Pobre menina rica

3942 Words
Natasha Bertolini   Abri meu closet e separei um vestido de corte simples, clássico. Tudo o que queria era passar desapercebida na festa de Raquel. Ele era um pouco acima do joelho, moldava meu corpo e valorizava minhas formas. Deixei para trás as várias opções de vestidos, todos caros, a maioria do nosso estilista Rodolfo Miller. Vestidos com estampas e modelos exclusivos. Tudo porque, mamãe tinha pavor de vestir algo e encontrar alguém vestindo o mesmo. Meu pai era um rico empresário, dono de um grande estaleiro. Arnold Bertolini era o maior fabricante de barcos a vela de todo o país. Lutou muito para chegar aonde chegou. Embora tenha herdado o estaleiro com a morte de seus pais. Filho único, prosperou sozinho o negócio. Sempre foi muito popular um grande frequentador de festas da alta sociedade. Hoje ele estava mais pacato, parecia que estar cansado dessa vida.  Sua popularidade acabou caindo sobre mim. Quando eu o acompanhava em alguma festa, todos os olhares se voltavam pra mim. Eu era vista como a filha de Arnold Bertolini, a garota mimada, filhinha de papai e única herdeira de uma grande fortuna. Lucinda, minha mãe, teve problemas para engravidar, e quando engravidou teve uma menina, para a grande frustração de meu pai. No fundo ele queria ter tido um filho, ele nunca escondeu isso. Minha mãe tentou engravidar novamente, mas sem sucesso, para sua grande frustração. Adotar? Meu pai era preconceituoso, por isso não quis adotar um menino. Ele se sentia o todo poderoso, sangue azul. Jamais adotaria um bastardo. Suspirei.  Detestava ser filha única, meu pai chegava aos extremos de investigar todas as pessoas que faziam parte de meu círculo de amizades.  Arnold só permitiu minha amizade com Raquel, de origem mais simples, pois ela era filha de um respeitado Cardiologista do Hospital São Miguel. A conheci no hospital quando acompanhava meu pai em uma uma consulta. Raquel estava sentada em um banco no corredor do hospital e aguardava seu pai, Dr. Jonas Forest, para irem ao teatro. Eu me sentei ao lado dela e começamos a conversar. Como a consulta demorou, passamos um bom tempo conversando.  Pela primeira vez, fazia amizade com uma pessoa de classe inferior à minha. Isso despertou minha atenção e o desejo de conhecer mais esse meio. Logo gostei dela. Descobrimos muitas afinidades. Tínhamos o mesmo gosto musical, inclusive, assistimos e curtimos os mesmos filmes.  Desde esse dia, não nos separamos mais e Raquel passou a frequentar minha casa. Não éramos muito íntimas ainda, pois tínhamos pouco tempo de amizade, exatos três meses.  Com o tempo eu comecei a enxergar em Raquel uma garota diferente do que eu imaginava. Ela era muito superficial, isso me decepcionou um pouco. Diferíamos muito na maneira de encarar a vida. Ela amava o luxo, a riqueza, já eu amava as coisas simples e a liberdade dela. Meu meio já era assim, pensei que encontraria uma pessoa diferente nela. Poucas vezes fui à casa de Raquel. Um dos motivos era que Raquel se sentia constrangida por ser de origem humilde, então não fazia questão nenhuma que eu fosse lá. Já, ela adorava minha casa, geralmente passamos o final de semana juntas, de papo para o ar, na piscina, na sala de jogos, ouvindo música, caminhando pelos arredores da mansão. Ela sempre me dizia o quanto eu era uma pessoa de sorte, como eu era bem-aventurada. Engraçado... ela conhecia a minha vida de controlada, sabia o que eu passava com meu pai. Muitas vezes eu me perguntava se ela se sujeitaria a ter tudo que tenho com o pai que tenho? Será que essa parte ela queria? Acredito que não! De longe tudo era lindo e maravilhoso.... Fechei os olhos e balancei a cabeça.  