Fernanda - 1ª parte
Eu cresci num lar bem amoroso, desde que me lembro minha avó Carmela que me cria e desde que comecei a falar que a chamo de vovozita, ela é meu tudo, minha rainha, a mulher mais importante da minha vida, sei que ela não é a minha mãe como pensei, assim que tive entendimento ela me explicou que minha mãe por morar em outro país não pôde ficar comigo e ela é quem me cria.
Nossa casa é simples mas eu amo cada detalhe dela, amo meu pequeno quarto que a vovozita arrumou do jeitinho que gosto, não tenho muitos brinquedos, nem muitas roupas, mas tudo que eu tenho sou grata a vovozita por trabalhar duro pra me dar. Ela não é só minha avó, ela é uma grande amiga, que me dá a sua mão e caminha comigo aonde eu for, sem nenhuma exigência sempre com ternura, seus afagos, seus risos, brincadeiras, amo não só beijos, mas também suas broncas, ela sabe me ouvir e compreender qualquer que seja a minha confidência.
Desde cedo me acostumei a olhar minha avó como se ela fosse tudo que eu podia ter,e quanto mais conhecia do mundo e das pessoas, mais a admirava pela sua natureza guerreira, me encantava por ela ser um exemplo e uma inspiração. Vejo todos os dias suas duras batalhas, seus sacrifícios, mas nunca a vi virar o rosto à luta, nunca a vi se lamentar, nunca a vi se deixar ficar no chão depois de todas as vezes que caiu, ela sempre tem um sorriso no rosto e uma força que não sei de onde ela tira.
Com seu sangue, suas mãos e sua garra está me criando, e para mim o mais difícil agora é tentar honrar sua história, seus feitos.É um orgulho pra mim chamar ela de avó, é um privilégio ter o seu carinho e amor e uma honra viver sob os seus ensinamentos. Eu a amo muito, ela é meu tudo, é a mãe que conheço já que a minha verdadeira mãe eu só vi apenas uma vez.
Morar com minha avó é tudo de bom, estou sempre sorrindo por que isso é o que ela sempre me ensina, por mais duro que seja nosso dia, por mais que aconteça algo que a gente não goste, temos que tirar uma lição disso e colocar um sorriso no rosto e continuar, aqui em casa não temos muito porque o que a vovó ganha não é muito, mas ela sempre faz questão de comprar algumas coisas que gosto mesmo eu falando a ela que não precisa, a única coisa que ela não fala muito é sobre a minha mãe, sempre que pergunto ela me diz que um dia ela vira me ver e me levar pra morar com ela, mas eu não quero ficar longe da vovozita, mesmo querendo ter a minha mãe, quero a vovó comigo também.
Quando comecei a estudar meus coleguinhas sempre me perguntava se eu não tinha mãe, já que minha avó é quem me cria, as vezes eles me diziam que minha mãe não gosta de mim por não me levar pra morar com ela, as vezes até penso que seja isso, mas a vovozita sempre me fala ao contrário que minha mãe gosta de mim, só não pode ficar comigo por que mora muito longe, deixei de participar das apresentações de dias das mães, para que meus colegas não ficasse me zuando, mas sou muito feliz mesmo não tendo a minha mãe por perto, pois a vovozita faz questão de tornar meus dias mais felizes.
Meus aniversários sempre foram uma alegria, nunca quis ter uma grande festa, pra mim tendo o bolo de chocolate que a vovó fazia e os docinhos já fazia minha alegria, sempre com meus amiguinhos a Alice e o João filhos da tia Diana, que sempre fica comigo quando a vovó não pode me levar para o trabalho dela, nós fazíamos a maior bagunça nesse dia, mas a vovó sempre deixava, por mais simples que fosse ela sempre trazia um presente, e sempre eu amava.
Uma semana antes de meu aniversário de sete anos a escola começou a inscrição para as aulas de patins, eu me apaixonei quando a professora falou que agora nós também ia poder participar eu fiquei super feliz, já estava contando os minutos para ir para casa e contar pra vovó, tomara que ela me deixe participar, assim que o sinal toca eu saio com a Alice, nós duas estudamos na mesma sala.
