Chapter VI

2573 Words
Episode: Two kings sharing a kingdom Com o nascer do sol no horizonte e o início da movimentação de criadas e empregados reais pelo palácio para organizar tudo que fosse preciso, os príncipes começaram a despertar. O cafe da manhã era servido às oito em ponto, sem permissão para atrasos, e às dez dava-se inicio ao cronograma da temporada. Durante a semana ao menos seis horas de todas as tarde eram dedicadas a aulas de história geral, economia, geografia e política, onde junto com a explicação oral de sábios anciões os príncipes recebiam livros grossos para leitura individual. Em cada dia recebiam aulas práticas de uma atividade especializada: segunda-equitação, terça-esgrima, quarta-instrumentos musicais (podiam escolher entre flauta, harpa, piano ou violino), quinta-etiqueta geral ou lógica, sexta-lutas de espada, sábado-treinamentos sobre recepção e planejamento de eventos, domingo-eventos em si (banquetes, festas, jantares). Além de também, diariamente, possuírem obrigação de participarem de exercícios extras que lhes eram impostos, indo desde a recepção de hóspedes reais do exterior para tratar de diplomacia, até simulações de planejamento tático de guerras. Príncipes que ganharem destaque, cumprirem a conduta, e se revelarem merecedores, receberão regalias adversas de acordo com suas notas e eficiência. *** As frutas estavam frescas e saborosas, derretiam na língua e cediam sensação de refrescância e leveza matinal. No entanto, o clima o oposto delas. Maçante, pesado e sufocante. Ou melhor, tudo estava realmente bem enquanto faltavam dez minutos para às oito, quando a refeição era oficialmente iniciada, os príncipes chegaram ao salão A - onde refeições comuns e rotineiras seriam servidas, nada muito extravagante e uma mobília clássica e nobre - adiantados para conversarem e socializarem. O príncipe moreno de longos cílios, Zayn Malik, relatava o quão adoráveis foram as criadas ao enfeitarem seu aposento com muitos dos porta-retratos que trouxera de seu reino, amenizando a saudade precoce da família. Os demais sorriam simpáticos e encantados, iniciando um debate sobre suas famílias e costumes. Era uma conversa cordial e doce, estabelendo harmonia entre os jovens educados. Contudo, bastou o bater das oito da manhã que mais alguns príncipes que preferiam ser pontuais - William Tomlinson, Niall Horan, claro, e outros três - chegaram, alocando-se em assentos disponíveis das mesas. O problema era que um deles se chamava Harry Edward Styles. Harry Edward Styles e sua bengala de cascavel, e seus cachos esvoaçantes, e suas roupas desnecessariamente extravagantes (algo como uma capa de caxemira egípcia na cor púrpura e botas de montaria de couro prateado), e seus olhares intensos, e suas covinhas insinuantes, e sua beleza excepcional, e sua maldade ainda mais excepcional. Tudo isso combinado com um sorriso malicioso e uma pose arrogante. Foi de imediato. E reação de alguns era observa-lo curiosos, enquanto outros específicos enrubesciam e tensionavam os músculos - Louis teria percebido que não tão coincidentemente eram os que vagavam aflitos pelo corredor durante a madrugada deixando o aposento de Styles. - Hum, que manhã deslumbrante, não é mesmo? - Harry cantarolou, puxando uma cadeira vazia e se acomodando nela, com os olhos passando por todos os príncipes. - Eu tenho um fascínio por bom humor matinal ao ser combinado com a brisa aquecida do verão. - Bom Dia, Príncipe Edward! - Zayn saúda com sua simpatia exímia, sorrindo gentil. Talvez ele houvesse saído de um livro de conto de fadas, toda sua gentileza, ingenuidade e beleza inalcançáveis. - Oh, Bom Dia, querido. - Harry piscou para ele, lançando-o um beijo no ar. Para então depois forçar uma expressão de surpresa e bater com a palma da mão na testa. - Onde estão os meus bons modos? Vejo que esqueci de desejar um bom dia para todos vocês! Ow, perdoem-me, deve ser pela madrugada agitada que tive na companhia de ilustres cavalheiros, hum? Ouve-se pessoas engolindo a seco. E vê-se o incômodo e incredulidade chocar a expressão de muitos. O vírus da imoralidade claramente já havia infectado alguns. Quando este se disseminaria entre aqueles que prezavam os valores e conduta? Harry riu debochado. Definitivamente logo. **** - .... o que chamávamos de vassalagem. O acordo era selado com um beijo entre o suserano e o vassalo...  