ANALU
Às cinco horas da manhã meu abençoado despertador toca, quase taco ele na parede, posso dormir doze horas seguidas que ainda continuo com sono, mesmo tendo o hábito de acordar cedo.
Tomo um banho e lavo meus cabelos ruivos naturais. Sou branca igual leite, daquelas ruivas que tem sardinhas pelo corpo. Antes eu me importava em passar maquiagem para tampar as que cobrem minha bochecha, mas hoje em dia não me importo mais.
E mais um detalhe sobre mim, eu tive apenas um namorado em minha vida, ele foi meu primeiro beijo, meu primeiro e único sexo. Nós terminamos porque com três anos de namoro ele queria casar, e eu disse que não abandonaria minha vó e meus estudos, essas são minhas prioridades e como não eram as mesmas que a dele decidimos que seria melhor assim. Tem dois meses que isso aconteceu, se eu sofri? Creio que não! Eu me dei bem desde nova com a ausência dos meus pais, então não é qualquer coisa que me abala. Mas não estou interessada em outros relacionamentos tenho objetivos e é nisso que estou focada.
Assim que chego no serviço vou ao banheiro me trocar, passo pela sala, viro o primeiro corredor a direita e a cena que vejo me faz deixar meu celular cair no chão.
— O que faz aqui? — ele vociferou
Com a voz trêmula e o psicológico abalado eu respondo:
— Eu... Eu... Só ia me trocar.
Ele nada fala, apenas sai com a mesma cara amarrada de ontem me dando acesso ao banheiro. Quando entro o cheiro de seu sabonete e sua colônia estão impestiados lá. É um cheiro másculo, de homem que combina exatamente com ele.
Já uniformizada passo igual um foguete pelo corredor varrendo a cena que presenciei de minha mente, eu devo ter chego na cozinha igual um trem bala, porque assim que entro Verinha pergunta:
— O que aconteceu menina? Está tudo bem?
Olho para um lado e para o outro e então cochicho:
— Você não sabe o que acabei de ver.
— Fale logo muleca...
— Cheguei e fui ao banheiro trocar a roupa, vestir o uniforme na verdade, e me deparei com seu chefe no corredor apenas com uma toalha cinza enrolada na cintura.
— Nosso chefe? E ai? O que ele fez?
— Ele? Nada! Apenas me perguntou o que eu fazia alí, eu respondi e ele saiu com a cara azeda de sempre. E por falar nisso, meu celular caiu no chão, e eu fique tão atordoada que não peguei.
— Menina, cuidado com seus passos, por favor, seja mais saiba com suas atitudes.
— Eu não fiz e nem falei nada dessa vez, o homem das cavernas que... — antes de eu completar a frase ele entra e graças a Deus a tempo de não escutar o que eu ia dizer
— Seu celular! E espero que quando disse homem das cavernas não esteja se refirindo a mim. — Engulo seco
"Merda! Ele ouviu!"
"Agora sim, serei demitida!"
— Não, claro que não, era de um ex namorado, né Verinha?
— Sim, era sim. — Vera confirma
— Desejo que a i********e a qual se tratam seja estritamente usada somente com vocês. Ana Lúcia traga-me uma xícara de café em meu escritório.
Assim que ele sai pergunto para Verinha:
— Como ele gosta do café?
— Forte e com duas pedrinhas de açúcar.
— Ok! — respondo e vou direto preparar o café
— Abra seus olhos menina, ele está testando você. E acredite que enquanto ele não estiver satisfeito com seus serviços, não irá parar de te solicitar, ele sempre faz isso com as novatas.
Reviro os olhos pensando:
"É mesmo um babaca."
Pego a xícara de café e vou até seu escritório, chego próxima a porta que está fechada e escuto ele dizer que irá viajar amanhã, quinta-feira, e volta no sábado de manhã.
Ele ainda está ao telefone, fico em dúvida se devo ou não entrar com ele falando, mas se eu demorar o café esfria e então ele vai brigar. Logo dou duas batidas na porta.
— Entra!
Entro coloco a xícara em sua enorme mesa de madeira escura, seu escritório parece daqueles filmes de terror, chega a dá medo, dou as costas para poder sair logo dali, até porque minha mente só sabe lembrar dele de toalha.
"Que desgraça! Porque ele não é um velho caquetico? Iria facilitar muito mais a minha vida."
— Ana Lúcia, sente-se aqui, preciso lhe falar.
Com as mãos suando frio sento-me de frente para ele que dá uma golada em seu café.
— Está forte demais. Da próxima vez use menos pó.
Minha vontade é de dizer: "Não fale isso para mim seu babaca, não fui eu quem fiz."
Mas para não colocar Verinha em maus lençóis me calo.