- Você vai participar das aulas Fernanda?
- Eu vou pedir a vovozita, se ela deixar eu vou.
- Eu queria também, mas a mamãe não vai deixar, porque a Lili disse que os patins são caros e e eu sei que ela não vai ter dinheiro pra comprar.
- Eu nem pensei nisso, mas eu vou ver, vai que a vovozita pode comprar, mas se não puder não tem nada, no outro ano eu entro.
- Se a tia Carmela deixar você ir, e comprar seus patins, você deixa eu brincar também?
- Claro Alice nós somos amigas né.
- Bem que a tia Carmela podia pedir sua mãe pra comprar seus patins, quem sabe ela podia dava um para mim também.
- Mas minha mora longe Alice, a vovozita não vai pedir isso a ela.
- É mesmo eu esqueci.
Nosso caminho passou rápido, a gente foi conversando e logo estamos na frente de nossas casas, me despeço da Alice e entro correndo em casa quero muito pedir a vovó pra deixar eu fazer as aulas de patins.
- Vovó! vó!
- Oi bonequinha, como foi a aula hoje?
- Foi boa, ah vó vai ter aula de patinação na escola, a senhora deixa eu participar?
- O quê precisa meu amor pra participar?
- A senhora tem que ir lá, e assinar o papel, já que minha mãe não mora aqui.
- Claro meu amor, amanhã a vovó vai com você e assina o papel.
- É... só que tem que comprar os patins vó, mas se a senhora não tiver dinheiro não tem problema eu faço só quando a senhora puder comprar.
- A vovó vai dar um jeito meu amor, mas você vai fazer a patinação está bem?
- A minha mãe quando vir me ver vai ficar orgulhosa de mim né vovó?
- Vai sim minha bonequinha, agora vamos almoçar que a comida vai esfriar.
Vou no meu quarto e tiro meu uniforme, lavo minhas mãos e volto, a vovózita tinha feito macarronada que eu adoro, nós comemos sempre conversando e rindo, mesmo sendo só eu e a vovozita nossa casa nunca é triste, ela sempre me faz rir, está sempre alegre e eu acho muito bom os dias que ela está em casa e podemos passar o dia juntas porque ela sempre me ensina muitas coisas.
Meu aniversário chegou e a vovó foi trabalhar de manhã e me deixou com a tia Diana, mas me prometeu que a tarde ela ia está em casa pra fazer meu bolo, a manhã passou rapidinho e depois do almoço eu fiquei esperando a vovó me buscar e nada, eu já estava ficando triste, eu não me importava com presentes, mas gostava de ter meu bolo e dos docinhos e apagar a velinha depois que meus amigos cantavam parabéns, nesse dia a vovó não veio me buscar, a tia Diana quem me deixou em casa, fomos nós três e assim que chegamos as luzes estavam apagadas.
- Tia , a vovó não chegou ainda?
- Não meu amor ela pediu que eu te trouxesse que ela ia demorar um pouco.
- Mas ela nunca ficou assim tão tarde.
- Ela teve que fazer uma faxina grande meu amor, mas já ela chega.
Assim que a tia Diana abre a porta e acende a luz, meu coração quase sai do meu peito, a sala estava totalmente arrumada com meu bolo, docinhos e alguns balões, minha avó e alguns vizinhos começaram a cantar parabéns para mim, eu fiquei tão emocionada e só chorei, a vovó sempre fez questão de não esquecer meu aniversário, mas esse ela fez especial, depois dos parabéns a minha única reação é correr e dá um abraço bem forte na vovozita.
-Eu te amo tanto vovó, a senhora é a melhor vó do mundo, eu estou tão feliz! Mas feliz mesmo, obrigado.
- Você merece minha bonequinha, isso aqui não é metade do que eu queria poder te dar.
- Pra mim essa é a melhor festa que já tive vovozita, a senhora já está me dando a maior alegria me fazendo essa festa.
