36" Mundo pequeno "

1390 Words
Águia Depois da reunião, decidi passar no Vidigal. Faz tempo que não vou lá, e sou padrinho do Noah e da Mia, então preciso ficar por perto. Além disso, estou morrendo de saudades da Sophia, e sei que ela também sente minha falta. O caminho até lá foi tranquilo, apesar do trânsito habitual do Rio de Janeiro. Assim que cheguei na entrada do Vidigal, abaixei o vidro do carro, deixando o ar fresco da noite invadir o interior do veículo. Os caras que estavam na entrada, conhecidos meus de longa data, apenas acenaram com a cabeça em sinal de reconhecimento e permissão para minha entrada. A rua estreita e sinuosa do morro estava mais movimentada do que o normal, com pessoas indo e vindo, criando um cenário de vida pulsante mesmo àquela hora da noite. Dirigi devagar, subindo até a boca principal. As luzes amareladas dos postes de iluminação lançavam sombras compridas pelas paredes grafitadas, dando um toque artístico ao local. Estacionei o carro do outro lado da rua. Ao sair do carro, senti a brisa suave da noite acariciar meu rosto. O som distante de uma batida de funk misturava-se ao murmúrio das conversas e risadas vindas das casas próximas. Tinha uns caras na porta da boca, fumando e jogando conversa fora. Eles me viram e, com um aceno de cabeça, me cumprimentaram. Hg _ Quem é vivo sempre aparece! _ um deles falou, vindo na minha direção. _ E aí, irmão! _ Fez toque comigo. Águia _ E aí, meu parceiro, como você tá, Hg? Hg _ Tô de boa, pô. Que milagre é esse você por aqui? Águia _ Fazer uma visita pros meus afilhados, né. Hg _ Você sumiu, tá de coleira? _ perguntou rindo, e eu neguei rindo também. Águia _ Tô nada, essa vida eu não largo nunca. Enquanto conversávamos, vi Pesadelo saindo da boca com um celular na mão, todo sorridente. Fui chegando perto dele. Águia _ Se for foto de mulher pelada, a Priscilla te mata! _ brinquei, e ele me olhou surpreso. Pesadelo _ Olha só quem deu as caras! _ Ele me abraçou. Águia _ Vim ver os gêmeos e a Sophia. Comprei uns brinquedos pra eles, vim entregar. Pesadelo _ Bora lá, pô. Ela vai amar ver você. Fui até meu carro e seguimos para a casa do Pesadelo. Ao chegarmos, ele já foi entrando e gritando pelas crianças. Alguns segundos depois, vi Sophia descendo as escadas. Assim que me viu, veio pulando no meu colo. Sophia _ Tio Águia! _ falou toda animada. Águia _ Oi, princesinha. Titio veio te ver! Sophia _ Você abandonou a Sôso aqui, tô brava com você! _ fez birra. Águia _ Me desculpa, Sôso. O titio tinha muito trabalho, mas como pedido de desculpas trouxe um presente pra você! _ Ela abriu um sorrisão. _ Tá lá no carro, vamos pegar. Fui com ela até meu carro, peguei os presentes e entramos novamente na casa. Pesadelo e Priscilla estavam descendo as escadas com os gêmeos. Águia _ E aí, Priscilla, tudo bem? _ Cumprimentei-a. Priscilla _ Estou ótima, Águia. Que bom te ver! _ Olhei para Noah que estava em seu colo. Águia _ E aí, garotão, ele tá grandão já! _ falei olhando para ele, que estava rindo. Priscilla _ Pegue ele um pouquinho! _ Priscilla pediu. Peguei Noah do colo dela, e ele começou a brincar com as correntes no meu pescoço. Pesadelo _ Alguém está com ciúmes! _ observou. Olhei para Sophia, que estava com uma carinha de brava. Me sentei ao lado dela, junto com Noah. Águia _ Seu irmãozinho tá grandão, né, Sôso? Logo ele vai ficar grande igual você! _ Ela me olhou sorrindo. Sophia _ Tá vendo, papai? O tio falou que eu sou grande! Pesadelo _ Você ainda é um bebê, Sophia. _ respondeu. Águia _ Pesadelo, pega o Noah, vou pegar a Mia um pouquinho. Pesadelo _ Coloca ele no tapete aí, ele já sabe engatinhar. Coloquei Noah no chão e fui até Mia, que estava no carrinho brincando. Peguei-a no colo. Ela me olhou estranho e depois começou