ANALU
19 dias depois...
Faltando dois dias para o tão temido patrão chegar, então resolvo tirar algumas dúvidas com Vera, que já é minha amiga íntima aqui, na verdade ela e senhor Otávio são pessoas incriveis. Dona Morgana saiu para comprar os mimos do patrão, e apesar do seu jeito rígido moldado para agradar o senhor ranzinza, ela já mudou muito seu jeito comigo, e até parece gostar do meu serviço.
Agora estamos nós três na cozinha tomando um suco e como uma curiosa aproveito para comecar meu interrogatório.
— Qual o nome do nosso patrão? —acreditem, mas só ouço as pessoas chamarem ele por Senhor Fizterra
— Santiago, mas um aviso, não o chame pelo nome, ele não gosta. Na verdade só se direcione à ele o necessário. Ele é uma pessoa calada, fria, arrogante e bastante ignorante, então se queres mater o emprego, seja discreta. — dona Vera fala
— Nossa! Falando assim até parece que ele é um monstro. — falo
— Não, um monstro não, mas chega perto. — Vera termina de falar
— Ele não é casado?
— Não, na verdade se ele tem mulher nós não sabemos, pois ele nunca trouxe uma para sua casa, muito menos fala de sua vida pessoal.
— Entendi, um velho rabugento, arrogante e babaca. — falo dando de ombros
Dona Vera sorri e diz:
— Você irá se surpreender, mas por favor não se afobe, seja sempre discreta prestativa e educada, assim não terá problemas com o Senhor Fizterra.
— Ok! Ok! Já entendi o recado: "Fique bem longe do Senhor babaca se quiser manter teu salário." — falo mudando a voz e todos sorriem — Não se preocupe Verinha, eu o farei.
Depois dessas declarações criei uma certa ansiedade para conhecer essa tal pessoa. No mínimo deve ser alguém armagurado, porque pela casa se vê que é um sujeito com muito dinheiro, mas pela decoração já vejo que é um velho sem personalidade e bom gosto, porque tudo aqui é sem vida e sem nenhuma graça. Mas isso não é da minha conta, vou continuar executando o meu trabalho da melhor maneira, e assim garanto meu salário no final do mês. O patrão no canto dele e eu no meu, como uma doméstica, e assim tudo ficará bem.
No dia anterior a sua vinda, Morgana avisou que ele teve problemas e sendo assim só vira mês que vem. Isso é ótimo! Assim ganho mais experiência.
Os dias foram passando e até a senhora Morgana consegui conquistar, essa é mais firme, mais rígida, mas consegui amolecer seu coração.
Meu uniforme chegou, a calça é como a provisória, porém a blusa é uma batinha branca com detalhes rosas, bem meiguinha, e agora está no tamanho certo.
[...]
Um mês se passou, e eu já aprendi fazer até alguns pratos franceses. Aprendi à selecionar vinhos que combinam com cada prato. Confesso que quando estou em casa, pesquiso sobre essas combinações e assim avanço cada vez mais no meu trabalho.
Hoje Morgana entrevistou uma mulher para auxílio geral, segundo ela não vai ser necessário a moça vir todos os dias, apenas três vezes por semana.
Hoje na cozinha o prato é macarrão e molho pesto, enquanto cozinhamos ligo a play list de meu celular, sou eclética gosto de tudo um pouco, mas nessa hora está tocando Justin Bieber - Sorry.
Estou com um macarrão pendurado na boca fazendo graça enquanto danço, Verinha corta a cebola e dá até uma mexida no bumbum. Estou em êxtase com a música, pego a colher de p*u e me empolgo quando ele canta sorry me sinto a cantora e digo: SORRY! Aquele bem esticado e alto no rítmo da música. Estava tudo perfeito até escutar uma voz ecoar na cozinha. Era uma voz grossa, firme e fria, eu que estava de costas sem ver de quem se tratava senti meu corpo arrepiar. É uma voz máscula, porém uma voz que passa medo a qualquer mortal.
— O que está acontecendo aqui? Desde quando minha cozinha virou uma baderna?
Discretamente coloco a colher de p*u na bancada que até então era meu microfone, e lentamente viro meu corpo já pensando:
"Ai meu Deus! O velhote chegou sem avisar."
Mas quando meus olhos encontram com os dele, eu perco até o ar. Além do seu olhar penetrante que irradia raiva, ele tem uma beleza descomunal, fora que ele deve ter no máximo seus trinta e nove anos. Eu juro que idealizei ele um velhote barrigudo com seus sessenta anos, mas estou boquiaberta sem saber o que dizer.
