ELLA.
Nada além do que vi ser o normal por aqui, aconteceu.
O Salvatore desceu, para a minha repulsa, mas a raiva atroz que estou a sentir ajudou-me a agir conforme a minha mente ordena que eu aja.
O Alexander está furioso, ou provavelmente intrigado com a forma que eu estou a agir, mas sinceramente, eu não estou nem aí.
Ele não pode chamar-me atenção aqui e com certeza é isso que está o fazendo querer tirar a minha língua como os olhos azuis dele indicam.
Eu não sei se eu realmente estou melhor, ou se é o cortisol produzido pela minha raiva, que aumentou o meu fluxo sanguíneo e deixou-me desse jeito.
Mas oh, eu sinto como se depois dessa madrugada, o vão que entorpecia a minha mente desde a madrugada em que ele e as dezenas dos seus cães de guarda invadiram o lugar onde era o meu Porto Seguro, saiu, e me fez voltar aos meus sensos.
E isso é perigoso, e com certeza não é apenas para mim.
- Nos encontraremos no restaurante, querida. - a Kassandra diz, prestes a ir com a senhora Ginevra para seja lá o que ela faz…
Seleção de mulheres para tráfico…
Ou fingir caridade para a mídia…
- Tudo bem. - eu falo, me levantando também, já que o Salvatore já subiu novamente e eu quero ir investigar.
Ela sai, e o Alexander se levanta do meu lado, igual o Leonardo faz do meu lado oposto e o Stefano na minha frente.
- Para onde vai? - o Alexander questiona baixando-se relativamente, falando próximo ao meu ouvido e eu me afasto estrategicamente empurrando a cadeira.
- Eu vou subir, estou cansada. - eu falo levantando o meu olhar para ele, que penetra o meu, e depois eu levo o meu olhar para a Chiben, que se levanta com a ajuda do Stefano.
- Vai agora tirar o gesso, Chiben? - eu questiono-a e ela assente.
- Vou. - ela diz rápida e curta e eu assinto.
- Espero que corra tudo bem. - eu falo e ela olha-me estranho.
E eu sinceramente estou me divertindo com isso.
- Obrigada. - ela diz, me estranhando.
- Se estava tão cansada, não devia ter insistido tanto para sair, o Alexander avisou para você. - a Clarisse diz e eu jogo o meu cabelo para o lado olhando para o seu rosto.
- Eu quero apenas descansar, Clarisse. - eu pontuo e ela me observa atenta. - Mais tarde eu irei me encontrar com a minha futura cunhada e a minha sogra, eu penso que até lá eu posso descansar um pouco. - eu digo-lhe e antes mesmo dela revidar eu caminho para fora dali mandando tchau, para o Leonardo.
- Bom trabalho, cunhado. - eu falo e ele abre um sorriso.
- Até logo, Ella. - ele diz e eu sorrio sumindo dali sentindo o olhar do Alexander em mim.
Eu não pretendo me dirigir a ele tão cedo.
Eu subo às escadas e vou apressada para o quarto, literalmente para tomar outro banho.
A quantidade de repulsa que eu sinto, é inexplicável.
Engolir cada um deles, faz-me sentir extremamente suja.
Mais suja do que alguma vez eu me senti.
É algo estranho e inexplicável, porém, autoexplicativa ainda assim.
Eu tomo um banho longo, e não faço nada para além de vestir um pijama e dormir.
Depois do banho eu realmente apaguei, exausta e todos os meus músculos tensos, relaxam.
E eu realmente adormeci.
Adormeci por tempo suficiente, pois a minha cabeça decidiu me atormentar, e criar pesadelos que me despertassem logo.
- Argh… - eu suspiro, me espreguiçando e estalando tanto o meu pescoço e os meus braços.
Ainda sentada na cama, eu estico as minhas mãos até a ponta dos meus pés, eu preciso voltar a exercitar-me.
Estou cansada disso aqui.
Eu levanto-me da cama e olho para o painel.
- Você dormiu bastante. - eu falo comigo mesma me agachando no chão, são onze horas.
