Capítulo 22

2211 Words
ELLA. Morfina—da. É nesse estado que eu estou. Literalmente no meio de quem eu sempre mais odiei, e obrigada a manter-me lá, quieta, e sem ousar deixar-me levar pelos meus sentimentos e ferrar comigo e com tudo a minha volta. Mas está difícil. É como que cada vez que eu respirasse, eu estivesse inserindo veneno dentro do meu sistema. Eu estou dentro do meu maior pesadelo, e não tenho como sair daqui nem se eu abrir os olhos. Eu estou declaradamente refém pela primeira vez e por quem jamais devia estar. E o pior de tudo, é ver a pessoa que eu fiz de tudo, que eu arrisquei ser morta ao invadir casas de tráfico humano, procurando por ela, está entrosada com o monstro que matou o meu pai. E ela tem um filho... Isso é tão ferrado, tão sujo, tão nível esgoto, que eu literalmente segurei a minha vontade de vomitar o dia inteiro. Ela simplesmente traiu o meu pai... E na minha cabeça por anos eu tinha uma família acolhedora, e maravilhosa. Ela sempre esteve presente em cada memória minha, talvez não por eu brincar ou passar mais tempo com ela, mas por ela sempre estar presente em cada uma. Eu lembro que todas ou a maioria das atividades que eu fazia, eram com o meu pai. Mas ela sempre esteve lá, e nas minhas memórias, extremamente dócil. Tão dócil que eu estou completamente perdida e duvidando a minha própria mente. Como pode o meu pai não ter sabido do relacionamento dela com o Don da máfia que ele dedicou a vida a querer acabar? Como? Como pode a mulher que eu chamei de mãe, trair o meu pai de forma tão suja? Como ela pode ter seguido em frente e simplesmente me abandonado completamente, depois dela mesma ter levado o pior inimigo do meu pai, para a casa onde o meu pai decidiu se mudar para que ele se afastasse de tudo isso de uma vez por todas, para o matar a sangue frio e de maneira covarde. Como pode ela ter-me abandonado de maneira tão c***l para vir morar junto desse criminoso, com a consciência tranquila, como segunda esposa a viver num relacionamento feliz? Com um filho, que inclusive é casado. Ele tem vinte e cinco anos, tal como o Alexander. E eu acabei de fazer vinte e dois anos... Ela fez entregar o meu pai para esse ser nojento como uma missão? Ela literalmente abandonou o filho dela, e "criou" uma família com o meu pai como parte da sua missão, apenas isso; O amor que eu me recordo de ter recebido dela, era tudo parte de uma missão. Aparentemente parir-me, não foi nada demais para ela como o Riina falou naquela casa no meio do nada. E com certeza não partir uma taça e pegar um pedaço de vidro para fazer um risco na minha cabeça, se deveu ao fato de eu abusar do autocontrole que eu não achei que conseguisse chegar a esse nível. Provavelmente seja porque a decepção é tanta, que apenas a Heyoon ocupou a minha cabeça a noite inteira. Neste preciso momento, eu observei uma necessidade de saída urgente. Por que razão? Se fosse por adivinha, eu diria que aquele criminoso não está bem. É literalmente impossível que ele esteja completamente bem, como ele se mostrou quando nem sequer faz uma semana que uma bala penetrou a cabeça de côco dele. E com isso eu fui finalmente escoltada para o lado detrás dessa mansão com eles. - Espero que tenham uma excelente noite. - a Kassandra diz olhando para mim, sorrindo. Ewww. - Nos vemos amanhã. - ela diz enquanto abrem a porta do carro do lado, ela fala mais para o filho do que para mim e eu os observo aqui no meu canto, sentindo o olhar da esposa do filho da Clarisse me fulminar. Sem mais gargalo para tudo isso, eu simplesmente entro no carro e vou me sentar. Não existe muito que eu possa fazer agora. Instantes depois os meus olhos acompanham o canalha do Riina entrar, retirando o blazer do terno e fecham a porta. Eu inspiro frustrada, baixando para retirar a p***a desses saltos altos dos meus pés, sendo cautelosamente observada por ele, e eu sorrio. - Está com medo? - eu questiono-o e ele devolve o sorriso