O céu ainda estava envolto em tons escuros da noite quando Bruno abriu a porta da loja de materiais esportivos, Nilton's Bike. Era um novo dia, mas para Bruno, parecia carregar o peso das escolhas que havia feito. Ele queria se perder em seu trabalho, dedicar-se a cada tarefa que precisava ser realizada, uma maneira de encontrar um foco e um propósito em meio às confusas emoções que o assolavam.
Ele começou a limpar a loja, organizando prateleiras, verificando estoques e garantindo que tudo estivesse perfeito para mais um dia de negócios. A ocupação lhe dava uma sensação de normalidade, uma sensação de controle sobre algo em sua vida que ele sentia ter perdido.
Quase duas horas depois, seus amigos e colegas de trabalho, Gabriel, Lucas e Jonathan, chegaram à loja. Eles observaram Bruno com olhares que denotavam preocupação e curiosidade. Era evidente que alguma coisa estava acontecendo, algo que não haviam sido informados.
Lucas foi o primeiro a se aproximar, cumprimentando Bruno com um aceno. "Ei, Bruno, está tudo bem?"
Bruno desviou o olhar do computador e forçou um sorriso. "Sim, está tudo bem."
Jonathan, o próximo a falar, olhou para a atenção meticulosa que Bruno estava dando às suas tarefas. "Caramba, você está bem concentrado hoje."
Bruno respondeu sem olhar para eles, sua voz parecendo um tanto distante. "Só tenho muita coisa para fazer, então estou focado."
Jonathan se aproximou, coçando a nuca em um gesto nervoso. "Como foi em São Paulo? Tudo bem por lá?"
Bruno assentiu, voltando sua atenção para o computador à sua frente. "Sim, foi tudo bem. Eu entreguei os trajes para a Helena."
Gabriel, o amigo mais próximo, não pôde deixar de perceber o estado em que Bruno estava. "Bruno, o que realmente aconteceu em São Paulo?"
Gabriel se juntou ao grupo, lançando um olhar perspicaz a Bruno. "Você conversou com Helena?"
Bruno olhou para seu amigo, sua expressão se tornando mais séria. "Sim, nós conversamos."
Gabriel não se deixou intimidar. "Sobre a profecia da cigana?"
Bruno finalmente olhou para eles, sua expressão refletindo uma mistura de tristeza e determinação. "Foi tudo bem em São Paulo. Entreguei os trajes para Helena e... resolvemos algumas coisas."
Jonathan inclinou a cabeça, sua curiosidade aumentando. "Você não contou para Helena da profecia, não é? Você não contou para ela que terminou com ela por conta da profecia, não é?"
Bruno respirou fundo e decidiu abordar a questão de uma vez por todas. "Sim, eu falei com Helena, mas não sobre a profecia. E para deixar bem claro, não foi por causa daquela profecia i****a da cigana que eu terminei com ela."
Gabriel arqueou uma sobrancelha. "Então, por que você terminou?"
Bruno olhou para seus amigos e suspirou. "Eu e Helena... Nós simplesmente não tínhamos um futuro juntos. Na verdade, quando cheguei lá, Helena estava sendo pedida em casamento pelo Leandro, o ex-noivo dela. Parece que ela também acreditava que não havia um futuro para nós."
Os amigos ficaram em silêncio por um momento, absorvendo a informação. Então, Lucas falou com cuidado. "Bruno, você tem certeza de que está tomando a decisão certa?"
Bruno olhou nos olhos de seus amigos e respondeu com convicção. "Sim, tenho certeza. Eu gosto dela, mas nós não somos bons para o outro. Não é sobre aquela profecia ou qualquer outra coisa. É sobre nós dois."
Os amigos trocaram olhares, percebendo a complexidade da situação que seu amigo enfrentava. Eles respeitavam a decisão de Bruno, mas também viam a tristeza que ele estava carregando.
"Se você precisar conversar, estamos aqui, cara", Lucas disse com um sorriso solidário.
Bruno assentiu, agradecendo silenciosamente pelo apoio. Enquanto seus amigos começavam a se ocupar com suas próprias tarefas na loja, Bruno permaneceu em seu canto, uma aura de melancolia pairando ao seu redor. Ele sabia que sua escolha não havia sido fácil, mas, por enquanto, acreditava que era a melhor decisão para todos os envolvidos.
***
Uma semana havia se passado desde o momento em que os destinos de Bruno e Helena tomaram caminhos diferentes. Em Paraty, Bruno mergulhou de cabeça em seu cotidiano, focando toda a sua energia na loja de materiais esportivos e nas atividades que amava. No entanto, apesar de sua presença física, sua mente vagava, distante e perdida em pensamentos que se recusavam a desaparecer. Seus amigos e familiares notavam a sombra em seus olhos, o sorriso que não era tão brilhante quanto antes.
Enquanto isso, em São Paulo, Helena estava imersa na preparação frenética para seu casamento com Leandro. Ela e sua mãe, Regina, estavam envolvidas em todos os detalhes, correndo de um lado para o outro, agilizando decorações, escolhendo bolos e ajustando os últimos detalhes. Helena ia de um lugar para outro, seguindo o fluxo da conversa e concordando com as decisões, mas sua mente estava longe, como se ela estivesse assistindo a tudo de longe.
No meio da agitação, Helena se encontrou diante do espelho, examinando a imagem refletida de si mesma. Ela usava um dos vestidos de noiva, um símbolo do compromisso que estava prestes a assumir. Seu irmão, Marcelo, se aproximou, interrompendo seus pensamentos.
"Você está linda, Helena", Marcelo elogiou com um sorriso sincero.
Helena sorriu em resposta, mas o brilho em seus olhos não era o mesmo de antes.
"Mas é para o cara errado", Marcelo continuou, sua voz suave. "Leandro não é o homem que vai te fazer feliz."
Os olhos de Helena se fixaram nos olhos preocupados de seu irmão. "Marcelo, Leandro quer me fazer feliz. Ele quer construir um futuro juntos."
Marcelo suspirou, a preocupação evidente em sua expressão. "Helena, querer fazer alguém feliz e realmente fazer essa pessoa feliz são coisas bem diferentes. Você sabe disso."
Helena o encarou, suas palavras penetrando em sua consciência. Ela queria acreditar que estava fazendo a escolha certa, que Leandro era o homem que a faria feliz, mas havia uma dúvida persistente que não conseguia ignorar.
"Eu estou feliz, Marcelo", Helena respondeu com um sorriso forçado. "Eu estou prestes a me casar com um homem que me ama e quer me dar um futuro incrível."
Marcelo a observou por um momento, um olhar de compreensão em seus olhos. "Helena, você já soube mentir melhor do que isso."
As palavras de Marcelo ecoaram no ar, deixando Helena em silêncio. Ela sabia que ele estava certo, que estava lutando contra seus próprios sentimentos e dúvidas. Enquanto a mãe deles voltava com mais taças de champanhe e continuava conversando com a gerente da loja, Helena e Marcelo compartilharam um olhar significativo. As palavras não precisavam ser ditas, mas a conexão entre irmãos era inegável.