cap 01 foi tudo a partir desse dia
MANUELA . . .
Eu: Por favor, tia, não me dá outro
susto desse.- falo olhando ela dormir, dou um beijo na testa dela com os olhos cheios d'água.- Nós vamos Conseguir superar isso, Se Deus quiser.- saí do quarto fechando a porta bem devagar para não acordar ela.
Sentei no sofá passando a mão pelo
meu cabelo e deixando as lágrimas
rolarem. Lembrei da cena que
encontrei quando cheguei em casa,
ela se afogando no próprio vômito.
Dessa vez eu cheguei a tempo e se da
próxima eu não chegar?
Só queria voltar ao tempo em que eu
era pequena e a tia me mimava, fazia
um penteado diferente em mim todo
dia, trabalhava, se cuidava, era um
puta mulherão... Mas depois daquele
dia ela nunca mais foi a mesma.
Lembro como se fosse ontem, eu
estava brincando de panelinha no
chão da cozinha enquanto ela fazia o
almoço até que nossa vizinha na época
veio gritando desesperada pela minha
tia.
D. Vilma: Solange, Solange, corre aqui.-
batia palmas, ela correu e eu fui atrás.
Solange: O que aconteceu?- perguntou
assustada.
Dona Vilma não respondeu apenas
colocou a mão na boca e apontou
para o final da rua. A tia foi até lá me
puxando pela mão, a partir daí tudo
aconteceu em câmera lenta. Ela caiu de
joelhos e abraçou o corpo do meu tio
que estava com os olhos abertos.
Não entendi no começo até que vi
um furo na testa dele de onde saiu o
sangue que formou uma poça em sua
volta. Tia Sol gritava e chamava por
Deus, eu vendo seu desespero comecei
a chorar também. Nossos vizinhos
tentavam puxar a tia de lá mas ela se
agarrava mais ainda ao tio.
D. Vilma: Vem, Manu. Sua titia agora
vai ter que organizar umas coisas,
vamos almoçar, você precisa comer.-
me pegou no colo e levou de volta para
casa.
Só voltei a ver minha tia à noite. Seus
olhos estavam inchados e o cabelo
bagunçado.
Solange: Obrigada, Dona Vilma por
olhar ela.
D. Vilma: Que isso querida, não foi
nada. Olha, Deus sabe o que faz, não
duvide disso. Espero que Ele conforte
teu coração, vai ficar tudo bem.- D.vilma abraçou minha tia e antes de sair me deu um
beijo na bochecha.
Solange: Vem cá Ela .- me chamou pelo
apelido que só ela dizia, fui para seu
colo e ela ficou fazendo cafuné em
mim.- Agora somos só nós duas, minha
menina. Uma pela outra. De novo
nossa família sofre na mão das pessoas
que deveriam nos proteger mas com
certeza o Tio Carlos deve tá com sua
mãe cuidando da gente.- senti ela
fungar e chorar.- Nós vamos superar
mais esse obstáculo Ela, vamos sim.
Bem que eu queria que isso tivesse
acontecido mas a vida não é uma
fábrica de realização de desejos. Ao
contrário do que minha tia falou, ela só
foi afundando cada vez mais.
Primeiro foi o álcool, depois a maconha e agora a cocaína. Tive que começar a me virar s0zinha, nossos amigos se afastaram, afinal, quem gostaria de ter contato com uma
drogada?
Voltar da escola e encontrar a casa
revirada, passar dias sem ter notícias
dela, encontrar seu corpo desfalecido
em algum lugar da casa virou rotina.
Hoje em dia o único dinheiro que entra
aqui em casa é o do meu trabalho,
tenho que me redobrar para ir bem
na escola e trabalhar numa sorveteria
aqui do morro mesmo de noite.
Não tenho tempo de ter uma
adolescência normal mas nem faço
questão, não vejo graça em ir nos
bailes e ficar com vários ou ficar
correndo atrás dos tráficas. Até já namorei, o nome dele era Luiz, ficamos juntos durante um ano, foi com ele que perdi meu bv mas não passamos da fase dos beijos.
Agora só as noites de filme regadas à
besteiras com minha melhor e única
amiga Luana me bastam.A vida não
está sendo fácil mas tenho fé em Deus
que um dia vai melhorar, aos poucos
as coisas entram no eixo. . . .