Os raios solares invadem o quarto e tocam a cama, fazendo Beatriz acordar. Ela se levanta e vai até a janela, o céu está um azul intenso, combinando com aquela manhã radiante e tranquila. Bia não quer sair daquela janela, mas sabe que tem o mundo para enfrentar e não pode adiar. Então se afasta da janela, pega uma camiseta branca, calça jeans, um chinelo e vai para o seu banho. A água batendo em seu corpo a fez se sentir renovada, pronta para encarar qualquer coisa.
Alguém bate na porta do quarto, quando ela sai do banho. Beatriz está sorridente, pensando que talvez tenha sido só impressão dela que Flávio tenha ficado chateado na noite anterior. Ao abrir a porta, fica um pouco desapontada ao ver que é o mordomo segurando uma bandeja. Dá um passo para o lado, deixando o mesmo entrar e colocar o café da manhã na mesa de centro.
— Bom dia, Senhora Gouvêa Abraão – cumprimenta o mordomo virando para a porta onde está Beatriz —Dormiu bem?
— Sim, obrigada por perguntar – responde Beatriz colocando o tronco para fora da porta, enquanto olha para os lados atrás de Flávio.
— Lorde Wilkinson teve um imprevisto e precisou sair – responde o mordomo a pergunta silenciosa de Beatriz — Porém, deixou o motorista de prontidão para a senhora e pediu que fosse entregue o café da manhã em seu quarto. Estou à disposição da senhora para qualquer outra coisa que desejar.
— Muito obrigada Roberto, posso chamá-lo de Roberto? – pergunta Beatriz, sem graça, colocando seu cabelo atrás da orelha.
— Da forma que desejar – responde Roberto. Ele esboça um sorriso e vai em direção da porta e quando está prestes a sair, diz — Para o que desejar, pode me acionar pelo telefone que se encontra ao lado da cama. Discagem rápida um.
— Tudo bem – concorda Beatriz encostando atrás da porta — Obrigada mais uma vez, Roberto.
— Disponha, Senhora Gouvêa Abraão – responde o mordomo fechando a porta.
Beatriz senta no chão, próxima à mesa de centro, olhando a bandeja farta: pão, frios, geléias, manteiga, requeijão, maçã, banana, uvas, mamão, melão, leite, café e chá. Além de um copo de suco de laranja. Café digno de rei… O que fez Flávio sair tão cedo de casa? Será que ele está zangado? Mas por que estaria? Pensa Beatriz, enquanto come calmamente as uvas.
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Paparazzis cercam a entrada do duplex de Beatriz. Ela tem certeza que a esperam sair do prédio, o que a faz agradecer, mentalmente, por Flávio ter cedido seu Audi R8 com o motorista para chegar a casa. Como os paparazzis não esperam que Beatriz entre no prédio dentro de um Audi, eles ignoram totalmente o carro.
Depois de dez minutos, Beatriz entra em seu apartamento aliviada, quando se depara com Helena parada no corredor a esperando, nervosa.
— Está tudo bem Leninha? – pergunta Beatriz, preocupada com a agitação de sua secretária. Coloca a sacola com o vestido e o conjunto de moletom que usou na noite anterior na mesinha de centro e cruza os braços, esperando uma resposta.
— Dona Miranda e a Dona Mariane esperam a senhora na sala. Algo muito r**m aconteceu – desabafa Leninha, com a mão no peito — Tem a ver com a senhora e o Seu Hugo.
— Tudo bem, vou me trocar e já falo com elas. Faça-me um favor: Leve essas roupas que estão na sacola, e essa que trocarei, para lavanderia o mais rápido possível, precisa devolvê-las o quanto antes.
— E o vestido da senhora? – pergunta Leninha olhando o vestido limpo.
— Queime, rasgue, doe, faça o que quiser, mas não o quero em meu closet nunca mais – ordena Beatriz andando para o quarto — Sirva algo para elas e diga que estarei lá em um minuto.
