flores que matam

A música fazia fundo às conversas altas que percorriam todo o salão de festas, a mesa posta, os convidados muito bem arrumados e a decoração elegante, anunciando a comemoração dos 45 anos da grande empresa de fabricação e transporte Andale. O volume da música foi diminuído e o apresentador da noite chamou o fundador da empresa e anfitrião da festa para um discurso, um senhor mais velho, mas muito bem preservado, subiu ao palco e assumiu o microfone, sorridente. _Boa noite, senhores e senhoras, eu gostaria de poder contar toda a história dessa empresa, de contar a minha história, mas essa não é uma história só minha, essa é uma grande conquista que todos aqui presente fizeram parte, seja trabalhando com a gente, investindo ou mesmo nos apoiando na vida particular, como é o caso da minha esposa, Isabela, que, infelizmente, não pôde comparecer esta noite, mas que tem sido minha maior força para chegar até aqui. O homem continuou seu discurso, fazendo todos os agradecimentos necessários, antes de encerrar e a música voltar a aumentar, o evento continuando. Uma vez que a importante figura desceu do palco e cumprimentou alguns de seus conhecidos que estavam por perto, ele se dirigiu a um canto, se aproximando do garçom para pegar uma bebida e encontrando com uma bela mulher morena, que o saudou com um sorriso seguro. _Com licença? Acho que não nos conhecemos, eu não esqueceria de alguém tão ilustre – ele sorriu confiante – veio com alguém especial? _Ah, sim, pode-se dizer que estou acompanhada de alguém muito especial, uma figura bem importante essa noite – a mulher estreitou os olhos, afiando seu sorriso e ele devolveu – foi um discurso realmente bom _Muito obrigado, vejo que o vestido também te serviu muito bem – o sorriso do homem cresceu, enquanto seus olhos vagavam pelo corpo da morena _Sim, com certeza – seu olhar brilhou – podemos conversar mais depois, em um lugar mais calmo, agora... – ela olhou por cima de seu ombro e se aproximou _Parece que estão te chamando – seu tom baixou a um sussurro O homem segurou seu olhar por mais alguns segundos, antes de notar algumas pessoas em uma grande mesa o chamando, e se afastar para falar com seus investidores, os olhos da morena vagaram pelo salão, parando brevemente em uma mulher loira rindo com um homem alto e, quando sua mão o tocou, a morena desviou o olhar, pegando uma bebida do garçom que passava e sorrindo satisfeita para o copo. Do outro lado do salão, uma ruiva conversava em uma mesa com alguns convidados, tomando o último gole de sua bebida, sorriu educada e se levantou _Bem, foi ótimo conversar com todos, mas eu já preciso ir A ruiva se despediu de todos, abraçando as mulheres e cumprimentando os homens. Enquanto se afastava, com seu vestido delicado desenhando seu corpo, sorriu _Tão fácil – deslizou algumas joias em sua bolsa já saturada As luzes chamaram a atenção de todos ao palco, onde o apresentar da noite anunciou a atração convidada, com toda a festa envolvida na apresentação, ninguém notou quando o anfitrião e a mulher morena se afastavam para o cômodo nos fundos do salão de festas. _Então, finalmente podemos nos conhecer melhor – o homem sorriu, enquanto se afastava da porta e puxava a mulher contra si _Sim, hoje você vai me conhecer muito melhor – sorriu e envolveu um braço em volta de seus ombros Ela tomou sua boca em um beijo violento e sua mão livre deslizou por seu peito em um rastro de fogo, seu toque se afastando por apenas um momento antes que o beijo fosse encerrado, ela o encarou com aquele olhar tão intenso e sedento, um sorriso vermelho e venenoso subindo lentamente aos seus lábios, e ele sentiu o frio, o contorno gélido do cano de uma a**a em seu ventre _Muito melhor – ela sussurrou em uma voz rouca e sanguinária O terror congelou suas veias e o homem já não podia reconhecer a mulher diante dele, ela identificou seu olhar _O que foi, querido? Sua voz soou tão doce que um arrepio