Sem Gratidão

11

Mais tarde naquele dia eles comeram juntos. Foi uma refeição estranha, Jimin de um lado da cozinha, observando a interação do filho com a nova avó. Yoongi do outro lado, tomando café em silêncio, também de olho em tudo. Momentos depois estavam em um quarto e Jimin secava os cabelos do filho com uma toalha. - Ta cansado, não ta?

- To... eu acho que vou dormir um pouco, eu queria ir lá fora mas vai chover. - o menino disse, já vestido em seu pijama, enquanto subia na cama de casal do quarto. Eram apenas quatro horas da tarde mas o tempo realmente tinha mudado e Jimin via os olhos cansados no filhote.

- Sang... - disse enquanto arrumava a coberta nele - aquilo que você disse... sobre... sua vó e os documentários...

O menino deu um longo suspiro - Psicopata papai.

- Você sabe o que isso significa? - Jimin perguntou assustado.

Sang assentiu afirmativamente - O documentário explicou. Eu sempre te chamava pra assistir comigo, o senhor nunca quis...

Jimin deu um sorriso de lado - Eu sei, eu devia ter assistido... mas eram inteligentes demais pra mim!

- Quem sabe meu papai Yoongi assiste comigo agora não é? - Perguntou coçando o olhando com uma mão.

- Quem sabe... - Jimin respondeu, passando a mão em seu cabelo, vendo ele fechar os olhinhos.

Não demorou muito para pegar no sono, mas Jimin, apesar de cansado, não conseguia se imaginar dormindo. Sua cabeça martelava milhões de coisas, milhões de perguntas das quais ele nem queria as respostas. Sentia medo... tanto medo... Como na primeira vez que segurou Yeosang, achando que jamais conseguiria o proteger do mundo e ser o pai que ele merecia. E a verdade era que era aquele sentimento que o assombrava mais uma vez.

Ele ficou olhando o filho dormir, os olhos, o nariz, a boca, o rostinho... tão parecido com Yoongi... Ele tinha visto antes o alfa pegar a chave de outro quarto. Não tinham se falado mais depois da pequena troca de palavras quando chegaram e Jimin não sabia muito bem como lidar com tudo aquilo. Querendo ou não tinha ficado quase seis anos no escuro, seis anos sem saber de Yoongi, seis anos com informações cortadas, vindo de pessoas as quais ele achava que eram confiáveis. Passou por uma gravidez sozinho, de risco por não ter o alfa por perto. Passou pelos primeiros anos do filho sozinho, foi um pai sozinho... quando começou a ver que sua mãe mentia para si, Jackson apareceu... e os anos se passaram, e então Yoongi voltou, e tudo aconteceu tão rápido que ele nem conseguia entender nada.

Mas conseguia entender que o amava, ainda o amava.

Então ele deixou o filho no quarto, trancando a porta e levando a chave no bolso da calça. Passou no quarto que Yoongi tinha pegado mas estava vazio. Procurou na casa, mas não o achou em lugar nenhum. A chuva tinha começado a cair quando ele chegou nos fundos da casa, vendo o caminho que dava para um deck de madeira na beira de um rio que passava ali. Respirou fundo e seguiu a trilha, entrando nas árvores, sentindo a chuva começar a o molhar enquanto avançava.

Uns dez minutos depois ele o viu. Yoongi estava deitado no deck, a chuva caindo em seu corpo, um braço embaixo da cabeça, ainda com as mesmas roupas que chegaram. Jimin avançou, subindo o degrau e o alfa se sentou, olhando pra trás enquanto o mais novo ia chegando.

- Achei que não queria falar comigo - Yoongi disse quando ele chegou ao seu lado.

- Eu não disse isso... eu só disse que queria pensar...

- E já pensou? - Yoongi se levantou - Vá pra dentro Jimin, vai se molhar inteiro, ficar doente... - disse puxando seu braço de leve mas Jimin o puxou de volta.

- Quero conversar com você aqui, Yoongi... - Jimin o puxou de novo e Yoongi parou a sua frente - Seus olhos estão mais intensos... um azul outro preto... - ele deu um meio sorriso - Por isso não quis ver seu modo alfa... eu nunca iria querer substituir a cor dos seus olhos, é a cor que nosso filho tem.

- Mas você desconfia de mim... - a voz de Yoongi era triste.

