Chapter IV

2498 Words
Episode: From the Dinning Table Quando o sol se pôs no horizonte, encerrando a luminosidade natural que clareava grande parte do palácio de vidro, os príncipes foram se recolhendo aos poucos para seus aposentos, no intuito de se vestirem apropriadamente para o primeiro banquete de gala. As criadas ocasionalmente costuravam novos trajes para os rapazes, no entanto, como era o começo da temporada e ainda não haviam tido tempo de tirarem suas medidas, eles teriam que utilizar peças trazidas de casa, o que era um pouco revelador, visto que isso realçaria instantaneamente quais seriam os costumes e as riquezas de cada reino refletidas no poder aquisitivo, ou melhor, vestuário de seus príncipes. O salão de jantar que realizariam o banquete era específico para verão - sim, havia o de inverno, primavera e outono, também - tendo paredes altas em amarelo claro e um amplo espaço guarnecido de esculturas de andorinhas-azuis, que migram para a região durante a estação mais aquecida (menos congelante) do ano, esculpidas a ouro. As cortinas compridas eram de seda e cediam a sensação de airosidade, assim como as cores claras e amistosas que pintavam o cômodo por inteiro. A extensa mesa de jantar era de mogno, e se situava abaixo de um deslumbrante lustre de cristais. Toda a louça, aliás, foi feita com porcelana fina ou vidro desenhado. Os príncipes, embora acostumados com a elegância já rotineira em seus próprios castelos, estavam maravilhados diante o faustoso salão de verão. Conforme chegavam tomavam seus lugares em cadeiras de sua preferência, a maioria optando por se sentar nas do meio receosos de se destacarem ao estarem perto das pontas. Até que só haviam dois lugares desocupados para os dois príncipes restantes.  Não que eles estivessem atrasados, contudo os outros desejaram anteciparem-se justamente tomados pela ansiedade de interagirem entre si e realçarem laços amistosos. Ao passo que o tintilhar produzido por quem parecia ser o mordomo principal do palácio com o impacto da ponta de uma colher em um castiçal de prata ressoou, sinalizando o início do jantar, duas figuras adentraram quase que no mesmo momento, passando pelo arco dourado sem terem notado a presença um do outro. O primeiro muito distraído encarando com insolência todos os espectadores de sua chegada.  Mas foi então que ele reparou a atenção não ser voltada apenas para si, como também a um outro príncipe que aparentemente também apreciava ser pontual em eventos. O segundo, no caso, andava impassível para quem o observava. Ao invés de pisar naquele chão de mármore antes do horário determinado na intenção de fortalecer relações sociais, decidiu aproveitar aquelas horas para ler eu seu aposento. Não era de reparar muito, mantendo-se neutro conforme rumava para um dos únicos assentos disponíveis: uma das pontas da mesa. E claro, era o príncipe William, vestido com um fraque e calça de tonalidade acizentada escura em harmonia com seu colete marinho e em contraste ao lenço azul claro envolvendo seu pescoço. Enfeitava-se com abotoaduras de prata em formato de flor de lis, representando o brasão de seu reino. Seu andar firme e robusto lapidavam um ar de dominância primorosa, e suas vestimentas discretas entregavam uma elegância refinada, sóbria, própria do dandismo. Acomodando-se no último lugar vago, na ponta oposta da mesa, estava o príncipe Edward, tentando sufocar o incômodo por não ter retido unanimemente os olhares em si graças à chegada daquele príncipe moreno. No entanto, seria fácil perder-se na beleza exuberante e sempre polêmica de Harry. Ao contrário do que se mede nas etiquetas supostas em um banquete formal, ele vestia sua casaca em tonalidade clara, azul Royal, inteiramente bordada com fios de ouro que desenhavam flores pelo tecido, uma camisa de seda branca com mangas bufantes e uma calça de cor semelhante justa em seu corpo. Se essas peças já não eram o suficiente para gerar burburinhos espantosos sobre si, então seu par de botas douradas seriam.  