Capítulo 53

2931 Words
ELLA. Repentinamente, a sensação de estar num cômodo iluminado tomou as minhas pálpebras e a minha sensação respiratória também, o que me fez abrir os olhos imediatamente quando me recordei de onde eu podia estar. - Está tudo bem. - eu ouço alguém falar tocando o meu braço, enquanto o meu coração dispara ao tentar identificar que lugar é esse. Com a mesma velocidade que eu abri os olhos eu sentei-me na cama e o pequeno puxão no meu braço, fez-me confirmar que a luz não é do paraíso e sim da merda de um quarto de hospital. - A senhorita está num hospital, por favor, deite-se. - a moça que agora reparei ser uma enfermeira diz. Eu levo o meu olhar até ao meu tornozelo, retirando a máscara de oxigênio, do meu rosto querendo chorar, ainda vendo aquele monte de cobras no chão, uma realmente me picou e eu não me lembro de nada que tenha acontecido desde que eu consegui subir na merda da estante. O meu corpo está ultra-arrepiado, que eu não consigo me aguentar. Não era uma, estavam inúmeras cobras espalhadas pelo chão daquele sítio. Repugnante, eu estou enojada e me sentido suja para um c*****o. Eu não sei quem me encontrou, mas eu não pretendo ficar mais aqui, eu preciso de um banho. - Senhorita, está fraca e desidratada. - a moça fala e agora sem a máscara de oxigênio no rosto eu vejo-me obrigada a fazer mais força para respirar, mas está tudo ótimo. Eu quero que ela saia da minha frente, mesmo ela parecendo extremamente simpática. O meu corpo inteiro dói. - Doutor! - ela chama, saindo e indo até a porta quando eu simplesmente retiro o que eles colocaram nas minhas veias, me levantando em seguida. Pareceu por alguns instantes que eu estava a reaprender a ficar em pé, as minhas pernas estão exorbitantemente fracas, o meu corpo está pesado, mas eu sinto como se fosse de papel se isso fizer algum sentido. - Senhorita Ella! - a voz do tal médico soa e eu levanto o meu olhar para ele, e logo a entrar estava também esse filho da p**a. O que merdas ele está a fazer aqui? Ele não me tirou de lá, ele queria que eu morresse se me colocou no meio daqueles bichos nojentos. Quem o avisou que eu estava aqui? Quem me trouxe para cá? A minha cabeça está orbitando em inúmeros assuntos, extremamente confusa, mas eu tenho certeza absoluta que eu não quero ver a merda da cara desse desgraçado. - Eu me surpreendo que esteja em pé, depois do tipo e quantidade de veneno que tivemos de extrair de você. - o doutor diz. - Mas precisa se manter deitada, está extremamente fraca e desidratada. - ele fala como se eu me importasse. - Não seja teimosa. - e esse filho da mãe acha que pode falar alguma coisa. - Eu preciso tomar banho. - eu falo e sinto a minha garganta seca, e eu vejo o doutor suspirar fundo, me observando atentamente. - Não pretende me escutar, pois não? - ele questiona-se e eu o ignoro. - A enfermeira irá acompanhá-la. - ele diz e eu reviro os olhos. - Obrigada, mas eu não preciso. - eu falo caminhando sozinha rumo a porta que tem aqui, que espero que seja a casa de banho. O quarto é extremamente luxuoso para não ter uma casa de banho aqui. - Senhorita? - a enfermeira fala vindo até a porta, e ao tocar na maçaneta eu sinto o ouro ao redor do meu dedo acompanhado por um enorme diamante, bater contra a maçaneta, e sem pensar duas vezes eu retirei essa merda do meu dedo. - Isso está me incomodando. - eu falo entregando para ela e simplesmente entro no cômodo que acertei em cheio ser o banheiro ignorando os olhos arregalados e rosto vermelho dela, eu fecho a porta e tranco. Desgraçado. Desgraçado. Desgraçado. Os meus olhos rodeiam essa merda procurando por uma janela aqui dentro, e encontro uma minúscula aqui, mas eu consigo passar mesmo apertada. Eu fecho a tampa da privada e subo na mesma alcançando a janela, e para a minha raiva, não estava um ou dois, porém mais