— Certo! — falo seca
— Caso não tenha reparado, a Senhora Morgana esta ausente e ficará a semana inteira, teve um problema familiar e precisou se distanciar urgentemente do serviço até a próxima semana. Sábado receberei uns convidados aqui em minha casa, serão seis homens, peço que durma aqui e ajude a Vera nos coquetéis. Pagarei extra para isso, mas preciso que se empenhe, será um jantar de negócios.
"Tendo p*******o extra é claro que topo."
— Ok! Estarei à disposição.
— Sendo assim não precisará vir trabalhar nem quinta-feira e sexta-feira, já que não terá ninguém aqui. — ele fala seco
— Tudo bem.
Estou adorando isso, folga, descansar e passar mais tempo com minha avó.
— Avise tudo isso a Vera.
— Sim...
— Agora pode ir. — ele fala me inspecionando de cima abaixo
Me levanto e saio, entro no banheiro para fazer xixi e lá está a toalha cinza pendurada. Corto o xixi e vou para a cozinha, preciso limpar minha mente, esses dois dias sem ver ele me ajudarão com isso. Assim espero.
O resto do dia foi tranquilo, sem mais reclamações, hoje ele estava educado, e conseguimos manter assim até o final do expediente.
Vou para casa feliz da vida por saber que terei dois dias de folga...
— Bença minha vó! — entro falando sem vê-la ainda
— Deus te abençoe minha filha. — pelo eco sei que ela está no banheiro
Entro pro meu quarto para esperar minha vó sair do banheiro para que eu possa tomar o meu banho.
— Vozinha? Vamos tomar um sorvete? — pergunto assim que saio do banho
— Mais e a janta minha filha?
— Não se preocupe, a gente come algo na rua.
E assim nós fomos a sorveteria nova que abriu dois quarteirões de nossa casa.
— Como foi seu dia hoje? — ela pergunta
— Um pouco incomum... — falo lembrando da cena do senhor babaca de toalha
— É mesmo? E o que quer dizer incomum?
— Nada de muito importante. — minto
Jamais direi a minha vózinha que vi o meu chefe somente com uma toalha.
Tomamos nosso sorvete, demos boas risadas, ela me perguntou do Júnior e eu disse que ele deve está bem, e que eu não sinto nada mais por ele, que já passou. Minto outra vez. Mas não me dói, eu até lembro dele, mas é só lembranças. Um homem que não aceita minha vó, não merece me ter
Já em casa deito ao lado de minha vó.
— Vou ter que dormir no serviço sábado, mas vou ganhar um extra por isso. — falo
— É? E porque?
— Segundo o chefe ele terá um jantar de negócios importante, e a governanta está ausente por problemas pessoais, sendo assim sobrou para mim.
— Mais você irá dormir sozinha com ele? — ela pergunta assustada
— Não vó, Dona Verinha também irá...
— Vá com a camisola espanta namorado hein. — ela fala rindo e seu corpo se sacode ao efeito do riso
Dou uma risada cúmplice à ela, mas eu jamais iria com aquela camisola, não que eu tenha intenção de aparecer para alguém, mais pelo amor de Deus, ela é para usar em casa e só. Se bem que do jeito que aquele homem é ranzinza e seco, acredito que tanto faz uma camisola de seda como uma de freira, para ele dará no mesmo. Mas isso pouco me importa, estou lá para trabalhar e não ficar observando àquele iceberg em forma de homem. Ele lá e eu cá. E ponto final.
[...]
Sexta eu acordo cedo e saio, vou até a lojinha da Vila para poder comprar um pijama, nada muito sexy, apenas apresentável.
O resto do dia passei em casa com minha avó, antes de dormir ajeitei minha bolsa, coloquei o pijama, duas calcinhas, dois soutien uma roupa extra e o uniforme. Dei um beijo na testa de minha vó e fui dormir.
Sábado chego no serviço e sou a primeira a chegar, à não ser por Otávio que está sempre lá. Penso se ele não mora aqui, porque qualquer horário que você chegue nessa casa, ele está sempre a postos.
— Bom Dia mocinha. — ele fala me abraçando
— Bom dia Otávio! — lhe dou um abraço e ele fica meio sem jeito
— O Senhor Fizterra já chegou e disse que assim que você chegasse era para ir ao escritório dele.
— Tudo bem. Já comecou cedo. — reviro os olhos
Vou até seu escritório, mas o encontro na sala.
— Bom dia! — digo sem muito empolgamento
— Bom dia! Sente-se que preciso lhe dar algumas instruções.
Me sento de frente para ele e fico o agurdando falar.
— Preciso de sua sinceridade. Vera caiu hoje vindo para o serviço, quebrou o pé e ficará ausente por alguns dias. O serviço da cozinha hoje será somente seu. Então seja sincera comigo; Você dá conta?
Arregalo meus olhos, não de medo do serviço e sim depreocupação por causa da Vera, e no calor do momento pergunto.
— A Verinha está bem? — Curto e muito grosso ele me responde
— Não foi isso que te perguntei Ana Lúcia. Vou perguntar mais uma vez. Você dá conta do serviço?
