Capitulo 05

2265 Words
 Fernanda- 2 parte Minha vida mudou drasticamente depois que completei dez anos, eu tinha uma vida maravilhosa, tinha tudo que eu queria, amigos, uma escola boa pra estudar, uma avó linda e maravilhosa que sempre fez de tudo por mim, e minhas aulas de patinação que sempre me faziam ficar feliz, mas um dia em que voltei da escola encontrei a vovozita chorando em seu quarto e isso cortou meu coração, desde que moro com ela nunca a vi chorar, ela sempre tinha um sorriso e uma alegria que me contagiava, nem nos momentos mais difíceis ela se deixava abalar, eu corri até ela e abracei, queria que ela visse que eu estava do lado dela, qualquer que seja o motivo de seu choro, queria que ela soubesse que qual for o problema estaríamos juntas como sempre estivermos, ela me abraçou tão forte que parecia que eu ia fugir dali, que ela estava me perdendo e suas lágrimas e seus soluços me contagiaram e choramos por um bom tempo ali abraçadas uma a outra, até que eu fui me soltando e segurei em seu rosto. - Vovó a senhora sabe que eu vou sempre está aqui do seu lado e qualquer que seja o problema a senhora pode contar comigo, eu vou entender. - Oh meu amor, meu anjinho você é muito especial para vovó, você sabe disso né? - Claro que sei vovozita, você é tudo na minha vida, você é a pessoa mais importante que tenho, por que a senhora está me dizendo isso, porque vovó? - Porque eu quero que nunca esqueça o amor que a vovó tem por você, não quero que esqueça que mesmo vovó não podendo lhe dar tudo, mas tudo que a vovó pode fazer ela fez pra você ter uma vida digna, você não vai esquecer disso né? - Claro que não vovó, eu tenho tudo que preciso, seu amor, seu carinho, sua atenção, isso pra mim vale mais que qualquer presente caro, qualquer roupa de marca, nada disso me importa, pra mim só em ter a senhora do meu lado, me fazendo rir, me dando atenção quando estou triste, me elogiando quando faço algo bom e até me dando bronca quando faço alguma arte, isso pra mim é o que importa, o resto não. - Eu sei meu amor, você é a menina mais doce e carinhosa que já vi, eu amo tanto você mas tem algo que infelizmente a vovó não vai poder fazer por você e isso está doendo muito em mim. - Vovozita a senhora está me assustando, o que a senhora tem, por que está falando essas coisas, a senhora está doente é isso? - Não meu anjinho, a vovó não está doente. - Então por que a senhora está me dizendo essas coisas? - Sua mãe me ligou hoje cedo e quer te levar pra morar com ela. - A senhora vai comigo né? - Não meu amor, a vovó já explicou pra você que eu não posso ir. - Mas eu não quero ir sem a senhora vovó, eu não quero. - Oh meu amor, a vovó queria muito não deixar você ir, queria muito poder ficar com você, mas ela é sua mãe e eu não posso fazer nada pra impedir. - Mas eu vou ver a senhora todo dia né? - Não meu amor, sua mãe não vai morar aqui em Seattle, ela vai morar em outra cidade, mas a vovó promete que vai te visitar todos os meses, que não vai esquecer de você e se sua mãe fizer alguma coisa pra te machucar eu busco você de volta. - Mas eu quero ficar aqui, eu quero ficar com a senhora, tem meus amigos, a escola, minha aulas  eu não quero ir vovozita, não me deixa ir, por favor. E aquele dia foi o mais triste pra mim, os outros até o dia que minha mãe veio me buscar também, chorei todas as noites, sozinha no meu quarto e via sempre os olhos da Vovó demonstrando que ela também assim como eu estava chorando muito. O dia de ir chegou e foi o dia mais difícil, me despedir de meus amigos, despedir da tia Diana, e a pior parte despedir da vovozita, eu chorei muito e ela também, me soltar de seu abraço foi como se um pedaço de mim estivesse sendo arrancado, era como se meu coração estivesse sendo arrancado do meu peito, mas tive que ir, a minha mãe nem desceu do carro, só  fez o sinal e eu fui, o caminho inteiro chorando, segurando a correntinha que a vovozita me deu de