Só queria te provocar

2697 Words
Os primeiros dias de Bianca passaram agradavelmente tranquilos. Durante todo o tempo em que panejara a mudança, ela temia o desconhecido, afinal, ela decidiu se mudar para uma cidade onde não conhecia ninguém. Essa era a intenção dela, recomeçar do zero, mas o medo da mudança se fez presente e por várias vezes ela duvidou da própria decisão, no entanto, ela seguiu em frente com seus planos mesmo assim.   Ela estava contente e a razão disso eram os rapazes, seus novos amigos. Todos os dias eles  passavam a tarde juntos no salão de jogos; menos Eduardo e Rafael, que trabalhavam em uma oficina mecânica. Ela descobriu que todos eles frequentavam academia de ginástica, o que explicava o corpo sarado que tinham. Corpos esses  que atraíam os olhares de mulheres de todas as idades por onde eles passavam.  Pouco a pouco, Bianca foi conhecendo mais sobre seus novos amigos. Val, com sua fachada intimidadora, era na verdade muito carinhoso,  atencioso e sempre prestativo, ajudando a mãe a administrar a pensão sempre que tinha tempo. Val e Eduardo eram muito amigos. Val sempre falava de Eduardo com carinho e admiração, Bianca pensava que nunca tinha visto tamanha amizade, nem mesmo entre irmãos de sangue. Alex era o mais divertido do grupo, bem-humorado e brincalhão; isso é claro, quando não estava concentrado no celular e seus chats. Ela reconheceu nele um verdadeiro Don Juan. Rafael e Alex eram muito unidos, exatamente por essa "fraqueza" pelo s**o oposto. Renato era mais tímido, geralmente parecia estar no mundo da lua, mas observando melhor, Bianca notou que ele era o mais sensível de todos, percebendo as mudanças sutis no humor e no comportamento de seus amigos com facilidade, mesmo quando tentavam mascarar suas emoções.  Eduardo, seu colega de quarto, era um caso a parte. Bianca não conseguia compreender muito bem a personalidade dele. Ele parecia como um livro fechado e pelo que tudo indicava, era assim que ele pretendia continuar. Na maioria das vezes se mostrava narcisista, fazendo comentários arrogantes ou de duplo sentido; em outros momentos, parecia distante, ensimesmado, como se uma sombra pairasse sobre a cabeça dele. Várias vezes Bianca pegou Eduardo e Val cochichando, parecendo nervosos, e em alguns momentos, Bianca sentiu como se Val discretamente observasse o amigo, como se estivesse preocupado com ele.                                No mais, eles formavam um grupo divertido e Bianca sentia-se grata por tê-los conhecido. Na madrugada de  quinta, véspera do aniversário de Val, Bianca acordou com o barulho da porta do quarto batendo com força ao fechar. Abriu os olhos,  sem mover o corpo. Eduardo tinha acabado de entrar e ela pôde sentir o cheiro de álcool que ele exalava. Sem nem ao menos tirar o tênis, Eduardo se jogou na cama. Ela se virou de costas para a cama dele sem dizer nada, fechou os olhos e voltou a dormir. No dia seguinte, Bianca acordou e se preparou para sua corrida matinal. Era a primeira vez que correria naquela cidade. Como não conhecia as ruas, decidiu correr nas proximidades da pensão. Eram oito e quinze da manhã quando ela retornou depois de mais de uma hora de exercício. Bianca entrou em seu quarto tentando não fazer barulho, para não acordar seu colega de quarto. No entanto, se surpreendeu ao perceber que Eduardo não estava na cama. Bianca tirou o tênis e seguiu em direção ao banheiro para tomar um banho. Ao chegar na porta, ouviu o desagradável som emitido pelas pessoas que, por um motivo ou outro, precisam esvaziar o conteúdo de seus estômagos na privada.  