percorreu a espinha do homem, enquanto ela dava passos mais perto, o obrigando a recuar _Você não queria se divertir? Enquanto sua amável esposa está doente em casa – o tom suave e amoroso retumbava em suas palavras – então vamos nos divertir Mais um passo perto e o homem tropeçou na bagunça do depósito, caindo no chão, seu coração disparado e o olhar nervoso _Já chega, Cris. Não aterrorize o senhor, não queremos ele morto – anunciou uma terceira voz Uma loira surgindo dos fundos do depósito, o homem não podia dizer em que momento ela entrou _Não antes de nos passar a senha – a loira completou, sorrindo _Conseguiu a localização? – a morena questionou, relaxando a postura, embora não deixando de apontar a a**a para o homem assustado no chão _Óbvio, o que há com os homens e seus hormônios mais alto que a sensatez? – a morena não soube se devia perguntar o que aconteceu, então a deixou continuar – Sério, nunca mais estou fazendo o trabalho sujo para alguém A loira reclamou, mas acenou com o papel contendo os dados recolhidos antes _Nenhuma de nós, Babi, esse caso é apenas uma exceção O homem aproveitou a distração das mulheres e se levantou, agarrando um objeto ao acaso para acertar a morena, quando foi agarrada pela camisa brutalmente pela loira e jogado de volta no chão, recebendo um chute irritado _Fique quieto, i****a! Não está vendo que estamos conversando? Sério, o que há com os homens?! – a loira reclamou frustrada – acabe logo com ele, minha paciência já se esgotou lá no salão _Vocês não precisam fazer isso! É dinheiro que vocês querem? - o homem puxou sua carteira apressado – Tudo bem, eu posso pagar, dinheiro não é problema! _Você é tão... - a morena puxou com todo seu desprezo a palavra mais apropriada - Patético _Tudo bem, vamos acabar logo com isso – a loira assumiu As duas o levantaram do chão e o jogaram de costas a uma parede, a loira pegando a a**a, enquanto a morena tirava uma faca tática da bolsa _Bem melhor – ela sorriu – eu prefiro facas, sabe, fazem mais bagunça – seu sorriso cresceu, enquanto roçava a faca no pescoço do senhor, que se pressionou contra a parede em uma tentativa de recuar _Agora, podemos fazer isso rápido ou devagar – a morena continuou – você só precisa nos dizer os dados da conta _Que conta? – o homem tentou, tremendo e o sorriso da mulher pareceu aumentar _Resposta errada – ela fincou a faca em seu braço O homem gritou de dor segurando seu braço e só não caiu no chão, porque a morena o segurou pela gola da camisa, o forçando mais contra a parede _Vamos tentar de novo – ela avisou, recuperando a faca em um movimento brusco, o sangue salpicando em sua roupa – Quais os dados da conta no paraíso fiscal? O homem desviou o olhar para a loira que parecia entediada, embora ainda apontasse a a**a para ele, mas ela só deu de ombros ao seu olhar _Tudo bem, tudo bem! Eu te dou os dados, só me deixem vivo, tudo bem? – cedeu e a morena o soltou, satisfeita _Veremos – ela falou baixo A loira se aproximou, entregando ao homem um papel e uma caneta, mas antes que ele pudesse escrever, ela segurou seu pulso e o encarou firme _Sem gracinhas, se nos der dados falsos, você pode não estar mais vivo para pagar, mas sabemos onde encontrar sua esposa e filha Todo seu fôlego e qualquer coragem que ainda o restasse se esvaiu, enquanto ele assentia e, com apenas um momento de hesitação, escrevia os dados tão desejados no papel, entregando a loira que sorriu _Bom, você não estaria nessa situação se não tivesse se envolvido com pessoas erradas – a loira comentou e ele a olhou nervoso _Como eu podia adivinhar que ela- – ele gesticulou para a morena, que revirou os olhos, enquanto a loira o interrompia _Não ela, só estamos retribuindo um favor. O nome Emanuel Santana te diz algo? _Santana? Mas ele está preso! Eu mesmo paguei para que o prendessem e ele- – o homem se interrompeu ao ver o olhar da loira para ele _Pelo menos a memória continua intacta, na sua idade é algo a