- Não é desconfiança... é medo. Não sou só eu nessa, é o Sang também. Se fosse só eu enfrentando todas essas mentiras eu já tinha mandado todo mundo se f***r. Mas ele... eu fico pensando na cabecinha dele cheia de tudo isso que ta acontecendo... fuga pra lá e pra cá... mentiras, o homem que ele viu enquanto crescia querendo tirar ele de mim, a avó psicopata, ele disse isso Yoongi, que a vó é psicopata... ele tem cinco anos!

- Você acha que não me sinto assim também? Acha que por eu ter chegado agora não sinto esse medo também? E eu não sinto esse medo só por ele Jimin, sinto por você também! Meu maior desejo era tirar você e ele daqui agora e ir embora pra bem longe, você sabe disso! Essas pessoas estão brincando com as nossas vidas e nem lembram que ainda somos tão novos! Elas nem nos dão a oportunidade de viver as nossas vidas!

Jimin assentiu - Nem vinte e quatro e já formado em direito em Harvard... você deve estar sentindo falta de lá.

- Acho que Sang ia gostar de lá, tem boas escolas, ele parece muito inteligente, certeza que pularia muitas séries...

O ômega sorriu - Provavelmente. - então virou de costas, andando pelo deck, sentindo a chuva em seu rosto, vendo o riu passando ali. - Eu sempre soube que ia ser uma pai maravilhoso, eu sinto muito que não tenha acompanhado desde o começo...

- Jimin... - Yoongi chamou e Jimin não conseguiu lutar contra, se virou a ele - Você ainda desconfia de mim? De que, de alguma maneira, estou contra você? De que estou mentindo pra você ou escondendo algo? - ele começou a caminhar de encontro a ele - Eu escrevi um e-mail por dia pra você durante cinco anos porque não suportava a ideia de seguir em frente sem você, sem você saber o que acontecia comigo, sem saber que eu ainda te amava... você leu... tinham as datas lá... não posso acreditar que...

Yoongi foi interrompido por Jimin, que pegou seu rosto entre as mãos e o beijou. O gosto do beijo tinha sabor de desespero, lágrimas, chuva e amor. O encontro foi ao mesmo tempo de alívio e medo, tanto que não teve tempo de ser casto, as línguas entraram em contato e os corpos se colaram e era a primeira vez que se beijavam assim depois de tantos anos, sem a vergonha do reencontro, sem o medo de serem pegos por Sang, somente os dois, ali, na chuva.

Mas então Yoongi se afastou minimamente - Jimin... não... - dizia sem fôlego, lutando contra a própria vontade, as mãos agarradas a cintura alheia - Não me beija assim se isso for uma despedida, eu não vou aguentar... - pediu com a voz cortante.

Jimin apenas o beijou de novo, com mais vontade, se colando mais a ele. abaixou suas mãos, indo até sua camisa e abrindo os botões. Teve um pouco de dificuldade já que ela estava molhada, mas então conseguiu sentir a pele quente do peito do alfa contra sua palma, seu coração batendo rápido. As mãos de Yoongi passavam por suas costas indo até sua b***a e voltando e então o ajudou a se livrar de sua camisa molhada.

- Você quer fazer isso aqui? - perguntou se ajoelhando e trazendo Jimin junto.

O ômega sorriu - Você não quer fazer isso aqui?

O pescoço de Jimin tinha gosto de chuva, seu corpo mais maduro era uma descoberta que Yoongi poderia ficar eras apreciando cada pedacinho, as gotas formando obras de arte em cada parte de sua pele branca, em seus músculos, em seus m*****s que foram devidamente adorados, sua barriga que foi beijada, sua cicatriz da cesárea...

Yoongi deixou suas lágrimas se misturarem com a chuva quando beijou aquela área em particular, sentindo Jimin acariciar seu cabelo molhado. Conseguia entender o quando o ômega tinha se sacrificado e lutado pelo filho, não passaria um dia sem o lembrar do quanto era precioso e amado, assim como estava fazendo naquele momento, o dando prazer com a boca, ouvindo de novo, depois de tanto tempo, aqueles sons que ficaram cravados em sua memoria por tantos anos, que as vezes o levavam ao delírio em suas noites solitárias, que o deixavam a beira do colapso...

Quando se levantou e se aproximou de seu rosto novamente, tremendo de t***o e amor, encontrando o olhar de Jimin, ele soube, queria voltar no tempo. Não haveria nada no mundo que não fizesse por Jimin, nada que não desistisse por ele, que não sacrificasse por ele, porque era tão difícil pra Jimin entender? Seu amor era assim, e pra ele era fácil, tranquilo, como respirar.

