Pesadelo
Era uma noite que começava a ceder ao amanhecer quando eu me vi ao lado dela, Priscilla. O quarto estava envolto em um silêncio profundo, quebrado apenas pelo som das nossas respirações entrecortadas e o leve tilintar do vidro de whisky que ainda repousava na mesinha de cabeceira, um lembrete da noite que já parecia um sonho distante. A festa havia deixado sua marca; roupas desordenadas e copos vazios estavam espalhados pelo chão, contrastando com a paz fugaz que agora preenchia aquele instante.
A cama, uma confusão de lençóis amarrotados, era dominada por ela. Seu corpo voluptuoso estava espalhado, como se fosse a única coisa que importasse naquele espaço. Eu estava ali, apenas observando, sentindo a pressão do seu corpo quente e a leveza dos lençóis sobre mim. A forma como ela se estendia por toda a cama quase me empurrava para fora, mas eu estava ali, imóvel, absorvendo a cena com uma sensação de adoração e inquietação.
Seu rosto, sereno e delicado, estava iluminado pela luz suave que se filtrava através da cortina. A palidez da manhã fazia o contraste com o brilho quente do seu rosto, um reflexo perturbador da minha própria tormenta interior. Havia algo de quase sagrado na forma como a luz acariciava sua pele, acentuando a curva dos seus lábios e o contorno dos seus olhos fechados. Cada respiração que ela dava era um lembrete de sua fragilidade, uma fragilidade que eu desejava proteger, mas que também amplificava meu sentimento de insegurança.
Quando ela se mexeu, seus olhos abriram lentamente, lutando contra a luz que começava a penetrar o quarto. O olhar confuso que encontrou o meu era carregado de uma mistura de surpresa e relaxamento, como se o despertar fosse uma transição suave entre um sonho e a realidade. Seus olhos, ainda cheios do sono, refletiam um cansaço que parecia contradizer a vivacidade que eu conhecia. Ela piscou algumas vezes, tentando ajustar a visão à luz do dia e à presença silenciosa ao seu lado.
Pesadelo _ Bom dia, bela adormecida. Como está a ressaca? _ perguntei com um sorriso leve, tentando aliviar a tensão que pairava no ar.
Priscilla _ Cala a p***a da boca, Diogo. Pega um remédio pra mim. _ ela respondeu, a irritação clara em sua voz enquanto passava a mão na cabeça, como se a dor de cabeça fosse a menor das suas preocupações.
Pesadelo _ Você é folgada, né? _ retruquei, saindo do quarto para encontrar algo que pudesse ajudar.
Na cozinha, o ambiente estava preenchido por um aroma de comida caseira que começava a se espalhar pela casa. Minha mãe e a minha sogrinha estavam imersas em suas tarefas, começando a preparar o almoço com uma eficiência tranquila. A luz do sol da manhã entrava pela janela, banhando a cozinha em um tom dourado e iluminando os rostos sorridentes e concentrados das duas mulheres.
Minha mãe estava em um canto da cozinha, com suas mãos ágeis e experientes manipulando ingredientes. Ela cortava legumes com uma precisão que só a prática poderia proporcionar, e seus olhos estavam atentos a cada movimento. Suas conversas suaves com a minha sogrinha eram um contraste encantador com a bagunça da noite anterior. A trilha sonora da cozinha era uma mistura de risadas baixas e o som ocasional de panelas e talheres.
A bagunça da noite anterior ainda estava visível, com copos e garrafas vazias, além de algumas roupas jogadas de maneira desleixada por ali. No entanto, esse caos parecia pertencer a um mundo diferente, quase como se fosse uma memória distante enquanto o café começava a preparar e o aroma do bacon e dos ovos começava a se misturar ao ar.
Pesadelo _ Bom dia, coroa. Bom dia, sogrinha _ cumprimentei, dando um beijo em cada uma delas, enquanto procurava pelos remédios. _ Sabe se tem remédio aqui?
Paula _ Eu trouxe, vou buscar _ disse, lavando as mãos antes de ir ao quarto novamente.
Júlia falou com um tom maternal que eu conhecia bem.
Júlia _ É para a Priscilla, né? Fui lá no seu quarto e vocês estavam agarradinhos _ ela disse, e eu concordei com um sorriso. _ Filho, só te peço uma coisa: não deixa a Priscilla escapar por bobeira, tá? Ela é uma mulher maravilhosa, a mãe da sua filha.
Eu apenas concordei com um gesto de cabeça. Minhas emoções estavam um turbilhão, mas não queria expô-las agora. Minha sogra voltou com o remédio e eu fui para o quarto, onde Priscilla estava saindo do banheiro.
Pesadelo _ Aqui está seu remédio, minha morena gostosa _ falei, entregando-lhe o remédio e beijando seu pescoço.
Priscilla _ Eu não esqueci o que você fez, tá, Pesadelo. Tô com ódio da sua cara _ ela disse, seus olhos lançando uma sombra de desdém sobre mim.
