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O Segredo da porta ao lado

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Blurb

Any Bacardi tem 27 anos, é linda, baixinha e encantadora. Ela acaba de se mudar para seu novo apartamento de classe média alta, está ansiosa com seu novo emprego e quer deixar o passado para trás. Isso inclui seu antigo emprego e ex namorado abusivo. Ela tem tudo para brilhar e está radiante, mas ter que lidar com seu vizinho Noah Portes, o homem mais tentador que ela - e que qualquer mulher já viu - não estava nos seus planos. Ainda mais quando todo esse pacote inclui grosseira e frieza.

Noah Portes, um homem estranhamente fechado e sério na maior parte do tempo. Tem quase dois metros de altura, uma beleza extrema, é um homem inefável e leva uma vida bem agitada. Ele é perfeito em cada parte de seu corpo e às vezes de sua existência, a não ser quando não passa uma primeira boa impressão à Any, o que a faz enxergar apenas seu lado arrogante e rude, mas com o tempo e muita paciência, Any acaba conhecendo Noah aos poucos. Ele guarda um segredo a sete chaves e jamais sonha em contar a Any, se fizer, a vida deles pode estar em jogo.

O ódio que eles cultivavam um do outro, fruto de desentendimentos e rispidez, se transformam em um ávido desejo e lascívia. Nessa altura, Any se encontra fodidamente apaixonada por ele em tão pouco tempo. Ambos se envolvem numa relação complicada, fogosa, com muito t***o e cheia empecilhos.

Conseguirá Any mudar o jeito durão de seu vizinho e descobrir o segredo dele? Ou Any está apaixonada sozinha nessa relação e terá que aprender que gostar de um homem como Noah trará mais problemas do que ela imagina?

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Capítulo I
Desembarco do meu Uber sorrindo e com mil fogos de artifício estourando dentro de meu corpo. Olho para meu novo apartamento e me sinto orgulhosa de mim mesma. Trabalhei duro e consegui comprar um AP bem legal aqui em São Paulo. É consideravelmente perto de onde vou trabalhar, tem muitas lojas por perto e o lugar é perfeito. Com a ajuda do José, o motorista, tiramos minhas 4 malas do carro. São duas de rodinha imensas, duas de ombro bem cheias e ainda por cima tem minha bolsinha tiracolo cheia de coisas. Ah, ia me esquecendo, tem meu nécessaire que não cabe em nenhum lugar. Eu convenci minha mãe que não precisava de ajuda com a mudança, pois ela já me ajudou muito e também eu levaria poucas coisas desta vez, então ela foi ao interior visitar minha vó. Mas percebo que eu errei nas contas, pois tem mais coisas do que eu posso carregar. José é atencioso e me ajuda a colocar tudo dentro da recepção do prédio. Ele percorre todo o percurso comigo e eu o agradeço antes de ir embora. Vou dar até uma caixinha para ele. Passo por toda a burocraciazinha chata de me cadastrar e adicionar a digital na catraca e finalmente posso subir em minha casa. Estou vibrando e muito ansiosa. Deixo as malas perto do grande balcão enquanto Eduardo, que trabalha na recepção, vai até os fundos pegar minhas chaves as quais o antigo dono o entregou. Ando pelo saguão olhando a decoração jeitosa e bonita. Não é um AP de alto padrão e super luxuoso, mas é bem moderno e é considerado classe média alta. Vou andando e olhando ao redor encantada com os sofazinhos, os quadros, os lustres, muito bonitos por sinal e... Ai caramba. Que isso? Bato contra uma parede e caio dura no chão. Ah, que vergonha e ai minha bun da! Olho para frente ainda praguejando por conta da pancada que minha bun da recebeu e noto que não é uma parede. Vejo pés grandes cobertos por um tênis preto de corrida da Nike, pernas longas e torneadas com uma calça moletom e... – Não sabe olhar por onde anda? – Uma voz grossa com um tom bem arrogante e grosseiro faz eu pular o tour pelo seu corpo e eu olho imediatamente para um arranha–céu de homem vestido todo de preto e com uma bolsa grande