Eu adorava ir à casa de Raquel, aquela simplicidade toda me atraía.  Adorava almoçar lá. Seu pai era um amor de pessoa. Sempre muito bem-humorado. Lá eu podia comer a vontade, sem a sombra da minha mãe no meu pé, controlando a minha fome com medo de eu engordar. Podíamos conversar e brincar nas refeições. Muito diferente de minha casa, sem aquela pompa toda, com todo aquele ritual de empregados servindo, e aquela conversa fria, respeitosa que tanto me irritava. Constatei ao longo desses anos que ser rica não era sinônimo de felicidade. Eu preferia as pessoas do que o material, eu preferia a natureza do que o concreto, eu preferia um bolo de milho, do que caviar... eu definitivamente, não estava ligada ao meu material. Na verdade, até invejava Raquel, no bom sentido.  Se tivéssemos o direito de escolha antes de nascer, eu escolheria nascer no lar dela. Um lar de gente simples de coisas simples... Sempre me senti a pobre menina rica, Roger, o nosso chofer me levava para os lugares controlados pelo meu pai. Caso eu quisesse usar meu carro, sempre tinha um segurança na minha cola. Arnold ditava minha vida o tempo todo. A maior parte das vezes, eu me sentia frustrada. Me formei em administração de empresas, na luta. Ele me controlou o tempo todo: de casa para a faculdade e da faculdade para a casa. Para que segurança na cola se eu não podia ir aonde eu quisesse? Acho que ele tinha medo que eu conhecesse alguém, que eu me apaixonasse por algum homem de classe inferior à minha. Não havia outra explicação. Agora formada, vivia ociosa. Quando eu reclamava, a sua resposta era sempre a mesma: “Tenha paciência. Você logo assumirá os negócios da família”.  Essas falas se repetiam há um bom tempo, mas esse dia não chegava nunca... Agora ele deu para fugir do assunto e eu me perguntava se eu chegaria a conhecer algum dia o que era o dia-a-dia normal das pessoas que trabalhavam e estudavam. Senti um aperto no coração. Abaixei a cabeça e soltei o ar com tristeza. Com vinte e dois anos, infelizmente, eu não era dona de meu próprio nariz, tudo que eu fizesse, precisava o consultar antes. Lucinda o apoiava em tudo. Ela se anulava por causa dele, isso já lhe era natural. Minha mãe não entendia que a diferença entre nós duas era que: ·         Ela tinha feito sua escolha em viver sob o domínio de meu pai, que era extremamente machista. ·         Mas eu não, isso me era imposto. Eu não escolhi viver assim.  Tudo isso me tem me trazido uma grande revolta.... A dramaticidade aumentou desde que ele teve um leve problema no coração por causa do estresse. Ah... aí ele começou a usar esse tipo de chantagem emocional comigo. Tudo para alcançar seus objetivos. Quando ele via a minha resistência para qualquer coisa imposta por ele, Arnold ficava afetado, colocava a mão no coração e dizia que eu era uma filha ingrata e que eu levaria seu frágil coração a enfartar. Que seu coração não ia aguentar... Eu nunca sabia até que ponto aquilo tudo o afetava de verdade... Suspirei. Com medo de meu pai ter um treco, eu saía triste, e geralmente ia chorar no meu quarto, podada e frustrada. Só que essa minha passividade diante de tantas coisas, já estava me fazendo m*l. Estava me trazendo uma grande tristeza. Eu não conhecia a palavra “realização. ” Realização profissional, sentimental. Ter voz ativa... Eu me sentia como se vivesse segundo a vontade e a realização de alguém, no caso “meus pais”, que ditavam minha vida, como se eu não tivesse vontade própria. Nos arquivos de minha memória, eu via o quanto eu me anulava, o quanto eu abria mão de meus sonhos. De que adianta eu estar cercada de luxo e infeliz? Uma mera expectadora! Isso que eu