Segundo Capítulo

1108 Words
Lívia — Hoje — 9:00 AM — Rio de Janeiro. Nesses quatro anos que se passaram minha vida mudou drasticamente. Pra começar Anita trouxe minha tia pro morro, onde ela estaria mais segura. Apesar de ser uma pessoa dura e amargurada não merecia morrer, cuidou de mim por toda minha vida e eu não era uma pessoa ingrata. Tornei-me muito amiga das meninas, cada uma tinha um jeitinho especial que me conquistou, e cada uma tinha um rolo com um dos meninos, bom menos com o Coringa, Caio, mas é assim que ele é conhecido no morro. Lucas, que se tornou um irmão para mim, é conhecido como Boy, e é o rolo da Anita. Em dois anos, Cássio me fez seu braço direito, eu era a melhor atiradora, a que vendia mais e quem mais botava moral. É claro que a princípio rolou todo aquele preconceito por eu ser mulher, me lembro quando os noiados vinham comprar e roçavam em mim sem querer. — Desculpa, foi sem querer — eles diziam, com um sorriso sacana no rosto. — Sem problemas — eu respondia e em seguida dava um tiro em sua virilha. Assim, todos aprenderam a me respeitar. Mas meu único pensamento por todos esses anos era Tomas, ele iria pagar por todo o sofrimento que sua família causou a minha,ou eu não me chamava Lívia Bermanelli. Infelizmente, há alguns meses a Rocinha invadiu o Antares, nós sobrevivemos, mas Cássio levou mais de sete tiros, está em coma até hoje e eu assumi o morro. Tornei do "meu" morro conhecido. Eu era respeitada. Tornei das meninas meus soldados, e decidi que queria deixar uma marca tão grande quanto a dos meus pais. Seríamos como piratas em terra, roubaremos combustível, carros fortes, bancos, importados, tudo. E foi o que fizemos, em pouco mais de dois meses o Rio de Janeiro inteiro passou a nos conhecer como os Piratas do Antares. Nos vestimos a caráter, além de nos disfarçar fazia todos saberem quem somos. Tínhamos dinheiro pra dar, vender e ainda sobrava. Eu estava conseguindo subornar a polícia, repor drogas e armamento, ajudar moradores e bancar os bailes tranquilamente. Consegui unir o Antares ao Chapadão e ao Mandela nesses meses em que assumi o morro, agora a preocupação era só com a Rocinha e seus aliados, mas por enquanto a chapa tava fria, então organizei o baile do fim de semana. Iria trazer o MC TH, mídia né? Open bar de Brahma e Orloff na pista, e pra nós do camarote ia ser só José Cuervo e Johnnie Walker. Coloquei os bundão pra trabalhar, meu gerente de confiança era o Bádio, geral conhecia ele no morro, era bonito, cachorro e fiel aos meus comandos. Deixei ele tomando conta da boca junto com os vapor e subi na minha moto. Dei um giro na entrada pra ver se estava em ordem, passei em umas outras biqueiras e fui pra casa. Cheguei me jogando na cama e apagando, estava morta ao extremo. Brunessa — 19 PM — Morro do Antares Entrei em casa revoltada, quebrando tudo que via pela frente. Guilherme entrou logo atrás. — Some da minha frente — gritei. — Eu posso explicar. — Enfia suas explicações no cu. — Me perdoa Brubs, não era pra você ter visto aquilo. — Pois é, mas vi, e não quero te ver nem pintado de ouro. — Desculpa, vai. — Some Guilherme! c*****o! — Já é, faz o que você quiser. Ele saiu e eu quebrei mais um vaso. Fodas, se ele queria pegar aquelas piranhas, que seja. Hoje eu ia ME ACABAR no baile. Liguei pro salão e marquei um horário às oito. Comi alguma coisa, tomei banho e parti pro salão. A mulher terminou tudo às nove e meia, agradeci, paguei ela em dinheiro mesmo e voltei pra casa. Assim que calcei meu salto, meu telefone tocou. — Fala Luma. — Vamos nos encontrar na casa da loira já é? — Beleza, tô indo. Nem esperei ela responder e desliguei. Passei perfume, coloquei meu celular e dinheiro nos p****s e fui pra casa da Lívia. Subi a pé, com muito cuidado para não cair por causa do salto. Então uma moto parou do meu lado. — Sobe aí — sorri ao ver o Bádio e montei —, tá indo na patroa? — Aham. — Já é. Ele me deixou na porta e eu agradeci. — Podia agradecer de um jeito melhor. Sorri, me aproximei e beijei seu rosto. Em seguida me virei e entrei rápido, só pude ouvir o barulho da moto saindo rasgando. Lívia — 21:15 PM — Morro do Antares. Acordei com a Anita pulando em cima de mim, gemi em reclamação e coloquei o travesseiro na cara. — Vai perder seu próprio baile? Com TH? Me levantei em um pulo puxando a toalha e indo pro banheiro. Demorei quinze minutos no banho, deu pra lavar o cabelo suave. Saí, me sequei e passei creme no corpo, vesti minhas peças íntimas, passei desodorante e coloquei um roupão. A Anita já tinha separado minha roupa, mas fui escovar o cabelo primeiro. Quando terminei todas as meninas já estavam no meu quarto, a Luma fez minha maquiagem e eu me vesti, passei bastante perfume pra exalar e peguei meu celular e pus nos p****s. Coloquei a arma na coxa por baixo do vestido, peguei as chaves do carro e descemos. Quando chegamos no baile já eram onze horas e estava bem cheio, passamos e todos abriram caminho, os assobios eram inevitáveis né? Chegamos ao camarote e todos estavam lá, fiz um toque com cada um e pedi uma dose de tequila no bar. O cara me deu e eu virei de uma vez. Passei o limão no sal e chupei. — Tá querendo ficar louca? — Reconheci a voz do Guto. Todos da "família" lhe chamavam de Caio, e todos do morro de Coringa, mas eu preferia Guto. — Claro — sorri. Fomos para perto do pessoal, o show do TH iria começar. Subi ao palco para anunciá-lo. — E aí família — eu disse e as pessoas gritaram, abri um sorriso —, gostaria de agradecer a presença de vocês. E a desse cara aqui, porque ele é mídia p***a! MC TH! Ele entrou me cumprimentou e eu desci do palco, o show começou, eu amava suas músicas, eram demais. Voltei pro camarote. Os olhares masculinos estavam totalmente voltados para mim. Eu gostava de chamar atenção, mesmo que, nesses quatro anos eu não tenha me envolvido com ninguém, vez ou outra eu pegava alguém nos bailes, mas ficar seriamente? Nunca. Tinha preocupações maiores, como matar o Tomas.
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