Eduardo estava vomitando. — Está tudo bem? —  Perguntou Bianca, preocupada. Bianca ouviu um grunhido em resposta à pergunta. Depois o barulho da água escorrendo da torneira e, minutos depois, Eduardo saiu do banheiro, sem nem ao menos olhar para ela. Ele  deixou o corpo cair sobre a cama, pegou o travesseiro e cobriu o rosto para evitar a luz do sol. — Toma! Isso vai acabar com a ressaca em poucos minutos. Ele tirou o travesseiro do rosto, com esforço abriu os olhos e se deparou com Bianca de mão estendida para ele. Eduardo ergueu o corpo lentamente, sentou-se na cama e aceitou os dois comprimidos e a garrafa d'água oferecidos por ela. — Obrigado! — De nada! A propósito... Você está h******l! — Eu sei. Estou me sentindo pior ainda — Ripostou Eduardo rindo antes de deitar e esconder o rosto com o travesseiro mais uma vez. ************ Bianca fechou o chuveiro e se enrolou na toalha. Fechou a porta de vidro do boxe e olhou em volta  "d***a!"  Resmungou ao perceber que não tinha levado roupa limpa para o banheiro. Teria que voltar para o quarto daquele jeito. Pelo menos Eduardo provavelmente estaria dormindo, ou ainda estaria com a cabeça coberta pelo travesseiro. Abriu a porta do banheiro o mais silenciosamente possível, Eduardo estava exatamente como ela esperava. Sentiu-se aliviada e seguiu até a cômoda. Pegou um short jeans e uma camiseta. Fez um imenso esforço para se vestir sem desenrolar a toalha do corpo. Depois de do short, tirou a toalha já de sutiã e vestiu a camiseta. "Clap Clap Clap"  Bianca prendeu a respiração ao ouvir alguém batendo palmas atrás dela. Arregalou os olhos e seu rosto se afogueou de tão corada que ela estava. Virou a cabeça devagar e se deparou com Eduardo deitado de frente para ela, com o cotovelo apoiando a cabeça. — Você fica uma gracinha quando está encabulada, sabia? — E-eu pensei que você estava dormindo. — Hummm... — Eduardo exibia mais uma vez seu típico sorriso cínico no rosto. — Estou mais acordado do que nunca, graças a você! Bianca corou ainda mais. — Por causa dos comprimidos, Bianca! Não seja pretensiosa! — Completou Eduardo com cinismo. — Ma-as  eu só... — Princesa relaxa, só estou brincando. O celular dela tocou e ela correu para atender, agradecida por sair daquela situação constrangedora. Porém, no instante em que ouviu a voz do outro lado da linha, seu alívio a abandonou. Sentiu um aperto no coração, e seu rosto não escondeu a angústia que aquele telefonema representava.  Era Fábio, seu ex-namorado. Bianca conhecia Fábio desde pequena. Eram vizinhos e cresceram juntos como melhores amigos. Ao chegarem à adolescência, Bianca se apaixonou por ele. Em sua festa de quinze anos, Fábio a pediu em namoro. Ele foi o primeiro em tudo na vida dela, primeiro amigo, primeiro beijo, primeiro namorado... Primeira decepção... Ela não esperava que ele a procurasse, não depois da maneira em que terminaram o namoro tantos meses atrás. Não depois dela trocar de celular para que ele não tivesse mais seu número... "Como ele conseguiu o número?" Sem  vontade de ouvir mais nenhuma palavra dele depois do "sinto sua falta", ela desligou. — Está tudo bem, princesa? Aconteceu alguma coisa? — Perguntou Eduardo ao vê-la perder a cor do rosto ao atender o telefone. — Sim...Quer dizer...  Está tudo ótimo!— Mentiu Bianca tentando sorrir... ****************** Depois de ter se distraído admirando o corpo de seu colega de quarto, Bianca levou tudo o que acreditou precisar para o banheiro. Banho, cabelo, maquiagem, roupa... — Ainda vai demorar muito, BB? — Não, só mais um minuto, já estou saindo! Val revirou os olhos e voltou para junto dos amigos. Estavam todos esperando Bianca terminar de se arrumar. Confirmando o estereótipo, ela estava quinze minutos atrasada. O que os rapazes não entendiam é que se arrumar em um banheiro pequeno e fechado não é uma tarefa fácil. Além disso, Eduardo tomou banho antes dela, aparecendo no quarto vestindo apenas uma toalha em volta do corpo, algo que a distraiu e a fez perder preciosos minutos. Como não conhecia o clube onde comemorariam o aniversário de Val, Bianca demorou um pouco para decidir o que iria vestir. Finalmente optou por um vestido rosa, frente única exibindo um decote na frente que valorizava seus s***s, sem mostrar mais pele do que deveria, como sua mãe sempre fez questão de frisar. Discreto, sexy e elegante.  