homens parados do lado de fora. Eu levo a minha mão até ao meu rosto irritada, por saber que agora eu não tenho força para fazer merda nenhuma. Sentindo-me suja e arrepiada, eu decido somente retirar essa bata e entrar no box do chuveiro, extremamente arrepiada. Ter acordado só me fez ter mais noção de que aquilo não foi a p***a de um maldito pesadelo. Lágrimas vertem pelo meu rosto enquanto eu me mantenho em silêncio, esfregando os meus pés, onde eu sentir não só a picada de uma, como também a pele fria, e rastejante de inúmeras se enrolando e subindo em mim. Os meus pelos estão todos em pé de tão arrepiados, eu nunca conheci criaturas tão horríveis e repugnantes na minha vida, e não, eu não me refiro a elas e sim ao dono delas. Ele é mais sem escrúpulos do que eu achei que ele fosse. Esfregando os meus pés, eu vejo a marca que os caninos daquela cobra deixou na minha perna, bem próxima a uma tatuagem na parte de trás do meu tornozelo, dedicada ao meu pai. Eu esfrego, e me esfrego tanto, mas tanto, que só parei quando me senti machucar e vermelho de tão forte que eu o fazia. Dos cabelos aos pés, eu esfreguei-me repugnado com tudo. DUM-DUM-DUM. Ele quer arrombar a porta agora? Quer terminar o que as amigas dele não fizerem? - Ella? - ele chama, mas eu não tenho interesse algum em respondê-lo, apenas acho aqui outra bata, peças interiores, um fato de treino, e toalhas, escovas, pensos higiênicos e pasta de dentes, selados. Eu limpo-me, e simplesmente me visto, abrindo o conjunto de fato de treino. Enxugo o máximo possível o meu cabelo molhado, antes de fazer a minha higiene oral. Nisso o Alexander só tentou arrombar a porta apenas mais uma vez. Ele colocou homens lá fora, e está aí fora, para onde ele acha que eu vou fugir. Idiota! Eu fiz a minha higiene oral, vendo o quão sem cor eu estou, eu tenho uma vontade imensa de me matar, por permitir que ele fizesse algo assim comigo. Eu quero tanto o matar, mas tanto! Eu fico aqui por um tempo, até achar que assimilei o que devia assimilar para sair do quarto. Mal entrei e não só ele estava como também a enfermeira. - Eu tenho sede. - eu comento com ela. - Pode me dar água? - eu questiono-a e ela assente me observando ainda ruborizada, enquanto eu faço um coque no topo da minha cabeça. - Eu trago, mas antes precisa voltar a sua cama. - ela diz e eu a encaro confusa. - Eu tenho que ficar mais tempo aqui, por que razão? - eu a questiono. - Senhorita, continua em observação. - ela fala. - Não está em condições de retornar hoje a casa. - ela diz. - Por favor, sente-se. - ela fala e prontos. Assim eu faço e ela me coloca aquelas agulhas na pele novamente. Que grande saco. - Eu vou buscar o seu jantar. - ela diz e sai, me deixando sozinha com esse c*****o de merda ao quadrado. - Por que razão é tão teimosa? - ele questiona retirando o seu olhar que observa a minha tatuagem e volta o meu olhar. Eu quero tanto, mas tanto que ele cale a merda da boca dele e saia daqui. Eu não tenho pretensão alguma de falar com ele. - Podia pedir ajuda. - ele pontua e o valor de raiva se prolifera pelo meu corpo enquanto eu o observo. - Pedir ajuda a quem? - eu o questiono olhando nos seus olhos. - E por quê? - eu pergunto. - O jeito que a encontrei, explica concretamente o porquê, Bourne. - ele fala e eu o observo. Então foi ele que me tirou de lá? Isso não faz sentido algum. - Você tinha um celular, e o meu número, por que razão não ligou e disse o que aconteceu? - ele questiona e eu franzo o meu cenho o encarando. Nós somos completamente de duas realidades similares e ainda assim extremamente opostas. - Você está se escutando? - eu o questiono. - Você me colocou lá dentro, de forma covarde quis me matar e eu simplesmente ligaria para um assassino mafioso caralhado ao quadrado como você, é isso que está a sugerir? - eu o questiono e vejo o seu maxilar