Eu fiz algumas flexões para satisfazer o meu corpo, e assim que me canso, eu vou para a casa de banho, refrescar-me.
Fiz a minha higiene oral, lavei o meu rosto, e arranjei o meu cabelo.
Passei um lipgloss, e fui me vestir.
Eu escolho algo prático, porque ficar com aquelas duas é a coisa mais entediante existente.
Eu coloco umas bermudas jeans, oversized, de lavagem clara, uma blusa básica de cor branca, umas sapatilhas de cores bege e branca, um cinto no mesmo tom bege, coloquei alguns acessórios para não parecer demasiado básico, para eles, e uma bolsa qualquer que tem aqui.
Passo perfume, e só.
O meu olhar vai até a AirTag que eu escondi aqui e suspiro fundo.
Eu devia destruir isso, mas isso os iria preocupar ainda mais que o devido.
E eu não vou andar com isso, porque já basta o James, eu não irei suportar, se mais um deles se ferir tentando combater contra esses marmanjos.
Eu deixo a AirTag no mesmo lugar.
Eu não estou pronta para perder a minha cabeça mais uma vez.
E nem meter mais nenhum deles nesse buraco n***o, tão pouco o senhor Smith, porque com certeza essa AirTag está associada a algum dispositivo do Kaio.
O James passa mais tempo na casa do Kaio ou até na minha do que na dele, e eu tenho certeza que os celulares e outras coisas deles inclusive as minhas estão sendo rastreadas por eles.
O único que deve ter tido menos interferência é o Kaio, e eu quero que isso continue assim.
Eu fecho a gaveta caminhando até a porta.
Eu saio do quarto, e simplesmente desço até onde sei que é suposto ser o quarto do Salvatore.
E a urgência de descobrir o motivo pelo qual, eu só vejo o rosto dele duas ou apenas uma vez por dia.
Não que eu esteja a reclamar, mas eu preciso, eu necessito, que a cabeça dele esteja descolada do resto do seu corpo o quanto antes, antes que eu não consiga conter mais o sangue nos meus olhos.
Eu chego ao segundo andar, e está vazio, esse lugar é enorme, e eu não literalmente sei que cômodo é pertencente a quem.
É extremamente estranho que nem os cães de guarda estão aqui.
- Humn… - eu murmuro desconfiada entortando a minha cabeça ligeiramente para o lado, caminhando até a porta do outro lado do corredor.
Ele é o mais isolado aqui, faria sentido se esse for o da Kassandra e o do monstro que ela aceita e se deixa ser corna.
- … - eu sorrio pensando nisso e revirando os meus olhos com o quão doentio tudo isso é.
Eu encosto o meu ouvido a porta e de imediato eu escuto a voz da Clarisse.
- Ele vai causar mais mortes, e mais problemas do que causa, Salvatore. - eu ouço ela falar e eu imediatamente franzo o meu cenho curiosa, e procurando escutar melhor, visto que as vozes soam distantes.
De quem ela está a falar?
E espera? Aqui é o quarto dela?
Porque senão for, isso é ainda mais nojento.
- Ontem mesmo, aparentemente um dos homens do Marconi manejou infiltrar-se cá na mansão, e ele ainda assim pretende sair com a… esposa, essa noite. - ela está falando do Alexander.
- E eu não confio naquela moça, tem algo nela, que não me deixa confortável. - ela diz e eu sorrio indignada e franzo o cenho.
Bem… por que será?
- Ela fez alguma coisa? - eu finalmente ouço a voz dele e arrepios saem disparados pelo meu corpo.
- Não, mas… - ela é imediatamente interrompido.
- Então deixe a moça em paz. - ele pontua autoritário. - E não prenda o Alexander, ele sabe o que faz, e se existe alguém que precisa desse seu controle e desconfiança é o seu filho. - ele diz e eu franzo o cenho.
Seu filho…
Nossa, por que não me surpreende que lhe falte um pouco mais de instinto paternal?
Por que será?