Um ancião nórdico contava no centro da grande sala em formato de coliseu.  Os alunos sentaram-se em fileiras ovais de mogno dispostas ao redor de um pequeno palco, onde velhos sábios apareciam para ensinar-lhes sobre diferentes campos de conhecimento. Há duas horas o assunto estava travado em Idade Média. A maioria dos jovens, não acostumados a aulas tão maçantes com duração de seis horas seguidas (tendo intervalo somente no almoço), queriam gentilmente enfiar esse idoso em uma balsa e envia-lo para o oceano. Mas, claro, eles seriam futuros reis e não podiam sequer cogitar pensamentos tão maldosos. - Já que eles selavam acordos com beijo, eu não me importaria de fazer o mesmo por aqui... - uma voz negligente se sobressaiu no fundo da sala, tendo uma rápida repercussão já que a maioria se sentia enteada. Os rapazes começaram a rir baixinho, lançando olhares de canto de olho para a figura peculiar de Harry. - Deseja compartilhar alguma opinião conosco, vossa alteza? - o senhor interrompeu o próprio monólogo, olhando severamente na direção do cacheado. - Ah, Ruperts, meu velho, pra que todo esse stress, ahm? - Styles reverberou com um sorriso sapeca, recebendo expressões de espanto por toda sua ousadia petulante . - Já assisti essa mesma aula por cinco anos seguidos. - Insolente - 'Ruperts' murmurou, meneando a cabeça. - Se não há nada de produtivo para acrescentar, permaneça quieto. O velho estava prestes a continuar sua explicação - 'muito interessante' - quando Styles esticou seu braço, chamando-lhe atenção. - O quê? - falou perdendo sua paciência. - Acho que tenho algo de produtivo para acrescentar. Uma ideia! - Prossiga. - falou contrariado, querendo rolar os olhos. - E se encenássemos uma cerimônia de solenidade? Hum? Creio que demonstrações ao vivo despertariam muito mais o interesse dos nossos alunos reais... Não estou certo?  Os garotos, menos tímidos e mais entusiasmados pela personalidade intrigante de Styles, começaram a se manifestarem em concordância, despertando-se da monotonia que as últimas horas estavam sendo. Ruperts sem muitas opções, afinal, concordou com um aceno. - Então, quem quer representar o suserano e o vassalo? - Já que eu sugeri, não acho nada mais justo do que representar o suserano. - Harry interveio, levantando-se da carteira de mogno e rumando para o centro da sala. - Quem deseja encenar o vassalo, então? - o ancião se voltou aos príncipes, notando-os recatados em seus assentos. - Já que ninguém se dispôs, posso escolher um? - Styles indagou, mudando o peso de um pé para o outro com um brilho m*****o nas orbes. Ruperts concordou, esperando que Harry apontasse. Os meninos pareciam genuinamente assustados com a ideia de terem que se apresentar na frente de todos, no entanto quem esteve sob a mira de Styles, não. - Príncipe William, me diga, como são os espetáculos em Riverland? - Harry questionou abrindo um sorriso lateral. - Eu diria que dispomos de teatros formosos, embora não seja grande o número de artistas. - Louis respondeu com seus ombros erguidos e os olhos calmos. Tomlinson se pôs de pé sereno, entendendo perfeitamente onde o cacheado queria chegar, caminhando poucos passos até alcançar o centro, visto que ele já estava alocado em uma posição próxima. - Veremos se você pode representar. - Styles provocou. - Não tanto quanto vossa alteza, garanto. - Louis replicou. E embora sua voz estivesse ausenta de pretenções ou duplos sentidos, as palavras haviam soado ácidas para Harry, e o