era! Apenas observava a vida passar diante de meus olhos, sem poder interferir no meu futuro, sem poder ditar minhas escolhas. Meus pais infelizmente, não me conheciam, embora convivêssemos no mesmo teto durante uma vida inteira. Eles definitivamente não entendiam o meu lado enfadado e desinteressado pelo meu meio social e tão fútil. Isso tudo gritava silenciosamente no meu peito. Ou... até sabiam, mas como tudo, eles ignoravam minhas vontades. E pensando bem, isso era o mais provável. Por isso, me alegrei muito de ter conhecido Raquel, passei a conhecer um lado da vida que me fora negado, desconhecido. E eu me apaixonei pela simplicidade das pessoas. Elas com certeza eram mais verdadeiras, pois falavam o que pensavam sem se importar com o que os outros iriam pensar, sem se importar com etiquetas, roupas de grife. Muito diferente da vida que eu levava. Onde meu pai adorava convidar seus amigos ricos que participavam de banquetes em nossa casa. Tudo muito regado a champanhe, caviar, conversas fúteis, cheios de etiqueta. Comecei então, de uns tempos para cá, a perceber algo que passou a me incomodar e muito: as festas e os jantares, que papai bancava, tinham como única finalidade a de me casar com alguém do nosso meio. Ah, mas isso não funcionou, para a frustração de Arnold. Não era pirraça, eu simplesmente não conseguia me ligar a nenhum deles.  Os homens do meu meio eram tão vazios. Totalmente broxantes e desinteressantes. Uns playboys, que nunca lutaram por nada na vida. Além de tudo isso, ainda existe um grande agravante: Se eu me casasse com algum deles, eu repetiria a vida de minha mãe. Seria a sombra de meu marido.  Ou seja, sem cérebro. Me anularia, viveria para satisfazer a vontade de meu marido. Ah... Eu me negava a ter esse tipo de vida! Quando papai percebeu o meu desinteresse, ele mudou sua tática, e agora atacava com um homem em especial, Francisco Oliver Ferrazzo, filho de um banqueiro. Fiz uma careta e afastando meus pensamentos, me fitei no espelho.  Sorri satisfeita. Estava pronta... Mamãe... A imagem dela mais moça, era eu, a cópia dela. Os mesmos cabelos negros, o mesmo formato do rosto e os mesmos olhos verdes. Mas a semelhança terminava aí, pois nossa personalidade era muito diferente. Na verdade, eu desprezava a imagem de minha mãe: Uma mulher fútil, cercada de um luxo, uma vida sem sentindo. Rodeada de empregados, numa casa fria, sem calor humano, parecíamos marionetes, cada um representando seu papel no lar. Nunca seria como minha mãe, um bibelô. AHHHHHHHH! Como me sentia um ET! Suspirei novamente.  Quem me ouvisse, com certeza me julgaria: O que você tanto reclama? Tem de tudo. Não te falta nada. Eu responderia: Não é o dinheiro que me incomoda, e sim o que nos transformamos com ele. Penteei meus cabelos até que eles ficassem brilhantes e ajeitados. Eles estavam compridos, um pouco abaixo dos ombros, nas pontas ele fazia leves cachos. Fiquei satisfeita, estava bonita, mas não a ponto de chamar muito a atenção.  Era a primeira vez que eu ia à festa de Raquel. Meu pai estava viajando, isso significava uma pequena liberdade. Embora convencer minha mãe, não foi tarefa fácil, foi depois de muita conversa e muitas promessas... blá, blá, blá... Aleluia! Antes de sair, passei um perfume suave e coloquei uma gargantilha de pedrinhas negras. — Pronto! —Disse alto.  