E esse dia foi o melhor dia da minha vida, a minha festinha foi bem legal, eu brinquei muito com meus amiguinhos, comemos bastante bolo e docinhos e como a vovó não tinha dinheiro para comprar refrigerante ela fez bastante suco de laranja, foi o melhor aniversário que tive, depois que todos foram embora, eu ajudei a arrumar tudo e depois eu fui tomar meu banho para dormir, estava tão feliz, mas quando eu entrei no meu quarto, meus olhos não acreditavam o que tinha em cima da minha cama, eu fiquei parada na porta do quarto sem acreditar no que estava em cima da minha cama, eu passava a mão nos meus olhos para ver se não era sonho, abria e fechava, mas ele ainda estava lá em cima da minha cama.
-Você não gostou do presente minha bonequinha?
- Eu...Eu... vovozita ele é lindo, obrigado, obrigado agora eu vou poder participar das aulas de patinação e eu vou ser a melhor patinadora da escola.
- Eu sei minha bonequinha, a vovó queria poder comprar um melhor, mas não deu.
- Eu amei esse vovozita, ele é lindo e eu vou cuidar muito bem dele.
Eu abracei a vovó tão forte, lhe dei vários beijinhos, eu queria que ela soubesse o quanto eu a amo e o quanto eu vou estudar para ser alguém na vida e poder retribuir a ela tudo o que ela faz por mim, vou dormir com o sorriso que cabe em meu rosto, esse será o dia que nunca vou esquecer na minha vida.
Depois de uma semana que eu tinha completado sete anos, minha avó depois que cheguei da escola me pediu que tomasse banho e me arrumasse que minha mãe queria me ver, fui toda contente e me arrumei, passei meu perfume e a arrumei meu cabelo depois de pronta fui mais a vovó, pegamos o ônibus e fomos a um lugar bem bonito, a vovó me disse que era um hotel, nós chegamos e uma mulher muito bonita veio falar com a vovó.
- Oi mamãe!
- Olá minha filha, tudo bem?
- Melhor impossível. Olá Fernanda, tudo bem?
- Tudo bem.
Mas ela não me deu nenhum abraço, ou um beijo, nenhuma demonstração de carinho como eu esperava, na verdade ela m*l chegou perto de mim, o único carinho foi passar a m*l em meus cabelos e mais nada, ficamos lá um tempo, ela comprou um sorvete para mim e pediu um homem para dar várias sacolas para a vovozita, mas logo fomos embora e na saída ela me deu apenas um beijinho em minha testa, acho que ela foi assim, por não me conhecer direito.
-Minha mãe é bonita né vovó?
- Sim meu amor.
- Vó será que um dia ela vai gostar de mim?
- Vai sim querida, sua mãe só está trabalhando muito, mas um dia ela vai levar você pra morar com ela.
- Mas a senhora vai junto né?
- Não meu amor, quando esse dia chegar, você vai só para morar com ela, a vovó tem a casa dela e vai sempre te visitar e você vai vir me visitar também.
- Sabe vó essas coisas que a mamãe trouxe pra mim, eu posso dividir com a Alice, eu não preciso desse tanto de roupa e nem desse tanto de boneca, eu queria mesmo era que a mamãe gostasse de mim, que tivesse me dado um beijo, um abraço, não queria presentes, eu queria seu colo, seus carinhos, um pouquinho de sua atenção, mas um dia ela vai me dar né?
- Vai meu amor, um dia ela vai.
Depois desse dia nunca mais a vi, mas eu sempre lembrava do rosto dela e o quanto ela é bonita queria muito que ela tivesse gostado de mim de verdade, que tivesse passeado comigo segurando minha mão como a vovozita faz, quem sabe o dia que ela me levar para morar com ela as coisas mude e ela veja que sou uma menina boazinha e que ela pode gostar de mim de verdade, que eu sou obediente e sou muito boa aluna e agora eu vou ser uma boa patinadora, eu nem pude contar isso a ela, também ela quase não conversou comigo, mas como a vovozita disse que deve ser que ela estava muito cansada do trabalho, vou esperar quem sabe o dia que ela puder voltar novamente ela esteja com mais tempo e a gente possa fazer tudo o que uma mãe e uma filha fazem, rir, brincar, passear, espero que esse dia chegue logo e eu possa saber o que é ter o carinho de uma mãe....