atingiram em cheio. - Já sei. - o ancião se pronunciou, ao que os dois príncipes estavam um ao lado do outro, esperando ordens. - Vamos inverter os papéis, Príncipe William será o suserano, e Príncipe Edward o vassalo. - Espere, o que? O que você disse? - Harry grunhiu, uma leve irritação se fazendo presente. - Não me leve a m*l, vossa alteza, mas o Príncipe William dispõe de uma imagem muito mais condescendente e soberana que a sua. Se estamos aqui para encenar, que se encaixem então adequadamente nos papéis. Os punhos do maior se fecharam. Embora Ruperts estivesse apresentando um ponto justo - se fosse para atuar como um nobre, não haveria ninguém naquela sala que transparecesse uma imagem mais austera do que Louis -, Harry tinha certeza de que sua decisão se baseava em um ímpeto de vingança por seu comportamento impudente. As esferas verdes enfurecidas se enfezaram ainda mais ao notarem a satisfação do príncipe de Riverland para toda a situação. - Bom, a partir de agora vossas altezas serão membros de Igreja e testemunhas da cerimônia de solenidade que estão prestes a assistir. Nesse momento estamos dentro de uma igreja, no século XIV. Príncipe William, você é um rei, o mais poderoso suserano, e Príncipe Edward você é o vassalo, um senhor feudal de grandes posses. - o ancião anunciou, pedindo que os dois se posicionassem de frente um para o outro. - Esta prática é conhecida pelo juramento de fidelidade e lealdade. Que comecemos a homenagem!  Harry e Louis foram instruídos para encenar conforme o que era ditado por Rupert, localizando-se no centro do palco enquanto o velho sábio ia para um canto, descrevendo o ato. - Durante a cerimônia, o vassalo deve ajoelhar-se em submissão-  - Que diabos?! - Styles reverberou revoltado, assustando todos os presentes por xingar publicamente, contudo o ancião não parecia surpreso, estava acostumado com o príncipe.  - Não blasfeme, Príncipe Edward, vocês estão supostamente numa Igreja. - Enfie essa Igreja no seu- - Continuando! - Ruperts elevou o tom, retomando suas falas. - O Vassalo deve se ajoelhar em submissão e colocar suas mãos entre as mãos do suserano. À muito contragosto e uma indignação entalada em sua garganta, Styles se ajoelhou diante Louis, estendendo suas mãos atadas para a figura do moreno, que as cobriu com seus dedos macios delicadamente.  Ele havia sido tão suave em seu gesto que Harry m*l sentia o toque tenro das palmas pressionando os nós de seus dedos. - O Vassalo deve jurar ao Suserano Fidelidade e Lealdade, prestação de serviços militares, e auxílio sempre que o suserano apresentar alguma necessidade. - a voz de fundo do ancião ressoou, esperando que assim fosse feito. Styles bufou. - Eu te juro ser leal e fiel, prestar apoio no quesito militar e te ajudar sempre que você necessitar. - enfatizou a última parte, puxando um pouco o canto do lábio em um sorriso debochado e sujo. - Em troca - Ruperts prosseguiu - o Suserano deve garantir ao seu vassalo o uso de domínio de terras, o exercício de um cargo e  objetos materiais. Era dessa forma que a nova relação social entre nobres estava firmada. Tomlinson acenou em entendimento, pousando sua atenção no garoto de joelhos que o fulminava contrariado. Tragou o ar profunda e lentamente, entrando em seu papel.  - Vassalo, juro-te acessibilidade às minhas terras, a possibilidade de exercer o cargo de conselheiro real, jóias e um novo castelo. - pronunciou focado e sério. - Eu não quero ser um conselheiro real. Eu quero ser um rei também! - Styles protestou, rangendo os dentes, dando um jeito de cravar suas unhas no casulo que as mãos de Louis faziam ao redor das suas. - Príncipe Edward! - Ruperts repreendeu imediatamente, raivoso. - Se você não seguir a linha suposta na encenação que vossa alteza mesmo propôs irá receber uma advertência em seu primeiro dia da temporada! - Mas eu quero ser um rei também! Pelo amor, não sou obrigado a me submeter a isso! - Styles rebateu, sua birra infantil tornando-se óbvia e intragável. - Certo. - Louis de repente interveio, recuando o toque pela dor sentida com o perfurar de sua pele, embora não transparecesse o incômodo. - Você pode ser um rei também.  