Episódio 1
Eu prefiro ver ela morta, do que com esse Marginal...
Melissa Narrando,
Eu sentia a minha ansiedade querendo tomar conta de todo o meu corpo, minha garganta seca e aquela tremedeira que me deixava
zonza, a falta de ar constante a palpitação no peito, mas eu precisava manter o sorriso limpo nos lábios e ter um brilho no olhar, esse brilho que desaparecia constantemente assim como a minha vontade de sorrir ou de estar nesse lugar.
Mas aqui ao lado dos meus pais em meio a essa multidão de gente eu precisava me manter firme e não dar nenhum desgosto ou ao menos cometer um erro que acarretasse em alguma mancha política na carreira do meu pai, pois para ele sua imagem limpa era a unica coisa que importava.
Vendo essas pessoas eu não sabia quem era mais falso, meus pais ou eles que diziam ser apoiadores deles, mas eu via que isso tudo era uma grande troca, tive certeza assim que vi o secretario do meu pai distribuindo cestas básicas e dinheiro, francamente era o cúmulo e eu só queria poder gritar e sumir daqui, mas eu sabia que o que me esperava em casa caso eu cometesse algum erro sera doloroso de mais.
Eu esperava ansiosamente pela próxima viagem dos meus pais, assim eu me sentia livre pois eu poderia ser eu mesma longe daquela casa e dos cães de guarda do papai. Eu ia longe eu curtia eu era amada e eu amava, sem culpa sem medo sem vontade nenhuma de voltar para a minha realidade, mas eu sabia também que a realidade na comunidade era outra e que se eu ficasse ali meu pai colocaria a polícia para invadir alegando inúmeras atrocidades e com isso inocentes sairiam feridos por minha causa, então em sempre voltava para aquele inferno na qual eu chamava de casa, voltava para a dor para o medo e para a escuridão em que eu vivia.
Eu tinha um amor que me ensinou a amar, Jean ou JN como é conhecido na comunidade ele filho do dono do local, nos encontramos no baile ele se apresentou e ficamos trocamos telefone e não paramos mais de se falar, isso já dura um ano, ficamos quase um mês sem nos falar quando pela televisão ele descobriu quem era meu pai, eu não sei e não entendi toda a raiva que ele sentia, mas eu não tinha culpa de seja lá o que meu pai tenha feito. Foi o mês mais dolorido mais triste e sem cor, e quando em um sábado à noite ele me ligou bêbado dizendo que estava com saudades e que me amava mesmo meu pai sendo um bosta, não paramos mais e agora não tinha nenhum segredo ou algo do tipo, ele cuidava de mim e sempre mandava lanches ou presentes para ser entregue na minha faculdade, pois se mandar em casa eu na certa não iria receber nada, pois com toda certeza meus pais não me deixaria ver, alegando que eles iriam escolher meu futuro marido quando chegasse o momento certo, me sentia cansada todas as vezes que esse assunto virava pauta no jantar, eu me via ali virando a mesa e jogando todos os pratos pelos ares, mas apenas respirava fundo e sorria sem animo algum para os meus pais.
Outra vez quando JN ficou sem falar comigo foi devido a uma entrevista que meu pai deu alegando que eu tinha muitos pretendentes, mas nenhum era o merecedor de me ter, algo que nem eu sabia que estava acontecendo, JN é ciumento e as entrevistas sem sentido do meu pai o tiram do sério. Às vezes eu acho graça, mas tenho medo de perder ele, confesso, é alguém que me ama e me aceita com todos os meus traumas medos e limitações em relação a minha liberdade.
Mas eu ainda sonhava com o dia em que eu pudesse sair pela porta da frente com a cabeça erguida e com um sorriso nos lábios e dizer, estou indo te encontrar meu amor.