cerrar. - Se eu quisesse ter matado você, eu o teria feito, Bourne. - ele diz se aproximando e o meu coração se descompassa. - Nada ou ninguém irá matar você. - ele diz penetrando o seu olhar no meu. - O último rosto que você verá antes de morrer será o meu. - ele diz levando a sua mão até ao meu queixo, e os meus batimentos cardíacos falham. - Quando se trata de morte… - ele diz e eu sinto a minha respiração ficar mais pesada olhando para ele. - Você é minha. - eu suspiro fundo tirando os meus olhos do dele, e empurrando a sua mão para longe do meu rosto sentindo ele queimar. - Não era suposto que nenhuma delas picasse você. - ele diz e eu sorrio com a sua hipocrisia. - Pois, você ensinou as cobras a não fazerem o que elas naturalmente fazem? - eu questiono retoricamente. - O Jake acrescentou cobras venenosas, lá. - ele afirma. - Todas as outras eram inofensivas a você, ou acha que teria a sorte de ter sobrevivido se todas as outras fossem venenosas. - ele fala e eu me controlo para não pirar. Eu não vou dar o prazer de inflar ainda mais o ego desse mimado perdendo o controle. E esse Jake… Azar o deles, por não terem deixando o veneno nas minhas veias me matar. Veremos quem verá o rosto de quem antes de morrer. - Com licença. - a enfermeira entra com um carrinho cheio de coisas, enquanto a minha memória me relembra que vi, em algum tempo já aqui, a família dele. Espero eu que não esteja alucinando. Mas não faço questão nenhuma de confirmar. - Aqui está. - a enfermeira diz e eu assinto. - Obrigada. - eu agradeço olhando para ela que sorri. - A sua disposição, se precisar de alguma coisa, é só chamar. - ela fala apontando no botão ao lado da cama e eu assinto, pegando a garrafa de água, sob o olhar do Alexander. - Com a vossa licença. - ela diz e se retira sem olhar para ele, ela está evitando pelo que entendi. Eu pouso a garrafa de entre as minhas pernas, para tentar abri-lá, eu nunca estive tão fraca antes. - É só pedir ajuda. - eu ouço o Alexander falar. - Eu prefiro morrer do que pedir ajuda para você. - eu falo conseguindo abrir e levo a boca água, enquanto ele se senta na poltrona. - Caso não tenha percebido, você não tem mais a quem recorrer se não a mim, Ella. - ele fala e eu levanto o meu olhar para ele, farta. - Eu nunca tive a quem recorrer, Alexander. - eu falo, p**a, com toda a merda que eu senti dentro daquele lugar. - Essa é a diferença entre mim e você. - eu digo-lhe e ele me observa com o maxilar trancado. - Você é a merda de um moço mimado, que tem tudo o que quer na hora que quer, quando e como quer, e quando não tem o que quer, quando alguém vai contra você, você faz isso… - eu falo, apontando para mim. - Por birra, porque você é um mimado. - eu falo vendo a expressão de irritação no rosto dele, mas eu não ligo. Da mesma forma que ele não ligou em fazer aquela merda comigo. - Você tem a merda de uma família, podre, mas sua, sua mãe, o monstro do seu pai, os seus irmãos, e ainda a pessoa que supostamente devia ser a minha mãe, resolveu ser a sua madrasta. - eu falo olhando para ele, nervosa. - Com as suas falcatruas protegidas por eles, pelos seus cães de guarda, tendo ajuda quando bem entende, porque você nunca sujou as suas mãos diretamente, não é mesmo? - eu o questiono sentindo o meu peito apertar, e ele também parece fulo com o que eu falo, mas não rebate. Afinal vai rebater com o quê, se eu estou a falar a verdade? - Eu não tenho que recorrer a você e nem vou, porque enquanto o seu pai enfiava uma colher de ouro na sua boca, o meu fez-me jurar que jamais me deixaria ser morta ou pega por vocês. - eu digo sentindo uma dor enorme. - A sua família tirou a única pessoa que eu precisava e podia me proteger por ego e medo, e desde então eu não tive ninguém para me proteger, eu me virei esse tempo inteiro sozinha… Riina. - eu falo sentindo ódio. - Eu