Harry se calou, uma expressão de vitória se iluminando na face jovem. - Não, Não! - o ancião se lamentou. - Um rei suserano não pode permitir que seu vassalo seja rei também!  - Sou supostamente o rei, não? - Tomlinson rebateu, jamais abandonando a pose soberana e autoritária do líder que representava ser - Portanto, decreto que este vassalo também será rei. Dividiremos o trono - determinou. Os resmungos de Styles instantaneamente se calaram, mesmo que seu orgulho não fosse se desmanchar para nada que insinuasse gratidão. O ancião, sentindo-se preso em uma trama maçante e desnecessária - deveria ter aprendido que nada que venha da mente de Harry é de fato produtivo - relevou o episódio, finalizando a cerimônia: - Para que a verdade e a seriedade fossem conferidas à situação, era necessária a conjunção carnal, feita por meio de um beijo, também reforçava uma situação de reciprocidade entre o suserano e o vassalo. O corpo era então empregado como instrumento simbólico de uma séria comunhão. Ao finalizar o monólogo todos os olhares se voltaram intrigados para os dois príncipes no centro do palco. Harry cometeu o erro de estabelecer contato visual com Louis ainda ajoelhado.  As lagoas azuis eram intensas. Ele se sentiu pequeno. E se esqueceu que não sabia nadar.  Por um momento, pensou que se afogaria nelas. As mãos se desataram para que Styles pudesse se estender de pé. E, ao contrário do usual, ele não foi capaz de expressar sua malícia e presunção com um sorriso torto ou um olhar lascivo. Styles, pela primeira vez em muito tempo, estava inexpressivo.  Ele realmente cogitou se era um m*l súbito que fulminaria com um ataque cardíaco ou um derrame cerebral.  As pessoas notaram a pose arrogante se desvencilhar do corpo esguio durante alguns segundos, os ombros sempre retos se encurvando e a cabeça sempre erguida pendendo para o lado, enquanto o príncipe de cachos sofria aparentemente de um delay. A lagoa azul se aproximou da gramínea de verão. Sim, gramínea de verão. Eram olhos verdes muito ardentes e cheios de inquietação em contraste aos azulados profundos e congelados. Contradizendo as especulações, foi Louis quem aproximou seus rostos, visto que Harry ainda se mantinha um pouco desligado, e ainda de olhos abertos selou brevemente os lábios do príncipe arrogante, que sem sua bengala de cascavel não parecia tão assustador. Styles não tivera tempo de retribuir o toque ou devolve-lo o calor de seus lábios carnudos, Príncipe William já havia se afastado. - O juramento está selado. - o Suzerano decretou, curvando-se em reverência para Styles, e então para o resto dos alunos e ancião, rumando seus passos para retornar ao seu assento na sala. Harry piscou rápido recobrando a consciência e fez o mesmo, sem cantarolar nenhuma de suas tolices casuais, estranhamente quieto e comportado. A aula prosseguiu com o monólogo enfadonho sobre costumes e valores feudais, com um ancião muito animado e vertiginoso para príncipes muito esgotados e sem realmente vontade de estarem lá. Uma hora depois e a chuva fraca ainda precipitava lá fora. As criadas ainda arrumavam os aposentos e com a ajuda de alfaies produziam novos trajes aos príncipes.  Os cozinheiros reais ainda finalizavam o almoço. Os garotos ainda ameaçavam desmaiar de tédio. Tudo prosseguia normalmente. Em exceção a Styles, que encarava com uma grande confusão e curiosidade suas mãos, inexplicavelmente trêmulas, assim como seu estômago, um pouco revirado. Ou mesmo a sensação cálida e sufocante como uma ansiedade que esvaía de suas veias muito gradualmente. Ele cogitou estar ficando doente. Mas não sabia que tipo de doença seria.      
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