Prólogo
Oito anos atrás...
Sentia a angústia corroer meu peito, ao fechar a mala. Parte de mim, ficaria para trás com Heitor, em tão pouco tempo, ele se tornou a pessoa mais importante. Embora eu fosse capaz de dar minha vida por ele, não podia permitir que sofresse tudo o que estaria por vir.
Eu sabia que aquela decisão a ser tomada, era a certa. Ele teria mais chances de ser feliz longe de alguém como eu, com tantos problemas. Carla era a escolha certa, eu tinha certeza, ela poderia dar o amor que eu não era capaz de dar naquele momento.
Um dia explicarei tudo e o deixarei saber o porquê que tive que parti e deixa-lo para trás e, quantos problemas que teria que enfrentar, se ficasse comigo. Só esperava que quando esse dia chegasse, não fosse tarde demais.
— Tem certeza que é isso que você quer, Alexia? — perguntou Marcos mais uma vez.
Não! Mas era o certo a se fazer no momento.
— Tenho sim, eu sou apenas uma adolescente, não tinha consciência do que estava fazendo, brinquei com coisa séria e agora, precisava reparar o que fiz.
— E o Heitor?
— É por ele que faço isso, Heitor ficará melhor sem mim. — Um bolo se formou na minha garganta. — Diz a ele que eu o amo, que lutei por ele e lutarei sempre. — Deixei a emoção me dominar. — Mas que não podemos ficar juntos, um dia eu voltarei e explicarei tudo. Só espero que ele me perdoe.
Permiti que o choro saísse para lavar minha alma, contudo, nem assim conseguia ter paz.
— Ele perdoará.
Vi minha corrente em cima do criado-mudo e segurei o pingente em minhas mãos. Abri o pequeno relicário que continha a nossa foto, admirei-nos juntos, a imagem era do dia mais feliz da minha vida. Beijei a foto e coloquei a corrente no pescoço.
Lágrimas caíram dos meus olhos, senti vontade de desistir e enfrentar o mundo para que ficássemos juntos. Mas não podia! Seria egoísmos da minha parte, eu tinha que pensar nele e não em mim.
Dei uma última olhada nele enquanto dormia, tranquilamente, na cama de casal, que no último mês era só nossa.
— Você não imagina como dói ter que partir e sem você. Eu te amo tanto, Heitor...
Fechei os olhos, reprimindo um soluço e as lágrimas. Acariciei seus cabelos, contemplando seu sono profundo, m*l sabia ele o que se passava dentro de mim. Heitor respirou fundo e continuou dormindo.
— Prometo que um dia voltarei, meu amor, — continuei — lutarei para ficarmos juntos e nesse dia, ninguém mais nos separará. Irei me formar, buscar minha independência, para que ninguém diga o que tenho que fazer. Quando eu conseguir o meu objetivo, eu volto para ficar com você para sempre.
Beijei sua testa com devoção e muita dor, que fazia meu coração sangrar. A parte difícil da minha história foi deixar aquele quarto, não queria ir embora, não queria deixa-lo.
Tive que fazer isso sem olhar para trás, porque certamente eu desistiria. Marcos pegou minha bagagem, colocou no porta-malas; dei o último olhar de adeus para a casa, que foi o meu lar nos últimos seis meses.
Entrei no carro em prantos, foi difícil me recompor, só prosseguimos viajem, quando eu estava mais calma. Achava que Marcos tinha esperança que eu desistisse dessa loucura, ele também não queria que eu o deixasse. Mas pelo bem e a felicidade do Heitor, eu continuaria com os meus planos.
Permaneci em silêncio, com as minhas dores, o caminho todo. Soluçava baixinho e relembrava os momentos que tive com ele, consumindo-me de saudades. O meu sofrimento aumentava a medida em que o carro se distanciava da casa.
Marcos me deixou algumas quadras antes da residência dos meus pais, não queria que me vissem chegando em um carro desconhecido, para que não e rastreassem os meus passos e descobrissem o que eu tinha passado nos últimos meses.
Despedi-me de Marcos na esperança que nos reencontrasse no futuro e eu pudesse rever as minhas decisões. Andei em direção a mansão da qual eu nasci e fui criada, decidida a perseguir os meus objetivos e não deixar nenhum obstáculo interferir nessa conquista, eu viveria uma realidade que não seria mais a minha.