sarcástico. - Humn, eu desconheço esse sentimento. - ele responde, enquanto eu dispenso os saltos no chão do carro. - Você nem sequer deve saber o que é um. - eu falo. - Qualquer uma no seu lugar estaria agradecida nesse momento. - ele diz e eu faço uma careta de nojo o olhando de cima a baixo. - Por que razão? - eu o questiono sarcasticamente. - Entrar para uma família de assassinos? - eu o questiono. - Até onde sei você não é diferente, Robin Hood. - ele fala e o meu coração falha. Ele não acabou de me comparar a eles. No mesmo instante o seu celular toca e ele atende e fico quieta. A Heyoon. Eu preciso saber o que ele mandou fazer com a Heyoon. O seu olhar não vem até mim por um momento que seja, e ele é extremamente curto e breve nas suas respostas que eu não consigo entender o contexto da conversa. Eu preciso aliviar a minha cabeça, eu sinto-me como uma garrafa que contém alguma bebida gasosa e foi agitada, prestes a explodir. E olhar para o ser na minha frente, sem que eu possa fazer nada, me corta a respiração. Eu queria imenso enfiar o cabo desse salto nos olhos azuis dele, penetrar as minhas unhas no seu rosto, e escutar a voz dele ao gemer de dor, e clamar por piedade. Eu quero muito colocar uma faca afiada no pescoço dele, e marcar o corpo dele com o meu nome cravado na sua pele por linhas de sangue, e entregar ele ao pai e a mãe como um presente meu, minuciosamente personalizado. Argh, Ella... Se acalme. Eu quero fechar os meus olhos, mas eu não posso, eu não consigo. Eu viro-me para a janela que dessa vez permite que eu veja o que está do lado de fora, e tento identificar que zona é essa. Mas eu desconheço cada esquina que aparece na minha frente. Felizmente, ele também poupa os meus ouvidos da voz dele até chegarmos ao que vejo ser um hotel... Hotel? O meu olhar vai na sua direção, espera... - Porque estamos aqui? - eu questiono-o e o seu olhar me questiona sem que ele emitisse uma só palavra se não é óbvio? O meu coração falha. - Hoje foi o seu casamento, para onde acha que iria depois dele? - ele questiona como se eu fosse burra. - Ser provavelmente levada para onde você levou a minha amiga. - eu falo e ele revira os olhos, petulante. - Calce os sapatos. - ele ordena e eu consigo ver paparazzis do lado de fora. Eu estou sentindo que eu vou chorar, eu estou nervosa e impotente, isso não é uma boa junção. Assim eu o faço, na força do ódio e da aflição e saio do carro depois dele. É como se eu não só estivesse decepcionando o meu pai e a mim mesma, como se estivesse comprometendo a minha identidade que literalmente escondi desde sempre graças as ordens e promessinhas que eu fiz ao meu pai, com todas essas câmeras e flashes disparando na minha direção, enquanto eu estou do lado de um dos homens que mais abominei. Sinceramente no meu pódio estava o Salvatore Riina em primeiro lugar, e depois ele, mas os lugares inverteram-se depois disso, e ganhou o terceiro lugar a mulher que eu continuava a chamar de mãe nos meus sonhos e pesadelos. Eu não entretenho absolutamente ninguém e ele também não parece se divertir com nada disso, embora ele esteja mais contido. Não me admira nada, o falso é ele. A família dele é falsa. Entramos no hall, e o olhar das pessoas aqui na sala de espera ou passando é sugestivo, ou brilha nos observando com sorrisos. Os homens dele, alguns, não todo um exército dessa vez também entraram e eu quero vomitar. Eu estou literalmente num triz de perder o meu réu primário. - Eu preciso ir à casa de banho. - eu apenas murmuro, já girando os meus pés na direção de onde eu acho que é, mas nesse exato momento, eu sinto a sua mão pousar nas minhas costas, e o meu corpo receber descargas eletrizantes que jamais experienciei. - Tem um no quarto, se sabe como hotéis funcionam. - ah... Ele é petulante. - Não abuse do meu humor. - ele soa mais intimidador que sarcástico, enquanto me guia com a sua mão ainda em mim, para o elevador. Eu sinto o meu