08" Resgate Improvável "

1445 Words
Priscilla Acordei cedo com a Fernanda porque era segunda-feira e precisávamos ir trabalhar. Já estávamos em casa ajudando minha mãe, que acordou bem animada hoje, cheia de ideias para novas roupas. Fernanda e eu ficamos empolgadas também. Minha mãe mostrou algumas criações maravilhosas, e eu já queria todas no meu closet. Quando deu 12:15, estávamos com fome. Minha mãe estava com preguiça de fazer almoço, então decidimos ir a um restaurante perto de casa. Fomos a pé, já que era bem perto. Chegamos e escolhemos uma mesa perto da janela, que tinha uma vista perfeita. Fizemos nossos pedidos e ficamos conversando enquanto aguardávamos. Sobre os acontecimentos no Vidigal, decidi não contar para meus pais. Quanto ao beijo, só falei para a Fernanda, já que agora somos amigas quase irmãs. Nossos pedidos chegaram, e continuamos comendo e conversando. Na volta, vimos quatro meninos, aparentando uns 17 anos, batendo em outro garoto. Priscilla _meu Deus, tadinho do garoto, precisamos ajudar ele! — exclamei. Paula _está maluca? Se bobear, eles vão bater na gente também! — disse, já assustada. Fernanda _que vão bater o quê! Vamos fazer o seguinte: vamos lá e falar para eles deixarem o garoto em paz. Se ameaçarem vir para cima da gente, dizemos que já ligamos para a polícia e que ela já está a caminho — sugeriu, decidida. Não estava confiando muito no plano da Fernanda, mas tinha que ajudar aquele garoto. Estava me dando um aperto no peito vê-lo sendo chutado e levando socos. Nos aproximamos dos agressores. Fernanda _ei, vocês! Larguem o garoto agora! — gritou, com raiva. XX _por que eu faria isso, gatinha? — falou um deles, com um sorrisinho cínico. Eu _porque já chamamos a polícia, e acho que vocês não vão querer ir para a delegacia, não é mesmo? Além disso, meu pai é policial e já mandei para ele um vídeo de cada um de vocês batendo nesse garoto. Então, façam o favor de deixá-lo em paz — falei, tentando manter a calma apesar do medo. Ele me olhou com raiva e parecia pensar. Depois de alguns segundos, se afastou do garoto e chamou seu grupo para ir embora. Mas antes, disse: XX _a gente se vê por aí, gatinha — e piscou para mim. Fernanda _nojento! — murmurou Fui até o garoto, que se encolheu no cantinho. Eu _está tudo bem, eu não vou te machucar. Pode confiar em mim, está bem? — falei, aproximando-me devagar. Paula _cadê seus pais, garoto? Onde você mora? — perguntou Paula. XX— Meus pais morreram — respondeu ele, de cabeça baixa. Paula— Você mora com quem, então? — perguntou, olhando para ele. XX— Com minha tia — falou triste. Fernanda— Por que aqueles garotos estavam batendo em você? — perguntou. XX— Eles queriam que eu roubasse uma mulher que estava passando. Eu não quis, não gosto de fazer essas coisas, então começaram a me bater. Fernanda— Aí, que ódio desses garotos! — disse, um pouco alto demais, assustando o menino. Eu— Para de gritar, Fernanda. Está assustando o menino, tadinho. Qual é seu nome? — perguntei, agachando-me ao lado dele. Cauã— É Cauã — respondeu, me olhando. Sorri para ele, tentando transmitir confiança. Eu— Eu me chamo Priscilla, essa escandalosa é a Fernanda e essa é minha mãe, Paula — falei, enquanto elas sorriam para ele, em forma de cumprimento. Paula— Vamos, Cauã. Vamos te levar para sua tia. Ela precisa saber o que aconteceu — disse minha mãe Cauã se levantou rapidamente, com os olhos arregalados. Cauã— Não, por favor. Deixem-me tratar esses machucados primeiro. Se o namorado da minha tia me ver assim, ele vai me bater mais ainda — falou, assustado. Eu— Calma, Cauã. Então, não vamos te levar lá agora. Olha, eu moro aqui perto. Se você quiser ir lá para cuidar desses machucados, você pode ir — falei, e ele assentiu. Ajudei-o a andar, pois suas pernas estavam bastante machucadas. A reação dele ao mencionar a casa me deixou intrigada. O que será que está acontecendo com esse garoto em casa para ele estar tão assustado assim? Chegamos em casa com muita dificuldade, já que Kauã