prefiro morrer do que pedir ajuda para você. - eu pontuo extravasando a minha raiva e retiro o meu olhar do dele. Eu finjo que não o estou vendo porque me irrita, ele ainda estar vivo do meu lado, sem que eu possa mandá-lo para junto da amiga dele. Mimado, playboy, egocêntrico, eu sabia que ele era tudo isso, só não achei que pudesse superar o que eu já sabia. Porque alguém o rejeita, ele fica louco. Ele perde o controle, quando não está no controle e as coisas que ele quer simplesmente não acontecem. Depois de um minuto o celular dele tocou, e ele saiu do quarto. - i****a. - eu falo, comendo. Idiota. Eu como na força do ódio, sem vontade nenhuma também, mas eu me recuso a ficar sem forças desse jeito, portanto me limitei em comer. E engulo a minha vontade de chorar, enterrando qualquer merda que resolveu vir para a minha cabeça bem lá no fundo, eu não preciso disso agora. Eu comi até onde consegui, e acabei com a garrafa de água, chamando a enfermeira. - Pode me trazer outra garrafa de água, por favor? - eu peço-lhe e ela assente sorrindo. - Claro, mas deve ir com calma, os seus órgãos internos ainda estão um pouco atrofiados. - ela diz. - Quando eu poderei sair daqui? - eu questiono-lhe. - O médico estava incerto, mas com a sua recuperação, ele com certeza dará alta, amanhã. - ela afirma e tudo bem, eu posso me conformar com isso. - Deve tentar descansar agora. - ela diz. - Eu virei para controlar o seu nível de hidratação assim que o soro acabar. - ela diz. - Tudo bem. - eu digo para ela que assente. - Com licença. - ela diz saindo e eu encosto a minha cabeça na almofada frustrada, triste, zangada, uma montanha russa de emoções que eu estou a procurar canalizar sem surtar. Calma, Ella… Fique calma. Instantes depois a porta é aberta, e esse ser que eu achei que não voltaria mais entrou, com uma garrafa de água na mão, junto com o seu celular. Ele me entregou a garrafa de água e eu inspiro fundo pegando nela. - Eu já abri. - ele diz, olhando-me. E eu me questiono o que ele está a tentar fazer agora. Bipolar. - Obrigada. - eu falo a contragosto, e levo a garrafa até aos meus lábios. - Porque não vai embora? - eu o questiono deixando a garrafa de lado. - Embora essa seja a minha vontade, não me apetece dormir no sofá, os paparazzis já sabem que estamos aqui, e não seria conveniente que eu deixasse a minha esposa sozinha aqui, não acha? - ele questiona sarcástico me fazendo revirar os olhos. - Humn, que pena. - eu falo. - E isso é seu. - ele diz lançando o anel para mim. - Yeah… - eu falo pegando ele que caiu do meu lado e pouso ao lado da garrafa de água. - Não, eu não vou usar essa coisa. - eu falo colocando de lado, e ele pega nele casualmente. - Não foi um pedido, Bourne. - ele diz pegando na minha mão, e enfiando o anel no meu dedo. - Você não está morta e esse casamento ainda não terminou, enquanto for a minha esposa, não irá tirar a merda desse anel do seu dedo. - ele diz, e o seu tom é casual, porém, simultaneamente autoritário. Ele colocou o anel no meu dedo como se estivesse me marcando como dele. - Você tem noção que eu não sou a sua esposa de verdade, não é? - eu questiono-o só para deixar isso claro. - Você não seria a minha escolha, pode acreditar nisso. - ele diz e eu reviro os olhos. - Nós temos um trato, e até conseguirmos cumpri-lo você terá de começar a agir decentemente. - ele diz e eu sorrio. - Você consegue agir decentemente também, Alexander? - eu o questiono e ele senta-se me observando com um mínimo sorriso. - Eu não deixei você morrer, deixei? - ele questiona como se isso não tivesse acontecido por culpa dele. Aja paciência, esse homem é um bipolar. - Belas tatuagens. - ele fala e eu reparo ele olhar para o meu pescoço, e resolvo o ignorar ligando a TV. Eu realmente preciso de muita paciência.
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