fuga e desespero

1334 Words
Eu estava correndo atrás de duas pessoas, as quais não conseguia identificar os rostos, mas eu podia ter certeza de que eram um rapaz e uma garota. Ela era mais nova do que ele. — Eu não sei por que você me trouxe até aqui. — Ah, qual é! É divertido, se você parar de reclamar e ouvir a natureza... O rapaz se virou de frente, e eu pude perceber: era Anthony. De alguma maneira, era ele, mais corado... vivo. — Anthony! Anthony! Eu o chamei, mas ele não me olhou. Era como se ele não me visse ou ouvisse, mas ele estava feliz, como eu nunca o vi antes, diferente dessas semanas que se passaram, devo assim dizer. Ele estava vestido com roupa para trilha: uma bermuda até o joelho camuflada, camisa de manga preta, meia preta e botas. Ele tinha em suas costas uma mochila, creio eu que fosse de acampamento. Já a moça usava uma calça de lycra preta, uma blusa azul de manga comprida e tênis da Nike com meia. — Eu não sei o que deu em mim para vir com você! — disse a moça, olhando diretamente para Anthony. — Ah, qual é! Tá na hora de acordar — disse ele, rindo. — Sim, está — ela confirmou. Eles olharam diretamente para mim, e foi quando meus olhos se abriram. Me sentei na cama; minha cabeça latejava de dor. À minha frente, Anthony estava em pé. Ele tinha uma colher e uma quentinha nas mãos; ele entregou em meu colo e sorriu. — Estava plena dormindo, achei que não valia a pena acordá-la. — Isso aqui é tudo o que eu preciso... — A comida não é lá das melhores. — Não isso... A colher. Percebi que o cimento é fraco; vou tentar cavar com a colher no cimento para deixar as barras mais fracas e escapar por ali. — Acha que consegue? — Sim, só preciso comer e depois vou começar. — Então come, vou te esperar lá fora. — Uhum! Ele saiu do quarto, e eu abri a quentinha. Logo vi arroz, feijão, farofa m*l feita e frango frito. Por hora, isso teria que ser suficiente. Usei a colher metálica para cavar no cimento frágil e tirar as barras de ferro enferrujadas. Levei cerca de quarenta e cinco minutos, mas finalizei com um chute nas barras, tombando as mesmas para fora do quarto. — Cuidado! — gritou Anthony de baixo da janela. — Desculpe! — sussurrei, olhando para baixo. Se eu pudesse contar a altura, chutaria dois metros e meio de altura. Naquele momento, engoli seco. Medo de altura estava entre meus maiores medos. — Eu vou te segurar, pula que eu te pego — disse ele, estendendo os braços para mim. — Não vou conseguir, é muito alto... — eu falei, olhando-o. — Não é tão alto. Aproveita que você é magrela, deve pesar uns 59 miligramas. Pula logo! — o ouvi, sentindo sua aflição. Eu respirei fundo e segurei na ponta da pequena janela. Coloquei pressão em meus pés, dei impulso na cama de madeira, puxando meu corpo para fora, e acabei fazendo parte do meu corpo passar pela pequena janela. Meus quadris ficaram levemente presos. Nesse momento, respirei fundo e empurrei meu corpo para fora, apoiando meus braços na parede exterior, e então, com um último impulso, meu corpo se desprendeu da pequena janela. Eu estava caindo com meu rosto em direção ao solo, fechei meus olhos enquanto meu coração se acelerava. Foi quando senti um par de mãos segurar minha cintura; então o impacto não chegou. Abri um dos olhos, o direito, e vi que Anthony havia me segurado. — Eu te disse que seguraria. — Sim, obrigada por isso! Eu realmente odiaria cair de cara no chão... Ri de leve enquanto ele me colocava de pé no chão. Anthony segurou minha mão e me puxou para cima de suas costas. Precisaríamos fugir agora; a questão era sair dali sem sermos pegos. Anthony começou a correr comigo em suas costas. Esperávamos sair ilesos daquele cativeiro. Eu poderia perceber facilmente que era a parte da cidade menos conservada. Não