Capítulo 1

1491 Words
Um ano depois... As primeiras semanas foram bem fáceis para Beatriz, pois aquela não é a primeira vez em que Hugo saía de casa e diz que nunca voltará. Depois de três meses, os primeiros papéis para assinatura do divórcio chegaram e ela rasgou cada envelope sem abrir. A partir do quinto, ela passou a queimá-los. Até que começou a deixar acumular. Ela passou a sair de casa para fazer somente o essencial, que incluía os eventos de caridade e ir à casa de sua mãe, Miranda Gouvêa, a quem sempre recorreu para saber o que fazer. O medo começa a tomar conta de sua mente, talvez dessa vez ele tomasse coragem e não voltaria. — O que eu faço agora? Se ele não voltar... Eu não... Não sei o que fazer – comenta Beatriz tentando segurar as lágrimas. Sabe que sua mãe odeia drama, ainda mais em um restaurante. — Mantenha a mesma postura de sempre: recuse. Uma hora ele cansa e percebe que esse divórcio não o beneficiará em nada. A imagem dele será destruída perante as todas as empresas do Rio de Janeiro. Isso eu garanto. – bebe um gole de seu suco e continua — Não demonstre emoção em público, querida. Você não quer aparecer nas revistas de fofoca, não é mesmo? — Mas já faz um ano – começa Beatriz, sendo interrompida pela chegada do garçom com os pratos das duas. Assim que ele sai, ela continua — Já era para ele ter voltado para casa. Acho melhor eu ir atrás dele e pedir perdão... — Não fará isso – interrompe Miranda demonstrando uma leve irritação pela fraqueza da filha. Corta sua salada e continua— Ele tem de ir atrás e não você. Ele é quem deve agradecer por você permitir que ele entrasse para a família. — Eu sei, mas a Sônia acha que talvez seja o que ele deseja que eu vá atrás dele – murmura. Ela para de falar, pois lembra que não havia contado para mãe a respeito da conversa com sua melhor amiga. — Eu disse para não contar a ninguém – repreende sua mãe a encarando — Como se atreve a expor essa situação? — Ela é minha melhor amiga e você a conhece. A Sônia jamais contaria a alguém sobre meu casamento. — Vamos ver. Mas o que ela sabe sobre casamento? Ela nem é casada, ainda. Escute o que eu estou falando: mantenha a mesma postura em que está agora e ele voltará para casa. Ele precisa mais de você do que o contrário, afinal não levará nada da nossa família. Era um pobre coitado e agora acha pode querer exigir algo. Se o seu pai estivesse vivo, daria um jeito nesse aproveitador. Alguém mais sabe sobre tudo isso? — Não. Somente ela. Pedi total discrição. – garante. Beatriz então olha para aquela bela senhora que agora come tranquilamente seu almoço. Ninguém diria que sua mãe já tinha cinquenta anos. Seus cabelos estão pintados de loiros em nada lembram os cabelos castanhos que tivera. A mesma cor dos de Beatriz, muitos conhecidos dizem as duas se parecem muito. Porém, sua mãe usava Botox para que as rugas não marcassem seu belo rosto. Coisa que a Beatriz não tem qualquer pretensão, tem trinta e um anos recém-completados e não havia feito nenhum procedimento estético, diferente de muitas de suas amigas. Acha sua mãe uma mulher muito bonita e bem mais experiente que ela, porém não tem certeza de que esteja certa com relação a Hugo, mas não pretende contrariá-la. Terminam de almoçar e Beatriz volta para o seu Duplex na Barra da Tijuca. Toda vez que entra, sempre lembra que foi ideia do Hugo, pois ele ama a praia e o apartamento fica bem de frente. Agora ela percebe o quão grande, vazio e frio é aquele lugar. Sente falta de seu esposo, quase pode vê-lo sentado no sofá da sala assistindo televisão, ou na varanda admirando a vista, ele se virando e sorrindo para ela... Beatriz sacode a cabeça, tentando apagar aquelas imagens, vai para o quarto, onde abre o closet: a parte de Hugo está vazia. Deita-se ali, como faz sempre durante todos aqueles meses. Um pensamento triste lhe ocorre: Talvez Hugo nunca mais volte. **** — Dona Beatriz? – chama Leninha, batendo forte na porta da suíte da patroa — Dona Beatriz levante, são quase seis horas! Mas Beatriz não quer levantar, bem como em todas as manhãs desde o término. Na verdade naquele dia ela não precisa acordar cedo, afinal é