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— Parabéns, Beatriz, conseguiu ser capa da maior revista de fofoca desse país – informa Miranda jogando a revista com a foto de Beatriz empurrando um paparazzi, em cima da mesa de centro. — É só eu viajar e você vira capa de revista. O melhor é o título: O ensaio de uma traição – Herdeira dos Gouvêa surta ao descobrir adultério do marido. Como você deixou isso acontecer? O que deu na sua cabeça?
— Ele estava com a outra na festa, como queria que eu reagisse, mamãe? – pergunta Beatriz pegando a revista da mesa. Folheia para descobrir se saiu algo sobre o afogamento. Pelo visto a “generosidade” de Flávio foi suficiente para não sair nada a respeito.
— Como uma dama! – esbraveja Miranda. Ela pega o copo d'água que Leninha deixou para elas — Ignore! Você fez exatamente o que ele queria. Hugo te provocou e você caiu na armadilha – coloca a mão na boca, inconformada — Se seu pai estivesse vivo…. Pense no desgosto que ele sentiria. O que faremos agora? Como faremos para desvincular a imagem dele da empresa? E a sua? Tem alguma ideia para reverter essa situação Mari?
— Tenho sim – responde Mari que está com outra revista nas mãos. Ela é assessora de imprensa da família Gouvêa desde a morte do pai de Beatriz, há quatro anos. Foi contratada apenas para cuidar da crise que ocorria no grupo Gouvêa e acabou sendo contratada definitivamente devido ao talento em resolver crises. Ser sensível não é o seu forte — Em todas as mídias fala a respeito da traição de Hugo durante o jantar de ensaio e sobre crise no casamento. Nenhuma delas fala da tentativa de divórcio. Podemos nos beneficiar disso e até mesmo desligá-lo de qualquer vínculo com o grupo. Quanto à imagem da Beatriz, não temos de nos preocupar, todos sentem pena de mulheres traídas. Ainda mais no caso dela que foi a público. A imagem do grupo não foi maculada com essas notícias, agora o casamento de vocês…
— O que tem o meu casamento? – pergunta Beatriz encarando Mari.
— Ele precisa ser desfeito. Você precisa entrar com o pedido de divórcio antes dele. E você tem toda base para fazê-lo – explica Mariane que para de folhear a revista — Deve fazer isso antes que ele dê alguma declaração.
— Mas se eu me recusar? – pergunta Beatriz se encostando ao sofá. Ela não sente que deve separar dele, acredita que pode consertar seu casamento, mesmo com a hipótese dele ter um filho com a outra — E se eu der uma entrevista em que digo que o perdoei? Talvez assim ele volte para casa e fique tudo bem – finaliza confiante encarando sua mãe que agora está de pé próxima a janela.
— Você ficou louca? – grita sua mãe indo em direção à filha — Agora que tem a oportunidade de se livrar daquele…Daquele…Daquele crápula? Escute o que a Mari diz: entre com o divórcio antes dele. Pelo menos assim não perderemos tantos investidores, depois arranjamos alguém para ocupar o lugar dele. Fique agradecida que o seu amorzinho não prejudicou a imagem do Grupo Gouvêa.
— A senhora só pensa em imagem, status e no que vão pensar! – acusa Beatriz, exasperada, enquanto levanta do sofá. Começa a bater no peito e a dizer — E quanto a mim? O meu casamento? E quanto a minha vida? Eu jogarei a minha vida no lixo, só porque a senhora não quer perder seus investidores?!
— Fique calma, Beatriz – pede Mariane que agora também está de pé entre as duas —Não precisamos nos exaltar. O que podemos fazer de imediato é você não dar nenhuma declaração. Eu farei uma nota de esclarecimento solicitando que respeitem sua dor quanto ao momento delicado. Ganho um mês com isso e você poderá decidir o que fará com seu casamento. E Dona Miranda, os investidores são favoráveis à estabilidade e o que saiu na imprensa não mudou isso –pega sua bolsa do sofá — Irei ao escritório mexer com a nota de esclarecimento e ver o que podemos fazer para impedir qualquer declaração de Hugo junto à imprensa. Qualquer coisa, entro em contato.