se comemorar – a loira suspirou e deu de ombros, se afastando – acabe logo com isso, Cris, para que possamos ir embora _Não! Esse salão está cheio de gente e câmeras, se me matarem aqui, todos saberão que foram vocês! – ele tentou, ao que a morena sorriu, enquanto a loira ria _Essa é a intenção – a morena respondeu – qual você acha que é a maneira mais rápida de avisar a um preso que uma dívida foi paga? _Deixe que a própria polícia faça o trabalho – a loira respondeu e apontou a a**a para ele – Não se preocupe, tem silenciador, não vai atrapalhar sua festa O sorriso da loira foi a última visão do homem, enquanto o sangue descia por seu rosto, a vida deixando seu corpo e o som dos aplausos do lado de fora explodiam em seus ouvidos, todos os seus conhecidos juntos celebrando e aplaudindo o fim do show no palco, aplaudindo a retratação do início de sua história, sua própria história chegando ao fim naquela mesma noite, no depósito sujo de um salão de festas cheio. Retornando ao salão, as duas mulheres encontraram uma ruiva na entrada do corredor, as três saíram tranquilamente pela porta da frente, aproveitando para pegar uma lembrancinha com as cerimonialistas do evento. _Então? – a loira se dirigiu para a ruiva, enquanto entravam no carro _Acho que foi uma noite boa – a ruiva sorriu, puxando um trabalhado colar de ouro da bolsa – Como foi com o dono da empresa? _Não se preocupe, logo vamos ouvir nos noticiários – a morena respondeu, ligando o carro "Na noite de ontem, dia 16 de agosto, o empresário José Carlos de Andrade, dono das marcas Andale e JC Emporium, foi encontrado morto nos fundos do salão de festas onde ocorria a comemoração dos 45 anos de sua primeira firma. As suspeitas de seu assassinato são Cristina Fontes, Bárbara Lima e Megan Carvalho, mais conhecidas por CBM, as criminosas estão na lista das maiores ameaças das últimas cinco décadas desde 2017, quando foram responsáveis pela chacina no prédio residencial da comunidade de marazul..." – A jornalista informava Os olhos claros cobertos pelos óculos escuros se desviaram da tela e a loira se afastou, terminando de beber seu café e jogando em uma lixeira próxima, quando ouviu o anúncio dos altos falantes: "chamada para o voo 103 com destino a São Paulo" A mulher respirou fundo, tocando o cabelo para garantir que a peruca castanha estava firme. Enquanto passava pelo corredor, trocou um olhar com outra mulher, antes de seguir verificando os assentos até encontrar o seu, sentando ao lado de um homem calado e puxando seu celular: "Viram os noticiários?" – mandou O homem ao seu lado a cumprimentou e ela sorriu simpática _Espero que seja um voo tranquilo, não sou de viajar então sempre fico nervoso _Não se preocupe, será – ela o acalmou e sentiu seu celular vibrar "Sim, o recado está dado." – Cris respondeu simples e a loira mordeu o lábio nervosa, antes de uma nova vibração chegar "Acho que a Babi está falando da outra parte" – Megan respondeu e a loira respirou fundo, enquanto digitava "Sim, eles voltaram a falar do que aconteceu em 2017" A resposta de Megan veio rápido, em um apressado: "A gente sabe o que aconteceu, é o que importa, já estamos resolvendo isso" Bárbara esperou a resposta de Cristina ansiosamente e, com a demora, estava quase desistindo quando chegou "Não pense tanto nisso, Babi, se tudo correr bem, em menos de dois meses sairemos de São Paulo com toda essa história resolvida" A loira estava prestes a discordar, é claro que ela não vai parar de pensar nisso, ela não poderia deixar o caso de 'marazul' para trás enquanto não terminassem o que começaram, ainda haviam dois nomes na lista. Outra vibração e a loira desviou seus olhos, novamente, ao celular "Agora calem a boca e não atrapalhem minha música" – Cristina mandou Bárbara revirou os olhos para a mensagem, mandando apenas uma figurinha e guardando o celular. No fundo do avião uma morena fechou a janela e colocou os fones de ouvido, seria um longo voo.