- Nosso filho. - ela pontua e a sua voz soa obviamente chateada. - E o irresponsável aqui de todos os seus filhos, não é o Stefano e sim o Alexander. - ela diz.
- Cale a boca. - ele a ordena.
- Senhora… - outra voz feminina soa mas é rapidamente interrompida.
- Se já acabou saia daqui. - eu escuto a voz ríspida da Clarisse, e tanto de dentro desse cômodo, como das escadas eu ouço passos.
Merda…
Eu corro até o início das escadas e coincidiu com o Gerardo virando-se para subir.
E assente assim que me vê e eu faço o mesmo olhando de soslaio a porta ser aberta no final do corredor.
- Bom dia, senhorita. - ele diz e eu assinto, vendo rapidamente a face de uma mulher vestida como uma enfermeira e uma maleta, e ela entra na porta bem ao lado do quarto.
- Bom dia. - eu falo fingindo um mínimo sorriso.
Tentando entender que sítio é aquele que aquela senhora entrou.
- Eu ia chamá-la, mas vejo que já está pronta. - ele diz, me observando. - O carro está pronto para levá-la ao encontro da senhora Kassandra. - ele diz e eu assinto.
- Vamos. - eu falo e ele assente, me deixando descer na frente dele.
Que mortes a Clarisse se refere ao falar do Alexander?
Que eles todos são assassinos aqui, não é uma questão, mas ao ponto dela mencionar daquele jeito, eu me questiono se existem coisas que tenham escapado da minha atenção sobre o primogênito e herdeiro de Bratva e La Cosa Nostra.
Que ele causa todo o mundo sabe…
Eu reviro os meus olhos automaticamente pensando nisso e descendo as escadas.
- Gerardo, alguém está doente? - eu decido questionar, só para confirmar a minha suspeita e ele fica pálido, igual um vampiro.
E isso já diz muito.
- Ninguém está enfermo, senhorita. - ele afirma e eu sorrio.
- Por que está escondendo isso de mim? Eu questiono porque vi uma enfermeira aqui. - eu falo colocando-o em roupa justa. - Nenhuma enfermeira viria para cá se ninguém estivesse… enfermo como você disse. - eu falo e consigo sentir o seu medo de falar a distância.
- … - ele está pensando numa desculpa. Qualquer coisa que ele disser será uma mentira.
- Provavelmente tenha visto a enfermeira de emergência que pernoita na mansão, caso aja… alguma emergência. - ele diz e eu assinto sorrindo.
Por trás de uma mentira sempre existe uma verdade.
- Oh, tudo bem. - eu falo inocentemente deixando-o tranquilo e caminho com ele até a porta, já juntando algumas peças.
- Tenha um bom dia. - ele deseja assim que eu saio, vendo o carro de sempre, e eu inspiro fundo, vendo todos os outros que o irão seguir.
- Obrigada. - eu respondo o mordomo e vou para o carro e entro.
As portas são trancadas imediatamente, e o bloqueio entre o motorista e o passageiro também está ativo.
Eu suspiro fundo, me ajustando a poltrona e pousando as minhas pernas no painel de separação, olhando para o teto e montando o que eu acho na minha cabecinha.
Eu dei um tiro no meio da cabeça daquele homem, e ele como o belo vaso r**m que ele é… simplesmente não morreu.
Ele ainda está em pé, falando, e existindo, pior de tudo.
Mesmo após eu ter certeza e a cicatriz bem no meio da testa dele confirmando que a minha pontaria foi mais do que certeira.
Mas com isso…
O Alexander, o seu primogênito, inclusive o filho mais independente, que gosta do seu espaço pessoal, que na primeira oportunidade de estar longe, ele está, devasso ambulante, não só se mudou para a mansão onde ele cresceu…
E ainda, pediu-me a mim, a filha do pior inimigo do monstro que ele chama de pai, que inclusive emperrou uma bala no meio da testa dele, e ainda sabotou inúmeros dos seus negócios, e ainda matou os seus homens… em casamento!
- Eu não estava a pensar direito… - eu falo levando o meu dedo até ao meu lábio, juntando as peças.
