Não vai ser tão fácil

1038 Words
Camila Narrando Eu nunca imaginei que o dia que foi perfeito, terminaria tão intenso. Quando Tártaro apareceu ali, na minha frente, com aqueles olhos fixos nos meus, eu fiquei sem saber o que pensar, o que sentir. Já imaginei várias vezes esse momento, mas estar cara a cara com esse homem, era outra história. Meu peito apertava com uma mistura estranha de emoções. Parte de mim queria encará-lo de volta e mostrar que não estava intimidada, mas a outra parte, a que eu tentava esconder até de mim mesma, notava o quão lindo ele é. Sim, é verdade. Mesmo com toda aquela aura de perigo, Tártaro tem uma beleza que me tira o fôlego. Mas eu sabia que não podia, de jeito nenhum, deixar transparecer que eu o conhecia. Eu conheço muito bem a história desse homem. Eu carrego um ódio mortal dentro de mim, por ele. E se ele descobrisse que eu sabia quem ele realmente era, isso poderia se complicar ainda mais. Tentei manter a postura, o olhar fixo, sem demonstrar nada além de ironia. O tempo todo, fui sarcástica, joguei com as palavras para tentar despistá-lo. Mas tinha algo ali. Ele não estava só me encarando, ele estava me estudando, tentando entender quem eu era. Tártaro parecia interessado, mais do que eu esperava. Foi então que Cássio se levantou. Aquele idïota escolheu o pior momento possível. Pude ver de relance que Tártaro também não gostou da interrupção. Foi como se algo tivesse se quebrado entre nós. E em um piscar de olhos, a tensão que já estava presente no ar novamente, escalou de uma maneira que eu não previa. Tártaro sacou a arma e, sem pensar duas vezes, atirou em direção ao Cássio. Eu entrei em modo automático, puxei minha pistola sem hesitar e mirei direto nele. Tudo ficou mais lento, como se o tempo estivesse se arrastando. Minha respiração pesada, o suor frio descendo pela testa. Tártaro não parecia intimidado. Na verdade, ele parecia gostar da situação. Com uma calma assustadora, ele arrastou Cássio para fora do carro enquanto eu saía pela outra porta, com minha arma sempre apontada para ele. Eu não podia perder o foco. — Solta o meu amigo, agora — gritei, tentando manter a voz firme, embora meu coração estivesse batendo tão forte que parecia que ia sair pela boca. Cássio, coitado, estava desesperado. Ele não estava preparado para isso, nunca esteve. Advogado, sempre focado no lado empresarial, nunca tocou em uma arma, muito menos esteve numa situação de vida ou morte como essa. Tártaro apenas me olhou com um sorriso de canto de boca, como se estivesse se divertindo com o meu desespero. E então, sem desviar o olhar de mim, ele encostou a arma na cabeça de Cássio. O clique do destravamento da pistola ecoou pela rua, e meu coração parou por um segundo. — Solta ele agora, ou eu juro que atiro — minha voz saiu mais alta, mas eu não sabia se era o suficiente. Eu estava tentando me convencer tanto quanto tentava convencer ele. Meu dedo já estava no gatilho, pronto para agir. Ele levantou a cabeça devagar, me encarando. Seus olhos estavam escuros, como se estivessem mergulhados em um abismo que eu nunca poderia alcançar. Então, ele falou, a voz baixa e firme, quase como uma provocação ou um Rosnado: — Eu solto esse merda, mas com uma condição — ele fez uma pausa, como se estivesse saboreando o momento. — Você vem comigo. Minhas pernas fraquejaram por um instante, e minha mente ficou em branco. Não tinha esperado por isso. Ir com ele? O que ele quer de mim? Eu não conseguia pensar numa resposta, não conseguia raciocinar. Só conseguia sentir a adrenalina tomando conta do meu corpo. — Qual é a sua, Tártaro? — tentei ganhar tempo, mas ele não parecia interessado em negociações. — Isso é entre nós dois, então. Solta o Cássio. Ele riu, um som seco, rouco, a voz dele e a risada é extremamente grossa, senti um frio que fez minha espinha gelar. — Não, não é assim que vai funcionar, Camila — ele falou meu nome, e foi como se tivesse me atingido diretamente no peito. Será que ele sabe quem sou eu. O jogo de dissimulação tinha acabado. — Eu quero você. Agora. Ou o seu amiguinho morre aqui mesmo. Eu estava sem saída. Minha cabeça girava, e tudo o que eu conseguia pensar era que, de alguma forma, teria que tirar Cássio dali. Ele não merecia estar no meio disso. Não sabe nada sobre o submundo e não tem culpa desse abismo que eu me envolvi, Respirei fundo, tentando achar uma solução, talvez ir com ele seja uma boa ou não. — E se eu for com você, ele vai ficar bem? — perguntei, a voz saindo mais suave do que eu queria. — Ele vai ficar vivo — Tártaro respondeu, com aquele maldito sorriso de canto que me tirava do sério. — Mas depende do seu comportamento. Senti o suor escorrer pela nuca. Não era só Cássio que está em risco aqui. Eu também estou. Só que, ao contrário dele, eu sei com quem estava lidando. Sei que Tártaro não faz ameaças vazias. Soltei um suspiro e abaixei a arma, mesmo que cada fibra do meu corpo estivesse gritando para fazer o contrário. — Solta ele — pedi, tentando soar firme. Tártaro me encarou por mais alguns segundos, como se estivesse avaliando minha sinceridade. Então, num movimento rápido, ele empurrou Cássio para longe, fazendo meu amigo cair no chão. — Se tu falar o que rolou aqui, já era, sei onde tu mora e a tua família também — Tártaro praticamente rosnou. — Vai embora, Cássio! — gritei para ele, e ele, ainda em choque, começou a se afastar correndo. Eu sabia que ele não iria muito longe sem ajuda, mas pelo menos estaria fora do caminho do Tártaro. Agora era eu e ele. — Boa escolha, Morena — Tártaro disse, guardando a arma, mas seus olhos não perderam a intensidade. Ele deu um passo na minha direção, e eu continuei firme, sem recuar. — Vamos ver até onde você aguenta. Engoli em seco, mas não vou me render fácil, não antes de lutar.
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