Naquela noite, que estava quente e abafada, aquele vestido lhe pareceu perfeito. O tecido era leve, justo no tronco e solto a partir da cintura, chegando ao meio de suas coxas, revelando suas belas pernas. — E aí, ela já está pronta? — Perguntou Alex, sem desviar os olhos do celular, onde digitava freneticamente, para responder o mais rápido possível todos os contatos femininos que reclamavam sua atenção. — Disse que já está saindo... — Ela disse a mesma coisa vinte minutos atrás. — Comentou Renato, apoiando o corpo na parede. A porta do banheiro se abriu e todos se viraram na direção de Bianca. — Desculpa a demora rapazes, não estou acostumada a me vestir em um espaço tão apertado... Bianca falava enquanto caminhava na direção deles, ainda olhando seu reflexo em um pequeno espelho que segurava, conferindo a maquiagem sob a luz do quarto. Como não ouviu nenhuma resposta, desviou o olhar do espelho para os rapazes. O rosto dela na mesma hora ficou vermelho como um tomate. Todos estavam olhando para ela como se estivessem hipnotizados, até mesmo Alex, boquiaberto, parou de digitar no celular. — Oie! —Bianca acenou para eles, despertando-os do "sejalaoquefor". Ela seguiu ao encontro de Val, abraçando-o para desejar-lhe feliz aniversário, já que não o tinha visto durante o dia, pois ele passou o dia fora com os rapazes. — Obrigado, BB. — Val agradeceu o cumprimento, espremendo Bianca em um de seus abraços de urso. — É isso! Já podemos ir... — Disse Val. "Alex." "Alex?" "Alex!" SLAP — Cara, isso dói! — Gritou Alex quando Val deu uma t**a no ombro dele. Os outros caíram na gargalhada, mais pela cara de assustado de Alex do que pela t**a. — Você estava quase babando... — Comentou Renato, rindo do irmão. — Estava nada! — Ele respondeu ainda olhando para o decote dela. — Alex, meus olhos ficam aqui em cima! — Disse Bianca, apontando dois dedos para o próprio rosto. Alex exibiu um sorriso tímido e o brilho dos olhos dele se intensificou pela timidez inesperada. Eduardo abriu a porta ruidosamente e, um por um, todos deixaram o quarto. Bianca saiu por último, pois teve que pegar a bolsa no guarda roupa. Ao passar por Eduardo, que segurava a porta, ela percebeu que ele sorria na direção dela, mas quando seus olhos se encontraram, o sorriso dele se transformou em seu sorriso cínico e provocador. Ao chegarem à garagem da pensão, uma nova discussão se iniciou. Discutiam como o grupo se dividiria. Val parou ao lado da porta do motorista de seu carro. Um Dodge Durango, 4x4, preto que combinava muito com ele. Eduardo, por sua vez, entrou em seu carro e esperou que resolvessem o dilema sentado no banco do motorista, procurando um CD no porta luvas tranquilamente. — Eu tenho que passar na casa da Vanessa. — Comentou Alex ainda dedilhando seu celular. — Eu tenho que chegar logo lá, senão perderemos a reserva da mesa, se desviar até a casa da Vanessa vai ficar tarde... —  Comentou Val. — Ok. — Comentou Eduardo revirando os olhos. — Eu passo na casa da tua "mina" antes de ir para o clube . — Valeu, irmão! — Disse Alex, seguindo na direção do carro de Eduardo. — Então, eu vou com você, Val. Passar na casa da Vanessa antes de ir para o clube vai levar pelo menos meia hora a mais e eu estou com sede. — Comentou Rafael, dirigindo-se para o carro de Val. Renato olhou para Bianca sem saber ao certo o que fazer, esperando  que ela decidisse em qual carro queria ir. — Eu vou com Eduardo, vai ser bom conhecer a namorada do Alex, assim poderei fazer amizade com uma garota. — Ela não é minha namorada! — Gritou Alex, já parado ao lado do carro de Eduardo. O grupo ficou assim dividido: Eduardo, Alex e Bianca seguiriam até a casa da Vanessa, enquanto Val iria