Minha vida, durante todo esse tempo, foi stalkear cada m****o dessa família, e ele era o mais fácil, de tão mais sociável que é.
Inúmeras mulheres por dia, incontáveis até agora, ele e o James numa competição… seria renhida.
Ele não quer se casar, não quer estar casado.
É por isso que o Leonardo só vai se casar agora, porque como as regras deles funcionam, são demasiado hierárquicas.
Com certeza o Stefano casou-se primeiro, apenas para agradar e ter mais atenção do pai.
Eu já notei que ele quer e tenta ao máximo fazer isso, tal como a Clarisse.
O Alexander obviamente, como qualquer herdeiro dessas organizações, um futuro Don, já tinha uma, prometida.
Eu só desconhecia quem era, mas a esse ponto, todos sabemos que se trata dos Marconi, e eles não ficam atrás quando se trata de todo esse negócio.
É uma família extremamente influente, não tanto quanto essa, é meio difícil passar a junção de duas das organizações mafiosas do mundo, elas literalmente governam o planeta, governam o governo.
Literalmente, caso eu não tenha deixado claro, não é à toa, que nenhuma organização, tal como a FBI, nem as bases inteligentes e secretas como a que o meu pai trabalhava conseguiram fazer alguma coisa.
Isso é tenebroso.
Mas bem…
Continuando.
Eu não sei, o porquê dele não ter aceitado a prometida dele, seria um ótimo negócio, se essa foi a escolha dos pais dele, para ter a herdeira dos Marconi como prometida do primogênito.
Mas ele, preferiu alguém que o quer tão morto como quer o pai.
Ele viu-se obrigado, eu quero dizer… porque ele não se casaria de livre e espontânea vontade com alguma razão que só é conhecida por ele para isso.
Eu podia dizer a Clarisse, como eu estava a pensar esse tempo todo, mas acho que é bem mais fundo que isso.
Mas o quê?
Ele aceitou isso, porque com certeza… a recuperação do Salvatore não foi e não será completa como ele demonstra.
É por isso que o Alexander se casou, e tão rápido, e ainda está naquela mansão que ele claramente não suporta.
Sejamos honestos.
O Salvatore está prestes a morrer?
- … - eu sorrio sentindo o meu coração acelerar com a realização.
- Eles coseram o buraco que eu fiz na testa dele imediatamente, porque a notícia se espalhou, e eles não conseguiram retirar a maldita bala que ficou emperrada na cabeça de côco daquele filho da p**a. - eu falo animada, e bato na poltrona de mala não me contendo com isso.
Ele não quer transpassar isso para mim, porque, quem seria eu para saber tão cedo, que a família que eles mostram ser para a mídia, é completamente diferente?
Com certeza que ele está em “recuperação”, com os dias contados para ela começar a falhar.
Ou anos, visto que ele é guardado pelo d***o.
Mas eu não pretendo deixá-lo viver mesmo se esse for o caso, mesmo que a minha bala o esteja fazendo sofrer.
Eu quero que ele olhe nos meus olhos em meio a dor mais forte que ele alguma vez já sentiu, e acabar com ele tal como ele fez com o meu pai.
E eu posso entregar a cabeça dele aos filhos…
Talvez eu os devesse fazer eles assistirem o pai morrer tal como ele fez com o meu, e depois eu sumo com a mãe deles também…
Mas oh, seria injusto.
Eles já são crescidos, tem muita proteção, e são crescidos o suficiente para não dependerem dos monstros que os trouxeram ao mundo.
Nem dor eles devem processar.
Eles foram criados para serem monstros… acho que eles não sentem dor emocional, a indiferença no rosto do Alexander quando o pai caiu nos seus braços com um tiro na testa fala muito.
Eles não sentem merda nenhuma, eles não conhecem sentimentos.
Jamais sofreriam como eu sofri, a não ser que seja pela dor física, é a única que eles conhecem.
- Com que então a minha bala ainda está o matando com calma. - eu falo comigo mesma, um pouco mais centrada na minha cabeça.