pendurada em seu ombro. Fico boquiaberta. Ele é grande, alto, forte e estranhamente amedrontador. Sinto um frio na barriga e encaro seus olhos verdes os quais carregam um olhar frio e intenso. Seu rosto é quadrado e ele tem a mandíbula bem marcada coberta por uma barba impecavelmente feita. O homem me olha de cima e eu me sinto pequena. Nunca me senti assim apesar dos meus 1,58. Fico olhando para ele sem palavras o que o faz chamar novamente minha atenção. – Estou falando com você. – Diz num tom ríspido e sério novamente com seu vozeirão que preenche todo o lugar. Mas que homem mais grosseiro. – Ahm... eu... Eu estava distraída e... – Olho para mim mesma ainda no chão – Não vai me ajudar a levantar? – Pergunto incrédula e ele estende sua mão que acompanha todo o seu tamanho. Ponho minha mão sobre a sua e noto a diferença de dimensão. Como se eu não pesasse nada, ele me ergue com facilidade. – Obrigada. – Agradeço pela gentileza forçada e dou uns tapinhas em mim limpando a possível sujeira de minha bun.da. – Presta atenção da próxima vez. – Grosso – Falo – Muito obrigada por perguntar se estou bem. – Retruco de braços cruzados. – Nem doeu tanto. – Ele olha para meu corpo – Com um bun da desse tamanho a queda foi amortecida, não acha? Arregalo os olhos e abro a boca notando que ele disse isso sério sem tom algum de brincadeira. Espera, é sério isso? Mas que homem mais... Ahh. Abusado. Não vou ficar aqui ouvindo isso. Tinha que ter algo para estragar meu dia. Nossa. Como a vida é injusta. – O que? Você não ousa falar de mim, babaca. Você praticamente me empurrou com esse tronco de árvore que você tem ao invés de um peito e barriga – Dou um tapinha nele com as costas dos meus dedos e ele não move um músculo, apenas move os olhos até o local onde atingi e depois desvia seus olhos para mim com uma sobrancelha erguida. – Eu vou indo. E você quem esbarrou em mim, eu fiquei parado. Já vi que está bem. Olha por onde anda da próxima vez. – Diz. Ele tira da minha frente toda a muralha de músculos que é o corpo dele e me dá as costas. Costas que são largas e imensas. Ele não olha para trás e simplesmente vai embora. Nem um simples “desculpa” esse m*l educado me pediu. Onde já se viu? Credo. Se todos os moradores desse prédio forem assim eu tô é fodida mesmo. Não gosto de arrogância e nem de rudez. Espero nunca mais trombar com esse cara na minha frente novamente. Respiro fundo e volto a atenção ao Eduardo que aparece com minhas chaves. Não vou deixar que aquele bruto estranhe meu dia. Com um sorriso no rosto, pego minhas chaves e coloco minhas malas no elevador. Meu apartamento é o no 6º andar e o número é o 68. Quando minhas malas estão todas dentro, ponho meu nécessaire no chão e pego a maior que eu tinha deixado na porta para segura-lo no andar. Ponho minha digital no elevador e ele já me reconhece subindo sozinho. Ah, eu estou me sentindo adorável! Subo quase que não me aguentando e solto um gritinho quando chega ao andar. Com o mesmo esquema que fiz para subir, tiro as malas e olho para fora. Levo todas aos pouquinhos pelo corredor e observo o local. A porta do meu apartamento fica em frente a outra e tem uma mesinha feia entre elas. Não tem decoração aqui e eu murcho um pouco. Eu me lembro que tinha quando vim visitar, acho que o antigo dono levou. Olho para a porta vizinha e começo a imaginar quem mora ali. Ah, será que é um casal bem legal? Ou uma mulher que ama cozinhar assim como eu? Ah, já imagino nós duas rindo num cafezinho da tarde. Ou será que é um homem bem bonito? ah, um vizinho gato atencioso seria tudo de bom. Paro de viajar e conto minhas malas... 