Pesadelo _ Queria falar com você sobre isso. Quero te pedir desculpas, não deveria ter feito aquilo, entendeu? Desculpa mesmo _ falei, a sinceridade na minha voz tentando penetrar sua barreira de raiva.
Priscilla _ Vou pensar no seu caso. Vamos descer porque estou com fome _ respondeu ela, dando uma rápida olhada antes de se virar e descer as escadas.
Tomei um banho rápido, tentando clarear a mente e me preparar para o que estava por vir. Vestido e com a sensação de frescor que o banho trouxe, decidi que o churrasco seria uma boa distração, uma chance de mudar o foco e me envolver em algo mais leve. Ao sair para a área externa, fui saudado pelo aroma delicioso do churrasco que se misturava com o som alegre da música que preenchia o ambiente. O calor do sol estava agradável, e o clima descontraído parecia perfeito para uma tarde de confraternização.
Quando cheguei, o espaço estava cheio de amigos, todos já reunidos em torno da churrasqueira, rindo e conversando. As risadas e a música criavam uma atmosfera vibrante, e eu me sentei ao lado de Priscilla, que estava envolvida em uma animada conversa com as amigas. Ela parecia estar se divertindo, dançando e rindo com um brilho contagiante nos olhos.
Comecei a me integrar ao grupo, participando das conversas e tentando absorver o clima leve. O churrasco estava excelente, com uma variedade de carnes e acompanhamentos que faziam o ambiente parecer ainda mais acolhedor. O calor da churrasqueira e o cheiro da carne assando criavam uma sensação de conforto e familiaridade.
No entanto, esse momento de tranquilidade foi abruptamente interrompido quando avistei Emanuel se aproximando. De longe, sua presença parecia uma sombra incômoda, uma interrupção no equilíbrio da festa. Sua postura e o olhar que ele carregava tinham um tom de desdém que não passava despercebido. Ele se dirigiu diretamente para onde Priscilla estava, cortando o espaço com uma confiança que se tornava desconfortável à medida que se aproximava.
Priscilla, que estava desfrutando do momento, não percebeu a chegada dele até que ele já estava quase ao seu lado. O olhar fixo de Emanuel em Priscilla começou a aumentar a tensão no ar. Eu podia sentir a mudança de energia ao redor, uma sensação de desconforto que parecia se espalhar com a presença dele. O ódio começou a borbulhar dentro de mim, uma reação visceral que crescia à medida que ele se aproximava dela.
Th, sentado não muito longe, percebeu a tensão imediatamente. Seu olhar fixo em Emanuel era uma mistura de alerta e preocupação. Ele ajustou a posição no assento, claramente desconfortável com a situação e consciente do impacto potencial da presença de Emanuel. Sua percepção aguçada para situações desconfortáveis indicava que ele já estava planejando uma maneira de intervir, se necessário.
Th _ Não esquenta a cabeça com isso, não, pô. A Priscilla nem está dando moral para o cara _ disse, tentando me acalmar.
Pesadelo _ Tô de boa, só observando _ respondi, tomando um gole da minha bebida, embora a raiva ainda estivesse queimando dentro de mim.
A festa continuou até tarde, e todos já estavam bem bêbados. Precisávamos entregar o sítio para o dono, então começamos a arrumar nossas coisas e retornamos para o morro. Deixei Priscilla na casa dela e segui para o morro para lidar com outras questões.
No morro, encontrei meu parceiro Vt, que estava ocupado com uma calculadora e alguns papéis. Fui até ele, troquei uma rápida saudação e o instruí a resolver algumas pendências com Th e C2. Eu terminei o que precisava fazer e voltei para casa quando a noite já estava caindo.
Ao chegar, vi minha mãe, Fernanda e Priscilla rindo e conversando animadamente. Fernanda me cumprimentou com um sorriso e uma leve provocação.
Fernanda _ Agora que você aparece, né? Deve nem ter comido nada hoje.
Pesadelo _ Comi mais cedo, tô varado de fome _ respondi, seguindo para a cozinha.
Enquanto esquentava um pedaço de lasanha, percebi que Priscilla e Fernanda estavam assistindo a uma série de vampiros que eu achava chata.
Pesadelo _ Tem casa não? Só vive aqui agora? _ provoquei, e todos riram.
Th _ Pergunta isso pra Priscilla também. Garota só vive aqui _ respondeu Th.
Priscilla _ Já sou de casa, sou da família _ ela disse, com um tom de orgulho.
Pesadelo _ Esqueceu que ela é casada comigo? _ brinquei, tentando aliviar o clima, mas ela me lançou um olhar sério.
Priscilla _ Você sonha demais, Pesadelo. Sonha demais _ ela respondeu, seu tom desafiador me fazendo sentir uma mistura de frustração e desejo.
Pesadelo _ Tá achando que tô brincando? Ainda vamos casar e ter mais dois filhos _ eu afirmei, com um olhar sério e determinado.
A tensão entre nós era palpável, uma mistura de amor e ódio que tornava cada interação um campo de batalha. No meio dessa escuridão, a verdade era clara: mesmo em nossos momentos mais sombrios, havia uma centelha de algo que nos unia, uma força que desafiava todas as adversidades.