CAPITULO 67

1513 Words
A vida de Helena e Bruno estava em constante movimento. Com três filhos, Isabel, Antônio e Emanoel, a casa estava sempre cheia de risos, brincadeiras e desafios. Mas a maior dificuldade que enfrentavam não vinha das crianças, mas sim da doença de Alzheimer que estava afetando cada vez mais Loreta, a mãe de Bruno. Isabel já tinha sete anos e estava crescendo rápido. Ela era uma irmã mais velha amorosa e estava sempre cuidando dos gêmeos, que tinham pouco mais de um ano de diferença entre eles. Helena e Bruno tinham uma parceria sólida quando se tratava de cuidar das crianças, e isso incluía cuidar de Loreta. A rotina da família era agitada. Helena trabalhava em meio período como advogada, enquanto Bruno gerenciava a Nilton's Bike, a loja da família. Nas horas em que não estavam trabalhando, dedicavam-se integralmente às crianças e à casa. No entanto, o maior desafio era lidar com Loreta, que ficava cada vez mais confusa e desorientada. Um dia, enquanto Helena e Bruno estavam na sala com as crianças, Loreta começou a vagar pela casa, murmurando palavras incompreensíveis. Ela estava mais uma vez presa em um momento de desorientação causado pela progressão implacável da doença de Alzheimer. Isabel, que já tinha uma compreensão um pouco melhor da situação, aproximou-se de Loreta com gentileza. "Vovó Loreta, está tudo bem, você está em casa", disse ela suavemente. Loreta olhou para Isabel por um momento, seus olhos perdidos e confusos, antes de finalmente balançar a cabeça e murmurar: "Quero ir embora para a fazenda dos meus pais." Helena e Bruno trocaram olhares preocupados. Era doloroso ver Loreta tão perturbada. Eles sabiam que não podiam proporcionar a ela a realidade que ela buscava, mas podiam tentar acalmá-la e tornar seu ambiente o mais seguro e confortável possível. "Vovó Loreta, lembra-se de nós? Sou a Isabel, sua neta, e aquele é o papai, seu filho", explicou Isabel com paciência. Loreta olhou para eles, mas sua expressão permaneceu vaga e confusa. Parecia que o presente e o passado estavam constantemente se misturando em sua mente, criando um labirinto de lembranças fragmentadas. Bruno se aproximou de Loreta e gentilmente segurou sua mão. "Mãe, estamos aqui para cuidar de você, e você está segura em casa." Loreta olhou para Bruno por um momento, como se algo em suas palavras a tivesse tocado. Ela não conseguia mais articular seus pensamentos, mas, por um breve instante, havia um lampejo de reconhecimento em seus olhos. Helena se aproximou da cena, com Antônio e Emanoel parados ao lado dela. Era uma cena complexa, misturando as necessidades dos filhos com o desafio de cuidar de Loreta. No entanto, Helena e Bruno eram determinados a fazer o que fosse necessário para proporcionar um ambiente amoroso e seguro para todos os membros da família. Os dias continuaram a passar, e a doença de Loreta progredia implacavelmente. Cada vez mais, ela dependia dos cuidados de Helena, Bruno e Nilton. A casa estava adaptada para garantir que Loreta não se machucasse acidentalmente durante seus momentos de confusão. *** O sol do final da tarde lançava raios quentes sobre a pequena cidade, enquanto Helena estendia as roupas no varal do quintal. Era um momento tranquilo, uma pausa na agitação diária, mas esses momentos também eram uma oportunidade para pensar e refletir. A vida havia mudado consideravelmente desde que Isabel, sua filha mais velha, nasceu, e com o tempo, tornou-se uma rotina familiar cuidar de três crianças, incluindo os gêmeos Antônio e Emanoel, bem como de sua sogra, Loreta, que sofria de Alzheimer. O vento suave balançava as roupas enquanto Helena prendia cada peça no varal. Isabel apareceu no quintal, com seu olhar curioso e seus cabelos cacheados brilhando sob a luz do sol. Ela observou por um momento enquanto a mãe terminava de prender uma peça de roupa e depois disse: "Mamãe, a vovó Loreta saiu de casa." A notícia pegou Helena de surpresa, fazendo-a largar as roupas que tinha nas mãos. Sua mente imediatamente se encheu de preocupação, pois sabia que a doença de Alzheimer tornava Loreta propensa a momentos de confusão e desorientação. Helena não tinha dúvidas de que era mais um desses episódios. "O quê?" Helena exclamou, com voz cheia de apreensão. "Onde ela foi, Isabel?" A menina olhou para a mãe, com os olhos grandes cheios de preocupação. "Ela saiu pela porta da frente e começou a andar pela rua." Helena imediatamente abandonou as roupas no varal e correu para dentro de casa. Ela sabia que precisava encontrar Loreta o mais rápido possível antes que algo acontecesse. As