levaria mais de trinta minutos para chegar ao centro da cidade pela lógica. Estava vazio, embora para uma cidade devesse ter muita gente do lado de fora da rua. Mas não havia ninguém. Eu não saberia dizer que horas eram, mas algo aconteceu. Em meio à correria de Anthony, ele acabou por cair, rolando sobre o asfalto quente da rua. — AHHHH MINHA PERNA! Olhei para a perna dele, e, mancando por conta da queda, me aproximei. O asfalto não estava quente; era como se o sol não tivesse nascido há muito tempo. Eu poderia estar em algum tipo de ilusão? Corri, me aproximando de Anthony, e a perna dele estava ferida. Um tipo de armadilha de urso estava ali, presa à perna dele, mas como não conseguimos ver? — Eu vou abrir isso, tá bem? — eu não fazia ideia de como fazer tal coisa, mas mesmo assim tentei abrir a armadilha. — Isso não me preocupa, Elena. O que me preocupa é o fato de que uma armadilha de urso estava no meio do asfalto, escondida por ilusão. Anthony, gritando de dor, abriu a armadilha com as mãos, retirando-a da perna. Ele se levantou. Assim que ele o fez, dois vampiros seguraram seus braços, prendendo-o. — Anthony! — gritei enquanto tentava me aproximar, mas meu antebraço foi puxado para perto dele. Olhei para a pessoa que me segurava e me desesperei quando reparei em quem era. — Nikolai... Nikolai riu de forma sombria. — Ah, Elena, Elena, doce Elena. Achou mesmo que fugiria tão rápido? Eu já sabia há muito tempo quem era seu tão amado amigo dentro daquele galpão... Pelo jeito, seus amigos vão vir também, já que Anthony está aqui. Ele me puxou para o galpão novamente, e os capangas dele puxaram Anthony também. Os capangas me colocaram em um colchonete no chão, me acorrentaram e me amordaçaram. À minha frente, seguraram Anthony. Dois vampiros, um em cada braço. Ambos se vestiam de maneira comum: calça jeans e blusa vermelha. Seus cabelos eram castanhos escuros. Em seguida, um outro vampiro começou a espancá-lo. Este vampiro estava vestido da mesma maneira que os outros dois; porém, seu cabelo era mais claro, um castanho claro, para ser sincera. Eu gritei de maneira alta, enquanto a mordaça em minha boca abafava meus gritos. Eu tentava me mexer para me aproximar de Anthony. — Elena, se mantenha calma. Elena, você não deve despertar. Mesmo espancado, Anthony se preocupava comigo. Aos poucos, Anthony mostrava ferimentos expostos. Eu gritava em desespero e tentava lutar contra as correntes. — Elena, por favor, diz a Dimitry... que eu... Anthony não conseguiu terminar sua frase, pois o vampiro que estava batendo nele segurou na cabeça dele e puxou para cima, aos poucos degolando-o. Eu gritei ainda mais alto ao vê-lo sofrer sem poder fazer nada. A impotência de ser fraca me causava angústia cada vez maior. Anthony sentia dor; ele gritava o máximo que podia e lutava com suas forças para não ser morto. Não aguentando mais assistir à morte lenta à qual estavam me forçando a ver, eu gritei alto. Eu senti quando uma onda de energia saiu de meu corpo, impulsionando todos para trás. Isso fez com que Anthony fosse solto, porém eu fui jogada para longe com minha própria energia, acabando por quebrar as correntes. Quando bati no chão, o impacto me fez sentir uma dor aguda, e minha visão começou a ficar turva. Meus ouvidos zumbiam, e meu corpo tremia. O ar parecia pesado, difícil de respirar. Ouvi a risada de Nikolai, ecoando de forma distorcida. Também vi quando Anthony, mancando, saiu do local correndo. Tentei me levantar, mas meus músculos não respondiam, minhas pernas estavam fracas, e minha cabeça girava. Meus olhos se fecharam por fim, e eu perdi a consciência, desmaiando, sentindo uma última pontada de desespero ao ouvir os passos se aproximando.
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