ELLA.
Repentinamente, a sensação de estar num cômodo iluminado tomou as minhas pálpebras e a minha sensação respiratória também, o que me fez abrir os olhos imediatamente quando me recordei de onde eu podia estar.
- Está tudo bem. - eu ouço alguém falar tocando o meu braço, enquanto o meu coração dispara ao tentar identificar que lugar é esse.
Com a mesma velocidade que eu abri os olhos eu sentei-me na cama e o pequeno puxão no meu braço, fez-me confirmar que a luz não é do paraíso e sim da merda de um quarto de hospital.
- A senhorita está num hospital, por favor, deite-se. - a moça que agora reparei ser uma enfermeira diz.
Eu levo o meu olhar até ao meu tornozelo, retirando a máscara de oxigênio, do meu rosto querendo chorar, ainda vendo aquele monte de cobras no chão, uma realmente me picou e eu não me lembro de nada que tenha acontecido desde que eu consegui subir na merda da estante.
O meu corpo está ultra-arrepiado, que eu não consigo me aguentar.
Não era uma, estavam inúmeras cobras espalhadas pelo chão daquele sítio.
Repugnante, eu estou enojada e me sentido suja para um c*****o.
Eu não sei quem me encontrou, mas eu não pretendo ficar mais aqui, eu preciso de um banho.
- Senhorita, está fraca e desidratada. - a moça fala e agora sem a máscara de oxigênio no rosto eu vejo-me obrigada a fazer mais força para respirar, mas está tudo ótimo.
Eu quero que ela saia da minha frente, mesmo ela parecendo extremamente simpática.
O meu corpo inteiro dói.
- Doutor! - ela chama, saindo e indo até a porta quando eu simplesmente retiro o que eles colocaram nas minhas veias, me levantando em seguida.
Pareceu por alguns instantes que eu estava a reaprender a ficar em pé, as minhas pernas estão exorbitantemente fracas, o meu corpo está pesado, mas eu sinto como se fosse de papel se isso fizer algum sentido.
- Senhorita Ella! - a voz do tal médico soa e eu levanto o meu olhar para ele, e logo a entrar estava também esse filho da p**a.
O que merdas ele está a fazer aqui?
Ele não me tirou de lá, ele queria que eu morresse se me colocou no meio daqueles bichos nojentos.
Quem o avisou que eu estava aqui?
Quem me trouxe para cá?
A minha cabeça está orbitando em inúmeros assuntos, extremamente confusa, mas eu tenho certeza absoluta que eu não quero ver a merda da cara desse desgraçado.
- Eu me surpreendo que esteja em pé, depois do tipo e quantidade de veneno que tivemos de extrair de você. - o doutor diz. - Mas precisa se manter deitada, está extremamente fraca e desidratada. - ele fala como se eu me importasse.
- Não seja teimosa. - e esse filho da mãe acha que pode falar alguma coisa.
- Eu preciso tomar banho. - eu falo e sinto a minha garganta seca, e eu vejo o doutor suspirar fundo, me observando atentamente.
- Não pretende me escutar, pois não? - ele questiona-se e eu o ignoro. - A enfermeira irá acompanhá-la. - ele diz e eu reviro os olhos.
- Obrigada, mas eu não preciso. - eu falo caminhando sozinha rumo a porta que tem aqui, que espero que seja a casa de banho.
O quarto é extremamente luxuoso para não ter uma casa de banho aqui.
- Senhorita? - a enfermeira fala vindo até a porta, e ao tocar na maçaneta eu sinto o ouro ao redor do meu dedo acompanhado por um enorme diamante, bater contra a maçaneta, e sem pensar duas vezes eu retirei essa merda do meu dedo.
- Isso está me incomodando. - eu falo entregando para ela e simplesmente entro no cômodo que acertei em cheio ser o banheiro ignorando os olhos arregalados e rosto vermelho dela, eu fecho a porta e tranco.
Desgraçado.
Desgraçado.
Desgraçado.
Os meus olhos rodeiam essa merda procurando por uma janela aqui dentro, e encontro uma minúscula aqui, mas eu consigo passar mesmo apertada.
Eu fecho a tampa da privada e subo na mesma alcançando a janela, e para a minha raiva, não estava um ou dois, porém mais homens parados do lado de fora.
