Capitulo 4

2622 Words
O pedido de Bruno faz com que Helena feche seus olhos, se permitindo voltar ao momento que a levou até ali. — Abra os olhos, Lena. - Pede a mãe de Helena fazendo a filha abrir os olhos em frente ao espelho. Regina suspira ao ver a filha vestida lindamente naquele vestido branco estilo princesa repleto de rendas do jeito que a mãe da noiva havia imaginado. Helena poderia até dizer estar surpresa, mas mentiria, pois, conhecendo sua mãe, sabia que o vestido não sairia menos que perfeito. Aliás, perfeito era o lema de Helena que desde pequena, tinha certeza de como seria sua vida. Ou melhor, a vida imposta por Regina para Helena desde a noite em que Augusto, pai da jovem, pôs fim no casamento com Regina, sua mãe, na frente dos filhos. Marcelo era mais novo e pouco entendia, mas a menina entendia muito bem a discussão dos pais que em um determinado ponto culminou no diálogo que mudou para sempre a vida de sua família: — Então diga, Augusto, o que você quer de mim? — O que eu quero é uma esposa abnegada, submissa e que me trate como o homem que eu sou! Eu sou o chefe dessa família e não você! —Engraçado, achei que para ser chefe de alguma coisa precisava trabalhar e ganhar dinheiro! E no caso, você não faz nenhum dos dois! Sou eu que me desdobro para essa família ter o que comer! —Sim, pois até isso, Regina, você tomou para si! Chega, estou cansado de ser o motivo de chacota por parte dos meus amigos. Eu preciso de uma esposa que me escute, que siga o que eu mando e não me questione... E você não é capaz disso. Então chega, estou indo embora. E foi assim que o pai de Helena saiu de cena e deu lugar a mãe da criança fazendo de tudo para transformar a filha na mulher idealizada por Augusto. Primeiro, Helena deveria focar nos estudos,pois assim conseguiria ingressar na faculdade de Direito, mas não deveria exercer, pois seria apenas algo para colocar ela no círculo certo para conhecer seu marido a quem dedicaria sua vida sendo dona de casa. Algo que infelizmente sua mãe não pode fazer, pois quando o pai de Helena foi embora, a última coisa que Regina conseguiu fazer foi cuidar de seus filhos em casa. Helena viu todo o sofrimento de sua mãe e prometeu a si mesma que não passaria por isso. Não mesmo, ela apenas tinha que seguir o roteiro elaborado por Regina. E assim o fez, no segundo ano de faculdade conheceu Leandro, herdeiro de uma rede de hotéis que fazia administração. Desde que se viram não se desgrudaram mais. Em poucos meses ela conheceu os pais do jovem que a consideraram uma jovem adorável e digna de um compromisso sério que veio logo em seguida, a pedido de Helena convencida por Regina, no Dia dos Namorados para ser algo marcante. O noivado também não foi muito diferente, foi na data do primeiro beijo deles com direito a discurso do noivo redigido por Helena através da influência da mãe. Aliás, tudo foi muito bem orquestrado por Regina. Toda a organização do casamento teve dedo de Regina d para agonia da equipe de cerimonialista que tinha que lidar com o cronograma e as infinitas listas enviadas por e-mail. A propósito, o casamento foi marcado justamente na data do aniversário de trinta anos de casamento dos pais de Leandro. A lista de convidado também foi elaborada milimetricamente com as pessoas certas, incluindo os chefes de Lena, que segundo a mãe da noiva, ao ver a felicidade dela facilitariam sua saída da empresa sem que a própria precisasse pedir demissão. Faz sentido? Talvez para os meros mortais não, mas para Regina fazia todo sentido. A lua de mel ficou a cargo de Helena, mas com inúmeras rcomendações de Regina que deixou bem claro que deveria ser do agrado de Leandro e assim foi. eandro sempre sonhou em fazer uma viagem para Parati e praticar seu esporte favorito, o ciclismo, além de trilhas, mergulho, surfar e outras atividades esportivas. Aliás, Parati foi escolhida para satisfazer Leandro de conhecer a cidade litorânea carioca. Sim, Helena tinha plena consciência que sua lua de mel não parecia nada romântica e não tinha muito a sua personalidade, até porque toda vez em que ela contava do roteiro preparado as pessoas ficavam questionando: "Lua de mel é para o casal, o que planejaram para os dois?" "E quanto a parte romântica?" " O que você quer, Helena?" "E quanto a você, o que você quer fazer?" A única coisa que Helena fazia era sorrir e dizer que para ela os planos estavam perfeitos e que o importante era que o Leandro ficasse feliz, pois a felicidade dele era a sua também. — Estou entrando. A porta do quarto se abre , permitindo que Marcelo, seu irmão entrasse. Ele a encara por alguns instantes admirado com a beleza nupcial de sua irmã que permanece analisando cada detalhe do vestido em busca de qualquer