A pele pálida vislumbraria uma inocência e fragilidade imensuráveis se não fosse pelo sorriso superior que adornava a face do príncipe, ou por seus seis anéis de rubis e safiras valorizando os magros e compridos dedos.  O mascote, a bengala de cascavel, era um adereço obrigatório. Tudo que se relacionava a Harry era estrondoso. E a consequência disso eram olhares de devoção por alguns, desgosto por outros, fascínios contidos... E indiferença, por um único. Harry Styles conhecia aquele. Conhecia que o futuro herdeiro do trono de Riverland era William Tomlinson.  Ele sempre estudava a reputação de quem seriam seus próximos companheiros de temporada antes de vê-los pessoalmente. Sabia que o príncipe William não era de desviar sua atenção facilmente ou se abandonar a postura austera de um rei - como o resto deles esquecia de manter - portanto não se importava pelo fato de também não arrancar reações do outro. - Se seguirem a tradição de sempre.... - Harry cantarolou para ninguém específico enquanto os criados depositavam as entradas ocultas sob tampas de prata para cada um dos rapazes - O primeiro curso será sopa Aletria. No mesmo momento os criados removeram as tampas revelando exatamente o que o cacheado premeditara, líquido fervido e temperado com tomate, alho e cebolas. Um prato camponês, popular, porém bem apreciado. - Previsivelmente tradicionais. - comentou com um falso suspiro chateado.  Os príncipes, até então em silêncio, foram iniciando a degustação de suas apetitosas sopas enquanto engatavam assuntos adversos entre si. Liam, por sorte, estava sentado em uma posição perto da de Louis e fez questão de elogiar a escolha de seus trajes, visto que apesar de serem simples, destacava-se das dos outros, talvez pela pose de rei que Tomlinson já adquirira desde menino. - Seu lenço é lindo. Adorei o broche dele. - reparou o príncipe de Bristok, apontando para a tal peça de Louis, que sorriu cordial. - É uma andorinha-azul, julguei apropriado para a ocasião, e confesso que me acendi ao tomar consciência de que este salão é inteiramente enfeitado por elas. - São as aves que migram para onde há o verão, sim? Tal argumento talvez tenha impressionado um pouco o príncipe de Riverland, que não imaginava que o outro saberia do fato, visto que não era uma curiosidade muito interessante para a maioria os jovens. - Certamente.  - Foi uma boa referência então. - Liam piscou gentil, sendo retribuído por mais um agradecimento singelo de Tomlinson. Aos seus olhos, Louis era uma figura impenetrável. Não demonstrava seus sentimentos ou pensamentos. Nem mesmo esboçava reações para aquilo que acontecia ao redor. Pouco participativo e muito neutro. Embora soasse como uma pessoa séria e formal demais para construir uma laço de amizade, ele decidira que tentaria, já que gostara do jeito retido do mesmo. No segundo curso os empregados reais ofereceram-vos frutos do mar: truta e withebait , além de pequenas porções de ostras frescas pra quem fosse apreciador destas iguarias. Tudo meticulosamente selecionado para conceder a sensação de refrescância. Príncipe Zayn Malik possuía um riso alto e uma diversão jovial, conquistando naturalmente seus colegas de palácio que começaram a se enturmar rápido com o rapaz. Alguns disfarçavam olhares de encanto aos olhos acastanhados, contudo ele mesmo não parecia nota-los ou sequer devolver o charme que vos era direcionado. Ao passo que o main course (pratos principais) foram servidos, sendo reveladas vieiras cozidas com margarina e cordeiro, e os príncipes se acomodando com o clima suave e amistoso, os murmúrios tornaram-se conversas paralelas em que quase todos participavam, em exceção a alguns. - Alguém... - uma voz se sobressaiu de repente das demais, calando o falatório e ganhando a atenção alheia. Harry, até então ignorado e