Eu levo a minha mão até ao meu rosto irritada, por saber que agora eu não tenho força para fazer merda nenhuma.
Sentindo-me suja e arrepiada, eu decido somente retirar essa bata e entrar no box do chuveiro, extremamente arrepiada.
Ter acordado só me fez ter mais noção de que aquilo não foi a p***a de um maldito pesadelo.
Lágrimas vertem pelo meu rosto enquanto eu me mantenho em silêncio, esfregando os meus pés, onde eu sentir não só a picada de uma, como também a pele fria, e rastejante de inúmeras se enrolando e subindo em mim.
Os meus pelos estão todos em pé de tão arrepiados, eu nunca conheci criaturas tão horríveis e repugnantes na minha vida, e não, eu não me refiro a elas e sim ao dono delas.
Ele é mais sem escrúpulos do que eu achei que ele fosse.
Esfregando os meus pés, eu vejo a marca que os caninos daquela cobra deixou na minha perna, bem próxima a uma tatuagem na parte de trás do meu tornozelo, dedicada ao meu pai.
Eu esfrego, e me esfrego tanto, mas tanto, que só parei quando me senti machucar e vermelho de tão forte que eu o fazia.
Dos cabelos aos pés, eu esfreguei-me repugnado com tudo.
DUM-DUM-DUM.
Ele quer arrombar a porta agora?
Quer terminar o que as amigas dele não fizerem?
- Ella? - ele chama, mas eu não tenho interesse algum em respondê-lo, apenas acho aqui outra bata, peças interiores, um fato de treino, e toalhas, escovas, pensos higiênicos e pasta de dentes, selados.
Eu limpo-me, e simplesmente me visto, abrindo o conjunto de fato de treino.
Enxugo o máximo possível o meu cabelo molhado, antes de fazer a minha higiene oral.
Nisso o Alexander só tentou arrombar a porta apenas mais uma vez.
Ele colocou homens lá fora, e está aí fora, para onde ele acha que eu vou fugir.
Idiota!
Eu fiz a minha higiene oral, vendo o quão sem cor eu estou, eu tenho uma vontade imensa de me matar, por permitir que ele fizesse algo assim comigo.
Eu quero tanto o matar, mas tanto!
Eu fico aqui por um tempo, até achar que assimilei o que devia assimilar para sair do quarto.
Mal entrei e não só ele estava como também a enfermeira.
- Eu tenho sede. - eu comento com ela. - Pode me dar água? - eu questiono-a e ela assente me observando ainda ruborizada, enquanto eu faço um coque no topo da minha cabeça.
- Eu trago, mas antes precisa voltar a sua cama. - ela diz e eu a encaro confusa.
- Eu tenho que ficar mais tempo aqui, por que razão? - eu a questiono.
- Senhorita, continua em observação. - ela fala. - Não está em condições de retornar hoje a casa. - ela diz. - Por favor, sente-se. - ela fala e prontos.
Assim eu faço e ela me coloca aquelas agulhas na pele novamente.
Que grande saco.
- Eu vou buscar o seu jantar. - ela diz e sai, me deixando sozinha com esse c*****o de merda ao quadrado.
- Por que razão é tão teimosa? - ele questiona retirando o seu olhar que observa a minha tatuagem e volta o meu olhar.
Eu quero tanto, mas tanto que ele cale a merda da boca dele e saia daqui.
Eu não tenho pretensão alguma de falar com ele.
- Podia pedir ajuda. - ele pontua e o valor de raiva se prolifera pelo meu corpo enquanto eu o observo.
- Pedir ajuda a quem? - eu o questiono olhando nos seus olhos. - E por quê? - eu pergunto.
- O jeito que a encontrei, explica concretamente o porquê, Bourne. - ele fala e eu o observo.
Então foi ele que me tirou de lá?
Isso não faz sentido algum.
- Você tinha um celular, e o meu número, por que razão não ligou e disse o que aconteceu? - ele questiona e eu franzo o meu cenho o encarando.
Nós somos completamente de duas realidades similares e ainda assim extremamente opostas.
- Você está se escutando? - eu o questiono. - Você me colocou lá dentro, de forma covarde quis me matar e eu simplesmente ligaria para um assassino mafioso caralhado ao quadrado como você, é isso que está a sugerir? - eu o questiono e vejo o seu maxilar cerrar.