defeito. — Uau, você está linda. - Elogia Marcelo sendo ignorado pela irmã. Ele começa a agitar os braços na direção da irmã enquanto diz: — Lena, você está linda... Ei, Lena! Terra chamando Lena!! — O quê? - Pergunta Lena, irritada com o irmão. — Eu tô bem? - Pergunta o irmão mostrando seu smoking preto para a irmã que faz uma careta. — O que foi? — Sua gravata está torta. - Fala a irmã se aproximando de Marcelo e praticamente o enforcando com a gravata, em seguida ela ajeita a camisa , o cinto e arruma a lapela. — Agora, sim, menos pior. — E com vocês, Lena perfeita. - Zomba Marcelo recebendo um olhar fuzilante da irmã. — Coitado do Leandro que vai ter que te aturar para o resto da vida. — Marcelo, deixa sua irmã em paz. - Pede Regina, séria. — Bom, acho que já podemos ir , ou vamos ter de pagar a multa da Sala... e a Sala São Paulo não é nada barata. O casamento foi organizado no patrimônio histórico de São Paulo, sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a orquestra preferida dos pais de Leandro. Tudo bem que assistir a Orquestra não era algo dentro da realidade de Helena, mas Regina a convenceu a frequentar para agradar seus sogros e agora a filha se casará na Sala São Paulo. — Marcelo. - Chama Helena observando a mãe arrumar o buquê de rosas vermelhas que simbolizavam a primeira rosa dada por Leandro para Helena. O irmão encara a jovem com cara de poucos amigos: — Você que teve a ousadia de levar o meu noivo em uma despedida de solteiro, verificou se ele está bem? — A despedida de solteiro que você e a mamãe me obrigaram a encerrar às dez horas da noite , sem qualquer tipo de bebida alcoólica? Se você está falando dessa, não se preocupe, deixei seu noivo em casa são e salvo. Não há com que se preocupar. — Okay, ele precisa estar na Sala São Paulo às 18 horas. - Fala Regina encarando seu caderno de anotações. — Nós temos ainda as fotos dentro de trinta minutos. —Ótimo. - Fala Helena encarando o espelho enquanto faz algumas caretas para ele. —Mas o que é isso? - Pergunta Marcelo, incomodado com as expressões da irmã. — O que está fazendo? —Sua irmã está treinando expressões para o casamento. - Responde Regina no lugar da filha. — Ela não pode sair nas fotos do casamento horrorosa. O serviço do fotógrafo é caríssimo. —Era só contratar um cara mais barato. A propósito, esse casamento poderia ser bem mais barato... - Comenta Marcelo se jogando no sofá. — Maior desperdício de dinheiro isso tudo. E para quê? Para as pessoas comerem, beberem e ainda vão sair falando m*l de tudo! Sei lá, tanta coisa melhor para investir... —Tudo bem, Marcelo. Eu já escutei essa sua ladainha umas mil vezes ! - Reage Lena, irrittada. Ela se vira para o irmão e continua: — Porém, eu quero isso! Eu quero um casamento pomposo e caro! — Você quer, ou a Dona Regina quer? - Provoca Marcelo recebendo um olhar fuzilante de sua mãe. —Marcelo, vai procurar o que fazer. Esse não é o momento para você irritar sua irmã. Ela precisa entrar calma na igreja. - Fala Regina se aproximando do filho e o puxando do sofá. — Então, vá. Veja se está tudo em ordem lá fora. Anda! —Ok, ok... - Fala Marcelo encarando sua irmã. — Maninha, se você quiser sair desse c*******o , pisque duas vezes. —Sai daqui! - Grita Helena para o irmão que caminha rindo em direção a porta. Ela volta a encarar o espelho, treinando suas expressões enquanto sua mãe continua repassando o cronograma do casamento. As duas estão concentradas quando a porta se abre novamente: — O que você quer, Marcelo? - Fala Helena se afastando do espelho. Quando ela olha em direção a porta encontra a figura de seu noivo usando calça jeans de camisa polo, traje bem diferente do que foi escolhido para o casamento. —Leandro, o que faz aqui? —Lena, precisamos conversar. - Responde Leandro, sério. — Leandro, meu bem? O que é isso? - Pergunta Regina, surpresa, se aproximando. — É inapropriado o noivo ver a noiva antes do casamento. — Senhora Regina, eu preciso falar com a Lena. — Sobre o que você tem a conversar com a minha filha pouco antes do casamento? - Pergunta Regina controlando sua irritação. — Que assunto seria tão importante que não pode esperar até depois da cerimônia? —Se eu não conseguir falar com a Lena agora, provavelmente não haverá casamento. - Explica Leandro, sério. —Tudo bem, fale o que tem a dizer. - Pede Regina abrindo seu caderninho. —Eu quero falar a sós com a minha noiva. - Diz Leandro, irritado. —Será que posso? — Leandro, querido... Não há nada que precise falar com a minha filha que eu não possa estar presente. — Justamente esse é o problema: você. - Fala Leandro encarando a sogra e depois sua noiva: — Helena, será que você pode pedir para sua mãe se retirar para conversarmos , ou até isso