presente com a sua foto. Nossa viagem foi só o silêncio, ela não me perguntou nada, eu estava triste por deixar a vovozita, deixar tudo que vivi pra traz, mas quem sabe eu possa conhecer minha mãe e ela começa a gostar de mim. Fui morar num apartamento bem grande, tinha um quarto enorme, cheio de roupas e sapatos, muitos brinquedos, mas só podia usar depois que arrumava algumas coisas da casa, não podia mecher em nada dela, não podia comer junto com ela, na verdade eu não podia fazer muitas coisas, nunca mais tive um abraço e um beijo, ela nunca me deu isso, e não gostava que eu me aproximasse dela de maneira nenhuma, as únicas vezes que eu podia chegar perto dela era quando saímos para algum lugar em que tinha muita gente, tipo umas festas que ela sempre me levava, mas também não podia ficar muito tempo agarrada a ela, só segurando a mão e mais nada. Um ano se passou, a vovó veio várias vezes me visitar e sempre me perguntava como eu estava, não era a vida que queria, preferia morar com a vovozita mas estava tentando dar uma chance pra ver se minha mãe gostava de mim. Na escola eu vivia só, não gostava das meninas que eram minhas colegas, sentia muita falta da Alice e das nossas brincadeiras, mas um dia chegou um menino novo em minha turma, o Jack era mais velho que eu, mas como eu era adiantada estávamos na mesma série, ele é um menino bem tímido, e ficamos amigos. O Jack morava perto da minha casa e por coincidência os pais dele eram amigos de minha mãe e do marido dela o Jimmy, então os meus dias ficaram melhores um pouco, eu tinha o Jack pra brincar comigo e o melhor ele também fazia patinação e começamos a patinar juntos, mas todos os dias eu não deixava de lembrar quando morava com a vovó, podia não ter a fartura que minha mãe sempre fazia questão de ter,mas tinha amor, carinho, risos, eu era bem mais feliz. Os anos foi passando e eu já estava com  quinze anos e a situação foi ficando cada vez pior, minha mãe em nenhum momento me tratava como filha,eu mais parecia uma empregada para ela, tinha que fazer tudo dentro de casa, minha vida só não era pior porque eu tinha o Jack e a patinação pra esquecer a vida de tristeza e angústia em que eu vivia. Eu já estava cansada de tudo que eu vivia e queria voltar pra casa da vovó,  mas a Sônia não deixou. - Eu quero ir pra casa de minha avó. - Mas não vai Fernanda, eu sou sua mãe e você vai morar comigo e pronto. - Uma mãe que não tem o mínimo de amor pela filha, que só lembra dela quando os amigos estão próximos e quer da uma de boa mãe na frente deles, eu quero voltar pra morar com minha avó. - Mas não vai Fernanda, você é menor e quem manda em você sou eu e se continuar com isso esqueça que tenha avó, porque eu vou tirar a casa dela e tudo o que ela tem e você nunca mais a verá, se você for eu denuncio ela por sequestrar você. - Mas ela é sua mãe. - Eu sei, mas você é minha filha e  não vai morar com ela, a não ser que queira ficar sem ela pra sempre. - Não! Eu fico mas não faça nada com a vovó ,por favor. - Então tire essas ideias de sua cabeça e não fale nada pra ela, estando entendida. - Sim, estamos. Depois dessa conversa eu não falei mais de ir embora, e quando a vovó vinha me visitar eu sempre dizia que estava tudo bem, tinha medo da minha mãe fazer alguma coisa a ela, meus dias cada dia eram mais tristes, não tinha motivos para sorrir, vivia como uma empregada, não tinha amor, não tinha carinho, a única coisa boa nisso tudo eram minhas aulas de patinação e o Jack que também vivia seu próprio martírio assim como eu, e um era o refúgio do outro. Eu e Jack éramos como irmãos, vivíamos grudados um no outro e esse era o único meio que tínhamos de sair das cobranças que tínhamos, minha mãe e os pais dele, pelo menos eles não se importavam que ficássemos juntos, e saíssemos, claro que eu só podia depois que fazia tudo em casa. Depois das aulas sempre ficávamos para ensaiar, fazíamos uma dupla perfeita na