estava com dificuldades para andar, mas graças a Deus deu tudo certo! Eu— Kauã, se quiser, pode ir tomar banho. Eu pego uma roupa da loja da minha mãe para você — ofereci. Kauã— Pode ser — respondeu ele, meio tímido. Fernanda— Ih, garoto, não precisa ficar com vergonha não — disse Fernanda, dando um tapinha em seu braço machucado. Fernanda— Ai, meu Deus, desculpa, eu esqueci, me desculpa — ficou um pouco assustada. Kauã— Está tudo bem — respondeu ele, sorrindo fraco. Paula— Meu querido, vai lá tomar um banho. Vou fazer alguma coisa para você comer, ok? — disse, passando a mão na cabeça dele. Levei-o até o banheiro e entreguei-lhe uma toalha limpa e uma das roupas da loja. Kauã— Priscilla, obrigado por ter me ajudado, obrigado de verdade — agradeceu ele. Eu— Não precisa agradecer, fica à vontade aí, ok? Se precisar de alguma coisa, me grita — falei e saí, deixando-o sozinho. Fui até onde minha mãe e Fernanda estavam. Eu— Gente, eu não queria falar nada, mas já falando, é muito estranho o jeito que ele ficou quando minha mãe falou para ele ir para casa — comentei. Fernanda— Eu também reparei. Só não falei nada porque vocês iriam dizer que eu estava doida — respondeu. Paula— Mas você é doida, né, minha linda? — disse — Ele também falou que o namorado da tia iria bater nele se o visse com os machucados aparentes. Minutos depois, Kauã apareceu na cozinha, com uma expressão de dor no rosto. Fernanda— Você está sentindo dor, Kauã? — perguntou Fernanda. Paula— Não, Fernanda, ele está sentindo cócegas dos machucados, mas é óbvio que ele está sentindo dor. Olha o rosto do coitadinho como está — ficou brava. Fernanda — Aí, desculpa. É que eu fico nervosa vendo ele desse jeito — explicou, e eu ri das duas discutindo. Eu— Vem, Kauã, vou fazer alguns curativos em seus machucados — falei, pegando a caixa de primeiros socorros e me sentando no sofá. Aproveitei para perguntar sobre a tia dele. Eu— Posso te fazer uma pergunta pessoal? — perguntei, olhando para ele Kauã— Pode — respondeu. Eu— Por que você reagiu e falou daquele jeito quando minha mãe falou da sua tia? — questionei, e ele pareceu assustado. Ele pensou um pouco antes de responder, mas acabou contando: Kauã— Eu fui morar com minha tia quando meus pais morreram. Eu tinha 5 anos ainda — fez uma pausa e respirou fundo. — Ela não queria ficar comigo, mas como ela era minha única família viva, ela teve que aceitar. Quando fiz 10 anos, ela começou a namorar com o Carlos, o homem que ela está hoje, e foi aí que minha vida piorou. Carlos sempre me batia por qualquer coisa que eu fazia, podia ser uma besteira, mas era sempre um motivo para apanhar. A primeira vez que cheguei em casa com machucados pelo corpo foi por ter apanhado dos mesmos garotos que apanhei hoje — olhou para mim, confuso — Sim, eu apanho desses garotos desde os meus 10 anos. Foram oito anos da minha vida sofrendo nas mãos deles. Enfim, quando cheguei todo machucado em casa, ele me bateu tanto, pois dizia que eu era fraco demais, por isso apanhava na rua e em casa. Ele acredita que foi por isso que meus pais morreram, porque nem eles queriam ter um filho fraco como eu, e escolheram a morte ao invés de mim. Escutei aquilo com lágrimas nos olhos. Que pessoas horríveis são essas, que coisas horríveis são essas que ele teve que ouvir da própria família, se é que se pode chamar isso de família. Eu— Kauã, você não pode voltar para lá. Que pessoas horríveis, meu Deus — falei, limpando as lágrimas que caíam no meu rosto. Kauã— Se eu não for para lá, vou ir para onde, Priscilla? Não tenho ninguém, não tenho para onde correr. Já até desisti de tentar — falou, olhando para o chão. A única coisa que consegui fazer foi dar-lhe um abraço. Eu não sabia o que fazer para ajudar, na verdade, eu tinha uma ideia! Eu— Kauã! — chamei sua atenção. — Não sei se você vai gostar da ideia, mas acho que seria uma boa. O que você acha de vir morar aqui comigo? — perguntei, e ele me olhou surpreso.
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