Capítulo 1
Rafaela narrando
Desde novinha, eu sempre fui uma menina muito independente. Perdi meus pais cedo, e não tive irmãos, então sempre foi eu por eu mesma.
Amizade? Não tenho a mínima ideia do que seja. Meus pais antes de morrerem deixaram bem claro que no decorrer da vida, eu só posso confiar em mim mesma.
Com o passar dos anos, tive que parar de estudar para focar apenas em trabalhar. Não queria, mas as vezes com a dificuldade, o meu querer não importa tanto.
No auge dos meus 17 anos, conheci o Felipe, um rapaz que trabalhava junto comigo. Ele desde sempre, muito gentil, muito educado e me tratava muito, muito bem.
Vocês já devem ter imaginado o que deu no final, né? Sim, começamos a namorar e estamos juntos até hoje.
Eu gosto dele, e ele gosta de mim também… Mas é tudo tão complicado, que eu não sei lidar direito, e as vezes até evito pensar nisso para não acabar fazendo merda.
Sentimento de gratidão é uma coisa muito complexa, por que você não sabe se realmente gosta da pessoa ou só tá com ela por que acha que é uma forma de recompensar tudo de bom que ela já te fez. Bagulho louco, né?
Acho que toda mulher, já teve na vida aquele cara que te trata igual rainha, te faz muito bem e que o único problema é você, por que você não consegue sentir aquele friozinho na barriga, aquela ansiedade, aquele medo, sabe?
É complicado demais, e para ser bem específica, só passando na pele para conseguir entender.
E tá tudo bem acontecer isso, por que ninguém manda nos próprios sentimentos e confesso que isso é uma verdadeira desgraç*, por que com o tempo você acaba levando tudo no automático, sabe? Como se empurrasse com a barriga. É complicado demais, eu não sei explicar.
Eu só sei que tento levar a vida do jeito que da, por que no mais ou menos, não quero ser egoista, mas se está me fazendo bem, tenho que manter por perto.
Levo muito a sério aquela coisa de “sou eu em primeiro lugar”.
Muitos podem dizer que não, mais quando estamos passando por momentos difíceis sempre tem alguém ao nosso lado, mesmo quando não acreditamos e mesmo quando insistimos em não ver, quase sempre por nos desiludirmos e pensarmos que estamos sozinhos… É ai que nos enganamos, pois justamente nas horas em que acreditamos não ser possível continuar, aquela pessoa que você nunca imaginou, vai ser a primeira a te apoiar, a primeira a dizer “VOCÊ VAI CONSEGUIR” quando ninguém mais vê o quão triste você estava no momento. Mais não acredito somente nessas pessoas que aparecem do nada, pois do mesmo jeito que elas aparecem elas somem. Acredito naquelas que por mais longe que estejam ou que aparentem inesperadas por não se ter um contado muito grande, se tem confiança, acho que confiança é à base de tudo e quando você confia nela não importa a distancia, não importa brigas, não importa nada… Pode ter certeza que ela nunca vai te decepcionar, vai estar pronta para te ajudar exatamente naquele momento que você desacredita de TUDO.
É exatamente assim que eu penso quando me refiro ao Felipe. Não sei qual é o nome certo desse sentimento, sei que não é aquele amor, mas sinto que é amor do mesmo jeito, mas de outra forma.
Eu me sinto em um incrível estado de inércia. Já sentiu como se deixa-se a sua vida passar? É mais ou menos assim, é estranho mais não sinto nada, não vou dizer que seja um vazio e nem que não tenha sentimentos, mais apenas não sinto com sinceridade. Já não sei se quando estou rindo estou feliz, simplesmente deixo que os risos tomem conta de mim e quando eles passam volto ao NADA, nada de sentimentos apenas emoções que vêem e passam… Como se não fizesse diferença, como se não machucasse. Queria aprender a dominar meus sentimentos em relação a isso. Queria sair do ilusório e viver de verdade, sentir de verdade. Talvez seja isso, a partir do momento que se sonha de mais, nada que acontece no real te anima… Talvez eu queira um pouco de mais… Um pouco de impossível.
Mas a essa altura da gravidade, é sem condições, eu sei disso…
Eu penso demais… Será que vivo demais? Ou vivo menos, porque estou mais em meus pensamentos que na vida em si. Eu sou uma dessas, que vive menos e pensa mais, que não tem mais animo talvez. Talvez vivo mais em sonhos que em realidade. Talvez tudo seja nada. E talvez ainda eu esteja desperdiçando uma vida tão curta…
É talvez… Mas chega de talvez, o que eu preciso é de certeza, é de coragem para tomar a minha vida e seguir em frente conquistando os sonhos que estão em mim, preciso de um pouco menos de negativismo, um pouco mais de sorte e as palavras certas. É isso, agora vou viver mais no embalo, sem muitas certezas, sem muito negativismo, deixar acontecer, me decepcionar menos e quem sabe deixar a vida me IMPRESIONAR.
Saí dos meus pensamentos com o Felipe batendo na porta. Dei um grito dizendo que podia abrir e em seguida ele entrou.
Felipe: Eai Rafa.
Rafaela: Oi amor, vem cá me dar um beijo.
Felipe: Como tu tá? - Deitou do meu lado e em seguida me deu um selinho.
Rafaela: Ah, tô bem né… - Ele balançou a cabeça assentindo e eu não sei por que estava sentindo ele meio inquieto. - Tá tudo bem?
Felipe: Claro pô, por que não estaria?
Rafaela: Tô sentindo você meio inquieto. Não quer falar o que aconteceu mesmo?
Felipe: Tô esperando o momento certo. - Sentei na cama.
Rafaela: Como assim Felipe? Momento certo do quê? Não me estressa, cara.
Felipe: É que aconteceu um bagulho lá no trampo, e eu vou ter que me mudar para o morro. - Franzi o cenho sem entender.
Rafaela: Tá maluco? Que bagulho aconteceu? Que morro, Felipe?
Felipe: Complexo de Lucas.
Rafaela: Quê??? - Perguntei sem entender.