Mariane é acompanhada até a porta por Leninha, deixando mãe e filha sozinhas na sala. Miranda arruma seu blazer slim branco e encara sua filha que agora senta no sofá, desolada.
— Onde você estava hoje de manhã?– pergunta Miranda. —Estava com o Hugo? É por isso que está pensando não é? Estava com ele? Aposto que agora ele pediu para voltar e você aceitou.
— Mãe, escute o que está dizendo. Eu não voltei com o Hugo e não acho que isso acontecerá tão cedo – retruca Bia com as mãos na testa — Eu só preciso pensar se esse é o único jeito…
— Esse é o único jeito de tirar esse aproveitador de nossas vidas! – afirma Miranda.
— Da sua vida – retruca Beatriz. Ela olha para sua mãe e acusa — A senhora nunca gostou dele. Essa é a grande oportunidade para poder falar m*l dele aos quatro cantos.
— Mas eu estava certa. Mãe nunca se engana e você aprendeu isso da pior maneira – retruca Miranda sentando no sofá à frente de Beatriz — Separe dele logo e acabe com isso de uma vez. Deixe o Hugo voltar para a lama de onde ele veio: sem nada.
— Mãe, saia, por favor. Eu preciso pensar – pede Beatriz que levanta indicando a porta — Por favor.
— Como quiser – responde sua mãe levantando do sofá com a bolsa no ombro — Mas se lembre do que a Mari disse: quanto antes melhor.
— Tudo bem, mãe.
— Ligue-me quando tomar sua decisão – pede Miranda dando um beijo na bochecha da filha — Pense bem.
— Vou pensar – afirma Beatriz com um esboço de sorriso.
No momento tudo o que Beatriz deseja é deitar e esquecer a noite anterior. Antes de sair da sala o telefone fixo toca. Como Helena está conversando na porta com Miranda, ela decide atender.
— Beatriz na linha, quem fala?
— Era com você mesmo que eu gostaria de falar.
— Margout? – pergunta Beatriz reconhecendo a voz da mãe de Sônia.
— Sim, sou eu. Estou ligando para que saiba que seu convite foi cancelado para o casamento da minha família. Você deve entender bem o motivo.
— Margout, eu sinto muito. Gostaria de falar com Sônia sobre a noite de ontem – pede Beatriz
— Não ouse a ligar para minha filha. Você a envolveu no circo que é o seu casamento. Saiba que ela concorda comigo a respeito do cancelamento do seu convite. Não precisamos de mais um espetáculo na festa de casamento e se considere uma persona non grata no seio de nossa família para sempre. Passar bem.
O telefone fica mudo e Beatriz o coloca novamente no gancho. Ela se joga no sofá chorando, pois não acredita que até mesmo sua melhor amiga não quer mais qualquer contato. Perder a amizade de Sônia é mais uma dor que não espera ter de suportar. Depois de alguns minutos vai para o quarto, onde fecha todas as cortinas, ficando imersa a escuridão total, sentindo apenas suas lágrimas, escorrerem e molharem seu travesseiro, até adormecer. Porém, não demora muito e Beatriz é acordada com as batidas na porta de seu quarto. Levanta e abre a porta: Leninha com as roupas limpas.
— Desculpe-me acordar a senhora, mas não disse para onde devo enviar Antônio com as roupas...
— Não se preocupe eu vou entregá-las pessoalmente, obrigada – agradece enquanto pega as roupas das mãos de Leninha, pensativa.
Essa talvez fosse a única forma de saber se não é bem-vinda por todos da família Peixoto.