Eles se beijaram novamente quando a conexão aconteceu, levando os dois a suspirarem contra a boca um do outro. Jimin passava as unhas curtas nas costas de Yoongi, que se mexia dentro dele com vontade e carinho ao mesmo tempo, se apoiando na madeira do deck, sentindo a chuva deixar tudo mais fácil entre os corpos.

Jimin fechou os olhos, jogando a cabeça pra trás, sentindo tudo com uma intensidade maior do que ele imaginava que sentiria, até Yoongi se sentar e o trazer junto, o fazendo ficar cara a cara com ele. - Eu te amo, eu te amo Jimin, mais que tudo... - ele ouviu, ainda de olhos fechados - tudo que eu mais quero... é ser seu... outra vez... e ter nossa família... por favor... eu nunca parei de te amar, nem um dia sequer, você sempre foi meu tudo, e sempre vai ser...

O ômega não resistiu, gozou ouvindo aquelas palavras, agarrado aos ombros de Yoongi, respirando rápido, abrindo os olhos e encontrando os do alfa, que agora o olhava, com os olhos completamente vermelhos.

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- Você não precisava ter feito isso... - Jimin murmurou contra o peito de Yoongi, deitados no deck juntos, a chuva agora era apenas uma garoa fina.

- Queria que acreditasse em mim.

- Eu já acreditava... não teria feito... não teria... - suspirou - se não acreditasse.

- Eu sei, por isso fiz, pra você ter mais certeza. - Yoongi se sentou, o olhando deitado - E você ainda tem vergonha de dizer que a gente transou? Jimin... - O ômega se sentou, dando um tapa fraco em seu ombro - Você gostou?

Jimin encostou o queixo em seu ombro - Eu amei... e você?

- Eu amei... eu te amo - se aproximou, dando um selar em seus lábios.

Jimin sorriu - Tenho que voltar, deixei o Sang trancado no quarto...

Yoongi arregalou os olhos - Meu Deus... a essa altura ele pode muito bem ter feito uma chave sozinho e ter aberto a porta.

O ômega riu - Eu não duvido... meu medo é deixar ele e sua mãe sozinhos, desculpe, eu sei que é sua mãe mas...

- Não precisa se desculpar, eu sei... Sabe o que eu tava pensando antes de você chegar aqui? - Jimin negou - Em quem ela pensou que era antes de ver que era a gente chegando...

Jimin franziu as sobrancelhas - É, ela disse um nome mesmo...

- Era Soob...

- Soobin? Será que ela ta juntada com meu pai? - disse olhos arregalados?

- Não sei, mas se for, não vai demorar pra ele aparecer aqui, ou, podemos confrontar ela e perguntar.

- A essa altura ela já deve ter avisado ele...

- Então vamos confrontar ela. - Yoongi se levantou, pegando a camisa molhada e jogando em cima do ombro, já tinham colocado as calças, a muito custo já que estavam molhadas, e pegaram os sapatos do chão.

- Ele explicaria tudo, se quisesse colaborar. - Jimin falou - Mas não o vejo tem tanto tempo...

- O que você decidir a gente faz - Yoongi disse, dando um beijo na testa do ômega, e eles começaram a caminhar de volta para a casa.

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UM AZUL OUTRO PRETO

- Eu lembro de você me dizer que não se lembra dele... - Yoongi disse olhando pra Jimin na cama, Sang estava dormindo entre eles, os olhinhos fechados, como se nada estivesse acontecendo. E Jimin queria acreditar nisso, que ele estava sonhando com um mundo onde era apenas uma criança normal, brincando em um mundo normal, longe de toda a confusão onde se encontravam...

- Não, não me lembro... - ele olhou para o alfa, por cima do filhote - ele saiu de casa quando eu ainda era muito pequeno, minha mãe nunca falou muito dele, nem fotos eu vi... tenho um pouco de medo desse encontro na verdade... sabe... eu sempre ressenti ele... agora nem sei se ele fugiu da minha mãe ou o que aconteceu de verdade...

Yoongi se levantou da cama, a rodeando e indo ate o lado de Jimin, entrou embaixo da coberta e o abraçou, dando um beijo em sua cabeça - O que você quer fazer? Sabe que a gente pode ir embora, deixar tudo isso pra trás, esquecer essa confusão. Sang ainda é pequeno, podemos dar um final de infância saudável a ele...

Jimin assentiu - Eu sei... eu quero isso mas ao mesmo tempo quero saber o final de tudo isso... é frustrante... eu só queria alguém que eu pudesse confiar pra ficar com o Sang enquanto isso...

