SUICÍDIO

1042 Words
Depois de alguns dias, eu já não me orgulhava de ter feito aquilo. Cintia acordou e não disse nada por alguns dias, mas depois confirmou que se lembrava de ter se banhado com álcool e depois acendeu o isqueiro. Eu estava totalmente livre de qualquer suspeita, foi quando Pâmela me procurou. Disse que todo mundo descobriu sobre o caso porque Deco mandou corroborar o álibi da Sereia. Que se pegasse qualquer coisa pra mim, a situação ia ficar feia! Eu odiava aquele Deco. Era um homem seboso, casado mas que ficava medindo a gente, cobiçando. E eu ainda, que tinha rabö de arraia, ele me comia com os olhos. Mas não poderia negar que ele me salvou de ser presa por ter cometido um crime horrível! E eu sabia que estava devendo um favor pro dono da quebrada! Que merdä… Enfim, Jean me procurou. Queria reatar. — Você acha mesmo que eu vou voltar pra você? Porque você fez aquilo, Jean? Levou uma mulher pra dentro da minha casa! Na minha cama! — Na qual você botou fogo. Na cama, na casa e na mulher. Estamos quites. — Não, não estamos quites. Vamos ficar quando eu botar fogo em você, seu filho da p**a. — Helô… — Helô o c*****o! Eu sou Sereia, pode perguntar pra todo mundo da favela quem eu sou. Passou mais uns vinte dias de ele me perseguindo e eu já estava morrendo de saudades. Não vou negar porque não sou bestaa. Ele vinha todos os dias ver as crianças, e Pâmela mais uma vez veio tentar salvar a situação. — Eu sei que ele errou, Helô. Mas ele te ama e está arrependido. A safada foi a Cíntia e você já colocou um fim nela. — Ela morreu? — Não. Uma pena. Ela está totalmente desfigurada, fui com minha mãe visitar ela. Você sabe que minha mãe vai dia sim, dia não ver ela né? Todo mundo lá em casa criticava, falando que você ia ficar triste da mãe tá com esse cuidado todo com ela. Mas quando ela acordou de fato e pôde ter uma conversa com a mãe, que todo mundo entendeu. — Entendeu o carinho da mãe com a amante do seu irmão? Legal! — Não, Helô. A mãe queria saber porque, como aconteceu. Ela já tinha ouvido a versão do Jean, mas queria saber se batia com a da Cíntia, e ela ia lá todo dia pra ter certeza que ninguém da nossa família iria pra fazer ela mudar a versão. — E qual é a versão? — Ela falou que começou a seduzir ele. Ficou desempregada, marido deu um pé, você sabe como é. Jean ganha bem, ela queria ter a certeza de que ele ia bancar ela. Começou a ir na sua casa dizer que ia limpar pra quando você voltasse, essas coisas. Depois que aconteceu, ameaçou te contar se ele mandasse ela embora antes de você voltar. Jean sabia que estaria fudido com ela, chantageando ele depois, mas foi cedendo. — Até que eu fui lá e botei fogo no rabö dela. Não gosta de ficar com o rabö ardendo de dar o piriquito pro marido dos outros? Então que arda bastante. — Ninguém nunca acreditou que você fosse capaz disso. — Não se vanglorie, Pâmela. Eu ia colocar fogo nele também. Só não pegou porque ele foi esperto e fugiu antes de incendiar tudo. — A gente sabe disso, Helô. Ninguém está com raiva de você. Ele quem errou. Mas dá uma chance pra sua família… A noite quando Jean veio ver as crianças, conversei com ele. Eu disse que voltaria com ele, se vendesse a casa incendiada que ele levou aquela vadiä, e comprasse outra perto da minha mãe e a dele! Aí foi ele quem ficou irredutível, disse que eu estava usando o erro dele pra fazer minhas vontades e que já tinha começado a reforma da casa e não ia sair de lá. Ficou mais uns 15 dias nessa loucura. Até o dia que eu pedi pra ele trazer a corrente do Pipoca, porque ele ficava solto no quintal fazendo a maior sujeira e minha mãe estava enlouquecendo. Esse era outro problema que eu não sabia lidar. Morando lá esse tempo, foi que eu entendi porque Adrielle ficou tão m*l com a morte do meu pai. Ele era o mediador, era o ponto de apoio dela. Ele quem controlava minha mãe e cuidava de nós. Depois que ele morreu, minha mãe se mostrou o quanto era insuportável. Mais um motivo pra eu insistir em morar perto, ou minha mãe ia acabar fazendo Adrielle se perder de vez! Estranhei que Jean falou que ia buscar a corrente do cachorro. Levei ele até o portão e ele me beijou. Um beijo cheio de despedidas. Ele pediu de novo pra invés de trazer a corrente, levar a família dele de volta. Pedi pra ele não insistir, e ele disse que era a última vez que ia me pedir pra voltar pra casa, se aquela era minha resposta final. Quando eu disse que não ia voltar pra lá, ele perguntou se eu tinha certeza, que não ia ter volta. Revirei os olhos, ele montou na moto e saiu. Levei uns 15 minutos pra me lembrar de que Cíntia saiu do hospital naquele dia. Se ele disse que era minha última chance, então queria dizer que ele ia levar aquela infeliz torradinha pra minha casa? Sem acreditar, comecei a pedir pra alguém me levar até lá pra ver com meus próprios olhos. Acabou que o Marcos aceitou me levar de carro. Quando cheguei, tudo estava trancado e silencioso. Mas pela porta de vidro, Marcos e eu pudemos ver ele se mexendo bem próximo da porta. Como a porta era escamada, a impressão que dava é que ele estava trepando em pé e o irmão dele até tentou me impedir de entrar. Mas eu me soltei e abri a porta e dei um grito que Marcos nem olhou pra ele pra conter minha reação. Quando percebeu que eu fiquei parada, horrorizada e chorando, lentamente ele se virou e viu Jean pendurado no teto, enforcado com a corrente do cachorro. E a reação dele foi me bater, dizendo que a culpa era minha…
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