Melina
Dois dias. Dois longos dias que não saio daqui, não falo com ninguém e muito menos passo por alguma porta de saída. Não posso nem ir ao jardim. Está tudo trancado! Depois que o meu celular caiu e quebrou a tela, ele não liga mais e não importa o que eu faça, já apertei pressionando todos os botões, já coloquei na tomada para carregar na esperança da tela ligar, até o derrubei novamente, mas nada funciona.
Eu vou surtar*!
Os homens lá fora só sabem andar de um lado para o outro tranquilamente e apenas fizeram um sinal de que eu não posso passar pela porta. Eles são muitos!
Acreditem, já pensei em arrombar tudo, mas fui alertada a não fazer isso e até a minha arma* sumiu. A única teoria que tenho, é que quando eu estava na cozinha, Alek com certeza andou bisbilhotando algo e a pegou. Não consigo pensar em outra coisa.
A minha sorte é, que aqui tem comida, mas me sinto exausta por não conseguir dormir bem. Fico a todo instante sendo atormentada imaginando a cena do Alek chegando aqui e para piorar, imagino mais ainda ele entrando com mais homens e me arrastando pra fora daqui e acreditem, nos meus poucos cochilos eu sonhei isso.
Mas por outro lado, eu também não paro de pensar naquele beijo.
Imaginei tanto, e por tanto tempo como seria ser beijada por ele que não consegui me segurar. Por ironia do destino, eu imaginava, sim, e queria mais que tudo que ele fosse o meu primeiro em tudo e que quando ele fosse me beijar, iria ser um momento mágico e delicado. Mas eu pensava isso antes de tudo aquilo acontecer e, confesso que me arrependo por um lado, mas por outro não.
Só passei breves segundos nos braços deles, mas foram os melhores onde até esqueci da raiva toda, esqueci o tinha acontecido até alguns segundos atrás e me concentrei nele. Alek tem uma boca quente, mãos firmes e pesadas que quando passaram pelo meu corpo, eu só queria que durasse mais tempo.
Nunca senti nada parecido!
Pela primeira vez em alguns anos, sinto um medo do que pode acontecer, pois além da forma como ele saiu, são dois dias completamente silenciosos e nada de bom vem depois de um silêncio desse.
Não consegui fazer muita coisa a não ser beber um pouco e tomar banho. Muitos banhos e agora, acabei de sair de um e estou vestindo uma calça jeans onde separei uma blusa preta de alcinha fina colocando-a para dentro e já prendi os meus cabelos bem o alto como um r**o* de cavalo.
Me sinto extremamente nervosa!
Tomei um banho rápido e escolhi essa roupa porque, poucos minutos atrás, um dos homens lá fora fizeram uma anotação no celular me mostrando pela janela que terei uma visita, mas não dizia de quem. Não sei o que esperar e eu sei que eles sabem, mas por ordens eles não falam nada e fico somente esperando o pior*.
Enquanto calço o meu tênis, ouço o som que vem lá de fora trazendo um frio na minha barriga que me faz pôr a mão nela e com cautela, caminho até a sala criando coragem para olhar pela janela quem é.
É o meu pai!
A porta se abre por ele que entra sozinho e sorrio aliviada ao vê-lo, mas a sua cara não é nada boa.
-Oi, pai..., é tão bom ver o senhor. – Quase corro até ele o abraçando, mas logo sou afastada por ele.
-Vamos embora..., o seu voo é em uma hora! – Ele da meia volta para sair e fico sem entender nada.
Meu pai nunca negou* um abraço meu.
-O que? Que voo? – Pergunto o impedindo de sair segurando o seu braço.
-O seu para a Rússia..., vamos! – Novamente o impeço de sair ao sentir um medo imenso.
-Pai, espera..., o que eu vou fazer na Rússia? – Mesmo tendo um pouco de noção da resposta, pergunto mesmo assim.
-Ainda não entendeu, Melina? Tem noção do que fez? – O meu pai diz magoado e irritado ao mesmo tempo.
-O que ele disse? – Pergunto querendo saber se há alguma possibilidade de Alek inventar algo ou aumentar.
-O bastante, agora vamos e eu não quero ouvir mais nada agora! – Ele simplesmente se vira e sai andando em direção a saída. – Não precisa pegar nada! – Ele fala ao ver que nem sai do lugar.
Caminho atrás dele em passos lentos completamente desacreditada.
Há um carro no lado de fora, onde o meu pai entra tomando o volante e eu me sento no banco de trás com os meus pensamentos em completa desordem. Ele dirige rapidamente onde só o que ouvimos é o motor do carro e o vento, mais nada, ele não diz uma palavra sequer e tenho até medo de quebrar esse silêncio.
O meu pai nunca ficou assim comigo!
Lembram do lado que falei que me arrependo? Isso faz parte e sei que tem muito mais a vir.
Depois de um bom tempo dirigindo, chegamos ao aeroporto e já visualizo o jatinho na pista de decolagem. Vejo mais homens espalhados pelo local e o meu pai estaciona ainda em silêncio, mas não quero sair do carro sem falar com ele.
-Pai..., o que vai acontecer? – Pergunto antes que ele possa sair.
-Você quebrou uma das cláusulas do contrato, Melina..., o que acha que vai acontecer? – Ele responde sem olhar para mim ainda com as duas mãos no volante.
-Pai..., por favor... – Sinto uma vontade imensa de chorar. – Só..., fala comigo! – Peço o olhando pelo retrovisor.
-Eu não posso fazer nada, Melina..., fiz o que podia e até o que não podia, deixei você ter o máximo de uma vida normal, mas você fez uma merda*..., e das grandes e eu não posso mais interferir..., eu te avisei tanto, a sua mãe mais que eu e..., o que p***a* passou pela sua cabeça? – Lágrimas caem do meu rosto ao ouvi-lo dessa forma.
-Me odeia*? – Meu pai suspira se virando para trás e segura a minha mão.
-Claro que não, Melina, você é minha filha..., mas, estou decepcionado e agora não posso fazer mais nada para impedir. – Olho para ele confusa vendo que ele tem algo a dizer. – As preparações do seu casamento já começaram..., Alek não vai mais esperar.
Dito isso, ouvimos batidas na porta do carro e é um dos homens de Alek.
-Desculpe..., mas precisam sair para a moça entrar no Jatinho. – Meu pai concorda e abre a porta do carro.
Ele abre a minha e confesso que fico até sem forças para sair, mas não posso dificultar mais as coisas.
-Ele está lá dentro? – Pergunto curiosa, pois percebi que o meu pai não via agora comigo.
-Está..., vocês vão juntos e eu fico para esperar a sua mãe, Danilo e os seus tios..., e por favor, não apronte mais nada, Melina! – Aceno em concordância e o abraço forte segurando novamente o choro.
-Desculpa..., eu não queria decepcioná-lo. – De fato não queria, eu amo o meu pai.
-Já fez, Melina, e não quero nem comentar a forma que eu soube..., e a verdade é que ainda vou saber mais alguma coisa quando chegarmos lá. – Fico confusa ao ouvir isso e olho para ele.
-O que quer dizer? – Pergunto enxugando as minhas lárimas.
-Alef ainda não entrou em contato comigo..., então, só entre no jatinho que nos veremos em breve. – Mesmo com receio, eu o abraço apertado novamente.
O meu pai demora um pouco, mas corresponde deixando um beijo nos meus cabelos e pouco depois, somos interrompidos novamente ouvindo que preciso entrar.
Não sei como será com Alek assim que o ver, mas o maior fato é que não posso mais fugir.