1, 2, 3, 4 e... e não acho meu nécessaire. CADÊ? Olho as portas do elevador fechando e a vejo no chão. p***a, Any. Deixou para trás a mais importante. Corro e tento apertar o botão para abrir, mas é tarde. O elevador desce e eu não tenho escolha a não ser esperar. Enquanto isso, abro a porta e coloco as bagagens para dentro. Quando ouço o barulho do elevador vou correndo. Fico parada em frente e torço para ainda estar ali. Quando as portas de abrem eu me deparo mais uma vez com aquele bruto e desfaço meu sorriso. A muralha me olha de cima a baixo e fica parada. Ele está com a bolsinha em sua mão e fecha o zíper rapidamente quando se dá conta. Não era para esse CURIOSO ter aberto. Tem minhas intimidades ali dentro, uma calcinha nova, gilete e inclusive um mini vibrador em forma de batom que comprei esses dias. – Ahm, isso é meu. Pode me dar, por favor? – Peço séria e olhando para a bolsinha preta com meu nome bordado em rosa. – Tá certo. – Ele me entrega e veste um boné cobrindo seus lisos e bagunçados fios castanhos, alinhando-os para trás antes de ajeitar em sua cabeça. Saio da frente e ando até minha porta sem dizer obrigada, não quero papo com ele. Percebo que ele me segue ao invés de ficar no elevador. Antes de entrar em meu apartamento eu o observo para ver aonde ele vai. O homem para em frente ao meu apartamento e balança a cabeça negativamente. Ele pega as chaves e abre a porta com o número 69. Ah. Ele é meu vizinho? É SÉRIO? ELE? Tantas pessoas, e é justo ele? E a minha amiga do café da tarde que fantasiei? Como assim? Cadê o casal adorável que eu inventei? Não me lembro de ter pedido um vizinho gostosão e bruto. – Então você é a minha vizinha? – Pergunta de costas para mim antes de entrar em seu lar. – Não por escolha – Falo numa boa – Mas cada um no seu canto e tudo fica certo. – Abre a porta e olha para mim. – Mal chegou e já está criando confusão? – Molha os lábios e me olha bem sério e intenso. – Você quem está criando confusão. Foi grosso e nada hospitaleiro comigo. Além de ter me empurrado. Tenho certeza que fez de propósito e olha que nem te conheço. – Isso mesmo, não me conhece e eu não machuco mulheres – Olha dentro de seu apartamento sem sair da porta, estende o braço e pega algo. Ele põe no bolso e eu noto ser seu celular. O grandão fecha a porta de seu apartamento e depois me encara sem dizer nada. Por que ele me olha tanto? – É... Como você disse, pequena. É só cada um ficar no seu canto e fica tudo certo. – Ele passa por mim e eu não consigo deixar de olhar seu corpo – Olhar por onde anda e não ficar girando com a cabeça no mundo da lua também é bom, né? Passar bem, Any. – Diz meu nome e eu percebo que fica bem em sua boca. Merda... – Aliás eu tentei fechar aquele batom da bolsinha para não manchar suas coisas, mas descobri que não era um batom. – Diz e levanta as sobrancelhas. – Nunca mais mexa nas minhas coisas, curioso. – É só não as deixar jogadas por aí. – Responde e desce pelas escadas ao invés de esperar o elevador. Respiro fundo e entro em meu novo lar. Fecho os olhos e tento me concentrar no que realmente importa, pois aquele homem não deve existir. Nunca vi igual. Vou falar o menos possível com ele e tomara que nossos horários não se biquem. Meu apartamento não está nu. Eu tinha decorado com o básico antes de vir para cá e fiz uma dívida em meu cartão já contando com meu primeiro salário. Ah, por que que somos assim? Fazemos compras contando com um dinheiro que nem temos ainda. Mas eu vou conseguir pagar e isso é o que importa. Depois que ligo para a Dona Rita, minha mãe, e depois para meu pai, Max, para avisar que cheguei bem e contar como estou, passo o dia todo arrumando minhas roupas em meu mini closet e isso demora horrores. Trouxe todas as minhas roupas e pertences que faltavam. Arrumo tudinho mesmo e quando termino já me sinto mais em casa. Olho pela janela e vejo que já está de noite e estou faminta. Mas só tenho alguns biscoitos e chocolate na bolsa. Eu quero comida de verdade e também queria preparar carolinas. São minhas preferidas. Sento em minha cama de casal centralizada no meio da minha suíte em frente a lateral do meu closet todo revestido com espelho. Olho para meu quarto e vejo que