Feliz, rodopiei em frente ao espelho. O vestido tubinho preto, não se moveu do lugar, pois era um pouco justo. Como a festa terminaria tarde, combinei de dormir na casa de Raquel. Por isso preparei uma pequena mala para o dia seguinte, onde continha uma camisola, produtos de higiene pessoal e um vestido branco com tons preto. Peguei minha pequena bolsa onde tinha um batom, e o iphone. Sai do quarto com a pequena mala na mão e desci as escadas lentamente. Logo avistei mamãe tocando piano, uma linda melodia, "Can you feel the love tonight". Eu sorri, me sentindo feliz pelas minhas asinhas crescidas. Eu aproveitaria o máximo, pois meu pai chegando, elas com certeza, seriam cortadas. Eu parei em frente ao piano. Mamãe subiu seu olhar e quando me viu parou de tocar. Ela ficou em pé para me ver melhor. Seus olhos correram pela minha figura e estacionaram no meu vestido. — Você trocará de roupa na casa de Raquel? Ri por dentro, mamãe estava estranhando o vestido de corte simples que eu usava, não adiantava explicar para ela minha opção. Menti, concordando com um gesto de cabeça. — Mas não irá amassar? — Não mamãe, não se preocupe. Ela se levantou da banqueta e pegou meu braço. —Estou louca para te mostrar uma coisa. Suspirei. —Agora? O que ela ia me mostrar agora? Ela pegou a revista “People. ” —Lembra da Margareth Howard? Dá uma olhada nesse vestido? Soltei o ar impaciente e peguei a revista das mãos dela. Margareth sorria ao lado do marido, com um vestido rico em detalhes e pedraria, lindíssimo. Na legenda dizia que ela vestia “Chanel. ” —Linda! —Ela sempre tem algo assim para mostrar. Seu pai ultimamente anda muito pão duro. Faz um bom tempo que não compro um vestido para mim desse nível. Fitei meu braço por costume para ver as horas, e percebi que não estava usando meu relógio de ouro, pois o tinha tirado para não chamar a atenção. Disfarçando cocei meu pulso. —Mamãe, preciso ir. Não quero chegar muito tarde. Depois conversa com papai. O motorista está lá fora? Lucinda confirmou. — Ele já está te esperando. — Então até amanhã à noite. Ela me encarou séria. —Juízo lá, hein Natasha. Seu pai está fora, e a responsabilidade é toda minha. Deixa o celular ligado. Eu respirei fundo. — Mamãe, eu tenho vinte e dois anos, sou madura o suficiente para fazer as escolhas certas. Tchau. Dei um beijo em seu rosto. Quando me afastei ela me encarava séria. —Você só irá porque é na casa de Raquel. —Ela fez questão de me lembrar “novamente. ” —Eu sei mamãe, você já me disse isso. —Não sei o que tem lá que te atraia tanto para te dar essa vontade de ir? Liberdade! Pessoas que não se preocupavam só com o umbigo. Sorri para ela e arrumei uma boa desculpa. —Raquel ficará chateada se eu não for. Ela sempre vem aqui. Lucinda sorriu. —Tudo bem. Mas tome cuidado lá. Nunca se sabe o que pode acontecer no meio dessa gente. Fique longe de brigas, drogas e bebidas. —Claro! —Forcei um sorriso. —Não vou lá para brigar, beber ou me drogar. Ela riu. —Tudo bem, então. E quanto aos rapazes, lembre-se que é uma Bertolini, eles sempre se aproximarão de você com algum interesse. Será que eu estava iludida com esse mundo que me cercava? Será que um homem não me amaria por meus predicados, minhas qualidades, por eu mesma? Com uma sensação r**m, respirei fundo e peguei minha mala. —Até amanhã, à noite. —Frisei o a noite. Com minha pequena mala na mão, me dirigi ao Hall, abri a porta que me levaria à garagem, onde Roger, meu motorista, me esperava. Roger era um senhor de sessenta anos, magro e muito sério. Trabalhava há anos na família. Foi motorista do meu falecido avô paterno e agora trabalhava para papai. — Estou pronta Roger. A festa é na casa de Raquel, você só irá me buscar amanhã umas nove horas da noite. —Eu disse com um largo sorriso, não me contendo de alegria pela momentânea liberdade. Ele sorriu ao ver minha alegria. —Tudo bem senhorita. Eu tinha já avisado Raquel que eu ficaria no anonimato. Lá eu seria apenas Sacha. E a proibi de falar meu nome, ou meu sobrenome. Meu