patinação, apesar que o pai dele odiava isso,mas o Jack tem um talento incrível só o pai dele que não enxerga. - Fernanda minha flor, você tem que mudar essa sua pirueta, como vou te segurar? - Aí Jack eu já estou cansada, vamos pra casa amanhã a gente ensaia mais - Eu prefiro passar o dia aqui, do que ir pra casa. - Mas você sabe que eu não posso demorar demais ne. - Estando comigo a tia Sônia não se importa amore, então vamos comer alguma coisa e depois é que vamos pra sua casa. E assim eram nossos dias, ficávamos sempre depois das aulas ensaiando e só íamos pra casa sempre mais tarde, e essa era a minha vida, e a do Jack, casa pra nós não era o melhor lugar de se  estar então ficávamos o mais longe possível. O tempo se passou e eu e o Jack estávamos no último ano do colegial, e já programavamos a faculdade, o Jack não tinha problema os pais dele podiam pagar, eu não contava com isso, apesar de minha mãe ter como arcar, mais eu não queria depender dela, queria conseguir com meus esforços, então me inscrevi nas provas para as bolsas na faculdade de Portland e passei, estava com dezessete anos então não podia ir embora, ainda era menor e minha mãe não ia deixar, então eu e Jack estávamos já programando nossa liberdade. - Fernanda minha flor, as inscrições pra bolsa de Seattle já começaram você tem que fazer. - Vamos na biblioteca fazer logo , não quero perder essa oportunidade. - E não vai mesmo, é o nosso passaporte pra sermos livre minha flor. Fiz minha inscrição e o Jack convenceu minha mãe a me deixar ir com ele a uma excursão da faculdade, como ela achava que éramos namorados então ficou fácil, fomos pra Seattle eu fiz a prova, só não deu pra visitar a vovó, pois tínhamos que voltar e não levantar suspeitas e agora era só esperar o resultado. Dois meses depois o resultado saiu, eu tinha colocado a correspondência para a casa do Jack, e quando ele chega com a carta na faculdade meu coração acelerou, estava ansiosa pra abrir. - Olha só minha flor, nosso passaporte para a felicidade. - Deixa eu abrir Jack estou muito ansiosa. - Então abri logo, eu estou mais ansioso que você. Pego a carta e abro e assim que vejo aceita, eu pulo nos braços do Jack e ele me rodopia, a nossa liberdade e a nossa felicidade estava mais próxima  lá em Seattle íamos poder viver de verdade, ser nós mesmos. Faltava uma semana pra completar dezoito anos e assim eu ia ser maior e minha mãe não poderia mais me obrigar a morar com ela. O Jack conseguiu que o pai dele deixasse ele transferir pra Seattle também, já que eles sempre acharam que eu e o Jack eram namorados, pena que eles estavam enganados e não passávamos de bons amigos e confidentes, mas isso eles não precisavam saber, assim ficou fácil convencer minha mãe a me deixar ir embora, e mesmo que ela não deixasse eu não ficaria mais, agora eu não sou mais criança e não obedeço mais e aceito suas ameaças, eu preciso me sentir amada de novo, sentir os carinhos e a atenção da vovozita, escutar seus conselhos e ter seu ombro pra chorar quando tudo parece desmoronar debaixo dos meus pés. Completei meus dezoito anos com as malas prontas para voltar de onde eu nunca devia ter saído, foram os piores oito anos da minha vida, nunca tive uma demonstração de amor, nunca tive carinho e atenção da pessoa que deveria me amar incondicionalmente, tive que deixar a pessoa mais importante da minha vida para viver como uma empregada, ela sempre achou que a única coisa que precisava era ter coisas caras, pelo menos me colocou numa escola boa e não me tirou a patinação, mas agora eu vou voltar a ter minha vida de volta, está ao lado de minha rainha, que não tem dinheiro mas o coração é grande e tem amor de sobra, e o carinho que reconforta e trás alegria ao nosso coração, estou indo de volta pra o lugar que só tenho boas lembranças e que pode faltar tudo, mas o amor e a alegria  vai está sempre presente....
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