terei que fazer por você? — Mamãe, por favor, nos deixe à sós. - Pede Helena para mãe que a encara, surpresa. Regina podia jurar que Helena a defenderia daquela fala ríspida de Leandro. A filha encara Regina pedindo mais uma vez: — Por favor. — Está bem. - Concorda Regina encarando o relógio —Porém, seja breve, pois temos apenas vinte e cinco minutos antes de começarmos com as fotos. Regina caminha vagarosamente pelo espaço pegando sua bolsa , ao mesmo tempo em que torcia para que Leandro começasse o assunto em sua presença, algo que não aconteceu. Então ela sai deixando o casal sozinhos. Helena encara o noivo, séria , enquanto diz: — Não precisa tratar a minha mãe daquela forma. — Sério? Eu queria você a sós , ela querendo se meter e eu saio como errado? Mais uma vez eu sou o errado? - Questiona Leandro, irritado. — Eu estou cansado. —Cansado? - Questiona Helena sem entender. — Cansado do quê? Da festa de ontem ? Eu falei para o Marcelo não fazer essa festa de despedida... Eu sabia que não ia dar certo... —Não, não é isso.Eu estou cansado de tudo. Estou cansado desse casamento, da sua mãe... Estou cansado de você! - Solta Leandro fazendo os olhos de sua noiva arregalar em sua direção. — Estou cansado de nós! — Leandro, você deve estar nervoso. - Fala Helena ignorando a fala de seu noivo e se aproximando dele. Ela segura o rosto de seu noivo por entre as mãos o forçando encará-la. Havia treinado isso com sua mãe, o momento em que o noivo poderia ficar tão nervoso que poderia cogitar a desistir do casamento. E isso, segundo Regina, era inadimissível. — Acontece todo noivo às vésperas do casamento, não se preocupe, vai dar tudo certo. Você só precisa voltar para casa , se arrumar , me esperar no altar que você vai ver que é como deve ser. —Lena, por que você quer se casar comigo? - Pergunta Leandro, sério. — Seja honesta: por qual motivo você está se casando comigo? —Porque é o certo, tolinho. - Responde Helena sorrindo diante de sua resposta que era óbiva. — Só por isso? - Questiona Leandro, insatisfeito com a resposta. — Como assim, "só por isso"? Justamente por isso que estou me casando com você. Porque estamos juntos há muito tempo e é natural que a gente se case. Minha mãe ficou insistindo, lembra? Quem namora muito não casa, foram as palavras dela. E a sua mãe também queria. - Responde Helena que fica surpresa ao ver Leandro afastar suas mãos de seu rosto. —O que foi? Não era essa resposta que você queria? — E você? Você desejava casar comigo? —Claro, Leandro. - Responde Helena ajeitando os fios castanhos que pareciam querer se soltar no penteado. — Por que a pergunta? — Porque eu não queria... E eu não quero me casar agora. - Revela Leandro, deixando sua noiva em choque. — O quê? Como assim? Por quê? - Pergunta Helena procurando o sofá para se sentar. — Por quê? — Helena, eu sempre disse que desejava me casar por amor. - Começa Leandro encarando sua noiva. — Por isso eu não posso casar com você... Porque eu não amo você. E depois de ontem, da conversa que tive com seu irmão, você também não me ama... — O que teve ontem? O que meu irmão disse a você? - Questiona Helena, irritada. — Nada, seu irmão não disse nada que eu já não soubesse. Helena, você não quer casar comigo. —Quero sim. - Reage Helena já em prantos. —Não, você não quer. - n**a Leandro — Por favor, Leandro, eu já disse que eu quero. —Helena, o que você quer é cumprir o plano maluco que a sua mãe criou para sua vida. - Fala Leandro. — Aliás, tudo. Nosso namoro, nosso noivado, nosso casamento... Tudo! Tudo está sendo seguindo conforme esse plano maluco da sua mãe! Helena o que você quer da vida? —Eu quero você! — Depois de nos casarmos, você vai sair do emprego e vai ficar em casa , cuidando dos nossos filhos da casa e de mim. Servindo a mim como se eu fosse o magnânimo. Você nem ao menos me consultou sobre isso para saber se eu também quero. — É isso o que todo homem quer. - Rebate Helena enxugando as lágrimas. — Todo homem... —Não, eu não quero uma mulher assim. - Rebate Leandro. — Está bem, então eu trabalho, sem problemas. - Afirma Helena sorrindo para Leandro. — Sabe, você agindo dessa forma com a sua mãe, só me mostrou o quanto você é superficial. Helena, se pergunte o que você quer da vida? Como você deseja viver? O que você quer? Quem é você? — Okay, okay, eu faço isso. Se é para ter você, eu faço. Agora vai pra casa e se arrume, está bem? Temos pouco tempo até o casamento. —Não, você não está entendendo. Não é para fazer por mim, mas por você. - Explica Leandro tocando no rosto de Helena. —Lena, vá atrás de quem você é. Leandro oferece um beijo na testa de Helena e então se afasta, deixando sua noiva sentada no sofá.
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