preciso dar um toque a mais nele. Um toque meu, sabe? Mas tudo no seu tempo. Depois mudo roupa de cama, compro um tapete felpudo, um criado mudo bem bonito e algumas decorações. Levanto ainda com um paninho na mão e ando pelo corredor observando meu novo lar. Tem um quartinho vazio no meio do corredor que ainda não coloquei nada, mas futuramente penso em fazer um escritório ou biblioteca. Vou até minha sala e respiro fundo. Não tem meu cheiro ainda, mas vou comprar um aromatizante que amo. Por enquanto só um perfume está bom para tornar o lugar mais... Mais... MEU. Minha barriga ronca novamente e eu corro para o banho. Ah, vou ter que ir ao mercadinho e comprar algumas coisas. Mas não muitas, pois não tenho carro e não vou ter por um bom tempo. Deixo que a água caia bem quentinha em meu corpo e eu gemo lavando meu cabelo. Ah, eu amo tomar banho. Amo me sentir limpinha. É a melhor parte do meu dia. Não demoro muito, pois já são 18h46 e acho que o mercadinho fecha às 19h30. Passo um óleo pós banho e visto um vestidinho de alcinha florido que tenho. Seu decote é em V e a cintura é mais apertada, então ele sustenta bem meus s***s e eu não preciso usar sutiã. Odeio usar sutiã, uso apenas quando realmente preciso. Penteio meus longos fios lisos e castanhos e os deixo soltos mesmo, mas coloco algo na bolsa para eu prender caso eu precise. Calço minhas rasteirinhas, pego minha bolsa, algumas sacolas, dinheiro e saio rumo ao mercadinho que ainda está aberto. Ainda bem. Ou eu teria que sobreviver com biscoitos e chocolate. A noite está gostosa e a rua é bem movimentada, então, não há perigo. Ainda bem que antes de vir eu estudei a área e sei mais ou menos onde ficam as coisas por aqui. Ou eu estaria perdida. Compro poucas coisas. Compro meu jantar de hoje, algumas coisas para eu fazer minhas carolinas, pego também algumas coisas para que eu coma durante a semana. Talvez eu não tenha tempo de fazer mercado e por enquanto terá que ser assim aos poucos. Quando coloco tudo na sacola e vejo que exagerei um pouco. Droga! O AP é perto daqui, mas como eu vou levar tudo isso? É. Vou ter que me virar. Pego as sacolas pesadas e vou dando o máximo de passos que posso, quando fica muito pesado eu ponho as sacolas retornáveis no chão e respiro fundo. Faço isso umas seis vezes e olho para minhas mãos. Vermelhas e marcadas. Bem que aquele bruto, que eu nem sei o nome, podia aparecer e pegar as sacolas com os braços imensos que ele tem. Não pensariam nada, aposto. Limpo o suor da minha testa e olho ao redor. Passam apenas carros na rua e decido me apressar para eu ir para casa. Está escuro e agora há poucas pessoas. Eu sozinha aqui na rua sem ninguém me causa calafrios. Pego novamente a tonelada de compras e sinto-me aliviada quando chego nos degraus em frente ao AP. Eduardo me avista e vem correndo me ajudar depois de abrir o portão. – Quer ajuda? – Com certeza, Eduardo. Essas sacolas quase arrancam meus braços e dedos fora. Com toda gentileza, ele pega as duas sacolas e as põe dentro do elevador para mim. Eu o agradeço imensamente por isso e fico aliviada. – Obrigada, Eduardo. Você me ajudou muito. – De nada. Sempre que precisar eu estou aqui. – Sorri e eu retribuo. Pelo menos alguém tem sido legal comigo. Aperto o botão 6 e me escoro no espelho. Ah, estou com fome e bem cansada. Mas já descanso e vai ficar tudo bem. Quando ouço o barulho do elevador que indica que cheguei ao meu andar, arrasto minhas sacolas para fora do elevador. Pego apenas uma e dou passinhos rápidos e curtos até a porta. Ufa. Uma já foi. Pego a outra e tento fazer o mesmo, mas me assusto com o barulho brusco da porta corta fogo e alguém esbarra em mim me fazendo derrubar a sacola no chão com força. Por sorte eu não caio. Ouço um barulho de vidro quebrando e abro a sacola desesperada procurando o que quebrou. O vinho está formando uma piscina no fundo e eu o pego deixando de ponta cabeça para não cair