- Vamos pensar no futuro então, vamos pensar no depois disso tudo - Yoongi o abraçou mais forte.

- Depois? - o mais novo perguntou, se afastando para o olhar.

- Sim... - respirou fundo - eu vejo a gente morando na praia, como a gente sempre sonhou... mas longe, longe daqui, em outro país, ver o Sang crescer no mar, com a pele bronzeada, aprendendo outra língua, aprendendo a surfar... vou abrir um restaurante a beira da praia, você sabe como amor cozinhar...

- Mas e o seu diploma de direito? - Jimin perguntou sério.

- Eu nunca o quis, eu sempre quis essa vida, com você. Eu ia adorar ter outros filhos com você, que crescessem no mar também... mas se não quiser podemos ir a algum lugar frio... não importa, qualquer lugar com você sera perfeito.

Jimin o olhou, os olhos marejados - Eu quero me casar com você - falou baixinho.

Yoongi sorriu, aberto, com gengivas e tudo e então beijou sua testa - Eu também quero me casar com você.

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- Como você ta meu amor? - Jimin perguntou olhando o filho enquanto o via escovar os dentes. O dentinho que tinha caído agora já estava sendo substituído pelo permanente, e ele estava cada vez mais fofo.

- Cansado - respondeu secando o rosto em uma toalha. Jimin estava sentado na privada que estava com a tampa fechada e Yoongi estava encostado na porta, observando.

- Pode me contar porque? - o ômega perguntou - Sabe que pode me falar tudo não é?

Sang deu de ombros, se aproximando mais ate ficar entre as pernas do pai - A gente pode ir embora? Eu queria ir embora...

Jimin levantou a cabeça, trocando um olhar rápido com Yoongi - Ir embora dessa casa?

O menino assentiu - Sinto falta da minha cama, e dos meus dinossauros, e de assistir documentários, vai demorar pra gente ir embora?

- Meu amor - Jimin o virou para si, para olhar para ele - E se a gente fosse embora pra um lugar diferente, longe daqui? Você ainda ia gostar? Eu, você e o papai Yoongi?

- Longe? - Jimin assentiu - E o tio Jackson não vai me levar embora?

- Não, não Sang, não - ele o abraçou, fechando os olhos. Como queria que o filho não estivesse envolvido em tudo isso... como queria que nada disso estivesse acontecendo... como queria que aquele falso negativo tivesse dado positivo e eles pudessem ter fugido daquela vez...

Ele nem reparou que Yoongi tinha saído do quarto, foi só quando ele voltou, trazendo um copo com achocolatado e um pão para Sang que Jimin viu. - Aqui Sang, eu e o papai Jimin precisamos conversar com a minha mãe, então você precisa ficar aqui dentro um pouquinho ta bom?

O menino assentiu - Eu não quero saber, eu não quero mais saber - ele disse pegando o tablet e procurando os videos.

- Isso ta me assustando... - Jimin falou baixinho quando Yoongi se aproximou - ele não é assim... ou ele ta realmente assustado ou ta tramando algo... eu conheço o filho que tenho...

Yoongi deu um meio sorriso - Minha mãe não acordou ainda, dá pra gente tomar café em paz e pegar ela de surpresa, eu já fiz o café, do jeito que você gosta.

Jimin o olhou - Como você ainda lembra de tanta coisa sobre mim? Faz tanto tempo...

- Porque não deixei de pensar em você em nenhum segundo de todo esse tempo - respondeu.

O ômega sorriu, indo até o filhote e dando um beijo em seus cabelos - Ja voltamos ta bom? Qualquer coisa me chame. - Sang apenas concordou, tomando o achocolatado, sem tirar os olhos da tela.

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- Você não pode vir aqui Soobin! Eu disse a você! Eles estão aqui, eu ainda não expliquei! Espere eu expliquei e... - a senhora Min dizia a um homem parado no meio da sala. Ela estava com os olhos arregalados, e falava de modo exasperado, desesperado, tentando fazer o homem sair de dentro da casa.

- Eu preciso resolver isso! Jimin acha que sou o pai dele, ele não sabe que não sou, eu fui manipulado pela mãe dele, nós reunimos as provas, é a chance! Se eles estão aqui é um sinal, vamos todos conversar juntos... - o homem disse.

