensar, o problema é que, como filho mais velho, eu tinha a responsabilidade de assumir tudo. — Ela está triste Jason, você nunca passou tanto tempo sem vim em casa. — Bonnie era a caçula, tem agora dezessete anos, iniciou a faculdade cedo, cursa administração, seguindo os passos de nosso pai, talvez seja ela quem vai assumir tudo. — Eu sei, vou assim que puder, tenho tido muito trabalho Bonnie, isso aqui, essas pessoas, precisam de mim. — Explico, ela suspira do outro lado. — Nós também precisamos Jason, somos sua família, não esqueça disso. — Verifico a hora em meu relógio de pulso. — Vai dormir, esta tarde, preciso descansar também. — Bufa e nos despedimos. Apago a luz da sala e vou para o quarto, a cama é grande, cabe nós dois perfeitamente. Fico parado em pé ao lado dela, o soro terminou, coloco outro no lugar, avalio sua temperatura, parece ter cedido um pouco a febre. Pego um termômetro e confirmo, sim, está um cedendo, vai ficar bem. Aquela região é violenta, tenho que lidar com alguns traficantes às vezes, mas os piores são os malditos cafetões, eles espancam as mulheres a seus serviços. Muitas chegavam assim, como ela. Será que? Não, acho que não, ela é muito jovem, não faz bem o estilo de mulheres que eles aliciam, eu a teria visto, elas sempre vem até mim para consultas. Deixo isso de lado, deito do outro lado da cama com meu braço apoiado em meu rosto, viro para o lado e olho pra ela, parece ser mais forte que eu. Está tão magra, as maçãs do rosto saltadas, não é modelo, não é alta, aparenta estar sendo torturada, o medo, o pânico em seus olhos, me causa arrepios. Seguro sua mão, ela estremece com o contato, mesmo estando inconsciente, sua mão ainda está quente, ela solta alguns gemidos e choraminga baixinho, vejo as lágrimas saindo de seus olhos fechados. Aperto sua mão de leve, para que sinta que tem alguém ali com ela. Não parece adiantar, ela começa a falar coisas sem sentido, meio embolado, pede por favor, é a única coisa compreensível, o restante não faz sentido. — Ei. — Fico de lado e chego um pouco mais perto, minha mão ainda segurando a dela. — Esta tudo bem, ninguém vai te machucar aqui, você pode dormir tranquila, eu vou ficar aqui, segurando a sua mão, ok? Ela para, as lágrimas cessam, seu corpo magro ainda treme um pouco, talvez seja a febre. Coloco minha mão livre sobre a que seguro, acariciando de leve. — Vou cuidar de você, não tenha medo. — Aperto a mão frágil de leve. — Não sei o que aconteceu com você, mas vai ficar bem, vai se recuperar logo. Já vi pessoas em situações piores e se saíram bem, só espero que ela não volte com o namorado ou marido depois dessa. Por agora só sei que ela é uma indigente, já que foi achada na rua. Podem ter feito isso e a largaram por aí a própria sorte, acontece muito. Adormeço segurando a mão dela, disposto a protegê-la até mesmo de seus pesadelos.
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