mais. Olho para trás e adivinhem? O brutamontes em pessoa. Passo a mão no rosto e respiro fundo. – Parabéns, arruinou meu jantar. Na verdade, você tem arruinado meu dia – Olho para ele e me levanto segurando a garrafa quebrada. – Você estava na passagem e eu não te vi. – Podia ter caído em cima de mim com todo esse tamanho e me matado esmagada. Reparo ele está sem o boné, com o rosto sujo e o cabelo está bem bagunçado, mas de um jeito bonito, bonito até demais. Mas ainda é um i****a. – Que seja, mas não caiu. Você sempre fica no meu caminho, é pequenininha, mas está ocupando todos os espaços. – Ele arruma sua bolsa preta enorme e pesada. – Não vou ficar discutindo com você. Desculpa, tá. Não foi minha intenção. Eu... – Ele passa a mão no cabelo – Ahh. Que saco – Me dá as costas e entra em seu apartamento me deixando plantada e sozinha com o meu vinho quebrado. Merda de vida. Fico olhando para a sacola tem saber o que fazer. Fico com raiva dele e com vontade de bater nele até ele aprender a pedir desculpas e ser mais prestativo e hospitaleiro. Ele está estragando meu dia desde o momento em que o vi. O próprio saí de dentro de seu AP bem bravo. Ele anda ereto mostrando toda sua altura e tamanho vindo até mim e eu fico no lugar. Não vou me amedrontar. Quando penso que vou ter que golpear ele com a garrafa de vinho ele abaixa na minha frente ficando com o rosto bem próximo ao meu. Sinto um frio na barriga e mais uma vez vejo que ele é realmente lindo, a boca é bem desenhada e.... droga. Não. Ele é i****a. Sinto sua respiração por dois segundos até ele levantar com minha sacola pesada em sua mão e a levar como se não pesasse. Ele pega a outra que estava quase no meio do caminho e entra em meu apartamento com as duas. Vou atrás dele, mas antes que eu consiga alcança-lo, o grandão sai me olhando de canto de olho ainda com sua expressão séria e entra em seu apartamento. – Boa noite, Any. Fecha a porta e mais uma vez eu fico parada no meio do hall sozinha e com a garrafa de vinho quebrada em minhas mãos. Depois de jogar a garrafa fora eu arrumo a bagunça e seco os produtos antes de guardar. Aquele i****a me paga. Arruinou meu jantar. Eu vou fazer macarrão ao molho branco com bacon, alho, coentro e queijos. E claro, iria tomar um bom vinho que comprei. Bom, não é tão bom assim, não tinha dos melhores, mas era vinho suave de mesa. Eu ia comemorar minha chegada aqui. Guardo o que não vou usar e decido cozinhar mesmo assim. Desanimei e não vou fazer as carolinas hoje coisa nenhuma. Respiro fundo e coloco meu avental. Não vou me estressar. Não vou mesmo. Ele não vale a pena. E eu não sei nem o nome dele. m*l cheguei e já odeio o sujeito. Acho que ele também me odeia, mas vai ter que me engolir. Vai sim. Nada é perfeito nessa vida, né? O vizinho bonito e gostoso que eu queria eu tenho, mas eu esqueci de pedir para ele ser carinhoso e um amor de pessoa. Não esse bruto babaca que mora na porta ao lado. Levo mais ou menos uma hora e meia para fazer tudo. Minha barriga já ronca bem alto e eu m*l posso esperar para comer meu macarrão. Pelo menos isso para alegrar meu dia. Saboreio cada pedaço da massa e cada gota do molho. Mesmo exausta e morrendo de sono, repito o prato e fico aliviada por estar no sofá de casa, sozinha, feliz, de buchinho cheio e começando uma nova etapa da minha vida. Tudo vai melhorar, hoje foi só um teste e sei que passei nele. Ou não, porque eu me estressei. Coloco meu prato na pia e tomo uns goles de água antes de dormir. Estou com sono e amanhã acordo cedo. Tenho integração na empresa e vou conhecer um pouco mais dela antes de começar o treinamento. Eu cursei RH e consegui uma vaga como gestora em uma empresa de grande porte na Paulista. Tenho meus 27 anos e já está na hora de eu dar um passo grande e começar a bombar na carreira. Tomara que seja tudo bem e que gostem de mim lá. Visto um baby doll, escovo meus dentes quase que com os olhos