histórias sobre pessoas com Alzheimer se perdendo eram frequentes, e ela não queria nem pensar no que poderia acontecer com sua sogra. Helena saiu pela porta da frente e avistou Loreta, que caminhava lentamente pela calçada, murmurando palavras ininteligíveis enquanto olhava para as casas ao redor. Ela não parecia estar ciente de sua localização ou da realidade ao seu redor. "Vovó Loreta!" Helena chamou com urgência, sua voz cheia de preocupação. Loreta se virou para olhar para Helena, e em seus olhos, havia uma mistura de reconhecimento e desconhecimento. Ela estava em seu próprio mundo, um mundo que frequentemente se misturava com fragmentos de memórias do passado. "Onde está indo, vovó Loreta?" Helena perguntou, tentando entender a confusão da mãe de Bruno. Loreta olhou para Helena e murmurou com voz trêmula: "Preciso voltar para a fazenda. Meu pai ficará zangado se eu não voltar logo." As palavras de Loreta atingiram Helena como um soco no estômago. Era evidente que ela estava revivendo uma lembrança de sua juventude, quando vivia na fazenda com sua família. A linha entre o passado e o presente estava mais uma vez borrada para Loreta. Loreta olhou para Helena, com os olhos vidrados, como se não reconhecesse a própria nora. "Eu preciso voltar para a fazenda. Meu pai vai ficar bravo comigo." Helena engoliu em seco, sentindo uma onda de tristeza e desamparo. Ela sabia que Loreta estava presa em uma de suas crises de confusão causadas pelo Alzheimer. Ela tentou acalmar a sogra com uma voz gentil. "Vovó Loreta, você está em casa, em Paraty. Não precisa se preocupar com a fazenda agora. Vamos voltar para casa, está bem?" Loreta olhou para Helena por um momento, e então seus olhos se encheram de lágrimas. "Você acha que ele vai brigar comigo?" Helena sentiu seu coração se partir ao ver a vulnerabilidade em Loreta. Ela sabia que sua sogra estava revivendo lembranças do passado e que não havia maneira de convencê-la completamente do contrário. Em vez disso, ela se aproximou e abraçou Loreta com carinho. "Não, Loreta, ele não vai brigar com você. Está tudo bem agora. Vamos voltar para casa juntas." Enquanto Helena tentava acalmar a mãe de Bruno e convencê-la a voltar para casa, Bruno e Nilton chegaram em casa. Eles notaram imediatamente a ausência de Helena e Loreta e, com preocupação, seguiram na direção em que Isabel apontou. Bruno encontrou sua esposa e sua mãe na calçada, com Isabel ao lado delas. Helena estava segurando Loreta pelo braço, tentando fazê-la entender que estava em casa e segura. "Mãe, o que aconteceu?", perguntou Bruno, preocupado. Helena suspirou, mantendo um olhar gentil em Loreta. "Ela está tendo um desses momentos de confusão de novo. Ela disse que precisa voltar para a fazenda de seus pais." Nilton, o pai de Bruno, olhou com tristeza para a esposa. A doença de Alzheimer havia roubado grande parte da mulher que ele amava, deixando apenas fragmentos de sua personalidade e memórias. Loreta olhou para Bruno, seu próprio filho, e sua expressão parecia ainda mais desorientada. Ela não conseguia mais articular seus pensamentos, e a barreira entre o presente e o passado estava cada vez mais tênue. Bruno se aproximou de Loreta com cuidado e gentileza. Ele segurou a mão dela e disse suavemente: "Mãe, estamos em casa. Você está segura, e nós cuidaremos de você." As palavras de Bruno pareceram penetrar na mente de Loreta por um breve instante. Ela olhou para o filho com reconhecimento, e algo em seus olhos revelou uma conexão com o presente. Loreta olhou para o filho, seus olhos se iluminando por um breve momento de reconhecimento. "Bruno?" ela sussurrou, como se estivesse redescobrindo seu próprio filho. "Sim, mãe, sou eu", respondeu Bruno com ternura. Loreta olhou para Bruno, seus olhos cheios de confusão. "Eu precisava voltar para a fazenda, Bruno. Meu pai vai ficar bravo comigo." Nilton, que estava ao lado de Bruno, colocou a mão no ombro da esposa com gentileza. "Loreta, nós já conversamos sobre isso. Estamos em Paraty agora, lembra-se?" Loreta parecia confusa e incapaz de processar completamente as palavras de Nilton. Ela se agarrou a Bruno, como se ele fosse sua âncora na realidade. Nilton suspirou profundamente e sugeriu: "Vamos levá-la de volta para casa, com todo o cuidado e amor que pudermos oferecer." Helena observou a cena com um nó na garganta. A doença de Alzheimer havia roubado muito de Loreta , era difícil testemunhar a luta dela contra a doença, e todos se esforçavam para encontrar maneiras de mantê-la segura e confortável.
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