Adoro me queimar

1224 Words
Camila Narrando Saí do baile já meio cansada, ainda confusa, será que chamei a atenção dele o suficiente? Assim que pisei fora, vi um mototáxi parado bem na minha frente. O cara tinha acabado de desembarcar alguém e, sem nem pensar duas vezes, eu fui logo subindo na garupa. — Bora descer o morro — falei, apertando os olhos por causa do vento forte que batia na minha cara. Chegamos na barricada e eu nem esperei o cara desligar a moto direito. Pulei rápido, já paguei a corrida. Tudo isso foi em segundos. Assim que paguei, vi um táxi parado logo ali, parecia que tava me esperando. Eu só fiz sinal e entrei. — Pra onde, moça? — perguntou o taxista, virando a cabeça pra me olhar. — Leblon, na Rua Nossa Senhora, condomínio Le' parque, sabe onde fica? — falei, já me ajeitando no banco de trás, cansada demais. — Sei sim — Ele respondeu. Eu recostei a cabeça no banco e fechei os olhos por alguns segundos. O som da cidade naquela hora era um misto de silêncio e nostalgia. Quando o táxi finalmente parou em frente ao prédio da minha irmã, Paguei a corrida e agradeci. Já era quase duas da manhã quando passei pela portaria e subi pro apartamento. Usei a chave reserva que ela me deu e entrei devagar, tentando fazer o mínimo de barulho possível. A casa estava escura, e tudo o que eu conseguia pensar era em como o banho ia ser a melhor parte daquela noite. No banheiro, deixei a água quente cair sobre os meus ombros enquanto a tensão do corpo ia embora aos poucos. A sensação de limpar toda aquela energia do baile, as pessoas, o som alto, o calor, tudo parecia se dissolver pelo ralo junto com a água. Quando saí do banho, a casa continuava silenciosa, só o som do relógio marcando o tempo. Me deitei na cama, exausta. O colchão parecia me engolir de tão confortável, e eu finalmente fechei os olhos. Pensei que ia apagar logo, mas assim que o cansaço começou a me levar, a imagem dele surgiu na minha mente. Tártaro. Abri os olhos de novo, encarando o teto escuro. — Lindo... — sussurrei pra mim mesma, sem nem perceber. Mas logo completei: — Porém não vale nada. O jeito que ele mexeu comigo não é normal, mas a verdade é que eu sei que ele não presta. Todo mundo sabe. Só que, por mais que eu tentasse me convencer, a cada segundo a lembrança dele invadia minha mente sem pedir licença. — Ah, Camila, para de ser bürra — murmurei, virando pro lado, abraçando o travesseiro. Acordei com o sol forte entrando pela janela, sem nem pedir licença, invadindo o quarto e me puxando da cama. No primeiro segundo, fechei os olhos de novo, ainda meio perdida entre o sono e a realidade, mas logo senti aquele calor gostoso e abri os olhos de vez. A luz inundava o quarto de uma maneira que só o sol do Brasil consegue fazer. Não deu outra: levantei devagar, ainda espreguiçando, e fui direto para a janela. Assim que abri as cortinas, lá estava ele, o mar, gigantesco, azul e lindo, logo na minha frente. Era como se estivesse me chamando, me convidando a descer. A saudade desse clima tropical bateu forte. Tinha me esquecido de como o Brasil me fazia sentir viva. O cheiro de maresia, o calor do sol, o barulho das ondas. A única coisa que consigo pensar é que quero aproveitar cada segundo. Decidi que hoje vai ser um dia de praia. Não quero perder tempo. Abri as malas que ainda estão fechadas, escolhi um biquíni, Peguei um biquíni azul, o meu favorito. Ele é bem confortável. Depois de escolher o biquíni, fui até o espelho e o vesti com cuidado, ajustando as alças e verificando se estava tudo no lugar. É engraçado como um simples biquíni pode me fazer sentir tão livre. Vesti uma saída de praia por cima da Calcinha, deixando só a parte de cima exposta. Mas, claro, antes de sair, tem algo que eu nunca esqueço: o protetor solar. Aprendi isso na marra depois de algumas queimaduras que me deixaram vermelha como um camarão. Pego o frasco e começo a espalhar pelo corpo. Passo com cuidado nos ombros, nas pernas, no rosto, garantindo que nenhuma parte fique de fora. O sol daqui é forte, não dá para bobear. Agora, sim, estou pronta. Pego uma bolsa pequena com o essencial, óculos de sol, uma garrafa de água e um livro para ler na praia. Não sei se vou conseguir ler, porque quando estou perto do mar, é difícil não ficar hipnotizada pelo som das ondas, mas levo mesmo assim. Sai do quarto, fui direto para a cozinha tomar café da manhã. O apartamento estava um silêncio, aquela calmaria que só a manhã oferece. Preparei um café preto e um pão com queijo. Quando terminei, ouvi passos leves vindo do corredor. Era Cecília, que tinha acabado de acordar. Ela estava sonolenta, mas com aquele jeitinho doce de sempre. Dei um beijo na testa dela e outro na barriguinha, que já dava os primeiros sinais de crescimento. Cecília riu e me deu um abraço antes de eu sair. Peguei minha bolsa e fui direto para a praia. Já estava quente, mas a brisa do mar ajudava a deixar o clima mais gostoso. Quando cheguei, vi Ludmilla de longe, junto com um amigo nosso. Dei uma corridinha até eles e logo já estávamos rindo e jogando conversa fora. A manhã foi divertida, a gente se jogou nas ondas, riu das situações mais bobas e aproveitou o sol. Passar um tempo com Ludmilla sempre me faz bem. Ela tem uma energia boa, sabe? Tipo, faz qualquer lugar parecer uma festa. No final da tarde, quando o sol já estava mais fraco, resolvemos ir para um restaurante à beira-mar. Sentamos em uma mesa de frente para o mar, e o som das ondas quebrando bem ali perto era o cenário perfeito para relaxar. O garçom veio e eu logo pedi um mojito, meu drink favorito. Aquela mistura de menta com limão sempre me deixa animada. — Lud, preciso de um favor. Será que você consegue bagunçar o sistema do comando vermelho, pra mim? Só pra causar um pouquinho, sabe? Nada demais. Ela me olhou com aquele olhar de quem sabia que eu estava pedindo algo complicado. — Camila, isso é perigoso. Se mexer com eles, vai dar ruïm pra todo mundo, inclusive pra você. Eu ri, dando um gole no meu mojito. — Não quero mexer em nada importante, só quero causar um caos básico. Não seria divertido ver eles correndo sem saber o que está acontecendo? Ludmilla balançou a cabeça, um sorriso discreto no rosto. — Tá brincando com fogo, Cami. Eu dei uma risadinha e mexi no gelo do meu copo, com a ponta do dedo. — Ah, Lud... Eu adoro me queimar. Chupei a ponta do dedo, aproveitando a última gota do mojito, enquanto Ludmilla me olhava como se estivesse entre o choque e a diversão. Ela sabia que eu não desistiria fácil da ideia, e eu sabia que, apesar de todo o discurso de cautela, ela também gosta de uma boa confusão, queria ser uma mosquinha só pra ver a cara do Tártaro agora.
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