Capítulo 8: Correndo com Lobos

1683 Words
Os Trigêmeos Alfa estavam descalços na neve como se não fosse nada demais. Eu me virei. Eu não estava pronta para vê-los. Por acidente, peguei um vislumbre de Felix e mesmo no frio congelante, seu cabelo era extremamente espesso e longo. Eles eram trigêmeos idênticos, então eu estava preocupada comigo mesma. Eles se transformavam muito mais rapidamente do que eu. Levou apenas cerca de dez segundos para quebrarem os ossos e crescerem pelos, se tornando lobos diante dos meus olhos. Eram lobos negros brilhantes, refletindo a cor de seus cabelos. Eram enormes. Eu me escondi atrás de uma árvore coberta de neve próxima. Eles me deram privacidade. A transformação ainda era dolorosa para mim. Levei cerca de cinco minutos. Saí trotando para mostrar a eles meu lobo arenoso. Eles brincaram em círculos ao meu redor. Eu era metade do tamanho deles.   Corremos pela neve. Eu conseguia distingui-los nas formas de lobo por suas maneiras. Felix saltava. Ele tinha passos pesados. Rosnava e rosnava brincalhão com frequência. Alex estava frequentemente na liderança e tinha os movimentos mais fluidos. Ele diminuía o ritmo para correr ao meu lado, cuidando de mim atentamente, protetoramente. Calix era extremamente brincalhão. Foi o primeiro a me morder. Ele me derrubou gentilmente e rolamos na neve. Depois, ele correu em círculos ao meu redor, mostrando o quão rápido ele podia ir. Devemos ter passado horas brincando como lobos, mesmo sendo adultos. Perguntei-me por que nunca tínhamos brincado juntos quando éramos crianças em nossas formas humanas.   Corri atrás da minha árvore para voltar à forma humana e me vestir. Os meninos voltaram à forma humana e se vestiram, seguindo-me enquanto eu entrava.   "Precisamos conversar", disse a eles. Eles pareciam horrorizados.   "Acostumem-se a termos conversas.", disse a eles. Eles eram Alfas, mas eu era a futura Luna deles, se decidisse ficar com eles. Eram três deles e apenas uma de mim, então eu tinha que aprender a ser firme com eles. Eu queria respeito. Fomos para o quarto de Felix, o único quarto que eu ainda não tinha visto. Ele tinha obras de arte cobrindo as paredes, o que não era nada do que eu esperava.   "Quem desenhou tudo isso?" perguntei.   "Fui eu.", disse Felix, sorrindo.   Felix? Um artista sensível? Em que universo paralelo eu tinha entrado?   Os desenhos e pinturas retratavam lobos. Reconheci os trigêmeos em suas formas de lobo em muitos dos desenhos. Notei um com cinco lobos. Os outros dois deviam ser seus pais. Havia esboços aleatórios de objetos e retratos de membros da família e alguns amigos da escola. Felix não parecia ter nenhuma obra de arte de Tonya ou suas outras ex-namoradas, o que me deixou aliviada. Avistei uma imagem de uma garota. Era uma pintura. Eu respirei fundo. Era eu, sentada nos degraus da varanda olhando para a neve. Todas as suas obras de arte estavam datadas. A pintura de mim era de cerca de um ano atrás. Olhei para Felix, esperando uma explicação.   "Eu te disse", ele disse simplesmente. "Acho você linda."   Eu fiquei corada.   "Você está me deixando ansiosa, Chasity, vamos ter essa conversa, vamos lá.", incentivou Calix.   Todos nós nos sentamos na cama. Felix e Calix estavam sentados tão perto de mim. Eu me sentia muito aquecida. Alex estava sentado atrás de mim. Eu estava tão perdida em tudo isso que momentaneamente esqueci sobre o que queria falar.   "Fale, Chasity.", disse Alex no meu ouvido.   "Certo, hum, então eu tenho uma pergunta", eu disse. Os trigêmeos esperaram eu perguntar.   "Por que vocês me odiavam tanto quando éramos crianças? E por favor, pensem bem e me dêem uma resposta verdadeira, não algo bobo como 'éramos meninos... éramos burros…’ esses não são bons motivos. Sempre me perguntei por que nunca pudemos ser amigos", eu disse, suspirando. "É só porque sou pobre e um fardo aos olhos dos seus pais? O que é?" Os trigêmeos ficaram em silêncio. Será que eles estavam tentando me fazer esquecer da conversa?   "No meu caso...", disse Felix. "Você... me frustrava."   Hã.   "Eu achava você uma garotinha fofa quando eu era um garotinho. Você veio até nós depois de uma tragédia e eu não entendia isso. Você era sombria e chorava o tempo todo, e eu também era meio burro naquela idade", disse Felix.   Seus irmãos riram.   "Eu gostava de te provocar, mas isso saiu do controle e a dinâmica continuou. Eu não sabia como consertar isso. Além disso, você ficava na minha cabeça o tempo todo e eu ficava irritado por não conseguir te tirar da minha mente. Agora faz sentido que eu saiba que você é minha companheira, mas naquela época eu ficava chateado toda vez que te via. Às vezes eu estava aos beijos com qualquer namorada que eu tivesse na época..."   Eu me encolhi e Felix beijou meus dedos, meu pulso.   "...e eu ficava pensando em você obsessivamente. Às vezes... deixa pra lá", disse Felix. "Não! Me conta!" insisti, fascinada pela sua sinceridade.   "Às vezes eu chamava uma garota de Charity por acidente", ele disse, mencionando meu apelido. "Desculpa por aquele apelido. Foi rude. Não há vergonha em ser pobre. Não acredito que agi daquela forma."   Felix suspirou.   "É tão parecido com meu nome verdadeiro, que realmente pegou. A maioria dos membros da matilha pensa que Charity é meu nome", eu disse, sorrindo.   Felix franziu a testa. "Vou resolver isso eu mesmo, em breve.", disse o Alpha. Fiquei curiosa sobre o que ele iria fazer. Eu ainda precisava de tempo para decidir se queria ser reintroduzida à matilha como a futura Luna deles.   Alex foi o próximo. "Eu também sempre achei você fofa, mas nossos pais odiavam seus pais. Eles acumularam muitas dívidas. Você sempre falava sobre como seus pais eram ótimos e como os meus eram maus. Comecei a pensar que você era ingrata, mas agora percebo que... se meus pais iam te tratar assim, então você poderia muito bem ter ido para um orfanato. Não há desculpa, Chasity. Desculpe.", disse Alex.   Calix respirou fundo. "Eu apenas segui tudo o que acontecia. Mamãe também dizia que você estava aqui para pagar uma dívida, não para ser uma companheira de brincadeiras. Havia muitas coisas que eu gostava em você, e eu não deveria ter te provocado daquela forma. Isso foi totalmente errado. Sinto muito."   Suspirei. Precisávamos falar sobre o incidente. Isso estava me incomodando.   "Ontem à noite, eu estava um pouco com medo na cama.", admiti.   "Porque você é virgem", disse Felix. "Querida, eu sei."   "Não, não isso. Eu continuei pensando sobre quando Calix me insultou e disse que meus pais estavam mortos e eu quebrei o nariz dele. Então vocês..." Eu parei, tremendo. Isso é realmente difícil de falar.   Os trigêmeos ficaram tensos, com os rostos pálidos.   "Então cada um de vocês me deu um tapa e me colocou no buraco de pesca no gelo até eu desmaiar. Eu gritei por minha vida naquele dia quando vocês estavam me arrastando para aquele buraco. Eu realmente pensei que vocês iam me matar. Eu poderia ter morrido.", eu disse, segurando as lágrimas.   Os trigêmeos ficaram em silêncio.   "Você não precisa nos perdoar, mas apenas seja nossa mesmo assim.", disse Calix.   "Pelo que vale, nós realmente não estávamos tentando te afogar. Só queríamos te assustar. Mas mesmo antes do vínculo de companheirismo, eu me sentia m*l quando pensava naquele dia. Aquilo foi um ato horrendo e nunca vou me perdoar.", disse Felix.   "Se você tivesse se afogado, nunca encontraríamos nossa companheira e não saberíamos o motivo. Estaríamos procurando por alguém que já estava perdido para nós. Nós mereceríamos isso, mas você, Chasity, depois de tudo pelo que você lutou... você merece a melhor vida imaginável. Por favor, deixe-nos te dar essa vida.", disse Alex.   "Por favor, Chasity, nós sentimos muito", disse Calix.   Eu suspirei. Eu poderia me acostumar com isso. Todos estavam me olhando com olhos famintos.   "Você já beijou alguém?" perguntou Calix de repente.   "Não.", eu disse, corando. Os trigêmeos trocaram olhares.   "Queremos te beijar.", disse Felix.   Mordi meu lábio nervosamente.   "Não tenho certeza se estou pronta ainda.", eu disse.   "Tudo bem.", disse Alex.   Meu lobo interior estava uivando para que eu os beijasse.   "Vocês ficaram desapontados quando perceberam que eu era sua companheira?" perguntei.   "Não! Claro que não!" disse Alex.   "Eu entrei no seu quarto e deitei na sua cama.", disse Calix.   Lembrei do cheiro de Calix na minha cama e sorri.   "Eu mexi nas suas coisas", disse Alex timidamente. "Desculpe, só me dei conta de como você tinha poucas coisas, então queria ver o que você precisava que eu comprasse para você." Eu assenti. Alex era o mais prático.   "Eu surtei porque pensei que você nos rejeitaria porque sabia que tínhamos sido horríveis com você.", murmurou Felix.   Ele não estava totalmente errado. Eu tinha considerado partir.   "Percebi o que estava acontecendo quando voltei do meu primeiro turno e senti um cheiro incrível, que vinha de cada um dos seus quartos.", expliquei.   Os Trigêmeos sorriram.   "Então, fui investigar o quarto do Calix. Estava com muito medo de entrar nos outros dois quartos, com medo de que vocês ficassem bravos. Tinha menos medo do Calix.", admiti. Calix sorriu. Alex e Felix ficaram desconfortáveis e tensos.   "Depois, não sabia o que fazer... Tentei evitar todos vocês o máximo possível enquanto resolvia meus sentimentos. Na verdade, pensei que vocês me rejeitariam.", eu disse. "O quê?!" disse Felix, rindo. Seus olhos se arregalaram.   "Nunca.", disse Alex.   "Estávamos esperando por nossa companheira há três anos desde que nos transformamos", disse Calix.   "Então, por que vocês sempre namoram garotas aleatórias?" perguntei.   "Somos homens. Temos necessidades.", disse Felix simplesmente. Seus irmãos o encararam, mas não disseram nada em contrário.   "Quando estava preparando a festa, pensei que teria que ficar observando vocês três dançando devagar com suas namoradas enquanto eu servia bebidas", disse, rindo tristemente.   Eles ficaram chocados. Os Trigêmeos pareciam horrorizados. Ri das expressões deles. Os olhos azuis de Felix escureceram um pouco. Lembrei-me de como tinha que ter cuidado com minhas risadas perto dele e seu lobo. Ele me puxou para si. Arrepios percorreram meu corpo.   "Quero te levar para um encontro, querida!", disse Felix, com a voz rouca.   "Um... claro.", respondi fraca.
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