sábado. — Dona Beatriz, a senhora precisa se levantar esqueceu que hoje é o jantar da Dona Sônia? O jantar de despedida de solteira! - informa a empregada preocupada. Então Beatriz olha para o despertador em sua cabeceira. Realmente são seis horas, mas da noite! Como eu pude esquecer? E como irei me arrumar, pensa Beatriz nervosa. — Leninha, entre! – ordena Beatriz saltando da cama — Rápido, me ajude a escolher algo para vestir! E o que farei com o cabelo? — Acalme-se, Dona Beatriz. Use o vestido azul-marinho tomara que caia com a echarpe – vai até o closet pegar o vestido e a echarpe. Lá dentro sugere — Faça um coque meio solto, assim não fica parecendo que acordou agora. Use aquele conjunto de Safiras que seu Hugo lhe deu. — Mas nem morta que vou com aquele conjunto. Pegue para mim o vestido verde bandeira, os scarpins pretos e o meu par de brinco de ouro dado pela minha mãe. Irei de coque... Oh, meu Deus! – exclama com as mãos na cabeça, desesperada — Esqueci-me do presente! — Dona Beatriz, sua mãe já comprou. E já foram entregues – responde Leninha, colocando o vestido na arara do quarto para Beatriz. —Agradeça-a, por favor – senta na penteadeira. Assim que olha para seu reflexo no espelho da penteadeira, exclama – Nossa como estou péssima! —Desculpe-me se isso pareceu atrevimento, mas chamei a Dona Lizz para fazer sua maquiagem – confessa Leninha, colocando suas mãos rechonchudas nos ombros de Beatriz — A senhora precisa estar belíssima nesse jantar. Quem sabe conhecer alguém. — Obrigada, Leninha, você sempre acerta. É como se fosse minha mãe – elogia, enquanto segura à mão de sua secretária — O que seria de mim sem você? — A senhora continuaria sendo a Beatriz Gouvêa Abraão... Desculpe-me. – pede a empregada, se lembrando que o último sobrenome pertence ao Hugo. — Tudo bem, Leninha, eu ainda sou a Senhora Abraão, ele gostando ou não – vira para o espelho novamente — Tenho de estar linda para que chegue aos ouvidos dele o quanto estou bem. — E por falar nisso, o senhor mandou novamente aqueles papéis para a senhora. Eu os deixei em sua mesa. — A minha resposta continua sendo a mesma: Não vou dar-lhe o divórcio. Se ele quer falar comigo que venha até aqui. Agora chame a Lizz, por favor. Enquanto Leninha ia chamar Lizz, sua hair stylist, Beatriz olha para o espelho encarando a sombra da mulher que foi um dia. Ele tirou tudo de mim, até minha beleza. Eu não vou ceder tão fácil, não cometerei o mesmo erro duas vezes. Se eu não posso ser feliz, ele muito menos. **** Lizz é uma excelente hair stylist, apesar de sua total falta de bom senso. Já está terminando de arrumar os cabelos castanhos de Beatriz, quando a bela jovem de cabelos vermelhos estilo Chanel, não resiste e começa a falar: — Espero que goste do penteado. Fiz bem diferente da nova namorada do Hugo – dispara, olhando para Beatriz com seus grandes olhos verde enquanto a vira para ver o penteado. — Não se preocupe, seu segredo está muito bem guardado. — Como soube disso? – pergunta Beatriz, preocupada, a encarando pelo espelho. — O Hugo me ligou pedindo para arrumar sua acompanhante para um jantar hoje de casamento – responde, passando o batom nos lábios de Beatriz. — Acho que eles vão ao mesmo lugar que você. — Impossível – retruca imediatamente Beatriz — Eu vou a um jantar de despedida de solteira da minha melhor amiga. Ele provavelmente irá para outro evento. Diga-me, como ela é? — Não se preocupe, ela é bem diferente de você. Demorei horas para deixá-la razoável – sorri, passando a mão nos cabelos vermelhos — Espero que essa saia justa não aconteça. — Não vai acontecer – responde Beatriz, secamente, olhando para sua imagem no espelho. Ela gostaria muito de acreditar que a mulher não era bonita, porém sabe que Lizz pode ter dito a mesma coisa para a outra, afinal, assim ela garante uma nova cliente. — Ele não ousaria levá-la para a festa da minha amiga. É falta de educação. — Sem dúvida – concorda Lizz, se afastando para visualizar o seu trabalho. Ela bate palmas — Magnífica! Então Beatriz sorri, mas em sua mente permanece aquela amarga possibilidade.    
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