nome não era muito comum e eu tinha medo que as pessoas me reconhecessem. No caminho, para ocupar minha mente, peguei meu iphone e comecei a jogar. —Joguinho novo? Ergui meus olhos para Roger e sorri. —Na verdade, estou ansiosa. É a primeira vez que participo de uma festa com pessoas de classe social diferente da minha. —Será ótimo para a senhorita. Guardei o iphone na bolsa, muito interessada na conversa. —Eu sei. Sabe como me sinto? Como uma criança poupada de pegar bactérias, onde os pais a protegem ao extremo, mas eles não sabem que quando ela tiver contato com uma, ficará muito doente, pois não criou mecanismos de defesa. Ele riu. —Seus pais se preocupam com você. Seu avô, não foi diferente. Seu pai não conhece outro meio. Ele nunca se misturou. Estou um tanto surpreso que sua mãe tenha liberado sua ida. —Roger, eu tenho vinte e dois anos. Acho que ela se deu conta que meu pai exagera. E por favor, não conte nada para ele. Roger lançou o olhar pelo retrovisor. —Pode ficar tranquila. Estou há anos com seu pai e nunca me meti na vida de vocês, nunca me envolvi com qualquer tipo de comentário. Sei aonde é meu lugar. —Você sabe que mora no meu coração, não sabe? —Eu perguntei de repente com muito amor pelo meu motorista, que eu conhecia desde sempre. Ele sorriu emocionado. —Eu sei sim, senhorita. Quando despontou a rua de Raquel, eu disse a ele: —Roger, por favor, pare antes. Não quero que ninguém me veja com motorista. Hoje ficarei no anonimato. —Verdade? —Ele soltou uma risada, estacionando o carro um quarteirão de distância. — Quando te ouço falar assim me dou conta o quão diferente você é de seus pais. Às vezes me pergunto por quem a senhorita puxou.  Eu sorri. —Eu acredito que pela minha bisavó materna. Mamãe me disse que ela era uma mulher de fibra. Antes de meu bisavô enriquecer ela trabalhava como recepcionista em uma fábrica. Numa época onde as mulheres não costumavam sair para trabalhar. —Está explicado! —Ele sorriu. Com a mala na mão, caminhei pela calçada. Perto da casa de Raquel, eu já conseguia ouvir a música do U2 “With or without you”. Que estava num volume bom, graças a Deus não estava estridente. Parei em frente à casa dela, um sobrado branco, estilo Tudor. Jardineiras com azaleias vermelhas presas as janelas e um lindo jardim lateral cheio de botões de rosas vermelhas, outras abertas exalando seu perfume. Abri o pequeno portão branco, e antes de entrar acenei para Roger que estava em pé na calçada me observando. Enquanto eu não entrasse, ele não iria embora. Foi inevitável sentir o coração acelerar na expectativa e ansiedade pelo desconhecido. Um sexto sentido me dizia que depois dessa festa, algo dentro de mim iria mudar.  Toquei a campainha. A porta se abriu e um rapaz loiro de olhos azuis surgiu. Quando ele me viu, estacou por um tempo e me mediu com os olhos, então sorriu. Raquel logo chegou e tomou a frente da porta. — Sacha! — Ela disse animada, piscando para mim, mostrando que ela se lembrou do combinado. “Não falar que eu era filha de Arnold Bertolini e não falar meu nome completo”. Um sorriso se formou em meus lábios ao vê-la. — Que bom que conseguiu vir! — Ela continuou quando me aproximei. Seus cabelos castanhos cacheados eram cortados na altura do queixo. Os olhos grandes e castanhos, repletos de maquiagem marrom, estavam ansiosos. —Estou feliz de ter vindo. —Eu disse com um sorriso. Havia pessoas dançando. Algumas delas estavam se beijando. Tudo muito estranho para mim…Mas eu estava amando! E viva a liberdade! — Vou levar sua mala e sua bolsa para o quarto de hóspede. —Ah, deixe eu te apresentar. Esse é Travis. Ele estuda medicina e trabalha como estagiário no hospital que