- Se eu quisesse ter matado você, eu o teria feito, Bourne. - ele diz se aproximando e o meu coração se descompassa. - Nada ou ninguém irá matar você. - ele diz penetrando o seu olhar no meu. - O último rosto que você verá antes de morrer será o meu. - ele diz levando a sua mão até ao meu queixo, e os meus batimentos cardíacos falham.
- Quando se trata de morte… - ele diz e eu sinto a minha respiração ficar mais pesada olhando para ele. - Você é minha. - eu suspiro fundo tirando os meus olhos do dele, e empurrando a sua mão para longe do meu rosto sentindo ele queimar.
- Não era suposto que nenhuma delas picasse você. - ele diz e eu sorrio com a sua hipocrisia.
- Pois, você ensinou as cobras a não fazerem o que elas naturalmente fazem? - eu questiono retoricamente.
- O Jake acrescentou cobras venenosas, lá. - ele afirma. - Todas as outras eram inofensivas a você, ou acha que teria a sorte de ter sobrevivido se todas as outras fossem venenosas. - ele fala e eu me controlo para não pirar.
Eu não vou dar o prazer de inflar ainda mais o ego desse mimado perdendo o controle.
E esse Jake…
Azar o deles, por não terem deixando o veneno nas minhas veias me matar.
Veremos quem verá o rosto de quem antes de morrer.
- Com licença. - a enfermeira entra com um carrinho cheio de coisas, enquanto a minha memória me relembra que vi, em algum tempo já aqui, a família dele.
Espero eu que não esteja alucinando.
Mas não faço questão nenhuma de confirmar.
- Aqui está. - a enfermeira diz e eu assinto.
- Obrigada. - eu agradeço olhando para ela que sorri.
- A sua disposição, se precisar de alguma coisa, é só chamar. - ela fala apontando no botão ao lado da cama e eu assinto, pegando a garrafa de água, sob o olhar do Alexander.
- Com a vossa licença. - ela diz e se retira sem olhar para ele, ela está evitando pelo que entendi.
Eu pouso a garrafa de entre as minhas pernas, para tentar abri-lá, eu nunca estive tão fraca antes.
- É só pedir ajuda. - eu ouço o Alexander falar.
- Eu prefiro morrer do que pedir ajuda para você. - eu falo conseguindo abrir e levo a boca água, enquanto ele se senta na poltrona.
- Caso não tenha percebido, você não tem mais a quem recorrer se não a mim, Ella. - ele fala e eu levanto o meu olhar para ele, farta.
- Eu nunca tive a quem recorrer, Alexander. - eu falo, p**a, com toda a merda que eu senti dentro daquele lugar. - Essa é a diferença entre mim e você. - eu digo-lhe e ele me observa com o maxilar trancado.
- Você é a merda de um moço mimado, que tem tudo o que quer na hora que quer, quando e como quer, e quando não tem o que quer, quando alguém vai contra você, você faz isso… - eu falo, apontando para mim. - Por birra, porque você é um mimado. - eu falo vendo a expressão de irritação no rosto dele, mas eu não ligo.
Da mesma forma que ele não ligou em fazer aquela merda comigo.
- Você tem a merda de uma família, podre, mas sua, sua mãe, o monstro do seu pai, os seus irmãos, e ainda a pessoa que supostamente devia ser a minha mãe, resolveu ser a sua madrasta. - eu falo olhando para ele, nervosa.
- Com as suas falcatruas protegidas por eles, pelos seus cães de guarda, tendo ajuda quando bem entende, porque você nunca sujou as suas mãos diretamente, não é mesmo? - eu o questiono sentindo o meu peito apertar, e ele também parece fulo com o que eu falo, mas não rebate.
Afinal vai rebater com o quê, se eu estou a falar a verdade?
- Eu não tenho que recorrer a você e nem vou, porque enquanto o seu pai enfiava uma colher de ouro na sua boca, o meu fez-me jurar que jamais me deixaria ser morta ou pega por vocês. - eu digo sentindo uma dor enorme.
- A sua família tirou a única pessoa que eu precisava e podia me proteger por ego e medo, e desde então eu não tive ninguém para me proteger, eu me virei esse tempo inteiro sozinha… Riina. - eu falo sentindo ódio.