- Soobin... - a senhora Min se aproximou mais - Eu preciso conversar com eles, principalmente com o Yoongi... eles desconfiam muito de mim, e com razão! Eu fui muito manipulada por aquela alfa, nós dois fomos, até meu marido foi, apesar de ser um alfa forte! Mas eu preciso conversar com eles antes... se eles te verem aqui vão entender na hora e vão achar que a gente tava tramando algo!

- O que ta acontecendo aqui? - Yoongi falou com Jimin logo atrás, chegando perto dos dois.

E então o homem se virou. E a única coisa que repararam era que Soobin, o homem em frente a eles, o então pai de Jimin, tinha um olho de cada cor.

Um azul, outro preto.

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ESPAÇO VAZIO

Os olhos do homem a sua frente parecia que engoliam Jimin. Aqueles olhos eram tão familiares... eram os mesmos olhos que ele olhava todos os dias por cinco anos. Os mesmos olhos do homem por que era apaixonado. Mas o nome... o nome não encaixava... Ele engliu em seco, dando um passo a frente - Você é Soobin? Choi Soobin?

O homem o olhou - Sim, sou eu...

- Mas seus olhos, seus olhos são... - ele se virou para Yoongi, que parecia tão confuso quanto ele, e depois para Soobin de novo - Os olhos... - virou para olhar para a senhora Min, no fundo da sala, com as duas mãos no rosto. Então Jimin arregalou os olhos e soltou um grito, tremendo o corpo inteiro, colocando as mãos sobre o coração que parecia pular do peito - Nós somos irmãos?

- O que? - Yoongi falou mais alto dando passos para o outro lado da sala, até a mãe. Jimin também caminhou, até o balcão da cozinha, ficando longe, de repente se sentindo sujo, confuso, destruído. Se abaixou até sentar contra o balcão, sentindo as lágrimas descerem, a falta de ar chegando, tendo um ataque de pânico.

- Mãe? - Yoongi perguntou segurando os ombros da mulher a sua frente - Você não pode ter feito isso... se esse era o motivo de ter sido contra podia muito bem ter falado! Isso é muito sério!

- Ele não é! - sua mãe disse chorando - Vocês não são irmãos! Não são, Soobin não é o pai do Jimin, não é, ele é seu pai, você pode ver pelos olhos... Eu o procurei pra me ajudar com o caso da Sunny com o seu pai... mas quando o vi... ele tinha os olhos do meu pai... e eu sempre quis ter um filho com os mesmos olhos... eu me apaixonei...

- Se apaixonou? Todo esse tempo em que estava casada com meu pai tinha um caso com o pai do Jimin? Ele sabia que não era meu pai?

- Não... ele nunca desconfiou de nada... ele achava que a cor dos seus olhos tinha vindo de seu avô, e pode mesmo ter vindo dele... Yoongi, meu filho... todo o m*l que vocês receberam veio daquela alfa... tudo o que fizemos foi tentar ajudar vocês...

- Tendo um caso um com o outro? Eu não consigo acreditar nessa confusão... chega a ser ridículo! E eu achei que a senhora estava morta! Consegue entender um pouquinho do que esta passando pela minha cabeça agora? Minha vida toda foi uma mentira, a vida do Jimin foi uma mentira, achei que meus pais estavam mortos, descobri que tenho um filho, e agora descobri que meus dois pais estão vivos! - ele deu uma olhada na sala - E cadê o Jimin? - olhou para Soobin - Alguma vez você teve um relacionamento com ele? Porque ele acredita que você é pai dele!

- Eu fui embora antes da Sunny engravidar, não sei quem é o pai do Jimin. Voltei algumas vezes pra pegar algumas coisas, e vi o Jimin algumas vezes, talvez ela tenha falado que eu era o pai e ele tenha essas lembranças, mas não sou o pai. Meu gene alfa não era forte o suficiente para engravida-la. O gene alfa dela é muito forte, somente um alfa muito forte, puro, pra conseguir isso.

Yoongi assentiu, respirando fundo - Vocês não estão brincando com a gente não é? Isso é sério! Não somos só nós, mas tem uma criança no meio... - ele colocou as mãos nas têmporas - Cadê o Jimin? - repetiu ainda mais desesperado dessa vez se colocando em ação.

- Podemos fazer o teste de DNA se quiser... - Soobin falou quando Yoongi passou por ele, procurando o ômega em todo canto ate o achar escondido embaixo do balcão - Pequeno... - ele se abaixou, se sentando ao seu lado.

Jimin o olhou, o rosto vermelho e molhado, negando com a cabeça - Quero acordar desse pesadelo....