direto para o clube, acompanhado de Rafael e Renato. Bianca parou ao lado da porta de trás, mas Alex, com um sorriso malicioso nos lábios, abriu a porta da frente e fez uma revência para que Bianca sentasse ao lado de Eduardo. — Vai na frente Bianca, o banco de trás é para mim e Vanessa... — Nem pense em ficar de "melação" no meu carro! — Rosnou Eduardo, enquanto Alex se jogava no banco de trás. — Relaxa, Eduardo, guarda seu mau humor para mais tarde. Eduardo não respondeu a provocação do amigo. Ao invés disso, ligou o carro e seguiram caminho até a casa de Vanessa. Vinte minutos se passaram sem que ninguém dissesse nenhuma palavra, apenas o som das músicas escolhidas por Eduardo quebrava o silêncio. — Já chegamos? — Perguntou Alex de repente. — Não começa,  Alex! — Resmungou Eduardo. — E agora, já chegamos? — Insistiu Alex, prendendo o riso com dificuldade. — Cala a boca, Alex! — E agora,  chegamos? — Cara, você não é normal! — Ele está imitando o  personagem Burro do Shrek? — Perguntou Bianca. — Não liga para ele,  tem problemas sérios... — Hey! Pelo menos eu quebrei o silêncio... — Se justificou Alex, rindo. — Verdade. — Concordou Bianca, mordendo o lábio para não rir. Eduardo olhou para ela e riu do esforço que ela estava fazendo para não rir, os dois acabaram rindo juntos. Alex então, devagar, ergueu o corpo, sua cabeça bem próxima à cabeça de Eduardo. — E AGORA ,CHEGAMOS?  — p***a! — Eduardo se assustou. Imediatamente Bianca e Alex caíram na gargalhada. — Cara, se fizer isso de novo, você e sua namorada terão que ir a pé. — Ok, parei! — Ripostou Alex, entre risos. — E ela não é minha namorada. Poucos minutos depois Eduardo parou o carro na calçada em frente a um enorme portão. A casa, que demonstrava sem a menor dúvida o poder aquisitivo de seus proprietários, era a casa mais bonita e luxuosa da rua. Alex desceu do carro, não sem antes ouvir Eduardo dizendo a ele que não demorasse. Eduardo soltou o cinto de segurança e inclinou o corpo na direção de Bianca, que prendeu a respiração ao perceber o movimento dele. Eduardo abriu o porta-luvas e escolheu outro CD, seu rosto mais uma vez estampou seu sorriso malicioso característico ao perceber a reação de Bianca. — Então... — Começou Bianca, tentando quebrar o desconfortável silêncio. — Há quanto tempo você e Val são amigos? — Desde a infância, o conheci quando estava no quarto ano da escola. — E os outros? — Rafael era meu vizinho e os outros conheci na festa dos calouros quando entrei na U.C.C. — Quantos anos você tem? — Vinte e dois. — Qual seu curso na faculdade? — O que são essas perguntas agora? Estou me sentindo em uma entrevista de emprego... — Oh! Desculpa, só estava tentando iniciar uma conversa...não farei mais perguntas. — Bianca virou o rosto para a janela, olhando para a rua. — Música. — Sério? — Bianca se virou e olhou para ele, surpresa. — Eu adoro música, mas por causa dos meus pais, que são médicos, entrei para a área de saúde. — Você sempre faz o que seus pais querem? — É o que se deve fazer, não é? — E o que você quer fazer, não conta? — Claro que conta, mas não é tão simples assim... Bianca desviou o olhar, evitando os olhos de Eduardo. Estalava nervosamente os dedos da mão. — Não faça isso! — Disse Eduardo, segurando a mão dela para que ela parasse de estalar os dedos. — O quê? — Perguntou Bianca, com um brilho diferente nos olhos. — Não estale os dedos, isso me deixa nervoso. Bianca olhou para ele atentamente nos olhos, em seguida estalou os dedos na frente dele, um a um, erguendo uma sobrancelha em desafio. —Terminou com a tortura, princesa? — Sim, infelizmente meus dedos acabaram. — Respondeu Bianca, rindo. — Por que fez isso depois de eu te pedir para parar? — Só queria te provocar... — Hummmm...— Eduardo balançou a cabeça de cima para baixo. — Vou me lembrar dessas palavras...
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