fechando e deito em minha cama. Nossa, como estou cansada! Hoje foi bem exaustivo o dia, tanto para meu físico quando para meu emocional. Ah, meu vizinho i****a me tirou o sossego hoje, mas espero que não seja assim sempre. Não quero olhar aquela cara irritantemente linda e presunçosa sempre. Ai ai. Abusado. E i****a. Quebrou meu vinho. Grandão idi ota. Ajeito-me na cama e suspiro. Tenho que dormir. Amanhã acordo cedo e vai ser um grande dia. ♥♥♥ Acordar cedo foi uma tarefa bem difícil, mas com força de vontade e animação, a qual não sei de que buraco eu arranjei, eu consegui. Não tomei café da manhã ainda e estou no metrô a caminho da Av. Paulista. Vou trabalhar em um banco famoso e estou bem feliz por isso. Meu terninho creme e minha bolsa amarela mostarda se conectam demais. Saio da estação e ando firmemente em meus saltos da mesma cor vibrante e chamativa até um prédio ao lado. Identifico na recepção e entro confiante. Meus saltos ecoam pelo enorme piso de mármore e eu respiro fundo sentindo cheiro do dinheiro. Hoje não vi o grandão e isso já me deixou animada. Sem me esbarrar com ele e seu corpo de pedra. Vou ficar irritada se isso acontecer de novo. Chego até o auditório onde será realizada a integração e agradeço pela breve introdução, pois vamos ter um coffee antes das horas e horas de falação. Também teremos almoço e café da tarde, tudo por conta da empresa. Ótimo. Sair na Paulista procurando algum lugar para comer com esses saltos seria péssimo. Se bem que tem inúmeros lugares, mas bem caros e aqui não preciso andar tanto. A integração dura o dia inteiro. Sai de casas às 6h e agora 17h nos liberam. Foi cansativo e lutei contra meu sono. Um representante de cada setor nós mostrou slides e uma base de como é o funcionamento da empresa. Foi interessante. Ganhamos um kit também. Uma agenda preta fosca com o logo da empresa dourado no canto, possui algumas folhas em branco e outras pautadas. Uma caneta preta também fosca com o logo da empresa e também alguns panfletos. Saio andando em direção ao metrô consolação e não resisto ao BK. Hoje não estou tão afim de cozinhar e eu podia comer um lanchinho, né? Ah, já é o segundo dia em que como coisa pesada à noite, vou acabar engordando, mas amanhã eu faço alguns exercícios e fica tudo certo. Com minha sacola de lanches na mão tomo rumo para casa. Já está escurecendo e ainda bem que amanhã eu não trabalho e nem tenho integração. Vou aproveitar o dia e fazer minhas carolinas que não fiz e estou com vontade há dias. E também exercícios. Não posso me perder da minha dieta. Quando desço do ônibus meus pés já choram por conta dos saltos. Ando devagar e claramente com dor. Novamente o grandão podia aparecer e me carregar no colo. Eu não pesaria nada por conta daqueles braços. Ai, que isso, Any? Por que é que eu fico pensando nele? É tão arrogante e tão frio comigo. Nem nos conhecemos direito, nem sei o seu nome. Já nos odiamos. Não é assim que imaginei minha relação com meu novo vizinho. Vocês sabem bem. Eu só queria tomar um cafezinho da tarde e dar risadas, só isso. Mas é ao contrário, tomo empurrões e grosseria. Ai, bruto. Finalmente em casa. Cumprimento Eduardo e entro no elevador. Tiro meus saltos e piso no chão mesmo. Ai, que dor. Saio elevador e me mato procurando minhas chaves. Vasculho minha bolsa e... Olho para a mesinha feia e vejo que tem uma sacola esteira e cumprida de papel Kraft. Tem um cartãozinho nela. Decido não mexer. Volto a procurar minhas chaves e quando as acho eu abro a porta de casa. Olho mais uma vez para a sacola e chego perto. Tem um vinho dentro. Decido ler o papel e me surpreendo. Que letra bonita, será que é dele mesmo? A caligrafia é esguia, forte e bem desenhada. Se for dele, está de parabéns. " Não foi minha intenção ter quebrado o outro. Espero que goste desse, Any" Não tem o nome dele, mas mesmo assim eu sorrio de lado e não resisto. Tento conter, mas não dá. Ele também