— Claro Mrs.Young. - Respondo ao telefone, revirando os olhos em seguida. Não acredito.- Claro que não tem problema, estarei aí.
E lá estava eu aceitando substituir meu colega no trabalho mais uma vez naquela semana.
Nunca consegui dizer não quando alguém precisava de mim, mesmo quando eu precisava dizer não.
Naquele momento eu estava vendendo meu dia de folga, depois de longas semanas trabalhadas, porque simplesmente John, meu parceiro de trabalho, resolveu faltar. E adivinha quem se ferrava no fim de tudo isso?
– Até amanhã.- murmurei baixo, com um entusiasmo nada bom. Desliguei o telefone e olhei pro sol se pondo lá fora, da janela do meu quarto, imaginando como o dia do qual eu tinha planejado para mim tinha ido por água abaixo.- Que d***a!
Sai pisando duro do quarto, meio furiosa, frustrada, indignada, nada me definia naquele momento, eu só não entendia por que eu tinha que ser tão ingênua.
– Nossa, que estresse é esse? - Audrey, minha melhor amiga que morava comigo, murmurou enquanto saía do banho, com a toalha nos cabelos loiros.
– Tenho que trabalhar amanhã! - respondo, pegando o bolo que eu havia guardado na geladeira no dia anterior e me sentando no sofá da sala, de frente ao corredor que dava direto para o banheiro, onde ela estava.
– O quê? - pergunta, histérica. Assinto.- você não é mais funcionária ali, virou escrava.
– E nem recebo um salário justo.- choramingo lembrando que tudo que recebo não sustenta meu vício em doces.- estou pensando em sair, tenho dinheiro guardado mesmo.
Apesar de ser dinheiro para estudos, não via problema em usá-lo. Como eu iria estudar se eu nem ao menos conseguisse manter um teto sobre minha cabeça? Eu não podia passar fome.
– tem certeza ? - Ela ergue suas sobrancelhas em minha direção e eu n**o, fazendo um bico manhoso cheio de bolo. Eu nunca tinha certeza das minhas decisões. - pensa bem antes de fazer isso.
– Pode deixar.- murmurei, tentando não ficar chateada com o assunto e observando a mesma se arrumando.- vai sair?
– Não, Austin vem aqui.- ela vem em minha direção com aquele olhar que só ela tinha, travessa.- e estava na hora de lavar o cabelo, claro.
– E bater gilete na parede, eu sei.- Zombo da cara dela e a mesma joga um travesseiro que quase acerta meu bolo.- Ei! Minha comida!
Ela ri, andando devagarinho na minha direção e eu já adivinhava o que vinha a seguir. Seu olhos não me enganavam e muito menos seu sorriso s****o.
– Amor...- Se senta ao meu lado manhosa, e eu já reviro os olhos percebendo o que ela queria.
– Favores 10 dólares, se precisar levantar 20, se precisar andar 30, e principalmente, se precisar sair 50.- Já deixo claro e ela ri, descarada.
– 40? - Faz uma cara desafiadora com um sorriso sacana e eu reviro os olhos, soltando uma gargalhada em seguida. Ela sabia muito bem me comprar, e bom eu não podia recusar.
Quem tinha condições financeira boa era ela. E como em breve ela iria casar e sair daqui, eu diria que tenho que me virar nos 30 pra conseguir me sustentar, com o emprego que eu tenho era muito impossível, então qualquer oportunidade eu estava aceitando.
– Feito.- aperto sua mão que estava a minha frente e respiro fundo.- Vocês terão uma hora e meia, caso precise de mais tempo, cobro hora extra.
Falo me levantando para levar o prato sujo até a pia e logo voltando para saber sua resposta.
– Você é malandra.- joga outro travesseiro em mim e eu saio correndo pro meu quarto.
— Eu sou empreendedora.- brinco, com a cara para fora da porta antes de fechar e rir.
Olho meus materiais em cima da minha mesinha de trabalho e pego a mochila. Câmera, lentes, notebook caso precise, e meu velho e parceiro de crime, All Star preto.
Eu ainda iria longe com eles.
***
Foca. Foca.
— Foca! Merda.- grito sozinha com minha câmera em mãos e acabo recebendo uns olhares desaprovados de pessoas que passavam pelo central parque.- Eu.. ér.. ela está meio ruim.- tento não sair como a doida, me explicando para as pessoas que passavam, mas com o sorriso desengonçado que saiu do meu rosto, aposto que minha intenção saiu falha.- Parabéns Aya, parabéns.
Me sento em baixo de umas das árvores ali e respiro fundo, meio frustrada, olhando a banca de flores onde eu trabalhava á uns 500 metros de onde eu estava.
Me concentro mais uma vez na minha câmera e acabo me assustando quando uma borboleta pousa sobre meu joelho despido.
Respiro fundo pelo susto, e tento não deixá-la fugir antes de uma foto. Era a borboleta mais linda que eu já vi, e eu nunca vi uma borboleta preta.
Podia ser uma mariposa? Claro, mas era tão linda que era impossível não ser uma borboleta.
Fotografei segundos antes dela voar e acabei por sorrir por obter uma foto magnífica.