excluído dos debates aleatórios (simplesmente porque a maioria o temia), passou a dizer em voz alta, cutucando graciosamente com a ponta do garfo um pedaço de batata. - Alguém aqui sabe a história das andorinhas-azuis? As feições confusas dos presentes esclarecia uma pergunta que Styles não se impedira de fazer. O silêncio transparecia o que ele intuía. - Como imaginei. - murmurou com arrogância e prepotência carregadas. - Permita-me injeta-los uma cultura saudável- Mas antes que continuasse seu discurso, uma voz calma e melodiosa ressoou da outra ponta da mesa. - São pássaros que se acasalam em temperaturas quentes. Migram para onde há verão. - Príncipe William respondeu. Harry o fitou, procurando desafio ou qualquer afronta em seu tom. No entanto, não havia. Tomlinson não manifestava qualquer sinal de indelicadeza ou contestação. Seus olhos não o desafiavam, pelo contrário, dissera aquilo com uma educação e discrição inconfundíveis. - Eu não questionei a razão das andorinhas simbolizarem esta estação, Príncipe William. - Harry replicou, tentando não soar tão rude. Contudo, seu jeito de superioridade e sua necessidade de ser o doador da verdade denunciavam seu caráter manchado. - Trata-se da história delas. O moreno de olhos azuis assentiu singelamente, não objetando-o. - Presumo que se refira à Progne. - Louis proferiu com suavidade, ateando espanto e surpresa em Styles, que, mesmo contrariado ao engolir seu orgulho, viu-se confirmando relutante. Aquilo fora uma afronta à sua vaidade intelectual. Sua pose prepotente perdeu o sustento durante  alguns segundos de displicência até que disfarçasse a apatia e recompusesse o sorriso soberbo, ignorando fielmente o assunto anterior e passando a encarar os outros príncipes. Ele era tão estranho. - Então, queridos, como vejo que estamos chegando ao final do banquete reforço meu convite para uma comemoração particular e privada em meu aposento. - cantarolou insolente, recebendo expressões ainda mais espantadas para sua afirmação. Aqueles príncipes foram criados à base de disciplina extrema, com normas de etiqueta que redigiam até mesmo como se sentarem em privadas. E, embora seus comportamentos estivessem involuntariamente mais relaxados pela convivência entre jovens de suas idades, ouvir algo sujo e imoral feito aquilo era um baque de grande efeito. Alguns imediatamente franziram o nariz de desgosto. Mas para outros houve uma curiosidade irrompendo seu valores individuais, ameaçando corromper a postura que lhes foi imposta por duas décadas de existência, em que lutavam contra a ascendência de desejos obscuros e conflitantes. Apesar da personalidade intragável e desprezível, ninguém estaria sendo honesto se não admitisse que Harry Edward Styles era absurdamente charmoso. Havia algo perdido no mar de esmeraldas em seus globos oculares que soava tóxico para a sanidade. Era uma verdadeira tentação pecaminosa encara-lo, e um desafio o fazer sem perder o fôlego. A intensidade transpirada em seu ar petulante poluía a estabilidade física e mental de quem o aspirasse.  Ele era o próprio Jardim do Éden. E seu sorriso convidativo parecia sussurrar 'pronto para morder a maça?' Quando os empregados serviram a sobremesa, pequenos eclairs acompanhados de uma taça de vinho doce, Harry Styles arrastou ruidosamente sua cadeira, levantando-se sem nem tocar no prato. Os príncipes o olharam em expectativa enquanto o arrogante rapaz de cabelo longo fitava-os esboçando sua melhor feição predadora. - Aos que me esperam, estarei voltando para o meu aposento. - molhou os lábios, inclinando-se sobre a mesa um tanto intimidador. - Não é essa a sobremesa que me apetece. - anunciou piscando um dos olhos, triunfante. - Agora, cavalheiros, se me dão licença... Trajado sob todos os adereços chamativos e a bengala de cascavel, deu meia volta e rumou afora do salão, transformando toda atmosfera amena de antes em uma tensão indissolúvel e constrangedora.   