coração literalmente na minha garganta. Mal eu entro no elevador, eu retiro a mão dele de mim e caminho até ao canto do elevador com a minha mente orbitando por inúmeras possibilidades. E de pensar que eu não posso fazer nada, ou os meus amigos sofreram pelas minhas decisões, deixa-me de mãos mais atadas do que ela já está. Saímos e eu caminho simplesmente intimidada por ele. Eu jamais me intimidei com ninguém. Não era suposto eu estar assim devido a um i****a como ele. Ele passa o cartão destrancando a porta e eu sinto um arrepio tomar o meu corpo quando ele abre a porta. Eu tenho receio do que se passa pela cabeça dele, porque isso refletirá no que pode acontecer com a Heyoon ou com os meninos. Eu detesto a sensação de vulnerabilidade que estou a sentir. Ele abre passagem para que eu entre primeiro, e assim eu faço alerta. Ele vem logo atrás e eu franzo o cenho ao chegar no quarto e ver duas moças na cama toda decorada. As duas estão apenas de roupas íntimas, e se ajoelham na cama abrindo champanhe. Que merda é essa? Eu viro o meu olhar confusa para ele que age como se ter duas mulheres seminuas não fosse nada demais. - O que é isso? - eu questiono-o, ignorando os parabéns das duas. - O que acha? - ele responde e eu fecho os olhos sem paciência para isso. - Eu acho que você está abusando de mim. - eu respondo-o retirando o meu olhar dessas moças. Que baixaria. - Você acha, Bourne? - ele questiona sarcástico e eu suspiro nervosa. - Relaxe… - uma das moças diz, me esticando uma taça de champanhe e eu pego a taça e lanço o champanhe para a cara dela de raiva. Relaxe, p***a nenhuma. O que é isso? - Que merda você mandou fazer com Heyoon? Onde ela está? - eu o questiono enervada. - Eu coloquei você na frente da traidora da sua mãe e do seu irmão. - ele responde-me pegando na taça tranquilo. - Você acha que depois do que fez hoje, eu isentarei você das consequências das suas atitudes estúpidas e da sua performance fraca, Bourne. - ele fala e o meu pescoço tenciona de tanta raiva. - Se você ousou tocar nela, Riina. - eu falo e o seu olhar altera, eu consigo ver a mesma quantidade de raiva que eu estou a sentir no seu olhar. - O que fará? - ele questiona, me queimando com o olhar. O olhar das moças aqui também é de quem está se divertindo. Eu perco a cabeça, a taça na minha mão foi ao chão bem diante dele, com os estilhaços se espalhando por todo o chão. - Ah! - as moças exclamam assustadas ou surpresas e eu vou para o único lugar aonde eu posso extravasar sem ter que ficar perto dele. Eu entro na casa de banho e imediatamente tranco a porta atrás de mim. - Argh… - eu gemo de dor, de raiva, e retiro o maldito véu da minha cabeça. Toda a minha frustração transformou-se em dor física. Uma dor tão forte, que até parece que fui arrastada por um camião. Lágrimas vertem pelo meu rosto, e como se estivesse a ser asfixiada, eu tenho dificuldades em respiração, as minhas mãos estão trêmulas e eu sem forças nas pernas desabo no chão com o ataque que eu estou tendo. A minha cabeça dói, e as minhas mãos tapam as minhas orelhas como se fossem me impedir de escutar as vozes que estão ecoando pela minha cabeça. Eu levo a minha cara até aos meus joelhos, abafando o grito de frustração que estou a sentir. Talvez o meu pai devesse ter-me deixado morrer com ele… Eu falhei com absolutamente tudo! Eu não tenho noção de quanto tempo se passou, mas eu permaneci no chão, e na mesma posição até quando as vozes diminuíram na minha cabeça e eu levanto-me como uma derrotada até ao lavatório, e eu só consigo odiar-me mais ainda. - Argh… - eu retiro com força o maldito anel no meu dedo, lançando-o para longe do meu campo de visão, escutando apenas o som do metal batendo contra o chão. Caminhos negros de lágrimas marcam o meu rosto devido ao rímel. O meu cabelo está bagunçado e eu continuo vestida de branco como uma falhada. Irreconhecível e acabada.
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