– Tchau coisa linda.- falei, baixinho.- espero te ver de novo.
E mais uma vez eu estava parecendo uma louca falando sozinha enquanto todos que passavam me encaravam. Mania f**a, tinha que parar com isso.
Faltava mais alguns minutos até meu horário de voltar pra casa chegar, o céu estava ficando escuro então aproveitei para ir até minha cafeteria favorita e ver as fotos que tirei hoje. Nunca perdia uma oportunidade de levar minha câmera para onde quer que eu fosse.
Peguei minha mochila e sai toda desengonçada pela grama do parque. Logo que cheguei, sentei em uma das mesas ao lado de fora, peguei meu notebook e abri no Word, para começar a terminar de escrever o romance que eu havia começado á séculos e nunca conseguia terminar, eu fazia muita coisa ao mesmo tempo e nunca conseguia terminar.
Pedi um café com leite para o garçom que veio me atender e comecei a vasculhar tudo dentro daquele aparelho, até achar fotos de Austin e Audrey juntos, que eu havia tirado sem que eles percebessem.
Abri um sorriso para a cena.
Eles estavam juntos fazia uns 4 meses na foto, estávamos comemorando numa sorveteria, deixei que eles fossem pro caixa á sós, enquanto estavam lá, capturei os dois olhando um ao outro com um olhar tão apaixonado que me extasiava.
Eles nunca viram a foto, mas ela estava ali.
E embora eu preferisse no momento estar só, gostaria de encontrar um alguém e gostar dessa pessoa do mesmo jeito que Drey e Austin se gostavam. Eu, apesar dos problemas, acreditava que o amor pode ser uma redenção até mesmo para os corações mais destruídos e embora acreditasse nisso não queria amar ninguém.
Uma pena que Henry destruiu meu coração.
Acordei dos pensamentos quando o garçom chegou com meu café, sorri graciosamente e agradeci.
Era hora de Fall e Sebastien obterem um final.
***
– CHEGUEI! - gritei, assim que abri a porta e conferi se o casal do ano não estavam na sala.- ESPERO NÃO VER CENAS OBSCENAS.
– barra limpa, ele já teve que ir.- Drey apareceu de pijama no corredor entre a sala e os quartos.- aqui, seus 40 dólares.
– você sabe que eu estou zoando.- reviro os olhos, passando ao seu lado e a encarando, mas abrindo logo um riso.- mas eu aceito.
Retiro as notas da sua mão e saio dando risada, escutando sua gargalhada em seguida.
– Como se você negasse dinheiro.
– Óbvio!- murmurei, colocando no meu cofre.- isso é pelo dia sofrido que tive hoje, depois de ficar uma manhã e parte da tarde naquela e********o que chamo de emprego.
– Iremos dar um jeito nisso lá na frente.- ela murmura, aparecendo na porta do meu quarto, me observando tirar meus tênis.- mas agora, me diz, quando você vai encontrar alguém de novo?
– Para que? - Perguntei, obviamente desviando do assunto do qual ela queria começar.
– Pra te fazer bem?
– Eu estou ótima.- Sorrio cínica, mentindo para minha amiga..- melhor que eu, não tem.
– Eu te ouço chorar todas as noites Aya.- Drey vem até meu lado e se senta, com aquele olhar acolhedor, de mãe, que só ela sabia fazer.- e nem vem dizendo que chora por culpa de pesadelos, ou enquanto está dormindo por que é impossível isso acontecer durante todas as noites depois de Henry e tudo o que ele fez.
Olho dentro de seus olhos verdes claro e suspiro. Por que eu tinha que morar com uma amiga que me conhecia tão bem?
– Eu só... não preciso de alguém pra me machucar de novo, Drey.- falo, baixinho, passando o olhar para meus pés cobertos com a meia Rosa pink. que d***a. Não tinha achado a meia preta.
– Nem todo mundo vem pra machucar.- ela tenta me confortar, dando aquele olhar de mãe que ela tem, mas que na verdade é bem mais imatura que eu.- Já se passaram semanas..
– Falar é fácil.
– Você tem só 19, Aya, vai aparecer alguém pra você alguma hora. Eu não vou estar aqui para sempre.
– Eu sei disso, não preciso procurá-lo, então enquanto ele não aparece, eu fico com meus livros, fotografias e séries.- retruco, levantando e pondo os sapatos em um canto. Preguiça tomando conta de mim para levar até o closet.- e você, pare de me colocar em sites de namoro.
– Só tento ajudar! - Ela ergue os braços em rendição e eu solto uma risada enquanto ela levanta da cama e fica em pé.- Boa noite.- Ela vem até mim e deixa um beijo na minha testa.- tenho que descansar, volto pro escritório cedo.
– Dorme bem.- digo, me despedindo e ela assente.
Espero que ela saia e vou até a porta da sacado do meu quarto, observando o céu n***o e as estrelas brilhantes no céu de Manhattan.
– Amor.- repito comigo, dando uma risada irônica e revirando os olhos. Fechando a cortina e me despedindo daquela vista linda.
É, isso é uma d***a Aya, e você não quer experimentar logo, você sabe disso.