A caçada
A noite estava fria, mas era comum devido as brisas marítimas. A lua estava minguante, e Jason respirava fundo desfrutando das sensações que o mar poderiam lhe proporcionar naquela madrugada. Ele estava atento ainda assim, pois tinha um trabalho a fazer. Os moradores locais haviam reclamado de alguns desaparecimentos. Claro que isso aparentava ser um trabalho para a polícia, mas essa história estava m*l contada para Jason.
Os desaparecimentos das pessoas não seguiam um padrão. Não tinha uma faixa etária de idade estabelecida, sendo pessoas de qualquer porte e s**o que era relatado os desaparecimentos. O único ponto em comum, é que todas eram na mesma praia. Halouver Beach.
O caçador não era bobo, e sabia o que isso significava. Um território. Um território de caça. Alguma coisa estava sequestrando essas pessoas e, muito provavelmente, as devorando. Essa coisa só podia ser aquática, pois não haviam rastros e nem cheiro deixados para trás, e o mar é com certeza o melhor cobertor para esconder os crimes desse assassino.
A cidade estava em época de turismo, e por conta disso, Jason não podia deixar o que quer se fosse continuar suas gracinhas por ali. Quanto menos pessoas sobreviverem, menos prováveis clientes ele teria para seu negócio, e também, claro, seu pai jamais aprovaria que ele deixasse viva qualquer monstro que encontrasse.
Um som fez com que Jason parasse seu barco. Não apenas um som, mas sim um estalo, acompanhado de uma movimentação na água. Alguma coisa estava se aproximando de si. Jason tentou localizar pelo radar programado de seu barco, mas não havia leitura alguma. Isso era estranho. No entanto, o jovem não se deixou abalar ou sequer sentiu medo, mas teve certeza de que estava lidando com algo que não conhecia até então.
Os minutos se passavam lentamente, em total silêncio. Jason sabia que alguma coisa estava o rondando, reconhecendo a embarcação. Ele se sentia observado. Aquilo era perigoso...
Jason saiu da cabine ao ouvir um golpe sendo desferido na água, bem ao lado esquerdo de seu barco. Ele se pendurou, segurando firmemente na barra de metal e pegou uma adaga de seu cinto. Olhava atentamente para a água, que ainda se movia suavemente pela movimentação. Assim que aquela coisa subisse, ele a mataria.
Mas em poucos segundos, aquele silêncio mortal foi substituído por um galope equalizado. Como se um cavalo estivesse correndo em sua direção, ele ouvia os estalos de suas patas batendo furiosamente na água, se aproximando mais e mais. Jason se preparou para o impacto da criatura. No entanto, quando seu galope estava tão alto que seus sentidos m*l conseguiam perceber qualquer tipo de mudança à sua volta, o galope cessou.
O caçador não entendeu o que estava acontecendo.
— Para onde foi? — ele se questiona em voz baixa, forçando os olhos a tentar ver algo naquele breu de água. E então, Jason abaixa a guarda.
Um rangido infernal corta seus tímpanos instantaneamente. A frequência daquele som era tão alta que ele foi forçado a tapar os ouvidos. O som horrendo cessa e rapidamente Jason corre para a outra extremidade da embarcação, logo encontrando um arranhão h******l em seu barco. Alguma coisa havia o danificado.
Jason sequer teve tempo de pensar, pois o arranhão novamente se repetiu, fazendo com que o rapaz perdesse o equilíbrio por instantes, e caísse ajoelhado no chão, tapando novamente os ouvidos. O caçador puxou então, um arpão da dispensa de armas ao seu lado, através da janela da cabine. Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, o barco foi atingido brutalmente, criando solavancos por toda a embarcação. Um grito soou furioso, como um relincho de um cavalo selvagem irado. Ao olhar para frente, quando o barco se estabilizou, ele viu.
Não era um monstro. Era uma garota.
Uma garota belíssima, que se encontrava coberta apenas pelo comprimento de seus longos cabelos.
Jason não era i****a, e já lançou seu arpão sem hesitar. A jovem no entanto não teve dificuldades para o segurar no ar e o devolver com uma força brutal, forçando Jason a rolar para o lado para não ser atingido. O caçador saca sua adaga e corre em direção a garota. A jovem sorri maldosamente e de seus braços surgem espinhos e nadadeiras, crescendo por cima de sua pele pálida. Ela rapidamente salta para o mar novamente, sumindo de vista antes que Jason a alcançasse. Mas aquilo ainda não havia acabado. Outro estrondo atinge com força o barco, fazendo com que Jason caia da embarcação.