Os jovens finalizavam o saboroso doce quando uma voz pouco conhecida dissipou-se provinda de uma região central na mesa. - Não o escutem. Ele é o próprio veneno daquela cobra que apoia suas mãos.  Niall Horan aconselhou, seu cenho sempre muito franzido, seu rosto adornado pelos fios louros claros semelhantes ao retrato de divindades gregas. Seu tom era sério e seco.  Príncipe Horan se levantou com um suspiro, não erguendo o rosto. - Ele não vai desistir até desmoralizar cada um de vocês. Não deturpem seus valores pelo ego frágil do príncipe Edward. - finalizou, saindo à passos robustos do recinto. Os burburinhos alheios se alastraram como fogo em palha depois do incidente, ora ou outra se alterando entre olhares pensativos criados pela curiosidade que crescia em cada um para saber quem visitaria o aposento de Styles, quem se entregaria ao pecado, quem julgaria quem se entregasse. Quem eles eram. E quem Harry os faria ser. E alheio a todo o alarde em torno da situação estava Louis, que após rejeitar o eclair - nunca foi apreciador de chocolate - mas bebericar com uma calma prazerosa o vinho doce, estendeu-se suavemente de pé, com uma expressão serena, e se curvou em uma reverência de despedida. Já no conforto de seu aposento, Louis dedicou alguns minutos escrevendo cartas à sua família antes de se deitar. Dispensou as criadas para que elas pudessem dormir mais cedo, tendo em vista que seria desnecessário segura-las com ele a toa. Todavia, depois de gastar o que ele deduzira em duas horas encarando o teto sem de fato adormecer, Tomlinson cedeu à insônia. Ela sempre o atormentava, e na maioria das vezes ele se rendia. Levantou-se cuidadoso com uma ideia em mente. Sabia que há esse horário da madrugada todos os príncipes já dormiam, portanto, seria perfeito. Calçou os chinelos e removeu o pijama, vestindo uma calça de malha fria e uma blusa branca lisa ao invés. Seria impertinente caminhar nas dependências do palácio tão desarrumado.  Andou calmo pelo corredor, não de fato surpreso quando presenciou alguns príncipes saírem de um quarto distante com seus cabelos desordenados, assustados e quase como ladrões fugitivos temendo serem pegos em flagrante. Supostamente eram os que aceitaram as ofertas perturbadoras de Harry. E provavelmente quem agora carregava culpa, ou, então, um novo prazer na desinibição. A contaminação com o vírus dos pecados e imoralidade transmitidos pelo príncipe de Malta começara a se propagar entre os príncipes da temporada. A questão era: quantos deles se infectariam? A sorte dos dois ou três que circulavam pelo corredor cambaleantes - talvez devido à bebidas, ou alguma substância ilícita - temendo por suas reputações era que quem se depara com suas imagens deturpadas havia sido Louis. Louis e sua indiferença para o que cada um fazia com a própria vida. Ao invés, Tomlinson evitou olhar para o rosto deles e identifica-los. Não queria ser indelicado a esse ponto. Quando alcançou as escadas e subiu ao último andar recordou-se das instruções de Jezebel para chegar na biblioteca. E, sem grandes dificuldades pelo costume de morar em uma residência suntuosa e imensa, encontrou o espaço resguardado para a leitura. Não era tão grande quanto a biblioteca que tinha para si em Riverland, mas bastaria para entrete-lo, além de parecer aconchegante estar envolto da companhia de livros enquanto a luz natural do luar iluminava parcialmente o lugar, tendo a claridade escoada pelas grandes janelas de vidro. Pegara um exemplar da literatura grega Odisseia - que era de fato um de seus livros preferidos, e optara por lê-lo de pé, apoiado na janela e aproveitando a luminosidade da lua para enxergar as miúdas letras.  Perdera-se no tempo.  Alcançava quase o oitavo capítulo quando escutou-o reverberar debochadamente: - Então sabe mesmo sobre Progne, hum? Esplêndido.
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