- Eu prefiro morrer do que pedir ajuda para você. - eu pontuo extravasando a minha raiva e retiro o meu olhar do dele.
Eu finjo que não o estou vendo porque me irrita, ele ainda estar vivo do meu lado, sem que eu possa mandá-lo para junto da amiga dele.
Mimado, playboy, egocêntrico, eu sabia que ele era tudo isso, só não achei que pudesse superar o que eu já sabia.
Porque alguém o rejeita, ele fica louco.
Ele perde o controle, quando não está no controle e as coisas que ele quer simplesmente não acontecem.
Depois de um minuto o celular dele tocou, e ele saiu do quarto.
- i****a. - eu falo, comendo.
Idiota.
Eu como na força do ódio, sem vontade nenhuma também, mas eu me recuso a ficar sem forças desse jeito, portanto me limitei em comer.
E engulo a minha vontade de chorar, enterrando qualquer merda que resolveu vir para a minha cabeça bem lá no fundo, eu não preciso disso agora.
Eu comi até onde consegui, e acabei com a garrafa de água, chamando a enfermeira.
- Pode me trazer outra garrafa de água, por favor? - eu peço-lhe e ela assente sorrindo.
- Claro, mas deve ir com calma, os seus órgãos internos ainda estão um pouco atrofiados. - ela diz.
- Quando eu poderei sair daqui? - eu questiono-lhe.
- O médico estava incerto, mas com a sua recuperação, ele com certeza dará alta, amanhã. - ela afirma e tudo bem, eu posso me conformar com isso.
- Deve tentar descansar agora. - ela diz. - Eu virei para controlar o seu nível de hidratação assim que o soro acabar. - ela diz.
- Tudo bem. - eu digo para ela que assente.
- Com licença. - ela diz saindo e eu encosto a minha cabeça na almofada frustrada, triste, zangada, uma montanha russa de emoções que eu estou a procurar canalizar sem surtar.
Calma, Ella…
Fique calma.
Instantes depois a porta é aberta, e esse ser que eu achei que não voltaria mais entrou, com uma garrafa de água na mão, junto com o seu celular.
Ele me entregou a garrafa de água e eu inspiro fundo pegando nela.
- Eu já abri. - ele diz, olhando-me.
E eu me questiono o que ele está a tentar fazer agora.
Bipolar.
- Obrigada. - eu falo a contragosto, e levo a garrafa até aos meus lábios.
- Porque não vai embora? - eu o questiono deixando a garrafa de lado.
- Embora essa seja a minha vontade, não me apetece dormir no sofá, os paparazzis já sabem que estamos aqui, e não seria conveniente que eu deixasse a minha esposa sozinha aqui, não acha? - ele questiona sarcástico me fazendo revirar os olhos.
- Humn, que pena. - eu falo.
- E isso é seu. - ele diz lançando o anel para mim.
- Yeah… - eu falo pegando ele que caiu do meu lado e pouso ao lado da garrafa de água. - Não, eu não vou usar essa coisa. - eu falo colocando de lado, e ele pega nele casualmente.
- Não foi um pedido, Bourne. - ele diz pegando na minha mão, e enfiando o anel no meu dedo. - Você não está morta e esse casamento ainda não terminou, enquanto for a minha esposa, não irá tirar a merda desse anel do seu dedo. - ele diz, e o seu tom é casual, porém, simultaneamente autoritário.
Ele colocou o anel no meu dedo como se estivesse me marcando como dele.
- Você tem noção que eu não sou a sua esposa de verdade, não é? - eu questiono-o só para deixar isso claro.
- Você não seria a minha escolha, pode acreditar nisso. - ele diz e eu reviro os olhos.
- Nós temos um trato, e até conseguirmos cumpri-lo você terá de começar a agir decentemente. - ele diz e eu sorrio.
- Você consegue agir decentemente também, Alexander? - eu o questiono e ele senta-se me observando com um mínimo sorriso.
- Eu não deixei você morrer, deixei? - ele questiona como se isso não tivesse acontecido por culpa dele.
Aja paciência, esse homem é um bipolar.
- Belas tatuagens. - ele fala e eu reparo ele olhar para o meu pescoço, e resolvo o ignorar ligando a TV.
Eu realmente preciso de muita paciência.