— E posso saber quais são suas condições, Lady... — Questionou ele seguindo até seu cavalo, fez sinal para que ela se aproximasse e assim Hipolita o fez, ele segurou em sua cintura, como se ela fosse um pedaço de papel e a tirou do chão facilmente, colocando-a em cima do cavalo, montando logo em seguida atrás dela, ficou um pouco incomodada com a aproximação, de fato, era a primeira vez que um homem chegava perto dela de forma tão intima.
— Lady Hallwick, mas pode me chamar de Maria Hipolita. — Respondeu-lhe ela tratando de deixar bem claro quais as circunstâncias daquela situação — Ninguém, absolutamente ninguém, pode saber onde estou, então conto com total descrição de sua parte e da parte de seus homens. E tem que me prometer que não irá deixar que ninguém de seu bando me machuque.
Ele passou as duas mãos por sua cintura e segurou as rédeas do cavalo, chegando ainda mais perto, o peitoral largo comprimindo suas costas, perto dele Hipolita era apenas uma sementinha, o homem em sua retaguarda era gigantesco e... quente!
— Nenhum dos meus homens é covarde Hipolita, só tocamos em uma mulher para lhe dar prazer. — Sussurrou em seu ouvido afim de provoca-la.
Fez questão de virar o rosto para o lado e revirou os olhos.
Além de selvagem, ele também é alguém convencido e caçoador.
— Vou me lembrar disso.
Conduzindo o cavalo pela floresta fria e inabitada, eles seguiram um longo caminho para bem longe. O percurso fora bastante silencioso, agradeceu mentalmente por ele não ter feito perguntas, seus pensamentos voaram para longe dali, como estaria seu tio lidando com o seu sumiço? Pior, como estaria seu noivo? Furioso, com certeza.
Quando planejou tudo com Zarina, elas haviam combinado de sua fuga se parecer com um sequestro, porque caso eles a encontrasse ela não sofreria retaliação por parte de seu tio, homens encapuzados, cobertos da cabeça aos pés atacaram o cocheiro no meio do caminho de sua ida à igreja onde seria a cerimônia, quando a carruagem parou, ela sabia que seria tudo ou nada. Sua amiga quem havia feito o p*******o dos envolvidos, com algumas moedas de ouro que havia roubado de seu dote, que só seria entregue ao Lord Byron após o casamento. Pedia a Deus que seu tio não achasse de contar o valor que havia ali, caso contrário ele deduziria que ela não havia sido sequestrada e sim, fugido.
Imaginou que uma hora dessas eles já teriam mandado centenas de homens a sua procura, a ideia de ir com o guerreiro ainda assustava, pois o desconhecido nem sempre é bom, não sabia como seria sua vida dali por diante, almejava ser livre, conseguira fugir das garras de seu tio e noivo, ninguém mais a deteria, jurou para si mesma, lutaria por sua liberdade ou morreria tentando.
O galope do cavalo cessou e Hipolita ouvira vários murmúrios quando por fim chegaram ao local onde ele e seu bando acampara, algumas dezenas de homens olhavam em sua direção de forma curiosa e cochichavam.
— Louis — Um homem chamou aproximando-se deles.
Então seu nome era Louis, concluiu ela.
— Jamie, mandem que desfaçam as tendas, vamos bater em retida! — Louis ordenou, ele estava falando em gaélico. Hipolita frisou a testa curiosa. O que, em nome de Deus, homens escoceses estavam fazendo na Inglaterra?
A Inglaterra e a Escócia não estavam em um momento muito amistoso ultimamente, por conta da briga de território, o rei inglês e italiano estavam dispostos a dominar grande parte do continente, não aceitariam outros reis, Hipolita imaginava que depois que conseguissem conquistar todos os países, iriam brigar entre si por mais poder, era isso o que homens estúpidos e gananciosos faziam. Não tinha razão para que aqueles homens estivessem ali, logo imaginou de que se tratava de um grupo de bandoleiros, fugitivos ou exilados. Havia reparado no manto de Louis assim que o viu, era um manto quadriculado, em tons escuros de verde grafite, alguns daqueles homens usam também kilt de mesma cor.
— Senhor, acabamos de monta-las, seguimos suas instruções. — O homem constatou.
— Não importa Sor Jamie, iremos embora e até o cair da noite acharemos um outro lugar para descansar. — Ordenou Louis em um tom brado, deixando claro que não pretendia ser contrariado. Hipolita concluiu que a decisão do homem estava ligada ao fato de que ela não poderia ficar próximo da cidade, seu tio a acharia, e Louis a prometeu que iria ajudá-la a fugir.
— Como quiser Louis. — Respondeu o homem se dando por vencido, então se virou para ela estrando o fato de ela estar ali, a olhou de cima a baixo, depois mirou Louis — Você trouxe uma meretriz para viajar conosco?