papai trabalha. —O rapaz era o que me atendeu na porta, que ainda olhava para mim com um sorriso. —Prazer em conhecê-la. —O prazer é meu. —Eu disse educada tirando a minha bolsa e dando para Raquel, junto com a mala. —Fique à vontade. — Raquel disse se afastando em direção a escada que a levaria aos quartos e um pequeno banheiro. Travis pegou meu braço. —Vem comigo! Eu estranhei. Não estava acostumada ser tocada sem conhecer a pessoa direito e percebi que muita coisa, nesse novo ambiente, eu ia estranhar. Livre! Assim que me senti E viva a liberdade! Sorri para ele e me deixei ser conduzida para dentro da casa.  Alguns móveis foram encostados à parede para dar maior espaço na sala, que não era pequena. As lâmpadas fortes da sala deram lugar a lâmpadas mais fracas e coloridas. Muito legal!  Me lembrei do filme Embalos de Sábado à noite, na época da Disco Music. É... bem diferente das festas que eu ia, onde o ambiente era o mais iluminado possível para o desfile dos vestidos, anéis e colares. Passei os olhos pelos convidados. A grande maioria eram jovens da minha idade. Os rapazes e moças deveriam ser jovens médicos, que faziam universidade com Raquel ou trabalhava com ela no hospital.  Quando eu percebi, ele tinha me levado num canto distante das caixas de som, onde poderíamos conversar. —Sacha. —Ele repetiu meu nome. —É um nome Russo? Eu ri. —Não, é diminutivo de Natasha. —Lindo nome. —Obrigada. —Quer beber algo? —Ele me perguntou com um sorriso. —Uma Coca- cola. —Eu disse. Essa era uma bebida proibida em casas, engordava, fazia m*l para os dentes e para os rins. —É para já. —Fez uma espécie de aceno, e se afastou de mim em direção a uma mesa onde tinha uma caixa térmica. Senti um toque no ombro direito. Era Raquel. —Travis já está atacando? —Atacando? Ela sorriu. —É, dando em cima de você? Eu neguei com um forte não de cabeça. —Não, ele apenas está sendo simpático. —Eu o procurei com os olhos. Ele estava com a lata de refrigerante na mão, e uma garota o tinha parado no meio do caminho. —Sei. —Ouvi Raquel dizer e a encarei. — Que bom que convenceu sua mãe. Eu sorri animada. —Verdade. Eu estou feliz de sair da redoma que me colocaram. É tudo tão diferente. —Espero que se divirta! —Já estou me divertindo. —Eu disse sorrindo. Raquel me olhou como se não acreditasse muito. —Seu refrigerante. —Travis apareceu na minha frente e estendeu a lata gelada, onde gotinhas de água escorriam dela. Eu a peguei na mão e fiquei a olhar para ela. Era a primeira vez que ia beber direto na lata. Minha mãe sempre me alertou que elas eram contaminadas. —Foram lavadas. Pode beber tranquila. —Disse Raquel com um sorriso maroto. Que incrível, ela tinha lido meus pensamentos. Eu ergui meus olhos para ela e sorri. —O que você faz, Sacha? —Travis perguntou. O que eu fazia? Resposta: Nada! —Eu me formei em administração, mas agora estou parada. —Disse disfarçando minha tristeza. —Bem, vou deixar vocês à vontade. —Raquel disse piscando para mim. Quando eu estava para encarar Travis, não soube porque, mas meu olhar foi atraído a um a um homem que descia as escadas. Prendi a respiração.  Ele era alto, pernas compridas, bronzeado. Conforme ele foi descendo, mais a meia luz da sala o revelava. Finalmente o visualizei melhor. Seu rosto era bem marcante, bem masculino, forte.  O nariz reto, queixo firme com covinha e lábios sensuais Seus cabelos curtos eram densos de um n***o lindo e brilhante. Ele era diferente de todos ali, mais maduro. Ele deveria ter uns trinta e poucos anos. —Sacha? —Com dificuldade desviei meus olhos dele e fitei Travis. —Desculpe-me. —Forcei um sorriso. — O que disse?
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