Agora ele estava sob total domínio dela. Ao subir para respirar, Jason viu um enorme espinho subir pela superfície. Mas aquilo... Não, não era um espinho. Era um chifre. A criatura levantou sob a superfície, deixando sua cabeça e pescoço expostos. E então, Jason entendeu. Aquela coisa era uma kelpie.
A cabeça da criatura era exatamente como a de um cavalo. Sua pele era muito clara e sua crina platinada. Os olhos prateados daquela coisa encaravam mortalmente Jason, vindo rapidamente em sua direção. O caçador instantaneamente soube o que fazer.
Assim que a Kelpie o alcançou, ele conseguiu desviar de seu chifre, agarrou em sua crina e enfincou sua adaga no pescoço daquela coisa. O sangue espirrou e revelou as rédeas douradas da kelpie. Ele agarrou fortemente as mesmas, cruzando suas pernas contra o peito do cavalo marítimo e tentando o controlar. A criatura relutou, jogando-se contra a água e nadando velozmente em direção ao fundo. Se Jason não conseguisse mudar a direção, ele morreria afogado.
Ele puxou com toda a sua força as rédeas, mas a criatura negava seu comando debatendo-se. Então o caçador teve de tomar a última providência. Se ele falhasse, morreria. Jason puxou sua adaga do pescoço da kelpie e desferiu um golpe certeiro em seu dorso, fazendo a criatura berrar irritada. Ele aproveitou os poucos segundos que lhe restavam e puxou os freios com força. A kelpie tentou se debater mas Jason cruzou
suas pernas em torno de seu pescoço e apertou mais forte. Ela não teve escolha
senão ceder. E então, o caçador conseguiu fazer com que ela subisse em nado rápido em direção a superfície.
A cauda de assemelhava a de uma sereia e se movia velozmente. Suas patas se
moviam na mesma velocidade que sua cauda, simulando um galope majestoso.
Assim que conseguiu chegar à superfície, Jason pode finalmente sentir o ar com precisão enchendo seus pulmões já esgotados de oxigênio.
A kelpie se encontrava entorpecida pelo efeito do freio recém apertado em si. Ela
não tinha mais controle do seu corpo. Agora Jason a controlava.
Ele amarrou as rédeas douradas do monstro na barra de metal de seu barco e subiu no mesmo, logo lançando uma rede sobre a criatura. Ainda sem controle, a kelpie não se moveu, não porque não queria, mas sim porque não podia. Aquele efeito demoraria a passar. Então, Jason puxou a rede com a criatura enrolada, jogando-a com brutalidade sobre o barco ainda viva. Ele respirou
fundo, esgotado pelo cansaço e olhou bem para seu novo troféu. A kelpie só
conseguia encarar com seus olhos frios e prateados.
Seu corpo era esguio e ágil, sua pele era clara, composta pela cor acinzentada e
continha diversos desenhos na mesma, fazendo uma estampa reluzente nas cores turquesa e roxa. A pele era macia, lembrando muito a pele de foca, e brilhava sob a luz do luar, reluzindo como o metal novo e encerado. Suas patas da frente possuem nadadeiras longas, seu casco era prateado como seus olhos, contendo um par de nadadeiras sob a parte traseira e superior bem acima dos cascos. Sua crina era esverdeada na raiz, porém se estendia em um degradê, onde ficava platinada, quase tão clara quanto a neve. Seu dorso era liso, só contendo nadadeiras no final da cauda. E por fim, um belo chifre afiado como uma adaga se encontrava no topo de sua cabeça.
Jason nunca havia visto uma kelpie daquele jeito. Ela não era uma kelpie qualquer, sem dúvida nenhuma. E também estava presente no mar, sendo que essa espécie costumava estar presente em lagos e rios. Eram criaturas de água doce.
– Eu não sei o que você é precisamente, criatura. E só por isso vou te manter viva por enquanto. – disse friamente para a kelpie que bufou levemente em resposta. Ela ainda não havia recuperado o controle do corpo. – Vou estuda-la por inteira e vamos ver se você me gera algum tipo de lucro.
Jason se vira e entra na cabine de comando, girando o lene e direcionando seu barco para a costa, onde levaria a criatura para seu porão. Ele estudaria aquela coisa e descobriria o quanto ela valia no mercado dos monstros. Mas ele não contava que a kelpie também tinha seus planos para tornar sua vida em um verdadeiro inferno.