Perguntou em gaélico para o guerreiro ao seu lado, Hipolita se sentiu ultrajada com o insulto e sem esperar por Louis, ela desceu do cavalo em um pulo, irritada ela andou próximo ao homem e o encarou.
— Ela não é...
— Eu não sou uma meretriz! — Rebatei ela, lançando lhe um olhar mortal.
— Perdão milady! — Jamie exclamou parecendo constrangido, ela pode ouvir as risadas de Louis, então virou-se para ele e fechou a cara, deixando claro que não estava para brincadeira — Você fala nossa língua?
— Sim, desde os quinze anos! — Rebateu.
Louis a olhou curioso, ela já podia imaginar o que ele estava pensando.
— A maioria das mulheres que conheço não sabem escrever nem o próprio nome. — Alegou, infelizmente esse fato era verídico, essa era a realidade de milhares de mulheres ao redor do mundo.
Hipolita nunca pôde frequentar uma escola, mulheres eram proibidas de irem a uma, somente meninos filhos de famílias ricas tinham tal privilégio, mas como sempre fora astuciosa e aprendia as coisas muito rápido. Com exceção de sua mãe, nenhuma das mulheres que conhecia sabiam ler, meninas eram ensinadas desde cedo a se prepararem para um casamento, como ser uma boa e submissa esposa, enquanto os meninos tinham aulas com um mestre, e aprendiam leitura, escrita, cálculos, astronomia, e idiomas como latim e grego.
Nunca foi uma mulher acomodada, por isso insistiu à sua mãe para que lhe ensinasse a ler, seu pai, que por sinal era um homem maravilhoso, quando descobriu do seu interesse pelos estudos, ao invés de ficar furioso, como todos os homens pais de meninas, seu pai fizera questão de pagar um mestre para que lhe desse aulas.
As mulheres eram tidas como criações ignorantes, que foram feitas apenas para procriar, dar à luz a um herdeiro e passar adiante o sobrenome e título. Hipolita não queria ser taxada como uma.
— Por favor, não as culpem por isso milorde, elas não têm culpa. Culpe a sociedade machista em que vivemos, homens nos impedem de estudar, acredito que são contra nossa ida à escola justamente porque sabem que podemos conquistar o mundo sem usar a força, e sim a inteligência.
— Não as culpo, Hipolita, eu sei bem o que os homens fazem à essas mulheres, quero que saiba que não estou de acordo com isso. — Louis refutou, desmontou e olhou envolta, rapidamente um homem se aproximou e pediu para desarrear seu cavalo — Não precisa Lindsay, vamos partir em breve.
— Você fala fluentemente nossa língua, milady. — O homem constatou em um tom admirado — Isso é incrível!
— Falo cinco línguas fluentemente, espanhol é minha língua materna, nasci na Espanha e fui trazida para Inglaterra aos quatro anos, aqui aprendi o inglês. — Desta vez Louis também a olhou embasbacado, assim como Jamie que estava ao seu lado — Meu pai era um homem bom, ele só queria o meu bem, quando soube do meu interesse em aprender coisas novas, ele contratou um mestre para que eu tivesse aulas, com ele aprendi latim e francês.
— E o gaélico, como aprendeu? — Jamie inquiriu curioso.
Hipolita riu e lembrou-se da ousadia de seu pai em duvidar de sua capacidade.
— Meu pai disse que eu não conseguiria aprender tão rápido, ele me subestimou. Aprendi em quatro meses, meu mestre era escocês, nos comunicávamos apenas em gaélico quando estávamos juntos.
— Você é astuciosa, Hipolita, e inteligente, é claro, você faz questão de aprender justamente porque as pessoas acham que você não é capaz. — Louis concluiu, ficou surpresa com sua dedução, era exatamente por isso que ela sempre fizera questão de aprender sobre tudo.
— Claro milorde, não posso deixar o que dizem sobre nós mulheres seja verdade, pois não é, somos inteligentes e somos capazes de tudo, basta ter força de vontade. E por mais que eu não possa esfregar na cara de todos nossos potenciais, eu tenho plana convicção que a opinião deles são apenas boatos tolos, tenho que manter isso em segredo, porque enraivece os homens, o rei não permite que mulheres saibam ler, elas são chicoteadas.
Sentia-se revoltada com o fato de ser menosprezada somente por ser mulher, queria tanto que um dia pudesse ter autonomia para mudar a realidade de todas elas, para serem donas da própria vontade, do próprio querer.
— Não irá mais precisar se preocupar com o que seu rei ordena, temos uma longa jornada pela frente, Lady Hallwick. — Declarou ele — Agora vamos sair daqui rápido, antes que seu tio e seu amado noivo achem você. Homens, não deixem nada para trás, ninguém pode saber que passos por aqui.