Mais um Rato

1072 Words
Tártaro Narrando Quando terminei, gözei na borracha e já mandei ela vazar. Nem esperei muita coisa, falei logo: — Se veste aí e vaza. Monique não disse nada, só foi pegando a roupa, vestiu em silêncio, nem olhou na minha cara. Mas também, que se dane. Elas sabe que comigo é assim, não tem compromisso, não tem sentimentalismo. Se tá aqui é porque quer, sem cobrança. Peguei o rádio e passei a ordem: "Gibi, vem buscar a mina aqui. Deixa ela na barreira, carro dela tá lá" Desliguei o rádio e fui direto pra minha goma, passei pro banheiro, precisava dar uma relaxada. Tomei um banho rápido, esfreguei o rosto, a água morna descendo pelas costas ajudava a tirar aquele peso do corpo. Terminei o banho, Só me enxuguei e me joguei na cama, peladäo mesmo. Só lembro de encostar a cabeça no travesseiro e apagar. Quando acordei, o celular já tava tocando. Nem abri os olhos, fui tateando pela cama até achar o telefone e atendi meio grogue: "Fala" minha voz saiu arrastada. "Otávio, esqueceu que hoje é o churrasco, né?" a voz da minha mãe veio do outro lado da linha, com aquele tom que eu já conheço. Püta que pariu, tinha esquecido totalmente do bendito churrasco. Minha mãe adora comemorar, e se tratando dos meus filhos, é que ela surta nas ideia. "Relaxa, mãe, tô indo" Menti. Na real, nem tinha saído da cama ainda. Levantei devagar, ainda sentindo o corpo meio pesado, aquela ressaca moral da noite anterior. A primeira coisa que fiz foi jogar água fria na cara, para despertar. Botei uma calça qualquer, peguei minha pistola. Sempre na cintura, né? A gente nunca sabe quando o bagulho vai ficar louco. Dei uma olhada rápida no quarto do Breno quando passei pelo corredor. O moleque já tava acordado. Não sou de ficar babando ele, mas gosto de saber que tá na linha. Na cozinha, fiz tudo no automático. Coloquei o café na caneca, puro e sem açúcar, do jeito que gosto. O gosto amargo bateu forte na boca, mas era o que eu precisava pra acordar de verdade. Peguei o beck que tava bolado no bolso. Acendi e dei uns tragos longos. A fumaça entrou queimando, mas clareou as ideias. Fiquei ali de pé, olhando pela janela enquanto dava mais umas baforadas e terminava o café. Terminei de me aprontar sem pressa, botei uma camisa limpa e um tênis qualquer. Chave no bolso, pistola firme na cintura e fui direto pro carro. Meu destino? Casa da minha coroa, comemorar mais ainda, a vida dos meus Amores. Cheguei na casa da minha mãe e, já tava aquele agito. O som rolando alto no quintal, cheiro de carne assando no ar, e a galera já naquela resenha que só a gente sabe fazer. Churras em família é sempre sinônimo de festa, mas esse é especial. 20 anos do meu trio infernal, meus filhos. Passei pelo portão e a primeira coisa que vi foi meu tio Murilo lá, na grelha, coordenando a parada toda. A festa já tava bombando, geral rindo, bebendo e curtindo. Olhei pro lado e vi os moleques se divertindo. Aí, me peguei pensando: “Caraca, 20 anos! Como passou rápido!” Parece que foi ontem que eu tava trocando fralda desses moleques, e agora tão aí, independentes, com vida própria. Mas isso aí é o ciclo da vida, né? A gente cuida, ensina e depois solta no mundo. — E aí, pai, vai ficar só olhando ou vai curtir? — perguntou o Oliver, vindo na minha direção, segurando uma latinha de cerveja. — Rapaz, tô só observando, mas já vou dar um jeito de entrar na bagunça. E vê se maneira na cerveja, moleque. — Dei aquele toque, mas sem forçar muito. Já sei que nessa idade eles fazem o que querem mesmo, então, o negócio é tentar não deixar passar do ponto. A verdade é que eu tô cansado. As últimas semanas foram pesadas lá no comando. Tinha muita treta pra resolver, negócio atrás de negócio, mas hoje eu quero é só paz. Só quero curtir a festa com a família, comer uma carne bem passada e chapar até ficar loucão. Fui lá perto da grelha, peguei um pedaço de carne e um copo de cerveja. Cumprimentei o pessoal, troquei ideia com meus primos. IC é resenha do Caralhø. O papo tava bom, todo mundo comentando de suas quebradas. — E aí, Otávio, festa de respeito, hein? — Cleber deu o papo. — Porr@, irmão, tem que ser, né? Vinte anos do trio infernal. A festa tinha que ser no estilo! — respondi, orgulhoso dos meus filhos. O dia foi avançando e, enquanto isso, o pagode comendo solto. Beatriz, do jeito que é, já tava lá no meio, sambando com as primas. Os moleque jogando, mó paz na favela. Eu tava finalmente relaxando, achando que ia poder curtir a festa até o final, quando meu telefone tocou. Olhei pro visor e já sabia que não era boa notícia. "Fala" "Tártaro, precisamos de você na sede agora. Tem uma treta rolando, e a gente precisa das suas ordens no jogo" Suspirei. Sabia que não tinha escolha. Esse tipo de chamado não dava pra ignorar. O dever chamava, e eu não posso vacilar. "Já tô descendo. Conta vinte" Desliguei o telefone e dei aquela olhada pro meu trio. Eles tavam tão felizes, se divertindo, vivendo o momento, junto com os gêmeos e os primos. Era exatamente por isso que eu faço o que faço. Pra garantir que eles tenham muitos momentos como esse. Cheguei perto da minha mãe, que tava conversando com as mulheres. — Mãe, vou ter que sair. Chamado urgente. Ela me olhou daquele jeito que só mãe olha quando não gosta da situação, mas sabe que não pode fazer nada. — Cuidado, filho. E volta logo. Dei um beijo na testa dela, e fui pro carro. Enquanto ligava o motor, olhei pra casa mais uma vez. O som rolando, a fumaça da churrasqueira subindo, meus filhos felizes. Era exatamente isso que eu queria pra eles: alegria, tranquilidade e união. Mas a vida, às vezes, pedia sacrifícios. E hoje, infelizmente, eu ia ter que deixar o churrasco pra depois. Dei a partida e desci pro comando, no caminho já tô sabendo o que rolou. Tentaram invadir a porr@ do meu arquivo pessoal, tem rato querendo mexer no meu sistema, vou mandar mais um pra Ratoeira.
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