Yoongi suspirou, pegando sua mão e fazendo desenhos abstratos nela, tentando o acalmar - Não somos irmãos, Soobin não é seu pai, é meu pai. Parece que nossos pais eram amantes entre si e eu não estou com saco pra ouvir toda a historia... não me interessa... já fomos prejudicados demais com tudo isso. Mas se você quiser, podemos voltar para aquela sala, sentarmos, ouvirmos o que eles tem a nos dizer, e fazermos o teste de dna, e então irmos até a casa da sua mãe e colocarmos ela contra a parede e... - Yoongi já estava cansado só de pensar.

- Papai? - eles ouviram a voz de Sang que estava em pé ao lado deles. Nem tinham ouvido ele chegar. - Porque ta chorando?

- Papai tem muitas coisas pra decidir mas não consegue decidir nada - Jimin falou com a voz falhada e Sang se sentou em frente aos dois.

- Se não consegue decidir então não precisa decidir nada. - ele disse.

Jimin fungou - Como assim?

- Se tem um montão de coisas pra decidir, você pega esse montão de coisas - fez um circulo grande com as mãos - e coloca em um cantinho, ai você vê o que ficou no espaço vazio.

- Espaço vazio?

- Quando ele se formou em psicologia? - Yoongi sussurrou, completamente assustado.

Jimin sorriu, chorando mais ainda, puxou o filho para o colo, o abraçando apertado. Olhou para Yoongi por cima do ombro do menino e disse - Já sei o que quero fazer.

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BRANCO FINAL ~~

Jimin nunca tinha sido o protagonista da narrativa de sua vida. Tinha nascido em um lar quebrado, com uma mãe solteira, um pai que ás vezes o visitava - que era o que ele acreditava, e que depois veio a descobrir que não, não eram visitas, e que não, ele não era seu pai. Sua infância foi marcada pelo controle de sua mãe, e até então, ele não tinha reparado nisso. Ele nunca tinha ficado com os amiguinhos brincando na escola, apesar de morar em uma cidade pequena onde todos se conheciam. Nunca tinha dormido da casa dos amiguinhos ou ido as festinhas de aniversário. Virou adolescente com as mesmas limitações. Mas como foi dito, nunca tinha reparado nisso.

Nem sabia que tinha os ataques de pânico e ansiedade. Não até Yoongi surgir e o acalmar. Eles nem tinham nada a primeira vez que eles realmente tiveram uma interação mais íntima - digamos assim - após uma prova em que Jimin achou ter ido m*l, e, com medo da reação da mãe, se escondeu no banheiro. O até então alfa que ele só conhecia de vista estava lavando as mãos quando o viu passar correndo, mas não disse nada, apenas se aproximou devagar, se abaixou e pegou sua mão. Isso certamente foi o acalmando, mas foi só quando levantou a cabeça e o olhou que algo em seu mundo parou naquele segundo: seus olhos.

Jimin não soube o que aconteceu, ou o que sentiu, mas tudo dentro dele se arrepiou, sua respiração ficou mais rápida e seu coração bateu mais forte, e aqueles olhos... aqueles olhos o olhavam de uma forma como nunca tinha sido olhado antes, aqueles olhos lhe davam a sensação de liberdade... coisa que Jimin nem sabia que precisava.

Ele começou a sonhar com aqueles olhos. Um azul, outro preto. Cruzava com ele nos corredores da escola, mas desviava, sentia vergonha, não sabia como agir. Até que uma semana depois colocou um bilhete simples em seu armário, escrito apenas um "muito obrigado". Pensou até que Yoongi fosse ignorar, ou pensar que não era dele, mas não passou muito tempo. Após a aula de educação física, ele o chamou pra sair.

Depois dali Jimin descobriu o amor.

O amor da forma com que era tocado. O amor da forma como era olhado. O amor da forma como era ouvido, abraçado, beijado. O amor nos sorrisos que recebia e dava, o amor na forma como era recebido e na forma como eram as despedidas. Aquele tipo de amor mais forte que tudo a sua volta, mais forte do que quem era contra, mais forte que as dificuldades, mais forte que a dor.

Mas Jimin também descobriu a dor, na forma mais c***l, de te tirar o ar, de te quebrar inteiro. Descobriu a dor do abandono e a dor de criar o fruto de um amor sozinho.

Foi obrigado a amadurecer por aquele mesmo par de olhos. Um azul e outro preto.

Era engraçado como os dois amores de sua vida tinham as mesmas características. E como em nenhuma das situações ele pode escolher o que fazer.