Capítulo 01

1695 Words
Helena Eu sempre acordo pensando por que eu nasci, porque não morri no parto, se era para ter a vida que eu tinha não devia ter nascido, me pouparia de todo esse sofrimento diário que tenho aqui nessa casa uma mae que me odeia e um padrasto abusador. Saio do meu pensamento com a voz do meu padrasto me gritando mais uma vez. __Venha aqui, garota! Imediatamente meu estômago se revirou. Aquela angústia que sempre surgia quando eu estava perto dele, sabendo o que ele faria comigo, era constante em minha vida. Levantei-me lentamente da cama e pus de lado, com todo o cuidado, o livro que estava lendo ou tentando ler. Minha mãe ainda não tinha voltado do trabalho. Já era para ter chegado. Eu não deveria ter voltado da biblioteca tão cedo, devia ter ficado mais um tempo lá assim me pouparia desse sofrimento. __Garota! Não esta escutando eu te chamando p***a!! v***a do c*****o! Gritou mais uma vez o meu padrasto. Agora ele estava com raiva. Meus olhos arderam com as lágrimas não derramadas. Se ele ao menos só me batesse, como costumava fazer... Quando eu era mais nova e trazia meu boletim com notas baixas. Se ele só me xingasse e me dissesse quanto eu era imprestável... Mas não. Até um tempo atrás, tudo o que eu queria era que ele parasse de me bater. Odiava aquele cinto, e os vergões que ele deixava nas minhas pernas e no meu traseiro doíam muito na hora de sentar. Então um dia ele parou. E imediatamente eu desejei que ele voltasse a me bater. A ferroada do cinto era melhor do que isso. Qualquer coisa era melhor do que isso. Até mesmo a morte. Abri a porta do meu quarto e respirei fundo, lembrando a mim mesma que eu podia sobreviver a qualquer coisa que ele fizesse. Eu estava economizando o dinheiro das faxinas que fazia e logo iria embora dali. Minha mãe ficaria feliz quando eu fosse embora. Ela me odiava. Fazia anos que me odiava. Eu era um fardo para ela. Eu só não sabia porque, mas ela realmente me odiava. Puxei a camiseta para baixo e coloquei dentro do short. Então puxei o short para baixo, para que cobrisse minhas pernas o máximo possível. Na verdade, era inútil. Eu tinha pernas compridas, difíceis de cobrir. No brechó, nunca havia shorts compridos o suficiente para me deixar mais coberta. Faltava pouco para minha mãe chegar em casa. Ele não faria nada correndo o risco de ser flagrado por ela. Mas eu me perguntava, caso isso acontecesse, se ela não me acusaria e diria que a culpa era minha. Ela já tinha me culpado pela maneira como meu corpo havia mudado quatro anos atrás. Meus s***s tinham crescido demais, e ela dizia que eu precisava parar de comer porque minha b***a estava gorda. Tentei parar de comer, mas isso não ajudou em nada. Minha barriga havia ficado lisa, o que só fizera meus p****s parecerem ainda maiores. Ela detestava isso. Então voltei a comer, mas a barriga gordinha nunca mais apareceu. Certa noite, quando passei pela sala vestindo uma calça de moletom cortada e uma camiseta, indo tomar leite antes de dormir, ela me esbofeteou e disse que eu parecia uma p**a. Mais de uma vez ela disse que eu era uma p**a burra que não tinha nada além da aparência para chegar a algum lugar na vida. Entrei na sala, atendendo o chamado do Roger, meu padrasto, que estava sentado em sua poltrona com os olhos grudados na televisão e uma cerveja na mão. Ele tinha voltado mais cedo do trabalho e eu odiei isso. Seu olhar pousou em mim e lentamente percorreu meu corpo, me fazendo tremer de repulsa. O que eu não daria para ser inteligente e sem p****s. Se minhas pernas fossem curtas e gordas, minha vida seria perfeita. Não era meu rosto que atraía o Roger. Ele era muito comum. Eu odiava era o meu corpo. Odiava-o com todas as forças. A náusea foi tomando conta de mim e meu coração disparou enquanto eu lutava para conter as lágrimas. Ele adorava quando eu chorava. Isso o deixava ainda pior. Eu não ia chorar. Não na frente dele. __Venha sentar no meu colo v***a. Eu não podia fazer isso. Tinha conseguido evitá-lo por semanas, ficando longe de casa o máximo de tempo possível. O horror de ter as mãos dele dentro da minha blusa ou do meu short era demais. Preferiria que ele me matasse. Qualquer coisa, menos as mãos dele em mim. Como não me mexi, o rosto dele se contorceu num escárnio maligno. __Traga essa b***a aqui, sua p*****a estúpida, e sente no meu colo! Fechei os olhos, porque as lágrimas estavam brotando. Precisava contê-las. Se ele apenas me batesse outra vez, eu aguentaria. Só não suportava era ser tocada por ele. Odiava os sons que ele fazia e as coisas que dizia. Era um pesadelo sem fim. Cada segundo que eu me mantivesse longe era um segundo a menos que faltava para