"Uau! Que homem lindo é esse gente?"
Sinto minha testa soar, meu corpo inteiro estremecer, minha pupila dilatar e meu coração parece querer saltar pela boca. Fico perplexa com esse Deus Grego diante dos meus olhos.
"Ele é o homem mais lindo que já vi na vida."
Ele me encara de testa franzida, claro que não gostou do que viu aqui. E a música ecoa novamente em minha mente, "Sorry" era o que eu queria dizer, um leve sorriso brota em meus lábios, mas logo se esconde quando percebo que ele continua a me encarar sério.
— Senhor Fizterra, voltou sem avisar. — Morgana fala aparentemente nervosa
— As vezes é necessário, porque assim vejo o que de real acontece em minha casa quando não estou. — ele fala ainda me encarando
— Essa é Ana Lúcia, a nova ajudante de Vera. — ela fala percebendo o olhar dele para mim
— Essa garota é uma criança! — ele bufa e eu desperto para a realidade
— Ei perae, não sou uma criança, só porque tenho idade para ser sua filha não significa que eu seja uma menininha. Me respeite senhor ba... —falo irritada e engulo a última palavra, mas pelo visto não faltará a oportunidade de dizer o que ele é na realidade
Que droga! Odeio ser tratada como uma garota.
Todos me olham assustados inclusive ele, que desvia o olhar de mim pela primeira vez desde que chegou e fala para Morgana.
— Morgana, venha ao meu escritório agora!
Antes de sair Morgana me olha com uma cara r**m.
"Ai meu Deus! Será que falei demais?"
— Menina, desligue esse celular, e continue a fazer o almoço. E capriche! Pois depois do ocorrido o humor dele deve ter ido de m*l a pior. — Verinha fala e engulo em seco
Minha mente só consegue ter o vislumbre de seus olhos negros encarando os meus. Estou em choque! Imaginei um velhote, e o que me aparece é um belo homem. E que homem!
É normal ficar meia deslocada, mas eu preciso recuperar a razão e focar no que é realmente importante; O almoço de hoje!
— Analu! Controle-se menina! Por pouco você não foi mandada embora. — Morgana sussurra na cozinha
— Ah! Fala sério! Só por causa da música? — falo pegando um vinho
— Foi mais pela sua resposta afiada do que pela música. — Morgana fala baixo com medo do Senhor babaca aparecer como um fantasma
"Será que esse doido colocou escutas por toda a casa? Vai saber né!? Esses milionários egocêntricos tem dessas coisas. Pensam que todos a sua volta são babacas como eles."
"Ai Analu, se controle, ou perderá seu emprego em dois tempos." — me repreendo mentalmente
— Desculpe pelo embaraço! Prometo me controlar.
— Espero que sim menina! Eu facilitei para você esse emprego porque gostei de ti, você trabalha relativamente pouco, e recebe o triplo do que qualquer outro lugar te pagaria apenas para cozinhar. Então faça por onde, se quiseres ser uma psicóloga um dia, regue bem sua plantação aqui, para mais tarde colher seus bons frutos. — Morgana me aconselha e apesar de não gostar muito de quando conseguem me calar, eu concordo e sei que é para meu bem
— Sim! Você está certa! Desculpas novamente.
Pronto! Esse babaca me murchou!
Eu era um balão de gás hélio e agora pareço um maracujá de gaveta!
Sirvo o almoço séria, fora da minha postura normal e sinto seus olhos me queimando. Coloco a tigela com o macarrão, o pote com o molho pesto, o vinho já está à mesa junto com o prato e os talhares. Saio da sala de almoço, mas sua voz firme e grossa me faz parar.
— Me sirva! — ele fala firme
— Eu posso fazer isso senhor. — Morgana diz
— Quando eu quiser seus serviços, você saberá Morgana. Eu não solicitei você para nada, e acredito que fui bem claro. — ele fala um pouco rude
— Certo! Me perdoe senhor Fizterra! — Morgana baixa o olhar e se afasta da mesa, agindo como se ele fosse um rei e ela uma serviçal qualquer
"Isso me deixava com muita raiva! Ela sempre sendo obediente e esse sujeito em poucas horas que está aqui sempre sendo e agindo como um grande babaca. Ai, que raiva!" — penso trincando os dentes
Fecho a cara ao ver esse comportamento, a ignorância dele e o respeito demasiado grande dela me deixam profundamente indignada.