a rir. Sophia _ Tio, eu posso abrir o meu presente? _ Me olhou com aqueles olhos igual do gato de botas. Águia _ Pode, princesa, abre aí e me fala se gostou. Ela abriu o presente e quando viu o que era, abriu um sorrisão e veio me abraçar com cuidado para não machucar Mia. Comprei uma daquelas bonecas que parecem bebês de verdade, reborn, acho que é o nome. Sophia _ Eu queria muito uma dessa, obrigada, Tio Águia. Águia_ Você gostou, princesinha? _ Ela concordou, abrindo a caixa. Mia começou a chorar no meu colo, e Priscilla a pegou, indo dar leite. Pesadelo sentou ao meu lado, olhando para Noah, que brincava com o brinquedo que comprei, uma mesa didática. Pesadelo _ E aí, meu parceiro, como vão as coisas? _ Pesadelo me olhou. Águia _ Correria como sempre, vários bagulhos pra resolver, uma dor de cabeça. _ passei a mão no cabelo. Pesadelo _ É normal, parceiro. Talibã esteve aqui esses dias, me falou que tú tá xonadão em um mina aí! _ falou rindo. Águia _ Talibã tá viajando, não tem mulher nenhuma. _ menti. Pesadelo _ Tem certeza? Pelo jeito que ele tava falando não parecia mentira, não. Águia _ Talibã é um fofoqueiro, meu Deus. _ Passei a mão no rosto. Pesadelo _ Então tem alguém? Águia _ Tem, pô, mas é complicado demais. Contei para ele tudo o que aconteceu e que estava acontecendo entre mim e Maria Luiza. Pesadelo _ Eu não tô acreditando até agora que o Lobo é pai dessa Maria Luiza, a única que eu conheci foi a Isabella, pô. Águia _ Pra você ver que mundo pequeno. Sabe a mulher que cuidou de mim depois que minha mãe morreu? _ olhei para ele Pesadelo _ Sei, pô, a Mariana, né? _ concordei. Águia _ Ela é mãe da Maria Luiza. Pesadelo _ Tá de caô, então aquela menininha que você vivia brincando quando era criança é ela? Águia _ Que menininha? _ Olhei para ele confuso. Pesadelo _ Você não lembra dela? Eu não lembro o nome, mas vocês dois viviam juntos, pô, e você morria de ciúmes dela comigo! _ começou a rir. _ Que mundo realmente pequeno. Águia _ Não lembro disso. Priscilla entrou na sala, limpando as mãos no pano de prato. Priscilla _ Vai ficar pra jantar, Águia? Águia _ Ah, não, muito obrigado, mas não. Tenho que resolver umas coisas agora. Pesadelo _ Uma hora dessas? Resolve depois, pô, fica aí. Águia _ Outro dia eu fico, hoje não dá mesmo. Cadê a Sophia? _ falei olhando para os lados a procura da garotinha que parece a Boo dos monstros S.A. Pesadelo gritou por ela, e ela veio correndo com a boneca na mão. Sophia _ Que foi, papai? _ falou enquanto penteava o cabelo da boneca. Águia _ Princesinha, o tio já vai embora. Sophia _ Mas já, titio? Fica aqui! _ me olhou tristinha Águia _ Outro dia o tio volta, tá bom? Sophia _ Não abandona a Sôso de novo, vem me ver todo dia, tá bom?_ me abraçou. Senti meu coração aquecer. Adoro crianças, e amo tanto a Sophia e os gêmeos. Pesadelo _ No próximo dia o titio Águia vai trazer uma titia pra você, filha. _ olhei para ele que estava rindo. Sophia _ O titio tá namorando?_ me olhou com um sorrisão. Águia _ Ainda não, Sôso. Tô indo nessa. Fui até os gêmeos, dei um beijo nos dois e depois fiz toque com Pesadelo e Priscilla. Fui até meu carro, desci o morro, e no meio do caminho vi Gb e Lc, cumprimentei os dois e segui para casa. Estava subindo o morro, passei pela rua de Maria Luiza. Vi j**a na porta da casa dela, e segundos depois ela saiu. Os dois se abraçaram, senti uma raiva crescer dentro de mim. Não parei o carro, continuei subindo o morro até minha casa, cheio de ódio. Cheguei jogando minhas coisas em cima da mesa, subi para o quarto para tomar um banho. Durante o banho, me lembrei das coisas que Pesadelo me falou, da tal menina que eu brincava quando era pequeno. Não me lembro de nada disso.
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