não disse desculpas no bilhete, mas pelo menos tocou no coração dele e ele me deu outro vinho. A raiva que eu estava dele passou. Eu sei, ele não fez o mínimo, mas eu sou bem trouxa coração mole, apesar de não significar que tudo esteja resolvido. Entro em casa com meu mimo e fecho a porta. Jogo meus saltos no chão, ponho minha bolsa na mesinha de centro e coloco os lanches na bancada da cozinha. Ainda não tenho mesa e tenho que comprar. Abro a sacola de vinho e arregalo meus olhos quando tiro. É vinho bom. Óia só. E está geladinho. Lavo minhas mãos e abro na hora. Ponho na taça e cheiro antes de beber. Caramba. É do bom. Tomo um gole e sinto que saboreio o céu. Que vinho perfeito. É suave de mesa do jeito que eu gosto. Pego meus lanches, a garrafa e vou até meu banheiro. Preparo a banheira com sais e bastante sabão. Quero ficar cheirosa e limpa. Vou ligar para os meus pais, aproveitar minha casa e assistir um filme. Ainda fico ansiosa em saber que estou em meu novo apartamento e me sinto incrível. Quando já estou cheirosa e preparada para terminar de devorar meus lanches. Resolvo ligar para minha mãe e me sirvo mais com o vinho. Ah, é maravilhoso e já estou na metade da garrafa. – Oi, meu amor. Como tem sido esses dias morando sozinha? – Mamãe atende e já me pergunta antes que eu fale algo. Dou risada. – Bom, ontem eu passei o dia todo arrumando o closet e fui no mercadinho comprar meu jantar e... – Penso em falar do grandão, mas desisto – Nada. Hoje fui na integração da empresa... – E nada o que? Pode falar. – Ah, é o meu vizinho, ele não tem sido muito... Muito... Sei lá. A gente já brigou. Já nos odiamos – Conto para ela todos os momentos que tive com ele e ela dá risada – Que foi? – Ele é gostoso? Bonito? – Respiro fundo. – Não quero falar disso, mãe. – Quer sim. Vamos supor que ele não tenha sido grosso desse jeito. Quero só a aparência dele. Respiro fundo e levanto do sofá. Calço minhas pantufas, pego minha taça e começo a falar. – Tá. Ele tem quase dois metros de altura, é uma muralha de músculos como eu falei. Ele é magro, mas é massudo, sabe esses homens grandes? Tipo... Tipo... Ah. Tipo o The Rock. Grande. Só que um pouco menor. Ele tem uma mandíbula bem quadrada, usa barba que parece ser bem macia por sinal. Hummm – Paro para pensar – Os olhos desse maldito são verdes e o cabelo dele é lindo, mãe. É liso e grande em cima, mas raspado em baixo, um degradê. Ele tem lábios finos e uma voz grossa que preenche todo o espaço quando ele fala e... – Preenche até você, né? – Ah, quase. – Ele é loiro, ruivo...? – É idi ota. – Any – Gargalha e eu também. – Moreno claro. Ele é lindo, mas do que adianta se é um idi ota? – Pergunto. – Bom, meio i****a. Ele me deu outra garrafa de vinho e é do bom, mãe. E deve ter sido cara. Estou na metade da garrafa já. – Bebo por sinal. – Eu o odeio, mas ao mesmo tempo eu gosto. Queria ter começado de um jeito diferente, mas ele foi bem grosso, então. – Calma, abelhinha. Vai tudo ficar bem. Coisas ruins acontecem e o amor e ódio andam de mãos dadas. Ódio e t***o também. – Ah, então isso serve para você e o papai? – Seu pai e eu nos divorciamos na paz. Não há nada entre a gente. Ele está no canto dele com aquela mulher horrenda e eu estou aqui com meu homem lindo. O assunto era sobre você e o vizinho gostoso e... e... bruto. Escuta, qual o nome dele mesmo? – Eu não sei, mãe – Sento no sofá. Nós conhecemos com o pé errado graças a ele. Ele sabe meu nome e eu não faço ideia do dele. Também não vou ficar perguntando para ninguém. Pensei em perguntar para o Eduardo, mas não sei se posso confiar nele ainda e a última coisa que quero é o grandão pensando que estou querendo saber sobre ele, e mais, pode ser que passe a impressão de que estou interessada. Ele é uma tentação de homem, mas deve ter várias atrás dele e o ego desse homem deve ser tão grande quanto ele.

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