Isso não funciona comigo, até porque se ele fala dessa forma comigo eu taco o macarrão e o pesto bem no meio da fuça dele.
Volto para a mesa e primeiramente sirvo sua taça de vinho para que ele prove. Coloco apenas um pouco, o suficiente para uma degustação, me afasto e aguardo que ele fale algo.
Ele beberica, joga o líquido para um lado e para o outro em sua boca. Seus olhos estão fechados, e seu rosto transmite total apreciação, dou um suspiro aliviada, e enquanto ele permanece com os olhos fechados reparo seu belo rosto. Esse homem exala beleza por todos os seus poros.
"Que perfeição! Pena ser tão arrogante e babaca!"
— Onde você viu que esse vinho com massa combinam? — ele pergunta sério
— Eu pesquisei na internet. — digo firme
— Pois bem, a internet nem sempre é leal com as informações que fornece! — ele fala ríspido
— O senhor está querendo dizer que o vinho não combina? É isso? — pergunto sem esboçar nenhuma reação
— Combinar até que combina, mas não me agrada, então da próxima vez procure mais de um, para quando eu não me agradar de um você poder me oferecer uma segunda opção. Entendeu? — a forma que ele fala faz meu sangue ferver, eu sou empregada dele sim, mas não uma escrava
— Olha aqui, deixa eu te informar algo sobre... — falo com o dedo apontado para ele
Ele fita meu dedo e depois me encara, com uma cara de que diz: "Adoro desafios, tente a sorte!", mas então me lembrei que se eu for demitida hoje, amanhã mesmo ele tem outra pessoa. Já eu amanhã não terei outro emprego, então engulo minhas palavras, coloco um sorriso forçado no rosto e digo:
— Ok! Você está correto, anotarei a sua dica. Posso servir sua refeição agora? — falo com um pouco de sarcasmo
— Bom, caso a Morgana tenha sido falha em relação à algumas exigências minhas, vou lhe esclarecer. O termo "você" só é aplicado à minha pessoa quando a mesma que se dirige assim tem total liberdade e i********e comigo, que não é o seu caso, sendo assim me chame de Senhor Fizterra. Caso não goste ou não esteja satisfeita, da mesma forma que entrou, poderá sair. Agora me sirva! — ele fala de uma forma arrogante
Mas dessa vez não, não consegui mesmo me calar, enquanto sirvo seu prato vou lhe dizendo.
— Olha Senhor Fizterra — falo dando ênfase a letra última letra — Concordo que lhe devo sim um respeito devido, já que o senhor é o meu patrão, mas não pense que me completarei de forma ofensiva e submissa como a dona Morgana e todos dessa mansão se prestan a VOCÊ! Estou aqui para lhe servir e sim sei de suas exigências, e as seguirei, mas não pense que baixarei a cabeça para você sempre que for arrogante comigo, porque não vou. Da mesma forma que entrei com certeza posso sair. Ou entramos num contexto bom para ambos, ou então aguardo seu alvará para que Dona Morgana me demita! — acabo de falar e o encaro
Ele me olha com aquele olhar frio, gélido e diz:
— Pode se retirar, qualquer coisa eu torno a lhe chamar. — ele fala sem sentimentos
Saio dalí com o coração saltando na boca e as mãos suando. Bebo um copo de água gelada enquanto Verinha que ouviu tudo pela parede diz:
— Muleca você é maluca, como afronta o homem assim?
— Simples! Ele é o meu patrão, não meu dono, portanto não preciso abaixar a cabeça sempre.
Ela me olha e volta a comer... Depois disso confesso que eu perdi a fome completamente. Pego um copo de suco de graviola e vou até o jardim que fica na parte de trás do quintal. Fico parada olhando para o céu estrelado e começo a pensar. Na verdade à sonhar com minha futura vida. Aei que não vai ser fácil, meu problema acabou de se apresentar hoje para mim, e quando digo problema não é só pela sua arrogância, frieza e indiferença, mas sim pela sua beleza mística.
Digo mística porque ele é lindo, mas esconde um mistério tão grande em seu olhar, que não sei porque eu consigo ver e sentir. Pelo visto nada será tão fácil e outra vez volto a ser a gata borralheira, que para conseguir algo na vida precisa lutar e fugir dos seus perseguidores. Mas como vou fazer isso, se o meu pior pesadelo é o meu próprio chefe?
Continua...