minha mãe chegar. Quando ela estava em casa, ele me xingava, mas jamais me tocava. Minha mãe podia desejar que eu não existisse, mas era minha única salvação daquele tormento. __Anda, pode chorar... eu gosto.. A cadeira dele rangeu, e então escutei o ruído do descanso dos pés. Abri os olhos e o vi se levantando. Mau sinal. Se eu corresse, não conseguiria passar por ele. A única opção era o quintal, mas o pit bull dele estava lá fora. O cachorro havia me mordido três anos antes, e eu tinha que ter tomado pontos, mas ele não me deixara ir ao médico. Ele me disse para cobrir a ferida; não ia sacrificar o cachorro por minha causa. Fiquei com uma cicatriz horrível no quadril deixada pelos dentes do cachorro. E nunca mais fui ao quintal. Mas, vendo o sujeito vindo em minha direção, eu me perguntei se virar comida do cachorro não seria melhor do que aquilo. Era um meio de alcançar um fim: a morte. O que não parecia tão r**m. Um segundo antes que ele me alcançasse, decidi que qualquer coisa que aquele cachorro fizesse comigo era melhor que aquilo. Então corri. Ele soltou uma gargalhada atrás de mim, mas não deixei que esse gesto me retardasse. Ele não acreditou que eu fosse sair pela porta dos fundos. Pois se enganou redondamente. Eu enfrentaria os cães do inferno para escapar dele. Só que a porta estava trancada. Eu precisava da chave para abri-la. Não. Não. As mãos dele agarraram minha cintura e me puxaram para trás, de encontro à sua rigidez, que pressionava meu corpo. O gosto azedo do vômito queimou minha garganta quando tentei me afastar dele. __Não! me larga!!! me larga seu porco imundo. As mãos dele agarraram meus p****s e apertaram com força, me machucando. __Sua p**a estúpida. É só para isso que você serve. Não conseguiu terminar o ensino médio porque é burra demais. Mas esse corpo foi feito para satisfazer os homens. Aceite isso, sua vagabunda. As lágrimas corriam pelo meu rosto. Não consegui segurá-las. Ele sabia o que dizer para me ferir. __Não! – gritei outra vez, mas agora havia dor em minha voz, que falhou. __Lute comigo, Helena. Eu gosto quando você luta comigo. Como minha mãe podia continuar casada com esse homem? Será que meu pai era pior do que isso? Ela nunca se casara com ele. Nunca me falava dele. Eu nem sequer sabia seu nome. Mas ninguém podia ser pior do que esse sujeito horroroso. Eu não podia suportar aquilo de novo. Estava cansada de sentir medo. Ou ele ia me bater até me matar ou ia me mandar embora. Por muito tempo eu temera ambas as opções. Uma vez minha mãe me disse que a única coisa que os homens pensariam ao me ver era sexo. Que eu seria usada por eles a vida inteira. Estava sempre me dizendo para ir embora. Nesse dia eu estava pronta. Tinha apenas 1000 dólares guardados, mas podia pegar um ônibus para o outro lado do país e conseguir um emprego. Se eu saísse dessa casa viva, era o que ia fazer. A mão do Roger deslizou para dentro do meu short pela frente e eu o empurrei, gritando. Não queria a mão dele ali. __Me solta! – gritei, alto o suficiente para os vizinhos escutarem. Ele tirou a mão e me girou pelo braço com tanta rispidez que o fez estalar. Então me empurrou com toda a força contra a porta. Desferiu um soco no meu rosto, produzindo um estrondo. Minha visão se turvou e senti os joelhos amolecerem. __Cala a boca, vagabunda, e aceite. Suas mãos levantaram violentamente minha camiseta, e então ele puxou o sutiã para baixo. Solucei, porque não conseguia conter o horror. Aquilo ia acontecer, e eu não era capaz de detê-lo. __ Largue o meu marido, sua p**a, e saia da minha casa! Não quero ver a sua cara nunca mais! A voz da minha mãe conteve o Roger, e ele tirou a mão dos meus s***s. Puxei a camiseta de volta para baixo. Meu rosto ardia por causa do soco, e senti o gosto de sangue nos lábios quando o corte embaixo da língua começou a inchar. __Fora daqui, sua v***a burra e imprestável! – gritou minha mãe. Aquele momento mudou tudo. Minha vida teria um novo capítulo eu iria escreve-lo de uma forma completamente diferente de tudo que já vivi aqui. Saio correndo e vou até meu quarto e coloco as poucas coisas que tenho em minha mochila e o meu dinheiro que havia guardado e vou até o banheiro e lavo meu rosto, pego minha mochila e saio do quarto, passo pela sala e não vejo os dois, agradeço já que não quero ter o desprazer de ve-los, saio sem olhar para trás e sem pensar em nada, apenas que pior do que está não pode ficar. Mas, pensando melhor nada que irei enfrentar de agora em diante pode ser pior do que tudo que eu passei até agora, espero que meu destino me reserve algo melhor do que foi minha vida até agora.
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