Bufo de raiva e sinto meu rosto queimar.
— Eu sei que não foi isso que me perguntou, mas eu me preocupo com as pessoas que eu gosto, por isso perguntei primeiro sobre Vera. E a questão de eu dar conta, claro que sim, apenas me diga o que queres servir aos seus "amiguinhos" que eu o farei. — aquele velho tom autoritário que me acompanha mais uma vez falou por mim
Ele arqueia uma sombracelha, alisa sua barba que está por crescer e se eu não me engano vejo uma leve curva em seus lábios que desaparece muito rápido também.
— Para entrada quero canapés, um ceviche de camarão, e se você souber fazer quero uma feijoada de frutos do mar como prato principal. Você consegue Ana Lúcia?
"Feijoada de frutos do mar?"
"Nunca nem ouvi falar."
"Mas nunca abriria o bico dizendo isso para ele. Seria o mesmo que confirmar o que ele tanto afirma, que não passo de uma menina."
— Claro que sim! — digo não muito convicta
Mas jamais direi que não sei, nada que uma passeada pela internet me mostre uma receita e eu possa segui-la.
— Ótimo! Escreva tudo que irá precisar e dê ao Otávio que ele comprará.
— Ok! Algo mais? — não sei o que devo usar, mas vamos lá
— Pode ir se trocar e ir para a cozinha, e hoje não irei almoçar em casa, então terá o dia todo livre para poder planejar o jantar.
— Tudo bem .
Visto meu uniforme, faço uma busca na internet, passo os ingredientes necessários para Otávio, e enquanto ele vai ao mercado eu fico estudando a receita e qual tipo de vinho irá combinar.
O poderoso chefão vestido de MIB homens de preto, entra na cozinha e diz:
— Estou saindo, esse cartão ficará com vocês para caso seja necessário comprar alguma coisa. A senha é 11070...
Olho para ele por cima dos olhos e digo:
— Ok! Vai demorar à voltar? — pergunto para saber se conseguirei ligar uma musiquinha para relaxar
— Saber meu horário de chegada e saída não é algo que está incluso no seu contrato senhorita Ana Lúcia. Você precisa apenas absorver informações que eu te passo, essa é desnecessária, eu estarei aqui quando for a hora.
Novamente aquela palpitação e a fobia. E ele parece esperar pela minha resposta, pois encosta no batente e fica a me olhar.
— Não me interesso mesmo pela sua vida pessoal, só queria saber para poder manter em ordem a cozinha. Mas como isso não faz parte da minha contratação, eu não perguntarei novamente. E agora com sua licença vou focar no que realmente importa aqui...
Ele franze a testa, me encara, chega a abrir a boca, mas logo a fecha e sai.
Pedi para Otávio comprar um pouco a mais do que vou precisar para que eu faça o teste primeiro. E acreditem... Eu consegui! Pelo menos ao meu gosto ficou bom, não sei se irá agradar o Senhor das Trevas.
Ele marcou o jantar às oito horas da noite. Exatamente às dezenove horas estava tudo pronto. Sentei um pouco para descansar e o ditador aparece.
— Vista esse uniforme, creio que servirá em você.
— Posso tomar um banho?
— Deve! — ele fala e sai
"Argh! Que babaca!" — bufo de raiva
Vou ao banheiro tomo um banho e só depois que estou de banho tomado que vejo a roupa. Se trata de uma calça preta social e uma blusa social preta lisa de botões. Ele é bom em visualizar corpos e adivinhar o tamanho, pois acertou o meu. A roupa ficou justinha. Eu gostei! Faço um r**o de cavalo no cabelo, passo um brilho labial que eu trouxe e tá ótimo. Em seguida retorno para a cozinha.
Ele entra silencioso e eu não vejo, começo a cantar enquanto arrumo os canapés.
— "Foi o seu olhar o que me encantou, quero um pouco mais desse amor."
— Espero que você não cozinhe como canta. — ele fala aspero
Dou um pulo de susto.
— Aí que susto! — coloco a mão no peito
— Pode arrumar à mesa, dentro de quinze minutos eles chegarão, e eu preciso de ter algo à oferecer.
— Ok!
— Já selecionou o vinho?
—Sim! Um Château Bolaire bordeaux, francês.
— Ótima escolha!
Coloco os canapés na mesa, um balde com gelo e o vinho dentro, pois esse se bebe gelado.
Me retiro e volto para a cozinha. Fico batendo papo com Otávio até ser solicitada. Aos poucos os convidados foram chegando, a maioria deles são homens mais velhos do que o chefão babaca, que me dão olhares estranhos nas horas que passo pela mesa.
Estou agora na cozinha mexendo em meu celular e me lembro de um fato muito importante, se Verinha não vai dormir aqui, significa que dormiremos nessa casa só Santiago e eu.
Será que devo me preocupar com isso?
(....)
Continua...